25.04.2013 Views

CISTITE POLIPOIDE EM CADELA – RELATO DE CASO ...

CISTITE POLIPOIDE EM CADELA – RELATO DE CASO ...

CISTITE POLIPOIDE EM CADELA – RELATO DE CASO ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>CISTITE</strong> <strong>POLIPOI<strong>DE</strong></strong> <strong>EM</strong> <strong>CA<strong>DE</strong>LA</strong> <strong>–</strong> <strong>RELATO</strong> <strong>DE</strong> <strong>CASO</strong><br />

VASCONCELLOS, A. L. 1 ; AQUINO, G. V. 2 ; PRADO, V. M. 2 ; FERREIRA, G. S. 1 ; ROCHA, A.<br />

G. 1 ; SOARES, l. M. C. 3 ; GALVÃO, A. L. B .3 ; CARVALHO, M. B. 4<br />

1. Pós-graduandos do curso de Medicina Veterinária da FCAV/UNESP campus de<br />

Jaboticabal. E-mail: amanda-vet@hotmail.com<br />

2. Discentes do curso de Medicina Veterinária da FCAV/UNESP campus de<br />

Jaboticabal.<br />

3. Residente da Patologia Veterinária da FCAV/UNESP campus de Jaboticabal.<br />

4. Docente do Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária da FCAV/UNESP<br />

campus de Jaboticabal.<br />

Introdução<br />

A cistite polipoide é uma condição rara da vesícula urinária de cães de grande<br />

relevância clínica, caracterizada pela inflamação da mucosa vesical e o desenvolvimento de<br />

lesões múltiplas ou únicas (pólipos) que se projetam para o lúmen vesical, sem evidência<br />

histopatológica de neoplasia (WOLFE et al. 2010). Esta patologia é bem documentada na<br />

medicina (LANE & EPSTEIN, 2008).<br />

A causa cistite polipoide em cães não está completamente esclarecida, mas sugerese<br />

que esteja associada à inflamação crônica da bexiga e que possa ser um fenômeno préneoplásico<br />

(JOHNSTON et al. 1975; WOLFE et al. 2010). A remoção cirúrgica e posterior<br />

antibióticoterapia é o tratamento mais indicado, e o diagnóstico definitivo é feito através do<br />

exame histopatológico (IM et al. 2009) O objetivo do presente trabalho é relatar um caso de<br />

cistite polipoide em uma cadela SDR de sete anos de idade com histórico prévio de<br />

hematúria de dois anos.<br />

Relato de caso<br />

Uma cadela SRD de 16kg, sete anos de idade ovariohisterectomizada, foi atendida<br />

no Serviço de Nefrologia e Urologia Veterinária do Hospital Veterinário da FCAV/UNESP<br />

campus de Jaboticabal, com quadro clínico esporádico de hematúria ao final da micção e<br />

presença de coágulos na urina, cujos episódios ocorriam há dois anos, tratada<br />

anteriormente com antibióticoterapia sem sucesso. Ao exame físico o paciente não<br />

apresentou alterações.<br />

Foram realizados exames complementares para auxílio diagnóstico dos quais, os<br />

resultados de hemograma, bioquímica sérica (ureia, creatinina e alanina aminotransferase) e<br />

U-P/C encontravam-se dentro dos padrões de normalidade para a espécie. Na urinálise foi<br />

identificado urina com odor alterado, aspecto turvo, coloração amarelo citrino, densidade<br />

1,023, pH 8,5, na análise química houve alteração em sangue oculto (3+), a<br />

sedimentoscopia urinária apresentou incontáveis bactérias, 5+ de leucócitos, 4+ de<br />

hemácias e 3+ de células epiteliais de transição. A urocultura tradicional revelou o<br />

crescimento de incontáveis colônias de Escherichia coli.<br />

Ao exame ultrassonográfico foi observado parede vesical irregular com espessura<br />

normal apresentando uma estrutura pediculada hiperecoica em suspensão não formadora<br />

de sombra acústica, de aproximadamente 0,79mm em corpo vesical.<br />

Instituiu-se antibióticoterapia com cefalexina 25mg/kg BID/21 dias. Durante o<br />

tratamento, o paciente foi submetido à cistotomia para exérese da estrutura pedicular<br />

detectada através do exame ultrassonográfico. Para isso, realizou-se laparotomia mediana<br />

