Revista Palavra 2012 - Sesc
Revista Palavra 2012 - Sesc
Revista Palavra 2012 - Sesc
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
É no mundo possível da ficção que o homem se encontra<br />
realmente livre para pensar, configurar alternativas,<br />
deixar agir a fantasia. Na literatura que, liberto do agir<br />
prático e da necessidade, o sujeito viaja por outro mundo<br />
possível. Sem preconceitos em sua construção, daí sua<br />
possibilidade intrínseca de inclusão, a literatura nos<br />
acolhe sem ignorar nossa incompletude.<br />
O fragmento acima foi extraído do Manifesto por um<br />
Brasil Literário, escrito por Bartolomeu Campos de<br />
Queirós em 2009, quando do lançamento do movimento<br />
partilhado por inúmeros intelectuais, os<br />
quais, como ele, acreditam no direito de todo cidadão<br />
à leitura e à arte literária em particular, como<br />
condição de assegurar no homem, na criança e<br />
no jovem sua humanidade (leia a íntegra do Manifesto<br />
por um Brasil Literário nas páginas seguintes). A real<br />
liberdade para pensar por meio da ficção de que nos<br />
fala o escritor no manifesto consiste em uma forte vertente<br />
da sua obra. Evidenciam-se do mesmo modo no<br />
documento as preocupações do educador e do intelectual<br />
engajado nas questões culturais e sociais do<br />
seu tempo. Trabalhou no Ministério da Educação e na<br />
Secretaria da Cultura de Minas Gerais, o que revela<br />
faceta singular na trajetória desse homem generoso,<br />
afetuoso e firme no modo de ensinar e ministrar palestras<br />
em diversos fóruns sociais, nos quais defendeu a<br />
leitura literária como direito de todos, forma de libertação<br />
pela arte. Acrescentava no corpo do manifesto:<br />
[...] Liberdade, espontaneidade, afetividade<br />
e fantasia são elementos que fundam a infância.<br />
Tais substâncias são também pertinentes<br />
à construção literária. Daí, a literatura<br />
ser próxima da criança. Possibilitar aos mais<br />
jovens acesso ao texto literário é garantir a<br />
presença de tais elementos, que inauguram<br />
a vida, como essenciais para o seu crescimento.<br />
Nesse sentido, é indispensável a presença<br />
da literatura em todos os espaços por<br />
onde circula a infância. Todas as atividades<br />
que têm a literatura como objeto central serão<br />
promovidas para fazer do país uma sociedade<br />
leitora. [...] (www.brasilliterario.org.br)<br />
DOSSIÊ BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS<br />
Trata-se de um humanista afinado com seu tempo;<br />
um artesão delicado da palavra escrita. Por<br />
essa maestria, foi agraciado com prêmios literários<br />
no Brasil e no exterior: Prefeitura Municipal de Belo<br />
Horizonte, Selo de Ouro; O Melhor para a Criança,<br />
o Melhor para o Jovem – pela FNLIJ; Jabuti e Bienal<br />
Internacional de São Paulo – pela Câmara Brasileira<br />
do Livro; Grande Prêmio – pela Associação Paulista de<br />
Críticos de Arte (APCA); Bienal de Belo Horizonte:<br />
Diploma de Honra do IBBY; Rosa Blanca de Cuba,<br />
Quatrième Octogonal da França, entre outros.<br />
Os livros escritos por Bartolomeu Campos de Queirós<br />
ensinam a ler porque interrogam a vida, a passagem<br />
do tempo, os enigmas da existência. Ressaltam, sobretudo,<br />
a infância como momento propício para descobertas.<br />
Todavia, eles não têm fronteiras, não se segmentam<br />
em faixas etárias; tratam, em primeiro plano,<br />
da condição humana. De tal modo, podem ser lidos e<br />
usufruídos por crianças pequenas e gente grande. A<br />
obra do autor favorece, sem riscos de infantilizações,<br />
rica experiência de leitura. Não é de se estranhar a<br />
qualidade referida em se tratando de Bartolomeu<br />
Campos de Queirós; cada um dos seus livros traz as<br />
marcas de sólida formação humana e intelectual.<br />
SOBRE A FORMAÇÃO E A AMPLA PRODUÇÃO DO AUTOR<br />
O autor nasceu em Papagaio (Minas Gerais) no ano de<br />
1944, onde passou a infância. Circulou por diferentes<br />
espaços, dedicando-se à pesquisa e à aprendizagem.<br />
Inclui-se sua experiência mundo afora, quando recebe<br />
uma bolsa da ONU para estudar em Paris nos anos<br />
de 1960. Primeiro, havia cursado filosofia no Brasil<br />
e, depois, ingressou no Instituto Pedagógico de Paris.<br />
Foi por esta ocasião, e para se sentir menos só, que<br />
escreveu o primeiro livro, O peixe e o pássaro:<br />
Nasceu meu primeiro texto, O peixe e o pássaro,<br />
com a intenção única de acariciar-me.<br />
Era amparar-me em meu próprio colo. Assim o<br />
peso de Paris tornou-se carregável. (COELHO,<br />
Nelly Alves. Dicionário crítico da literatura<br />
Julho <strong>2012</strong> REVISTA PALAVRA • vinte e sete