Pedagogia dos monstros - Apresentação
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colocam em funcionamento uma ratio ‘popular’, um<br />
modo de pensar investido em um modo de agir, uma<br />
arte da combinação que não pode ser dissociada de<br />
uma arte de usar” (CERTEAU, 1984, p. xv).<br />
Para apreender a fluidez do movimento no qual as<br />
normas às quais se atribui autoridade são encenadas e<br />
traduzidas em seu uso, alternarei o foco da discussão,<br />
nos capítulos seguintes, entre a educação e a cultura<br />
popular. Ao me recusar a estabelecer uma relação fixa<br />
na qual um foco é central e o outro marginal, ou um<br />
normativo e outro subversivo, espero que esses mutantes<br />
pontos de vista possam oferecer novas e talvez<br />
inesperadas perspectivas no terreno e nos limites de<br />
ambos os domínios. Eles revelam, por exemplo, não<br />
apenas os aspectos performativos da cultura popular,<br />
mas também as funções pedagógicas <strong>dos</strong> sistemas nacionais<br />
de rádio e televisão, do cinema de Hollywood<br />
e da literatura popular — em suma, das indústrias culturais.<br />
O ponto a ser enfatizado é que a “cultura popular”<br />
não significa uma única coisa. Ela se refere tanto<br />
a um aparato que dissemina certas narrativas e imagens<br />
quanto às práticas através das quais estas são consumidas<br />
e rearticuladas.<br />
Toda essa atividade explica por que a instituição e a<br />
negociação da autoridade cultural nunca produzem<br />
apenas aquiescência. A experiência da educação e as<br />
paixões de consumo da cultura popular geram, sempre,<br />
farsa, inquietação e dissonância, assim como prazer<br />
e aspiração a uma vontade geral. Ao tentar definir<br />
os limites — entre Nós e Eles, entre Baixa e Alta (Cultura)<br />
— os aparatos culturais também fazem emergir<br />
um exterior constitutivo, que é representado como o