Revista Palavra 2012 - Sesc
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Bartô, o Cavaleiro das Sete Luas Rui de Oliveira<br />
Acredito que os poetas – e é a própria<br />
história da literatura que nos<br />
diz – representam, mais do que<br />
qualquer outra linguagem artística,<br />
a alma de um povo, de uma<br />
nação. Eles corporificam as civilizações,<br />
os grandes feitos e tragédias<br />
dos homens. Originalmente<br />
associada à música, a poesia<br />
é a voz autêntica e canora das<br />
sociedades e dos idiomas – seu<br />
momento máximo de expressão<br />
e beleza. Nenhum país se forma<br />
sem seus poetas. Assim foi<br />
Homero para os gregos, Milton<br />
para os ingleses, Whitman para os<br />
americanos, Camões para os portugueses,<br />
Pushkin para os russos.<br />
A multifacetada alma brasileira,<br />
nós a encontraremos uníssona,<br />
Referenciando apenas à pintura, é perfeitamente<br />
possível mostrar, por meio da diversificada e criativa<br />
ilustração de livros infantis, a compreensão da<br />
pintura de Rembrandt, à de Lucien Freud (1922),<br />
de William Blake (1757-1827) à Francis Bacon<br />
(1909-1992), do gestual das pinturas de Wlamink<br />
(1876-1958) e Vrubel (1856-1910), ao equilíbrio<br />
de desenho e cor de um mestre como Euan<br />
Uglow (1932). Ante o vazio e a renúncia do ato e do<br />
aprendizado do desenho e da pintura, a ilustração<br />
homogênea em sua diversidade<br />
na poesia de Gregório de Mattos,<br />
Gonçalves Dias, Castro Alves,<br />
Carlos Drummond de Andrade<br />
e Manuel Bandeira, todos estes,<br />
e muitos outros, compõem o mosaico<br />
de nossa alma. Esta é a<br />
introdução que gostaria de fazer<br />
para falar da poesia de Bartolomeu<br />
Campos de Queirós, até pelo fato<br />
de sua prosa ser elaborada, a meu<br />
ver, em forma poética.<br />
Conheci o Bartô – como nós o<br />
chamávamos – no início dos anos<br />
1980. Um mineiro de alma de<br />
menino, sorriso discreto e afável<br />
trato com as pessoas. Existe<br />
um texto em que ele afirma que<br />
escrever é dividir-se. Talvez essa<br />
seja a essência de sua literatura,<br />
e da verdadeira arte, ou seja, dividir,<br />
compartilhar com as pessoas.<br />
Sempre procurei uma explicação<br />
sobre a origem do talento mineiro<br />
para a literatura. A que encontrei<br />
não tem nenhum fundamento<br />
científico. A resposta para o enigma<br />
está implícita em um quadro<br />
de Guignard – um poeta da pintura,<br />
um Fra Angélico de Minas.<br />
É uma “Paisagem Imaginante”,<br />
onde as igrejas parecem flutuar<br />
no topo das montanhas, também<br />
enevoadas. Ali está o gênio mineiro<br />
para a literatura. A união do<br />
céu com a terra. Ali está a poesia<br />
de meu querido e velho amigo<br />
Bartô.<br />
pode resgatar este elo de Rafael (1483-1520) a<br />
De Kooning (1904-1997), de Ingres (1780-1867)<br />
à maravilhosa abstração de Rothko (1903-1970).<br />
Em suma, a imagem narrativa nos livros pode e<br />
deve iniciar o olhar de nossos jovens ao cinema, à<br />
arquitetura, à escultura, fomentando assim uma visão<br />
mais crítica a toda a brutalidade e vulgaridade<br />
da imagem que os cerca. Não apenas para verem<br />
o mundo melhor, mas para transformá-lo, com sua<br />
cultura e discernimento crítico.<br />
Rui de Oliveira é doutor em Comunicação Visual e Design e professor na Escola de Belas Artes da UFRJ.<br />
Autor do livro Pelos jardins Boboli: reflexões sobre a arte de ilustrar livros para crianças e jovens, ganhador do<br />
Prêmio Cecilia Meireles, da FNLIJ, em 2009.<br />
Foto: arquivo pessoal.<br />
Julho <strong>2012</strong> REVISTA PALAVRA • quarenta e cinco