BIBLIOTECA E CIDADANIA ESCOLA E SAMBA: SILÊNCIO ... - Sesc
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taticamente de maneira apropriada), por meio de uma frase não estruturada<br />
(i.e. não composta de partes distintas). O caso das palavrasfrase<br />
aqui é particularmente relevante. Suponha-se que em vez de<br />
dizer “os franceses elegeram Nicolas Sarkozy presidente da República<br />
em 2007” alguém diga “malucos!”. É claro neste caso que, dados<br />
uma estipulação arbitrária a respeito do sentido da palavra-frase e um<br />
contexto de enunciação linguístico e não linguístico apropriado, as<br />
duas “sentenças” podem ser consideradas como expressando o mesmo<br />
conteúdo semântico proposicional, mesmo que a segunda seja<br />
desprovida de composição 8 . Isso simplesmente não é possível no caso<br />
dos pensamentos. Eles têm de ter composição ou estrutura para valer<br />
como representações ou descrições verdadeiras ou falsas de situações<br />
no mundo. Explicaremos melhor essa ideia adiante.<br />
Agora passemos aos dois últimos itens da tríade: pensamento e<br />
mundo (fato). Sua relação é frequentemente descrita na filosofia da<br />
lógica como uma relação de representação ou de descrição. Evidentemente,<br />
a descrição é um conceito que se aplica primeiramente a<br />
entidades linguísticas (sentenças) e apenas secundariamente a entidades<br />
não linguísticas, tais quais os pensamentos. No entanto, pode-se<br />
dizer que um pensamento descreve um fato particular do mundo, no<br />
sentido em que ele cumpre, além da tarefa de identificar discriminativamente<br />
um objeto individual (acerca do qual o pensamento é), a<br />
tarefa de qualificar ou caracterizar este objeto 9 . Diz-se de um objeto<br />
(referido de modo discriminativo por meio de um nome próprio ou<br />
de uma descrição definida) que ele é tal e tal. O candidato “natural”<br />
ao título de objeto próprio da segunda tarefa (descritiva) é justamente<br />
o fato: o que não simplesmente é, mas é tal e tal.<br />
Outra maneira de caracterizar essa relação é dizer que o pensamento<br />
representa um fato no mundo. Mas nós deveríamos distinguir<br />
8 Sobre este ponto, ver Austin, 1950; retomado em 1970, pp. 124-5; Wittgenstein,<br />
1995; tradução para o português brasileiro, 1979, §19-20; Evans, 1982,<br />
pp. 102-103. Nosso exemplo é uma adaptação de um exemplo de Austin.<br />
9 Com respeito à distinção entre tarefas referencial e descritiva cumpridas<br />
por partes distintas de uma sentença predicativa (a parte-sujeito e a parte-<br />
-predicado), cf. Strawson, 1950, pp. 320-344; retomado em Strawson, 1971,<br />
em especial seção IV.<br />
SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.4 nº13 | p. 128-151 | mAio > AgoSto 2010<br />
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