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A estreita relação entre Lingüística e Gramática

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Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo<br />

A ESTREIRA RELAÇÃO ENTRE LINGÜÍSTICA E GRAMÁTICA –<br />

DA MESA À OFICINA (LINGUAGEM E REALIDADE: DE MORIN<br />

(PHI/L) A CHOMSKY (L/PHI) – I)<br />

RESUMO:<br />

EDSON SENDIN MAGALHÃES (FEUDUC)<br />

Parte-se da proposta paradigmática de Ingedore Grunfeld Villaça<br />

Koch e conclui-se pela indicação de: BORBA, F. S. Introdução<br />

aos Estudos Lingüísticos; CHOMSKY. N. Aspects of Theory of Syntax,<br />

The MIT PRESS; GENOUVRIER, E. e PEYTARD, J.<br />

<strong>Lingüística</strong> e Ensino de Português; HALLIDAY, M. A. K. et al. A<br />

Ciências <strong>Lingüística</strong>s e o Ensino de Línguas; LYONS, J. As Idéias<br />

de Chomsky; PERINI, M. A. A <strong>Gramática</strong> Gerativa; ROULET, E.<br />

Teorias <strong>Lingüística</strong>s, <strong>Gramática</strong>s e Ensino de Línguas; SAUSSURE.<br />

F. Curso de <strong>Lingüística</strong> Geral.<br />

Serão apresentados quatro comentários. Cada participante fará<br />

o seu, também, de acordo em desacordo, ou de modo compreensível,<br />

analítico, sobre os modelos exibidos, no ritual da oficina. Essa “práxis”<br />

obedecerá ao objetivo de propiciar participação daqueles professores<br />

de Português que trabalham ativamente em prol do aperfeiçoamento<br />

do ensino da língua pátria, em forma da metodologia de debate.<br />

O problema versa em torno de duas esferas móveis: a)a importância<br />

dos conhecimentos lingüísticos para a elaboração de uma<br />

gramática; b) como utilizar esses conhecimentos no ensino da gramática<br />

da nossa língua. Toda a proposta se delimita com o dado problema<br />

na mostragem sincrônica, como meio de expressão e comunicação.<br />

O trabalho tem como tese a proposta da Teoria da Complexi-<br />

dade, no contexto francês do autor filósofo religado Edgar Morin<br />

(1921) – foco filolingüístico: aqui se define a opção por uma linha de


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trabalho e um limite, na questão de linguagem ou transmutação de<br />

todos os valores. A linha de trabalho se estende de Morin a Chomsky<br />

(1928) – foco lingüístico-filosófico. O limite é virtuoso (bem) numa<br />

esfera que escapa do caráter vicioso.<br />

O vicioso se localiza, para esta tese, no espaço não só da lin-<br />

guagem (inatismo? Faculdade? Representação? Participação? Símbo-<br />

lo? Sinal? – GLOSSA; DIALEKTOS: OMILÍA; LOGOS) dialógica,<br />

como pré-condição (condição de possibilidade), mas também da<br />

argumentação, de desenvolvimento, no marco da pretensão de vali-<br />

dade da realidade, envolvente de todas as pluralidades, inclusive<br />

hermenêuticas, de perspectivas.<br />

A primeira perspectiva forma sistema em vários paradigmas.<br />

Os paradigmas se trocam em virtudes desde a introdução da<br />

proposta até o desenvolvimento de uma trajetória. Descreve-se o<br />

deslocamento sígníco, rumo à semiose (feixe de convergência de<br />

signos, de significante e significado).<br />

A metodologia se define, no modo ou na questão de metódica,<br />

em Morin, sobretudo n’O método 1-6, da Natureza da Natureza à<br />

Ética (2002-2005).<br />

No Método moriniano, inspira-se o autor apresentador, a fim<br />

de cumprir o objetivo de descreverem-se, aplicada e comparativa-<br />

mente, os princípios da complexidade também interdisciplinarmente<br />

em discurso e voz.<br />

O discurso corresponde à atividade lingüística..., atualizadora<br />

da língua, que, por sua vez, assume a realidade (multiplicidades de


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circunstância) codificada em sistema de sons/ grafemas/ relações de<br />

substituição e de associação, em seqüências transformadoras de es-<br />

trutura.<br />

A voz (individualidade da identidade e fonte) se amplia no seu<br />

caráter polifônico; aquele, interdisciplinar.<br />

De Chomsky (1957; 1966; 1968; até 1999), se estende o postu-<br />

lado da interação lingüística de Roman Jakobson (1963; 1973, até<br />

1999), pensador da linguagem e lingüista americano de origem russa<br />

(1896-1982), fundado no princípio da inter-<strong>relação</strong> sígnica e dos<br />

aspectos pertinentes ao funcionalismo (<strong>entre</strong> o pensamento da lin-<br />

güística e da comunicação), sob <strong>relação</strong> do mundo da ciência com o<br />

da vida: ciência com consciência.<br />

Para Morin, essa interação jabsoniana da ciência dom consci-<br />

ência se tangencia no geométrico e holístico princípio do holograma.<br />

O hologramatismo sistematiza as correlações ou vínculos <strong>entre</strong> cada<br />

