BIBLIOTECA E CIDADANIA ESCOLA E SAMBA: SILÊNCIO ... - Sesc
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essa composição apenas reflete a estrutura globalmente inferencial do<br />
sistema de pensamentos de que ele faz parte. Isso corresponde ao que<br />
Travis chama de “princípio wittgensteiniano de reflexão” (ibid., p. 93).<br />
Wittgenstein enunciou e adotou explicitamente esse princípio no<br />
início dos anos 1930, junto com a ideia segundo a qual a proposição<br />
(o pensamento) enquanto imagem dos fatos é essencialmente composta<br />
15 . Evans também usa uma versão um pouco diferente da mesma<br />
ideia no trecho do Capítulo 4 das Varieties of Reference sobre a “condição<br />
de generalidade (generality constraint)” 16 . A ideia é a seguinte:<br />
os pensamentos em geral são compostos, no sentido em que sustentar<br />
o pensamento singular de que, por exemplo, “João está feliz”, envolve<br />
a dupla aptidão geral para pensar:<br />
1. de alguém (João ou qualquer outra pessoa), que ela está feliz: Fx<br />
(instanciado pelos pensamentos singulares Fa, Fb, Fc etc.)<br />
2. várias coisas diferentes acerca de João (que ele está feliz, triste,<br />
nervoso etc.): ϕa (instanciado pelos pensamentos singulares Fa,<br />
Ga, Ha etc.).<br />
Em termos evansianos, quer dizer que cada pensamento é um complexo<br />
que resulta do exercício de duas capacidades conceituais distintas<br />
exercidas em duas ocasiões diferentes: quando dizemos “João<br />
está feliz” e “Amanda está feliz”. Em termos wittgensteinianos, quer<br />
dizer que o pensamento expresso pela sentença Fa e o pensamento<br />
expresso pela sentença Fb ou o pensamento expresso por Fa e o<br />
pensamento expresso por Ga são inferencialmente ligados dentro de<br />
um mesmo sistema de pensamentos. Em outras palavras, Evans e Wittgenstein<br />
sustentam a mesma ideia de que nós não podemos sustentar<br />
um pensamento determinado sem sermos capazes de sustentar um<br />
sistema completo de pensamentos inferencialmente ligados entre eles.<br />
A diferença é que Wittgenstein sublinha, em contraste com Evans, a<br />
importância do fator ontológico para distinguir ou identificar dois pensamentos<br />
(seu critério não é, como para Evans, um critério conceitual).<br />
É claro que, em todo caso, segundo essa interpretação da distinção<br />
entre os três itens, o peso inteiro da análise do discurso informativo<br />
15 Cf. Wittgenstein, 1989, p. 90.<br />
16 Cf. Evans, 1982, pp. 100-5.<br />
136 SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.4 nº13 | p. 128-151 | mAio > AgoSto 2010