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Revista Palavra 2012 - Sesc

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seu pai – tempos depois Tito faleceria. A própria<br />

morte do artista ocorreria um ano após a do filho.<br />

O mesmo fenômeno acontece quando sabemos do<br />

triângulo amoroso entre Dante Gabriel Rossetti e<br />

sua modelo favorita Jane Morris, intensamente representada<br />

pelo artista – ela era esposa de William<br />

Morris (1834-1896) – detalhes que se entrelaçam<br />

logo após a morte prematura, por uso de láudano,<br />

de sua antiga modelo e esposa Elizabeth Siddal.<br />

Tudo são fatos. Histórias. Labirintos da alma humana,<br />

mas não são narrativas.<br />

5 - Outra diferença é o fato de a ilustração ser essencialmente<br />

figurativa e estar sempre compromissada<br />

com as formas do universo tangível. A pintura<br />

pode ser figurativa ou não. El Lissitzky (1890-<br />

1941) criou em 1922 um livro abstrato para as<br />

crianças por meio de formas geométricas, denomi-<br />

A pintura possui um rito de<br />

percepção que não existe na<br />

ilustração, que está comumente<br />

disposta ao longo de um livro e<br />

sempre referenciada a um texto.<br />

nado Os dois quadrados. Bem mais tarde, nesta<br />

mesma direção, o ilustrador ítalo-americano Leo<br />

Lionni (1910-1999) ilustra um interessante livro:<br />

Pequeno azul, pequeno amarelo. O primeiro conta<br />

uma parábola politizante. O segundo, a relação de<br />

uma forma amarela com um azul que tem um filho<br />

verde. Em termos conceituais da arte abstrata, isso<br />

é impossível. Ela possui um total alheamento dos<br />

fatos cotidianos, bem como de seus conteúdos. A<br />

pintura abstrata é o aqui e agora. Seu espaço não é<br />

físico, é conceitual. É inútil procurar o céu nos azuis<br />

das pinturas abstratas de um artista extraordinário<br />

como Arshile Gorky (1904-1948). O azul é referente<br />

a si mesmo, é o próprio conteúdo e a mais pura<br />

quarenta e dois • julho <strong>2012</strong> REVISTA PALAVRA<br />

subjetividade da cor. Portanto, a abstração é atemporal<br />

e está longe de contar ou descrever histórias.<br />

6 - A própria tradição do conceito de original também<br />

representa uma das grandes diferenças entre<br />

a ilustração e a pintura. O ilustrador, ao contrário<br />

do pintor, elabora conceitual e tecnicamente seu<br />

trabalho para ser reproduzido. Do ponto de vista<br />

puramente técnico, o conceito de original para o<br />

ilustrador está representado no múltiplo, isto é, na<br />

reprodução industrial de sua ilustração.<br />

Tomando o aspecto do múltiplo como processo ge-<br />

rador de conhecimento, veremos que é uma história<br />

muito antiga, e, neste sentido – como veremos<br />

mais adiante –, a arte da ilustração nos livros para<br />

crianças e jovens tem em nossos dias uma importância<br />

cultural que as artes plásticas de modo geral<br />

não mais representam. Retornando no tempo<br />

e citando apenas alguns exemplos, veremos que<br />

Albrecht Dürer (1471-1528) conheceu primeiramente<br />

o renascimento italiano por meio de reproduções<br />

em xilogravura das obras dos grandes<br />

mestres. Artistas do período vitoriano também conheceram<br />

a obra de Giotto (c.1267-1337) basicamente<br />

por gravuras. No caso de Peter Rubens<br />

(1577-1640), um dos mais importantes pintores<br />

flamengos, além de desenvolver intensa atividade<br />

como ilustrador de livros, também difundiu sua<br />

arte e seu estilo por toda a Europa utilizando reproduções<br />

de suas pinturas. Para tanto, contou com<br />

um operoso e bem organizado atelier com dezenas<br />

de gravadores.<br />

QUANDO A ARTE DA ILUSTRAÇÃO DE LIVROS<br />

PLAGIA A PINTURA E O DESIGN<br />

O título deste tópico pode parecer estranho, mas<br />

estamos diante, a meu ver, de um indesejado alinhamento<br />

da ilustração de livros à pintura e ao design.<br />

Frequentemente, vemos livros para crianças<br />

que parecem exercícios de tardio neoplasticismo,<br />

ou construtivismo russo do período bolchevista, ou

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