Pedagogia dos monstros - Apresentação
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fronteiras é magnificamente ilustrada no filme Blade<br />
runner, no qual a trama gira precisamente em torno da<br />
dificuldade de se distinguir entre “verdadeiros” seres<br />
humanos e “replicantes”. Não é que as máquinas se<br />
tornem “humanizadas”, mas o contrário: são os seres<br />
humanos que são expostos em toda sua artificialidade.<br />
Mas se os ciborgues, tal como a engenharia genética,<br />
expõem a artificialidade da subjetividade humana<br />
de forma concreta e material, há uma outra espécie de<br />
criatura que expõe, agora no terreno propriamente cultural,<br />
a ansiedade que o ser humano tem relativamente<br />
ao caráter artificial de sua subjetividade: o monstro<br />
da tradição, da literatura e do cinema. No fundo, a<br />
questão da subjetividade diz respeito, sobretudo, ao<br />
cruzamento de fronteiras: entre o humano e o nãohumano,<br />
entre cultura e natureza, entre diferentes<br />
tipos de subjetividade. O monstro, “pura cultura”,<br />
como diz Cohen, em seu ensaio neste livro, expressa<br />
nossa preocupação com a diferença, a alteridade e a<br />
limiaridade. A “existência” <strong>dos</strong> <strong>monstros</strong> é a demonstração<br />
de que a subjetividade não é, nunca, aquele<br />
lugar seguro e estável que a “teoria do sujeito” nos levou<br />
a crer. As “pegadas” do monstro não são a prova de<br />
que o monstro existe, mas de que o “sujeito” não existe.<br />
Chegamos, assim, ao presente livro. Seu núcleo é<br />
constituído por três capítulos extraí<strong>dos</strong> do livro de James<br />
Donald, Sentimental education. Publicado em 1992,<br />
foi talvez o primeiro trabalho teórico a colocar em questão,<br />
de forma explícita e elaborada, os fundamentos da<br />
“teoria do sujeito” no campo educacional. Misturando<br />
crítica cultural com filosofia política e psicanálise, Donald<br />
recorre, sobretudo, à análise da ficção sobre<br />
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