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Pedagogia dos monstros - Apresentação

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espécie de terceiro termo que problematiza o choque<br />

entre extremos — como “aquilo que questiona o pensamento<br />

binário e introduz uma crise” (GARBER, 1991,<br />

p. 11). 6 Este poder para se esquivar e para solapar tem<br />

corrido pelo sangue do monstro desde a época clássica,<br />

quando, a despeito de todas as tentativas de Aristóteles<br />

(e, mais tarde, Plínio, Agostinho e Isidoro) para incorporar<br />

as classes monstruosas7 a um sistema epistemológico<br />

coerente, o monstro sempre escapou para retornar<br />

à sua habitação às margens do mundo (que, mais do que<br />

um locus geográfico, é um locus puramente conceitual). 8<br />

Os livros clássicos sobre “maravilhas” solapam, de forma<br />

radical, o sistema taxonômico aristotélico, pois, ao<br />

recusar uma compartimentalização fácil de seus monstruosos<br />

conteú<strong>dos</strong>, eles exigem um repensar radical da<br />

fronteira e da normalidade. As demasiadamente precisas<br />

leis da natureza tais como estabelecidas pela ciência<br />

são alegremente violadas pela estranha composição do<br />

corpo do monstro. Uma categoria mista, o monstro<br />

resiste a qualquer classificação construída com base em<br />

uma hierarquia ou em uma oposição meramente binária,<br />

exigindo, em vez disso, um “sistema” que permita<br />

a polifonia, a reação mista (diferença na mesmidade,<br />

repulsão na atração) e a resistência à integração — que<br />

permita aquilo que Hogle (1988, p. 161) chamou de<br />

“um jogo mais profundo de diferenças, um polimorfismo<br />

não-binário na ‘base’ da natureza humana”.<br />

O horizonte no qual os <strong>monstros</strong> moram pode<br />

muito bem ser imaginado como a margem visível do<br />

próprio círculo hermenêutico: o monstruoso oferece<br />

uma fuga de seu hermético caminho, um convite a explorar<br />

novas espirais, novos e interconecta<strong>dos</strong> méto<strong>dos</strong><br />

de perceber o mundo. 9 Diante do monstro, a análise<br />

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