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Pedagogia dos monstros - Apresentação

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diferença transforma-se em outro à medida que as<br />

categorias normativas do gênero, da sexualidade, da<br />

identidade nacional e da etnia deslizam, de forma<br />

conjunta, como os círculos imbrica<strong>dos</strong> de um diagrama<br />

de Venn, expulsando do centro aquilo que se<br />

torna o monstro. Essa violenta forclusão erige uma<br />

autovalidante dialética hegeliana mestre/escravo que<br />

naturaliza a subjugação de um corpo cultural por<br />

outro, ao escrever o corpo excluído da pessoalidade<br />

e da agência como sendo, sob to<strong>dos</strong> os aspectos, diferente,<br />

monstruoso. Permite-se uma polissemia, de forma<br />

que uma ameaça maior possa ser codificada; a<br />

multiplicidade de significa<strong>dos</strong>, paradoxalmente, reitera<br />

as mesmas restringidoras e interessadas representações<br />

desenhadas pelo estreitamento da significação.<br />

Há, entretanto, um perigo nessa multiplicação: à medida<br />

que a diferença, como uma Hidra, faz crescer<br />

duas cabeças onde antes existia apenas uma, agora cortada,<br />

as possibilidades de fuga, de resistência e de perturbação<br />

levantam-se com mais força.<br />

René Girard tem escrito sobre a real violência exercida<br />

por essas degradantes representações, vinculando<br />

as descrições que transformam as pessoas e grupos<br />

em <strong>monstros</strong> com o fenômeno do bode expiatório.<br />

Os <strong>monstros</strong> nunca são cria<strong>dos</strong> ex nihilo, mas por meio<br />

de um processo de fragmentação e recombinação, no<br />

qual se extraem elementos “de várias formas” (incluindo<br />

— na verdade, especialmente — grupos sociais<br />

marginaliza<strong>dos</strong>), que são, então, monta<strong>dos</strong> como sendo<br />

“o monstro”, “que pode, assim, reivindicar uma<br />

identidade independente” (Girard, 1986, p. 33). O<br />

monstro político-cultural, a corporificação da diferença<br />

radical, ameaça, de forma paradoxal, apagar a diferença<br />

no mundo de seus criadores, para demonstrar<br />

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