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Revista Palavra 2012 - Sesc

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que o público de literatura infantojuvenil tem au-<br />

mentado seu escopo, atingindo, inclusive, os adultos”,<br />

arrisca. Elizabeth Serra, da FNLIJ, questiona<br />

as pessoas que tratam crianças, adolescentes e jovens<br />

como parte de um mesmo bloco. “No nosso<br />

caso, por exemplo, sempre separamos. Somos uma<br />

fundação voltada às literaturas infantil e juvenil,<br />

porque acreditamos que há diferenças”, diz, lembrando<br />

que há escritores que resistem a qualquer<br />

rótulo, como Lygia Bojunga, por exemplo. Afinal,<br />

Lygia é tanto autora do cultuado A bolsa amarela,<br />

clássico da literatura infantil (1976), quanto de<br />

livros como O abraço (1995) e Fazendo Ana Paz<br />

(1991), voltados para os públicos juvenil e adulto.<br />

Ao fazer uma retrospectiva da história da literatura<br />

infantojuvenil, Elizabeth Serra aponta justamente a<br />

obra de Lygia Bojunga como um dos pontos altos,<br />

por esta ser, entre outros fatores, a primeira fora<br />

do eixo Europa-Estados Unidos a receber a medalha<br />

Hans Christian Andersen (considerada o prêmio<br />

Nobel dos autores para a infância e juventude de<br />

todo o mundo) pelo conjunto da obra. Uma premiação<br />

vista como um momento de valorização e de estímulo,<br />

dando mais crédito aos escritos brasileiros.<br />

Elizabeth não é a única. Lygia é quase uma unanimidade,<br />

um exemplo para diversos “fazedores” da literatura<br />

infantojuvenil, como duas das entrevistadas<br />

nesta matéria, a pesquisadora Luciana Figueiredo,<br />

que é especialista na obra de Lygia, a qual serviu de<br />

base para sua dissertação de mestrado, e a escritora<br />

Ana Letícia Leal, cuja tese de doutorado foi dedicada<br />

à pesquisa da obra da autora.<br />

Atualmente, Lygia parece ir na contramão de toda<br />

essa tendência. Enquanto o mercado está mais acirrado,<br />

os escritores se sentem impulsionados a divulgar<br />

seus livros e o público procura aventuras seriadas,<br />

Lygia se recolhe. Em 2002, ela lançou um selo<br />

próprio para editar sua obra, a Casa Lygia Bojunga,<br />

e, desde então, passou a publicar seus livros com<br />

uma aparência que contrasta com os exemplares<br />

mais elaborados que vão para as livrarias. O<br />

visual é modesto, como se quisesse reforçar que o<br />

importante é o conteúdo. A autora passou a esmiuçar<br />

um fazer literário quase artesanal, coroado com<br />

a publicação, em 1996, do livro Feito à mão, lançado<br />

na época em tiragem reduzidíssima, com papel<br />

reciclado e costuras aparentes (as edições seguintes<br />

ganharam um formato tradicional). A história é uma<br />

reflexão sobre o fazer literário, e o objeto pode ser<br />

visto como uma crítica à própria produção industrial.<br />

A autora passou também a fazer os próprios<br />

programas de formação de leitores. Em 2006, criou<br />

uma fundação que desenvolve, entre outras coisas,<br />

contações de história e rodas de leitura.<br />

Observar sua obra é notar que, ainda hoje, há quem<br />

concorde com as palavras de Cecília Meireles. Basta<br />

saber se a experiência de Lygia vai influenciar as<br />

produções atual e futura tanto quanto sua obra parece<br />

marcar a literatura infantojuvenil brasileira.<br />

Renata Magdaleno é jornalista, doutora em Estudos de Literatura pela PUC-Rio e coorganizadora do livro<br />

Nosotros: diálogos literários entre o Brasil e a América hispânica.<br />

Foto: Ariel Fotografia.<br />

Julho <strong>2012</strong> REVISTA PALAVRA • treze

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