parte e o todo do seu próprio universo. Os diferentes preservam suas<br />

diferenças. Contudo, dialogam para uma busca de união de modelo<br />

ou “paradigma perdido”, daí complexo, do tipo conjuntivo e não<br />

disjuntivo, portanto. O paradigma da semiótica conjuntiva age (am-<br />

biente pragmático) e se exercita (ambiente empírico) com a proprie-<br />

dade da localização da convergência dos eixos semióticos ou imagís-<br />

ticos da complexidade, um a um, dois a dois, todos a todos, com<br />

garantia de retorno <strong>entre</strong> a função neguentrópica (de troca com rege-<br />

neração) e a entrópica (de troca com degeneração). Adquirir essa<br />

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linguagem equivale à aquisição do conhecimento dos saberes religa-<br />

dos.<br />

A essa altura, os fenótipos, como caracteres sociais da criação<br />

humana fazem cultura com elementos da natureza em geno-<br />

fenótipos, num tecido histórico de intrincada complexidade bio-<br />

antropossocial, e retornam pelo complexo princípio da recursividade:<br />

e já não encontram os traçados da natura no estado de pureza. O es-<br />

tado suposto primeiro se transforma em processo de infinita matura-<br />

ção generativa e regenerativa. A compreensão do espaço generativo<br />

dependerá de uma ética. Do pensamento à resistência amplia-se a<br />

ética (ciência da liberdade, do caráter de excelência da moral) e<br />

compreende-se a chamada “trindade finita”: o cérebro humano (epi-<br />

centro do policentro cósmico) – a linguagem (a possibilidade até na<br />

impossibilidade das relações, como correlações) – a cultura (o fazer/<br />

dever/ poder pós-kantiano e pós-marxiano: saber-fazer-poder, em<br />

que posso saber; em que devo fazer saber e o dever da consciência de<br />

como fazer e saber e para quê, <strong>entre</strong> a dúvida e cegueira da própria<br />

ciência e do por vir e na ilusão).<br />

E <strong>entre</strong> o caos e a certeza, <strong>entre</strong> a verdade e oposto dela, uma<br />

verdade oposta, faz-se a invenção e a criação: inventa-se com a arte<br />

(cinema, música, teatro, literatura) a necessidade, liberada pelo dese-<br />

jo; cria-se no desejo a liberação dele pelo amor, em máxima e múlti-<br />

pla esfera ampliada pela harmonia ou constância do paradoxo de<br />

passagem, que pode ir da metafísica à ontologia e faz, sobretudo<br />

epistemologicamente, o triunfo do homem complexo, “sapiens-


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demens”, num quadro do máximo de poesia, com o máximo de união<br />

<strong>entre</strong> a sabedoria e a loucura, como o máximo de regeneração (isto é<br />

o amor!).<br />

A teoria da complexidade, para nós, faz do discurso (<strong>entre</strong> a<br />

análise do discurso, pensamento francês – P. Charaudeau, D. Main-<br />

gueneau –, brasileiro – H. F. de Oliveira, A. D. Carneiro –, e a ética<br />

do discurso, pensamento alemão: basicamente J. Habermas) um ético<br />

instrumento da reforma do pensamento, que se estende da ética do<br />

pensamento à ética da resistência.<br />

Na ética da resistência, sob esta concepção, não figura o espe-<br />

rismo inoperante ou inconseqüente assim assumido. Há um compro-<br />

misso estatuído de estética, esforço, pensamento com religação e<br />

conjunção, em que a metamorfose garante a mudança e, por conse-<br />

guinte, o novo, na construção do futuro com educação e fé.<br />

Essa fé fundada na metanóia e, nela a esperança obreira, pos-<br />

sibilita a motivação para a produção da expressão e o conteúdo da<br />

mensagem.<br />

O maior desafio ao método consiste em testar pela sintaxe ge-<br />

nerativista e regenerativista (transformacional) alternativas para vin-<br />

cular as orbitais dos eixos de argumentação. Encontramos na maior<br />

vocação da língua portuguesa literária, Graciliano Ramos, mais pre-<br />

cisamente em sete de vinte e dois fragmentos da narrativa de Memó-<br />

rias do Cárcere algumas aplicações exemplares; veremos a seguir<br />

tais aplicações num capítulo intitulado “Síntese de Morin/ Zaballa,<br />

aplicada em Graciliano Ramos”.<br />

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Alterna-se na perspectiva voluntariosa, também, apenas uma<br />

indicação para o tecido de elementos de uma gramática científica da<br />

língua portuguesa, sugeridos no capítulo, a seguir, aqui intitulado<br />

“Finalmente... uma proposta da <strong>Gramática</strong> Científica do Portu-<br />

