Pedagogia dos monstros - Apresentação
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literal — medo, desejo, ansiedade e fantasia (ataráxica<br />
ou incendiária), dando-lhes uma vida e uma estranha<br />
independência. O corpo monstruoso é pura cultura.<br />
Um constructo e uma projeção, o monstro existe apenas<br />
para ser lido: o monstrum é, etimologicamente,<br />
“aquele que revela”, “aquele que adverte”, um glifo em<br />
busca de um hierofante. Como uma letra na página, o<br />
monstro significa algo diferente dele: é sempre um<br />
deslocamento; ele habita, sempre, o intervalo entre o<br />
momento da convulsão que o criou e o momento no<br />
qual ele é recebido — para nascer outra vez. Esses espaços<br />
epistemológicos entre os ossos do monstro constituem<br />
a conhecida fenda da différance de Derrida: um<br />
princípio de incerteza genética, a essência da vitalidade<br />
do monstro, a razão pela qual ele sempre se ergue da<br />
mesa de dissecção quando seus segre<strong>dos</strong> estão para ser<br />
revela<strong>dos</strong> e desaparece na noite.<br />
TESE II:<br />
O MONSTRO SEMPRE ESCAPA<br />
Vemos o estrago que o monstro causa, os restos<br />
materiais (as pegadas do yeti através da neve tibetana,<br />
os ossos do gigante extravia<strong>dos</strong> em um rochoso precipício),<br />
mas o monstro em si torna-se imaterial e desaparece,<br />
para reaparecer em algum outro lugar (pois<br />
quem é o yeti se não o homem selvagem medieval?<br />
Quem é o homem selvagem se não o clássico e bíblico<br />
gigante?). Não importa quantas vezes o Rei Artur tenha<br />
matado o ogro do Monte Saint Michel, o monstro<br />
reaparecerá em outra crônica heróica, legando à<br />
Idade Média uma abundância de morte d’Arthurs. Não<br />
importa quantas vezes a sitiada Ripley, de Sigourney<br />
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