Revista Palavra 2012 - Sesc
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da computação gráfica, não<br />
como legítimo meio de expressão,<br />
mas como muleta e artifício,<br />
são componentes que vêm<br />
gerando uma ilustração de livros<br />
para crianças absolutamente<br />
igual, independentemente de<br />
nacionalidade ou individualidade.<br />
Isto é muito visível quando<br />
analisamos os catálogos das<br />
editoras, sejam francesas, italianas,<br />
espanholas ou brasileiras.<br />
Esta padronização advém, no<br />
meu entendimento, da utilização<br />
não criteriosa da chamada arte contemporânea de<br />
galerias, da excessiva presença do design, da computação<br />
gráfica apelativa e maneirista e da utilização<br />
de outros gêneros citados antes, que não representam<br />
a arte da ilustração.<br />
A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO ILUSTRADOR<br />
O resgate da grande tradição da pintura do Ocidente<br />
– ou seja, a educação cultural e sensível do olhar<br />
das crianças e do jovem, este elo com o necessário<br />
conhecimento do passado e seus desdobramentos<br />
A própria tradição do conceito de<br />
original também representa uma das<br />
grandes diferenças entre a ilustração<br />
e a pintura. O ilustrador, ao contrário<br />
do pintor, elabora conceitual<br />
e tecnicamente seu trabalho para<br />
ser reproduzido.<br />
no presente – pode ser representado, em nossos<br />
dias, pelos grandes ilustradores de livros. Quem<br />
ilustra para crianças não deve se considerar um<br />
Orfeu, ou seja, alguém que cai em perdição se olhar<br />
para trás. Vivemos numa época de uma arte sem<br />
ofício. Atualmente, muitas escolas e institutos de<br />
quarenta e quatro • julho <strong>2012</strong> REVISTA PALAVRA<br />
Uma história de amor sem palavras (OLIVEIRA, R., 2009)<br />
arte ensinam – paradoxalmente de forma acadêmica<br />
– como ser um artista de vanguarda, uma artista<br />
conceitual, expurgando as etapas de sua gradual<br />
formação. O fazer e o aprendizado são vistos como<br />
algo físico e enfadonho. Uma posição que, curiosamente,<br />
remete-nos à antiga Grécia, quando os homens<br />
livres, letrados e cultos viam o trabalho braçal<br />
como algo unicamente destinado aos escravos.<br />
Como dizia Jean Cocteau (1889-1963), e esta sua<br />
frase é atualíssima, “um artista não queima etapas”.<br />
Quando um jovem é compulsoriamente ensinado a<br />
ser abstrato, ou a fazer instalações, essa aparente<br />
contemporaneidade, por mais paradoxal que seja a<br />
comparação, exuma a atuação do grande historiador<br />
e teórico de arte alemão Winckelmann (1717-1768)<br />
que preconizava o primado da antiguidade clássica<br />
e dos modelos greco-romanos aos artistas. Mas, diferente<br />
do neoclassicismo que ele anunciava ante ao<br />
Romantismo, esse passado não existe atualmente, é<br />
apenas um dogma, um catecismo da modernidade,<br />
um messianismo do que seja contemporâneo.<br />
A responsabilidade da imagem de um livro que che-<br />
ga às mãos de milhões de crianças por meio das<br />
compras governamentais deve ser cada vez mais criteriosa,<br />
porque são elas – as imagens – que iniciam<br />
verdadeiramente as crianças às artes plásticas.<br />
Imagem: Editora Nova Fronteira