guês...”.<br />

Outra alternativa, nesse mesmo tecido, tenta, apenas por alu-<br />

são por enquanto, retomar a inacabada gramática do sentido, aban-<br />

donada por Saussure.<br />

Os encadeamentos frasais serão consultados pelo enunciado,<br />

pela sentença, e o discurso se nutre das correlações dos eixos para-<br />

digmáticos e sintagmáticos da linguagem.<br />

Conclui-se pela sintaxe que busca alternativas morinianas nos<br />

princípios da complexidade, com base na pletora dos princípios: o<br />

diálogo, em vozes acesas, na praxe vitalista.<br />

Foi feita uma descoberta para uma grande síntese de localiza-<br />

ção de Morin (1921), em meio a uma vasta obra distribuída por mais<br />

de cinqüenta (50) títulos cuja seqüência vai de O Ano zero da Ale-<br />

manha (1946) a O mundo moderno e a questão judaica (2008). Não<br />

se trata de uma proposta de redução semântica das conceituações de<br />

seus contextos, suas denotações: recorre-se ao Método, do 1, Nature-<br />

za da Natureza (1979) ao 6, Ética (2005); este último é antecipado<br />

pelo 5, Humanidade da Humanidade (2003); e todas as teses se me-<br />

deiam no 3, Conhecimento do Conhecimento (1986); este segue 0 2,<br />

Vida da Vida (1980); e é seguido pelas demais teses, quando materia-<br />

lizadas na subunidade 4, As Idéias. Seu Hábitat, sua vida, seus cos-


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tumes, sua organização (1997); todos os princípios, postulados, axi-<br />

omas, as leis da Teoria da Complexidade se submetem ao Paradigma<br />

da Complexidade [...“Perdido”]-(1973); desprende-se signo da com-<br />

plexidade que se sobrepõe a todas as teses possíveis, sem fundamen-<br />

talismo. Destaca-se a Ciência com Consciência (1982), a obra das<br />

obras; essa concepção de ciência se baseia na educação; a educação,<br />

em Morin, tem vários títulos. Escolheram-se para agora: - Religação<br />

dos Saberes (RS, 2003), que se acopla em A cabeça bem feita (CBF,<br />

2002), numa “comunidade de destino” (“Bestimmungsortsgemeis-<br />

chaft”). Concebe-se a comunidade, ética, de modo correlacional. A<br />

<strong>relação</strong> dos diferentes impede deles se afirmarem plenamente de per<br />

si: distinguem-se, mas não se isolam nem parcelam. A sociedade<br />

(“Gessellschaft”) se relaciona unitrinitariamente com o indivíduo e a<br />

espécie. Essa <strong>relação</strong> unitária e plural, a um só turno, fundamenta o<br />

caráter ritualístico de O homem e a morte (1951): e, num todo de<br />

dialógica, recursividade e hologramática, há duas observações nas<br />

teses da nossa compreensão deste trabalho, sob o agnômio SIMOZ-<br />

GRAM: – uma é a bela tese interacionista Os sete saberes necessá-<br />

rios à educação do futuro (SSNEF, 2000); – a outra, a vida intelectu-<br />

al do autor desta comunicação na FEUDUC, em destaque, sob o<br />

título PAEHEM – Pertinentes aspectos da ética hoje em Edgar Morin<br />

(2008). Os aspectos são qualidades do real; existem.<br />

Lê-se em SSNEF que, segundo a ordenação de Morin, as esco-<br />

las deveriam ensinar: – 1) as cegueiras do conhecimento (o erro e a<br />

ilusão); – 2) os princípios do conhecimento pertinente; 3) a condição<br />

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humana (entra a facticidade); 4) a identidade terrena (a barbárie,<br />

tanto a belicosa fanática quanto a da racionalização ignorante); 5) a<br />

enfrentar as incertezas; 6) a compreensão (a ética da compreensão, a<br />

democracia, a fé sem fundamentalismo e com observação nas trans-<br />

formações, nutridoras de esperança); 7) a ética do gênero humano.<br />

Em PAEHEM - Pertinentes aspectos da ética hoje em Edgar<br />

Morin, por Magalhães (2008), descobre-se e desenvolve-se a tese de<br />

que toda a evolução do pensamento de E. Morin se desloca da Ética<br />

do Pensamento à Ética da Resistência (em ação a favor de trans-<br />

por as contrariedades da existência – Ser-no-Mundo; de conviver<br />

com as aberrantes desigualdades, modificando-as: uma ação de espe-<br />

rança e fé ontológica e metodológica, terrena, portanto). Todas essas<br />

teses se rumam para a invenção de outro futuro. Cria-se o imaginá-<br />

rio. Ele possibilita as condições que criam a democracia. Esta evolui<br />

ética e sabidamente. Estagia na democracia cognitiva. Junta-se o<br />

desejo da democracia plena, contendo a democracia participativa de<br />

H. Arendt, segundo Magalhães.<br />

A democracia participativa, ativa, dinâmica, mutante com éti-<br />

ca da responsabilidade e limite no egocentrismo reversível a perdão<br />

também limitado pelo sistema penal livre fundado na alteridade de<br />

cada um, pois, evolutiva, generativa e regenerativa produz projetos,<br />

relações, usa a trindade finita: o cérebro humano, a linguagem e a<br />

cultura. Evita o círculo vicioso, pois o transforma em virtuoso, artís-<br />

tico, científico com paradigma e consciência de seus limites e amo-<br />

roso. Prevalece a neguentropia à entropia.


Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo<br />

A neguentropia não promove nem tampouco impõe perdas pa-<br />

ra haver trocas, relações interativas contidas no paradigma da com-<br />

plexidade, fundado no princípio da conjunção e não disjunção. En-<br />

quanto a neguentropia se desenvolve, a entropia, ao cumprir sua pro-<br />

priedade de permutar calor, energia, influência, provoca um tipo de<br />

idolatria cujo processo assimilativo implica perda de identidade e de<br />

características, portanto, do assimilador/ assimilado. A neguentropia<br />

faz parte do processo da auto-eco-organização.<br />

E o aspecto amoroso se adéqua à concepção de amor, que nos<br />

é passada por Morin (2005, p. 202): “o máximo de poesia, com o<br />

máximo de união <strong>entre</strong> a sabedoria e a loucura, como o máximo de<br />

regeneração” (“c’est amour!”). Aqui se constrói o ser auto/altero -<br />

ético.<br />

O Ser ético tem compromisso com a compreensão do real, da<br />

ecologia, do espírito da causa.<br />

Não nos costumamos ao contexto da pós-modernidade. Ele es-<br />

tá uniplarizando a globalização: despreza as obras sociais legitima-<br />

das; adota, no lugar destas, muitos expedientes falsos e incrédulos; a<br />

falsidade ou ambivalência se operacionaliza no barato assistencia-<br />

lismo banalizador do humano, do sofrimento, da fraternidade, da<br />

igualdade, da solidariedade. E ainda mais: essa falsidade, tipo mora-<br />

lina, escarnece da compaixão.<br />

A denotação é reduzida a costumes: – de fechar-se no sistema<br />

que nos absorveu e se resume em nos adaptar às contrariedades; – de<br />

limitar-se a determinar o que é proibido e permitido, certo e errado,<br />

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lícito e ilícito; – de meramente prescrever, enfim, obrigações e proi-<br />

bições. As instituições de formação, como a escola e seus instrumen-<br />

tos de conceptualização, se emprobrecem com todos os seres dentro,<br />

banalizados, regidos por improvisadores aventureiros, todavia segui-<br />

dores de tudo com que não nos costumamos, porquanto nos contrari-<br />

amos na ausência dos princípios em que havemos de crer.<br />

Havemos de crer na natural complexidade inevitável e nos<br />

princípios interativos: – da dialógica com a democracia recursiva; -<br />

da recursividade à participação e da interação nas diferenças como<br />

uma comutadora hologramática; – do hologramatismo em que ou<br />

com que um se sente em todos e todos em apenas um, já modificado<br />

pela metamorfose contagiante das relações conjuntivas (correlações,<br />

com efeito). Mesmo a comutação desses princípios, se um só se re-<br />

generar, nos une, nos faz amorosos, fraternos, tolerantes, inaceitado-<br />

res das nossas desigualdades mais extremas, seja no campo econômi-<br />

co, seja no político, seja no religioso, seja no dos valores (campo<br />

axiológico), quer na perspectiva metafísica, quer na ontológica, am-<br />

bas com recurso ao método já proferido.<br />

A ética, nesse contexto, também promovido por Antoni Zabal-<br />

la (2004, p. 12). O contexto se identifica numa proposta curricular<br />

integrada, com interdisciplinaridade (Idem, 2002). Essa projetiva<br />

comunhão de Zaballa se destaca, se deseja, se defende pelo quanto<br />

ela desperta nas pessoas, em suas consciências, ainda que circunstan-<br />

ciais, mas humanizadoras.


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A ética desejada possibilita o julgamento de si, de modo a<br />

propiciar diálogo de cada pessoa com a sua própria consciência e<br />

com as consciências das outras pessoas.<br />

A ética desperta essas pessoas, com suas consciências – é claro<br />

– de uma eventual indiferença em <strong>relação</strong> ao caráter agressivo da<br />

vida e à dignidade do outro (sua preservação, condição de regenera-<br />

ção), sob a concepção do amor já definido aqui.<br />

A ética aqui defendida não se concebe como sistema nem on-<br />

tologia, mas interpessoal (ciência da liberdade, o caráter da moral, do<br />

tal costume). Ela é moriniana e zaballiana, que implica ser, num só<br />

instante, com poucas ressalvas circunstanciais específicas: gassetiana<br />

(de Ortega y Gasset), do mistério na própria ação das pessoas; é<br />

mesmo complexa e possível a ética e se faz em questões como estas,<br />

que ela própria:<br />

– reconhece a responsabilidade, o a priori de cada pessoa pela outra;<br />

– possibilita o seu “a posteriori” a representar interrogação, desafio,<br />

respeito, perdão;<br />

– e as enumeradas representações, no item anterior, desencadeiam-se<br />

e julgam “a ação”;<br />

– tem o propósito de produzir no mesmo mundo da ação interdisci-<br />

plinar e integrada e da ação humana, como princípio, “um Estado<br />

desejado por meio de eleição e aplicação dos meios adequados” (mas<br />

à “confederação”), conforme nos assevera Habermas (1997, p. 369).<br />

Adquirir a linguagem implica adquirir conhecimentos não só<br />

lingüísticos: age-se na fala.<br />

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Em suma, no entanto, para o projeto Morin/ Zaballa (1997, p.<br />

