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Pedagogia dos monstros - Apresentação

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uma perigosa fascinação. Uma certa intriga é permitida<br />

mesmo ao bem-dotado cinocéfalo de Vincent de Beauvais,<br />

pois, antes de ser necessariamente descartado, ele<br />

ocupa um espaço textual de aliciamento, durante o qual<br />

lhe é concedido um inegável charme. O monstruoso<br />

espreita em algum lugar naquele espaço ambíguo, primal,<br />

entre o medo e a atração, próximo ao centro daquilo<br />

que Kristeva (1982, p. 1) chama de “abjeção”:<br />

Há na abjeção uma dessas violentas e obscuras rebeliões<br />

do ser contra aquilo que o ameaça e que<br />

parece vir de um fora ou de um dentro exorbitante,<br />

lançado para além do alcance possível e do tolerável,<br />

do pensável. Ela está ali, muito próxima, mas<br />

inassimilável. Ela incita, inquieta, fascina o desejo<br />

que, entretanto, não se deixa seduzir. Assustado,<br />

ele se afasta; enojado, ele se recusa... Entretanto,<br />

ao mesmo tempo, esse ímpeto, esse espasmo, esse<br />

salto é atraído para um outro lugar que é tão tentador<br />

quanto é condenado. Incansavelmente, como<br />

um inescapável bumerangue, um vórtice de atração<br />

e de repulsão coloca aquele que está habitado<br />

por ela literalmente ao lado de si mesmo.<br />

Esse eu, ao lado do qual tão repentinamente e tão<br />

nervosamente nos colocamos, é o monstro.<br />

O monstro é o fragmento abjeto que permite a<br />

formação de to<strong>dos</strong> os tipos de identidade — pessoal,<br />

nacional, cultural, econômica, sexual, psicológica, universal,<br />

particular (mesmo que aquela “particular” identidade<br />

represente uma ardorosa adoção do poder/status/<br />

saber da própria abjeção); como tal, ele revela sua parcialidade,<br />

sua contigüidade. Um produto de uma variedade<br />

de morfogêneses (indo do somático ao étnico)<br />

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