BIBLIOTECA E CIDADANIA ESCOLA E SAMBA: SILÊNCIO ... - Sesc
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é, a ideia de que o conteúdo semântico proposicional expresso pela<br />
sentença tem de ter uma estrutura específica fixa, para cumprir sua<br />
função normativa de representação dos fatos no mundo au ceci près.<br />
Em especial, uma sombra neste sentido tem as duas propriedades semânticas<br />
seguintes:<br />
a. É ela quem cumpre a função representacional da linguagem. As<br />
entidades linguísticas (as sentenças) representam fatos determinados<br />
do mundo por meio de um conteúdo semântico fixo, que faz<br />
parte da estrutura do conteúdo representacional.<br />
b. É ela quem prescreve a identidade do fazedor de verdade da<br />
sentença de maneira unívoca, independentemente de qualquer<br />
processo simbólico de entendimento ou de interpretação 22 .<br />
A principal objeção (“contextualista”) contra esse tipo de concepção<br />
é dizer que não existe uma maneira fixa e unívoca de entender o conteúdo<br />
semântico proposicional expresso por uma sentença declarativa<br />
independentemente do contexto (no sentido amplo) ou das ocasiões<br />
de uso da declaração. Por exemplo, não existe apenas uma maneira de<br />
entender uma sentença tal que “a chaleira é preta”, no sentido em que<br />
várias configurações diferentes podem valer como fazedores de verdade<br />
relevantes da mesma sentença 23 . Pode ser uma chaleira globalmente<br />
preta mas com punho cromo, pode ser uma chaleira branca mas cheia<br />
de poeira etc. É literalmente impossível antecipar os estados do mundo<br />
que valem como fazedores de verdade daquela sentença. Portanto, a<br />
ideia de um conteúdo semântico proposicional fixo fazendo a mediação<br />
entre a linguagem e o mundo é completamente dispensável.<br />
3 o PRoBLEmA tRANSCENDENtAL Do CoNtAto Do PENSAmENto<br />
Com o mUNDo Como FALSo PRoBLEmA FiLoSÓFiCo<br />
Resumindo, na primeira parte foram examinados e desenvolvidos<br />
argumentos a favor da ideia segundo a qual uma entidade intermedi-<br />
22 A respeito deste ponto, cf. Wittgenstein, 1958, p. 36.<br />
23 Eu peço emprestado o exemplo a Travis,1985, pp. 187-229; retomado em<br />
Travis, 2008.<br />
140 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.4 nº13 | p. 128-151 | mAio > AgoSto 2010