262; 2000 d: 185/2002-4), se desenvolve, em Terra-Pátria (2000 h),<br />

em “que não se pode destacar um problema... um que subordinasse<br />

todos os outros; há mais de um problema vital”. Nessa constatação,<br />

sustentam-se os tentáculos não só da democracia cognitiva (cognição<br />

para todos), mas também das ilhargas da construção da política de<br />

homem, da política de civilização, animadas pela aposta no modelo<br />

da Confederação Planetária. O bem ou a democracia confederada se<br />

tece com a potência das iniciativas universalizadas: uma política<br />

planetária é tão possível quanto uma ciência e uma gramática univer-<br />

sais e uma polícia planetária; falta, porém, a esse mesmo mundo<br />

possível ainda, nos moldes da eficiência da tal polícia planetária,<br />

uma política de hominização e de humanização, apoiada pela refor-<br />

ma do sistema penal sem cadeia e com definido sistema de regenera-<br />

ção que considere o sistema educacional e, precisamente, curricular,<br />

defendido neste contexto.<br />

O contexto Morin/ Zaballa e o Graciliano (In: Memórias...) – uma<br />

tentativa de aplicação<br />

Neste contexto, foram selecionados de Graciliano R., por en-<br />

quanto, só para atender a emergência do momento, XXII trechos de<br />

“Viagens”, capítulo 1 da obra Memórias...<br />

Dessa seleção, usaremos por enquanto somente os sete primei-<br />

ros trechos apenas em respeito ao Decreto 38.034, de 09 de maio de<br />

1999: de alagoano passou a ser válido em todo o território nacional


Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo<br />

brasileiro. Tal prescrição normativa incita a manter viva a lembrança<br />

do maior escritor da língua portuguesa na sua época (meados do<br />

século XX), da primeira à segunda Grande Guerra. O ambiente de<br />

guerras tão injustas não poderia mesmo dispor de concessão a um<br />

talento prodigioso como Graciliano Ramos. Dele veremos, aqui, uma<br />

pequena amostra de quê? - Da aplicação da teoria da complexidade<br />

numa parte do discurso de Graciliano... Aplica-se a Teoria sob duas<br />

promessas de que: 1.ª) noutra oportunidade, será completada a citada<br />

proposta inicial de mais quinze fragmentos, em falta, mas já contex-<br />

tualizados, a fim de totalizar os já selecionados vinte e dois mais<br />

expressivos para o momento; e 2.ª) a já demonstrada e delimitada<br />

perspectiva projetiva da complexidade no foco novo, desta tese, na<br />

comparação ou aproximação desses dois pilares de argumentação<br />

interdisciplinar, que são Morin e Zaballa, estenderá e reiterará o seu<br />

comprovado potencial nessa empreitada, portanto lingüístico-literária<br />

no suporte ético-filosófico da educação de um futuro que começou<br />

nesses argumentos.<br />

Embora, aqui, com brevidade, se exporá uma pequena amostra<br />

de umas características da língua literária do talento criador e recria-<br />

dor do quebrangulano / alagoano / brasileiro / planetário Graciliano<br />

Ramos, de suas funções, do seu poder de narrar como ninguém: seus<br />

prógonos estilos lingüísticos-literário e suas e nossas problemáticas<br />

pré-lingüísticas e extralingüísticas, já pós-modernos, no seio da gera-<br />

ção modernista, se definem capazes de objetividade e clareza plenas.<br />

Vejamos o primeiro dos sete trechos ditos selecionados <strong>entre</strong> os vinte<br />

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e dois dos quais, por conseguinte, quinze ficarão para depois da opo-<br />

sição <strong>entre</strong> impedir... e suprimir:<br />

Viagens<br />

I<br />

“Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, casos passados<br />

há dez anos – e, antes de começar, digo os motivos por que silenciei<br />

e por que me decido.<br />

I) Não conservo notas: algumas que tomei foram inutilizadas, e<br />

assim, com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada vez mais<br />