retro-umbilical, seguida da exposição da vesícula urinária, na qual foram aplicadas duas<br />

suturas de sustentação. A cistotomia foi realizada na porção ventral da bexiga estendendose<br />

desde o polo cranial por cerca de 4 cm caudalmente. A inspeção da mucosa vesical<br />

permitiu a localização de uma longa estrutura pediculada hiperêmica em corpo vesical que<br />

foi removida com uso de eletrocautério com incisão elíptica ao redor da base da estrutura<br />

atingindo a camada mucosa, sub-mucosa e parte da camada muscular. Finalmente, os<br />

bordos da ferida no lúmem vesical foram aproximados com fio de poliglactina (Vicryl ) 4-0<br />

em padrão de sutura simples separado e a cistorrafia com o mesmo fio em padrão de sutura


invaginante (Cushing) em duas camadas. A laparorrafia e dermorrafia foram realizadas de<br />

maneira rotineira.<br />

O exame histopatológico da estrutura removida cirurgicamente revelou a presença de<br />

hiperplasia das células uroteliais sustentadas por uma proliferação de tecido conjuntivo, o<br />

qual apresentava discreto edema e congestão de vasos sanguíneos. As células uroteliais<br />

não possuiam aspecto neoplásico sugerindo cistite polipoide. O paciente foi acompanhado<br />

por um ano, não havendo recidiva do quadro.<br />

Discussão<br />

A cistite polipoide é rara em cães, possue origem epitelial e é classificada<br />

histologicamente pela presença de pólipos fibroepiteliais (CARVALHO et al. 2011). Sua<br />

etiologia ainda permanece não compreendida, mas sugere-se que esteja associada com<br />

cistites crônicas, cateterização transuretral de bexiga e urolitíase, ou seja, relacionado à<br />

inflamação ou irritação persistente da mucosa vesical (WOLFE et al. 2010; CARVALHO et<br />

al. 2011). A cadela acometida por cistite polipoide em questão, possuía histórico de cistite<br />

crônica, supõe-se que esta seja a causa da cistite polipoide.<br />

Não é possível afirmar que a infecção bacteriana de trato urinário dê origem à cistite<br />

polipoide, já que os pólipos também podem predispor a infecção, abrigando bactérias em<br />

locais inacessíveis aos antibióticos (MARTINEZ et al. 2003). Proteus spp foi à bactéria mais<br />

frequêntemente isolada nos casos de cistite polipoide, contudo em nosso caso a bactéria<br />

isolada foi a Escherichia coli (MARTINEZ et al. 2003; IM et al. 2009).<br />

A predisposição por sexo ou raça ainda não foi reportada devido ao baixo número de<br />

casos relatados, mas TAKIGUCHI & INABA (2005) relatam maior predisposição em machos<br />

(75%), já MARTINEZ et al. (2003) relataram 88% da ocorrência desta afecção vesical em<br />

fêmeas. Quanto à raça, apenas MARTINEZ et al. (2003) verificaram a ocorrência de cistite<br />

polipoide de 29% em cães da raça Labrador, 29% em cães sem raça definida e os outros<br />

42% raças diversas. O paciente avaliado era uma fêmea canina sem raça definida.<br />

Os sinais clínicos mais comumente encontrados são a hematúria macroscópica<br />

normalmente ao fim da micção, devido a erosões que podem ocorrer na superfície do pólipo,<br />

e histórico de cistite crônica recorrente, como no caso do paciente do presente estudo.<br />

Contudo polaquiúria, estrangúria, noctúria, poliúria, polidipsia, dor abdominal, secreção<br />

vaginal e micção em local inapropriado podem ocorrer (MARTINEZ et al. 2003; TAKIGUCHI<br />

& INABA, 2005).<br />

O exame ultrassonográfico é uma importante ferramenta auxiliar no diagnóstico da<br />

cistite polipoide, pois é um método de diagnóstico por imagem sensível para a avaliação da<br />

vesícula urinária, permitindo a avaliação anatômica interna sem o uso de contrastes, já que<br />

é um órgão de fácil acesso ultrassonográfico devido às suas propriedades acústicas<br />

atribuídas ao seu conteúdo fluídico e sua localização superficial (GREEN, 1996; GALLATTI<br />

