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Pedagogia dos monstros - Apresentação

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egistro social. No recente sucesso de bilheteria do filme<br />

Bram Stoker’s Dracula, de Francis Coppola, o subtexto<br />

homossexual presente desde a aparição da lésbica<br />

Lamia, de Sheridan Le Fanu (Carmilla, 1872), tal como<br />

os corpúsculos vermelhos que servem como o leitmotif<br />

do filme, sobe à superfície, primariamente como consciência<br />

da AIDS, transformando a doença do vampirismo<br />

em uma forma sádica (e muito medieval) de<br />

redenção por meio <strong>dos</strong> tormentos do corpo que sofre.<br />

Nenhuma coincidência, pois, que Coppola estivesse<br />

produzindo um documentário sobre a AIDS ao mesmo<br />

tempo em que ele estava trabalhando no Drácula.<br />

Em cada uma dessas histórias de vampiro, aquele<br />

que se recusa a morrer retorna, numa roupagem ligeiramente<br />

diferente, para ser lido, a cada vez, contra os<br />

movimentos sociais contemporâneos ou contra um<br />

evento específico, determinante: la décadence e suas<br />

novas possibilidades, a homofobia e seus odiosos imperativos,<br />

a aceitação de novas subjetividades não fixadas<br />

pelo gênero binário, um ativismo social de fin<br />

de siècle, paternalista em sua aceitação. O discurso que<br />

postula um fenômeno transcultural, transtemporal, rotulado<br />

de “o vampiro” é de uma utilidade bastante limitada;<br />

mesmo que as figuras vampíricas possam ser<br />

encontradas em todo o mundo, desde o antigo Egito<br />

até à moderna Hollywood, cada reaparição e sua análise<br />

estão ainda presas a um duplo ato de construção e reconstituição.<br />

3 Uma “teoria <strong>dos</strong> <strong>monstros</strong>” deve, portanto,<br />

preocupar-se com séries de momentos culturais,<br />

ligadas por uma lógica que ameaça, sempre, mudar;<br />

fortalecida pela mudança e pela fuga, pela impossibilidade<br />

de obter aquilo que Susan Stewart chama de a desejada<br />

“queda ou morte, a paralisação” de seu gigantesco<br />

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