difícil, quase impossível, redigir esta narrativa.” (RAMOS. MC,<br />

2008, p. 33).<br />

A primeira característica que se vê, sem qualquer esforço gra-<br />

matical ou lingüístico, é o tratamento da função da linguagem emoti-<br />

va, em primeira pessoa do singular. O verbo na forma “resolvo”<br />

(Presente do Indicativo) concorda com um “eu” oculto. A forma<br />

oblíqua, átona, objetiva indireta histórica “me” se interpõe do citado<br />

auxiliar modal e ao principal da conjugação perifrástica “Resolvo-me<br />

a contar”, transitiva direta de coisa, “casos...” – objeto direto, e indi-<br />

reta de pessoa, “me”. Essa função dêixis, pronominal, sincronica-<br />

mente se atualiza no encontro com a pragmática, como localização<br />

ou adjunto adverbial de lugar onde se resolve o “eu” (lírico? ou já<br />

dotado do primado da onisciência narratária?).<br />

Essa gramaticalidade ou gramaticalização é a condição de pos-<br />

sibilidade para dizer a pretensão de validade, à moda dos repentistas<br />

nordestinos; em outros termos: “Prepare o seu coração p’ras coisas<br />

que eu vou contar...” – é o anúncio do contador/ cantador. Essa a-<br />

nunciação centraliza-se numa localização sígnica (do léxico e da


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semântica ampliados), do silêncio à decisão, em duas orações coor-<br />

denadas numa parataxe justaposta de rara mestria no uso da “interro-<br />

gação indireta”.<br />

Esta se situa numa das mais complexas Áreas críticas da lín-<br />

gua portuguesa, de acordo com Peres & Móia (1997): as orações<br />

relativas ocupam simultânea ou quase simultaneamente a forma adje-<br />

tiva ou adjuntiva adnominal e a forma que sugere transformação<br />

como transmutação dos valores lingüísticos; as interrogações indire-<br />

tas acontecem no espaço de um endóforo anafórico habituado a fun-<br />

cionar sintaticamente como hipotaxe.<br />

A complexidade tipo moriniana e zaballiana se afirma na es-<br />

trutura suplantada pelo imaginário instituinte de ampliação qualitati-<br />

va, pois das possíveis orações substantivas se fizeram adjetivas, por<br />

causa de um determinado “motivos”, anteposto aos sintagmas ora-<br />

cionais ou verbais coordenados sindética e aditivamente <strong>entre</strong> si. Do<br />

ponto de vista da fonêmica, temos que a entonação valoriza de modo<br />

sistólico o pronome relativo, que poderia ser, com mais quantidade<br />

prosódica, “pelos quais” (antecedido pelo substantivo objetivo direto<br />

“motivos” de “digo”, sua oração principal), <strong>entre</strong>tanto, se reduziria<br />

ou se purificaria a “por que”. Essa redução ou purificação se parale-<br />

liza funcionalmente ao indefinido.<br />

Tal jogo de mestre pronominaliza o conectivo (no lugar de<br />

conjunção integrante, mas já modificada funcional ou sintaticamente<br />

em pronome relativo) de valor integrante como objeto do verbo se-<br />

manticamente posto na semiótica dos verbos “dicendi”. No lugar<br />

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comum da construção do enunciado “Digo por que silenciei e por<br />

que me decido”, observamos, enfim, um exercício criativo de trans-<br />

mutação de todos os valores – é uma questão de linguagem na possí-<br />

vel ampliação dos domínios da língua. Esse exercício transmutador<br />

corrobora a já apontada emotiva e jakobsoniana função da linguagem<br />

(e há mais funções possíveis em “motivos” semióticos).<br />

Antes de todas essas ampliadoras funções do discurso, contu-<br />

do, o autor (Graciliano) apresenta o objeto “os motivos” cuja compe-<br />

tência ou motivação sígnica não garantiria por si só as duas maiores<br />

características do discurso de Graciliano Ramos, que agora indaga<br />

indireta e relativizadamente: a objetividade discreta (discrição) e<br />

clareza com recurso paratático de um paralelismo funcional.<br />

Trata-se, pois, tal vigor criativo extensivo da forma de costu-<br />

me (tradicional ou previsível) a um gramaticalizador além da gramá-<br />

tica, no flagrante gozo das amplas possibilidades generativas da lin-<br />

guagem, segundo a noção ou concepção de gramáticos marxistas e<br />

complexistas ou pós-marxistas, generativistas de Jakobson e<br />

Chomsky aos pensadores do método de Morin. Já se antecipara aí<br />

também Graciliano como prógono da pós-modernidade, quando a<br />

lingüística passa a ser contribuinte ou conselheira da gramática a<br />

influir-lhe as decisões metodológicas e funcionais: é a história da<br />

narrativa ser (no seu vir-a-ser constante) o discurso fazedor e atuali-<br />

zador das questões gramaticais, como permanente elemento enrique-<br />

cedor das possibilidades lingüística não só da gramática, mas tam-<br />

bém da língua; no caso, da língua literária. E assim, a declarada difi-


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culdade se escapava ou se possibilitava ao redigir essa narrativa (“es-<br />

ta” – para ele, autor).<br />

Desse modo, se dá ainda a transmutação de todos os valores, e<br />

se acrescenta um valor específico, a transformação da inutilidade das<br />

notas, dos comentários ou das remas, em dados relevantes no manejo<br />

das poderosas ferramentas de expressão e comunicação daquele que<br />

está sendo considerado o maior escritor da sua época no Brasil, o GR<br />

(Graciliano Ramos), alagoano, nordestino, nosso, da FEUDUC, ago-<br />

ra, no III Colóquio!<br />

Assim, se firma a comemoração do seu aniversário pelos a-<br />

mantes da língua portuguesa.<br />

Ainda mais dois fragmentos constituem no imaginário institu-<br />

inte criador de GR o código inicial do romance, pela conformidade<br />

barthesiana da <strong>Gramática</strong> da narrativa: – um, dentro do vitalismo<br />