& IWASAKI, 2004; LANG, 2006). Coágulos e neoplasias podem ser confundidos com a<br />

cistite polipoide, porém os coágulos se movem com o balotamento vesical e as neoplasias<br />

ocorrem com maior frequência em região de trígono vesical, diferindo da cistite polipoide<br />

que as lesões geralmente ocorrem na porção cranioventral da bexiga, como descrito no<br />

presente relato (TAKIGUCHI & INABA, 2005).<br />

O exame histopatológico é essencial para diferenciar as neoplasias da cistite<br />

polipoide, que possuem tratamentos e prognósticos diferenciados (MARTINEZ et al. 2003;<br />

CARVALHO et al. 2011). Por isso o tratamento envolve a remoção do pólipo cirurgicamente<br />

ou cistectomia parcial em casos de lesões múltiplas (MARTINEZ et al. 2003; TAKIGUCHI &<br />

INABA, 2005). Através do exame histopatológico realizado neste caso, conclui-se tratar de<br />

um caso de cistite polipoide, não havendo recidiva após um ano da realização do<br />

procedimento cirúrgico.<br />

Matinez et al. (2003) descreveram um caso onde houveram três recidivas de cistite<br />

polipoide, com posterior carcinoma de células uroteliais, sugerindo que os pólipos podem<br />

sofrer mutações malignas sendo um fenômeno pré-neoplasico, necessitando de mais<br />

estudos. Fato este, não observado no presente relato.<br />

Conclusão


A cistite polipoide é uma patologia rara em cães, de etiologia ainda não totalmente<br />

elucidada, contudo deve ser incluída no diagnóstico diferencial dos casos de hematúria<br />

crônica, urolitíase e cistites recidivantes, sendo a cirurgia e o controle da agressão a parede<br />

vesical, tratamentos curativos.<br />

Referências bibliográficas<br />

CARVALHO, L. C. N.; SANTOS, J. F.; ARIAS, V. B.; REIS, A. C.F. Pólipos em<br />

vesícula urinária de um cão <strong>–</strong> Relato de caso. Semina: Ciências Agrárias, v. 32, s.<br />

1. p. 1969-1974, 2011.<br />

GALLATTI, L. B.; IWASAKI, M. Estudo comparativo entre as técnicas de<br />

ultrassonografia e cistografia positiva para detecção de alterações vesicais em cães.<br />

Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v.41, n. 1, p. 03-<br />

11, 2004.<br />

GREEN, R. W. Urinary Bladder. In: GREEN, R. W. Small Animal Ultrasound,<br />

Lippincott Raven Publishers, p.227-235, 1996.<br />

IM, E.; KANG, S.; JUNG, J.; JEON, J.; KIM, J. A case of polypoid cystitis in a dog.<br />

Korean Journal of Veterinary Research, v. 49, n. 2, p. 163-166, 2009.<br />

JOHNSTON, S. D.; OSBORNE, C. A.; STEVENS, J. B. Canine polypoid cystitis.<br />

Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 116, n. 12, p. 1155-<br />

60, 1975.<br />

LANG, J. Urinary tract. In: MANNION, P. Diagnostic ultrasound in small animal<br />

practice, Blackwell Publishing Company, p. 109-144, 2006.<br />

LANE, Z. & EPSTEIN, J. I. Polypoid/papillary cystitis: a series of 41 cases<br />

misdiagnosed as papillary urothelial neoplasia. The American Journal of Surgical<br />

Pathology, v. 32, p. 758-764, 2008.<br />

MARTINEZ, I.; MATTOON, J. S.; EATON, K. A.; CHEW, D. J.; DiBARTOLA, S. P.<br />

Polypoid cystitis in 17 dogs (1978-2001). Journal of Veterinary Internal Medicine,<br />

v. 17, p. 499-509, 2003.<br />

TAKIGUCHI, M. & INABA, M. Diagnostic ultrasound of polypoid cystitis in dogs.<br />

Journal of Veterinary Medical Science, v. 67, n. 1, p. 57-61, 2005.<br />

WOLFE, T. M.; HOSTUTLER, R. A.; CHEW, D. J.; McLOUGHLIN, M. A.; EATON, K.<br />

A. Surgical management of diffuse polypoid cystitis using submucosal resection in a<br />

dog. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 46, n. 4, p. 281-<br />

284, 2010.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!