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Revista Palavra 2012 - Sesc

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Menino inteiro<br />

Leonor Werneck dos Santos<br />

Os livros de Bartolomeu Campos de Queirós costu-<br />

mam nos apresentar, de maneira poética e delicada,<br />

meninos, árvores, passarinhos, rios, mar, memórias.<br />

Em Menino inteiro, há tudo isso e ainda mais: o reconto<br />

original de uma das histórias mais conhecidas<br />

da humanidade.<br />

Ao começar a ler o livro, lindamente ilustrado<br />

por Walter Ono, nos vemos entre revoadas de<br />

passarinhos, borboletas, flores, montanhas e uma<br />

brisa que embala a história do casal José e Maria.<br />

A explosão de cores das ilustrações encanta, e o<br />

leitor mais atento percebe detalhes aqui e ali que<br />

parecem relembrar uma história lida ou ouvida<br />

antes. Há pistas no texto escrito também: um<br />

galo que espera o momento certo de cantar,<br />

um mensageiro “vendedor de milagre”, nove meses<br />

de espera pela chegada de um filho e, quando o<br />

leitor já está inebriado com a delicada narrativa, o<br />

boi e o jumento testemunhando o nascimento de um<br />

menino a quem “Todo o Universo homenageava”.<br />

Essa criança era “diferente de todas as crianças.<br />

Mas ninguém sabia explicar o porquê”. A certeza<br />

era que a vida tinha mudado após seu nascimento,<br />

pois o menino, inteiro, sorria, ia crescendo e<br />

ajudando as pessoas, distribuindo pães e peixes<br />

e derramando dúvida por onde passava. Até partir,<br />

após ser castigado pelos “crimes de ver com os dois<br />

olhos, escutar com os dois ouvidos, só falar quando<br />

tinha o que dizer, abraçar com os dois braços, andar<br />

sempre com os próprios pés”.<br />

Impossível não se emocionar com este Menino in-<br />

teiro, em uma época em que palavras rudes e cren-<br />

ças vazias substituem a simplicidade de um olhar<br />

singelo e de um gesto sincero. Impossível também<br />

não lembrar do final de um dos poemas de Alberto<br />

Caeiro (PESSOA, 1994. p. 124-129):<br />

“Esta é a história do meu Menino Jesus.<br />

Por que razão que se perceba<br />

Não há de ser ela mais verdadeira<br />

Que tudo quanto os filósofos pensam<br />

E tudo quanto as religiões ensinam?”<br />

Leonor Werneck dos Santos é formada em Português-Literatura, com mestrado e doutorado em Letras Vernáculas.<br />

É membro do GT Linguística de Texto e Análise da Conversação, da ANPOLL e docente de Língua Portuguesa da Faculdade<br />

de Letras/UFRJ. [www.leonorwerneck.com]<br />

Foto: arquivo pessoal.<br />

Julho <strong>2012</strong> REVISTA PALAVRA • sete

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