profere na língua narratária a – chamemos assim – passagem da afli-<br />

ção ideativa, dentro do código inicial ainda, que Koch (2005) chama-<br />

ria, dentro do contexto ou endóforo, de anáfora; GR estaria tecendo<br />

as básicas ações discursivas para ter como preservar a coerência e a<br />

coesão das extensões, dos desdobramentos das argumentações, que<br />

se constituirão nas suas catáforas, que começarão pela fase do hábi-<br />

to; – outro (fragmento, ainda inicial ou de código inicial), dentro de<br />

um problema de transliteração das formas de expressão, pode-se<br />

chamar de fase da repugnância da deformação; essa expressão de<br />

ambiente gracilianesco acusa o sentimento humano do escritor-<br />

narrador, onisciente, próprio de narrativas diretas; com tal sentimen-<br />

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to, GR estabelece o discurso narrador, na passagem da situação exo-<br />

fórica do social pré-lingüístico ou do entorno (“criaturas vivas”, MC,<br />

p. 33), para o endóforo lingüístico, ainda em anáfora, dentro, portan-<br />

to, do código inicial; este será descodificado (dentro do processo de<br />

decodificação ou transformação por regeneração ampliadora ou ne-<br />

guentrópica: à semelhança do conceito de neguentropia de Morin)<br />

numa negativa dialética, em que a construção do texto tem que ser<br />

feita pela destruição (catáfora, no caso) desse código.<br />

Vamos aos dois fragmentos do código inicial contidos no pri-<br />

meiro parágrafo da escritura, tal como ela se nos apresenta:<br />

– um, a aflição ideativa do paradoxal ritual da passagem:<br />

II) “Além disso, julgando a matéria superior às minhas forças,<br />

esperei que outros mais aptos se ocupassem dela. Não vai aqui<br />

falsa modéstia, como adiante se verá (índice da onisciência narrativa,<br />

instalando mito). Também me afligiu a idéia de jogar no papel<br />

criatura vivas (jogo vitalista), sem disfarces, com os nomes<br />

que têm no registro civil (dado social externo).” (Idibidem)<br />

– outro, a repugnância da deformação (realização de atos esqueci-<br />

dos, ou índex da verdade – segundo Nietzsche, a metáfora es-<br />

quecida constitui a verdade, e, conforme Pascal, um esqueci-<br />

mento é a verdade esquecida) – (3.º) terceiro fragmento:<br />

III) “Repugnava-me deformá-las, dar-lhes pseudônimos, fazer do<br />

livro uma espécie de romance, mas teria eu o direito de utilizá-las<br />

em história presumivelmente verdadeira? (A linguagem livresca<br />

presumível – ou “disfarces” – das ocorrências civis ou sociais; do<br />

entorno?). Que diriam elas se se (cacófato original de GR – índi-


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ce de ausência de preconceitos da língua) vissem impressas, realizando<br />

atos esquecidos (entenda-se: criando verdades ou fazendo<br />

o mito transmutar-se em valores totais, já metáforas esquecidas),<br />

repetindo palavras contestáveis e obliteradas? Questão de linguagem<br />

que o GR <strong>entre</strong>meia na própria narrativa, por isso, lúcida e<br />

que pode ser em legítima defesa da argumentação). (Idibidem)<br />

O passado, pretérito, “repugnava-me”, por ser na primeira pes-<br />

soa em caráter ou aspecto permansivo (“imperfeito”), real (indicati-<br />

vo), empresta à narrativa lingüística ou discursiva (endofórica) um<br />

traçado de testemunha. O mito desaparece, instalado na visão, e fica<br />

da narrativa a testemunha ou a verdade, que era apenas a metáfora<br />

esquecida: eis a dialética negativa da linguagem imanente. Na verda-<br />

de da linguagem dita realista ou neo-realista, por conseguinte, há um<br />

dolo ético do discurso: a falta, sempre, de todas as vozes em cada<br />

passagem. Por essa razão ética de acordo com Habermas (na sua obra<br />

Consciência moral e agir comunicativo, 1989), discurso oral e escri-<br />

to ou intercessão de ato de fala na comunicação só vale em suas pre-<br />

tensões, na totalidade das múltiplas vozes envolvidas, ouvidos os<br />

intercessores auditores, numa questão de Dialética e hermenêutica<br />

(HABERMAS, 1987).<br />

No primeiro fragmento, a notação acessória “além disso” fun-<br />

ciona como um catalisador de acréscimo, que empurra o espaço de<br />

narração a possibilitar mais um elemento de coesão do discurso da<br />

narração, como fator argumentacional. E esse catalisador, que seria<br />

fora do discurso, entrará nele, por via da função coesiva, ligitimadora<br />

da catáfora. Essa constatação nos assegura estarmos ainda na anáfora<br />

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“textual”: “como adiante se verá” – essa promessa como garantia de<br />

