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Pedagogia dos monstros - Apresentação

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176<br />

Limitámo-nos a indicar a relação entre essas<br />

extraordinárias mutações e a que marca o interesse pela<br />

monstruosidade; mas de tal forma que nos ajudará,<br />

talvez, a compreender o que acontece hoje, nesse mesmo<br />

plano, sob o nosso olhar, nos corpos e no pensamento<br />

do corpo humano.<br />

***<br />

Se é verdade que o homem procura nos <strong>monstros</strong>,<br />

por contraste, uma imagem estável de si mesmo, não é<br />

menos certo que a monstruosidade atrai como uma<br />

espécie de ponto de fuga do seu devir-inumano: deviranimal,<br />

devir-vegetal ou mineral. Nele se confundem<br />

duas forças de vectores opostos: uma tendência à metamorfose<br />

e o horror, o pânico de se tornar outro.<br />

Vimos como, da Antiguidade a Descartes, a imagem<br />

do monstro se compunha de elementos repulsivos,<br />

adequa<strong>dos</strong> à função de complemento inverso e<br />

simétrico da humanidade do homem. Porém, essa<br />

imagem também atrai; é, aliás, porque atrai irresistivelmente<br />

que ela estanca o processo de transformação<br />

que induz.<br />

O que faz do monstro um “atractor” (da imaginação)?<br />

O facto de se situar numa fronteira indecisa entre<br />

a humanidade e a não-humanidade. Melhor: o<br />

nascimento monstruoso mostraria como potencialmente<br />

a humanidade do homem, configurada no corpo<br />

normal, contém o germe da sua inumanidade.<br />

Qualquer coisa em nós, no mais íntimo de nós —<br />

no nosso corpo, na nossa alma, no nosso ser — nos<br />

ameça de dissolução e caos. Qualquer coisa de imprevisível<br />

e pavoroso, de certo modo pior do que uma

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