Pedagogia dos monstros - Apresentação
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do “diferente” e, de outro, o sujeito assim definido; o<br />
critério dessa divisão é arbitrário, e pode ir desde a anatomia<br />
ou a cor da pele até à crença religiosa, ao costume<br />
e à ideologia política. A destrutividade do monstro<br />
é realmente uma desconstrutividade: ele ameaça revelar<br />
que a diferença tem origem no processo e não no<br />
fato (e que o “fato” está sujeito à constante reconstrução<br />
e mudança). Dado que os que têm registrado a<br />
história do Ocidente têm sido principalmente europeus<br />
e masculinos, as mulheres (Ela) e os não-brancos (Eles!)<br />
viram-se repetidamente transforma<strong>dos</strong> em <strong>monstros</strong>,<br />
seja para validar alinhamentos específicos de masculinidade<br />
e branquidade, seja simplesmente para serem<br />
expulsos de seu domínio de pensamento. 21 Os outros<br />
femininos e culturais já são bastante monstruosos se<br />
considera<strong>dos</strong> isoladamente, na sociedade patriarcal, mas<br />
quando eles ameaçam se misturar é toda uma economia<br />
do desejo que se vê atacada.<br />
Como veículo de proibição, o monstro freqüentemente<br />
surge para impor as leis da exogamia, tanto o<br />
tabu do incesto (que estabelece um tráfico de mulheres<br />
ao exigir que elas se casem fora de suas famílias) quanto<br />
os decretos contra a mistura sexual inter-racial (que limita<br />
os parâmetros daquele tráfico ao policiar as fronteiras da<br />
cultura, em geral a serviço de alguma idéia de “pureza”<br />
grupal). 22 As narrativas de incesto são comuns em toda<br />
tradição e têm sido amplamente descritas, graças principalmente<br />
à elevação do tabu — feita por Lévi-Strauss<br />
— ao status de base fundadora da sociedade patriarcal.<br />
A miscigenação, aquela intersecção de misoginia (ansiedade<br />
de gênero) e racismo (não importa quão ingênuo),<br />
tem recebido uma atenção consideravelmente menos crítica.<br />
Direi, aqui, algumas poucas palavras sobre ela.<br />
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