se instalar na visão o objeto do futuro narrativo mitologiza a própria<br />

estrutura narrativa, o próprio discurso, pois. O discurso estaria identi-<br />

ficado a um jogo de projeto ou um método para dizer a complexidade<br />

da linguagem, como se nota na porção crítica de Morin e Zaballa, um<br />

no objeto do ensino, outro na curriculação dos fatores de formação<br />

do indivíduo na escola. E ficam estabelecidas duas localizações pré-<br />

vias para a totalidade discursiva: uma fora, das “criaturas vivas”,<br />

cujos nomes estão no também exterior “registro civil”; outra locali-<br />

zação seria interna, com “disfarces”, já que extrinsecamente as<br />

“mesmas criaturas” (tentativa de iconicidade do signo lingüístico)<br />

recebem “disfarces” (já do lado interno ou da arbitrariedade sígnica);<br />

são esses os imites semióticos do discurso, tocados pela genial pena<br />

do lingüista GR: ele tece sua hermenêutica literária como quem ela-<br />

bora um discurso com suas defesas ou tentativas de interação. Esse<br />

princípio de interação no projeto de GR também o aproxima da Teo-<br />

ria da Complexidade, sem ter lido as obras de Morin e de Zaballa, no<br />

caso deste trabalho.<br />

No segundo fragmento, nos objetos elucidativos da repugnân-<br />

cia da deformação da linguagem, a primeira pessoa parece querer ou<br />

desejar, num só ato de oximoro discursivo, algo fora do falso, fora do<br />

“pseudônimo” para o livro ser uma espécie de romance: O indefinido<br />

na agonia do escritor, a esse nível raro e exemplar, consiste na ques-<br />

tão da linguagem estar sob a hipótese de uma falsidade. Afinal, nas<br />

localizações das representações, o falso do verdadeiro não se distin-


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gue senão no falseável domínio da lógica formal. E o “pathos” do<br />

falseamento tenta-se “curar” ao se eleger um possível espaço, onde<br />

se localizaria a plena convergência do que se passa fora com o que se<br />

passa dentro do discurso. Cria-se, então, outra localização, a da ico-<br />

nicidade dos signos interagentes; o discurso passaria de paradoxo da<br />

passagem de uma localização à outra, para espaço de ação como<br />

participação das vozes que não se distinguiriam se externas ou inter-<br />

nas. Nesse caso, a democratização redutivista da linguagem se am-<br />

pliaria em democracia participativa do signo lingüístico. Tal partici-<br />

pação, agora semiótica, embora presa ao discurso, ampliaria todas as<br />

nossas possibilidades ou essências humanas, como possibilidades ou<br />

essências legitimadas pelo direito (no real social) de inventar um<br />

outro futuro (futuro deste presente não de outro possível), de criar<br />

como pré-condição para se hominizar e humanizar o indivíduo na<br />

ponte de criatura à criadora; será somente na intuição?<br />

Se, para o discurso de GR narrador, a história poderia presu-<br />

mir verdade, a hipótese das palavras agirem como coisas reais esque-<br />

cíveis e, daí lembráveis também, na essência das Memórias do cár-<br />

cere, seria possível afastar a lógica das “mesmas palavras” poderem<br />

ser contestadas e obliteradas, sob a “mesma” perspectiva, ainda, da<br />

dúvida, embora crítica, indagadora, criadora, pertencente à comple-<br />

xa categoria de Cornelius Castoriadis, designada como “imaginário<br />

instituinte social”. E o direito se amplia, junto, como uma questão de<br />

ética do discurso do bom senso: “mas teria eu o direito de utilizá-las<br />

(criaturas vivas)...?”. Essas passagens caracterizam a prudência do<br />

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narrador, do “Péricles” brasileiro, o grande e histórico peso identifi-<br />

cador do escritor Graciliano, através da literária função identificada<br />

por Raúl Castagnino como função sinfrônica (o autor leitor de si<br />

mesmo, já não mais na condição predicadora de intercessor interlo-<br />

cucional de transmissor, mas como intercessor receptivo, auditor ou<br />

leitor; em ambas as intercessões, fica o caráter reflexivo a que se<br />

presta, no caso, o acontecimento das Memórias... narradas em pri-<br />

meira pessoa). E escrever não seria (em si) um ato de lembrar – ato<br />

de Reminiscência proferida por Platão?<br />

O hábito de arrocho é a marca mais saliente da aglomeração<br />

brasileira. Importa-nos, porque estereliza ou secundariza cada projeto<br />

que surge nessas plagas. Daí, passamos ao (4.º) quarto fragmento<br />

aqui selecionado:<br />

IV) “Restar-me-ia alegar que o DIP, a polícia, enfim os hábitos<br />

de um decênio de arrocho, me impediram o trabalho. Isto, porém,<br />

seria injustiça. Nunca tivemos censura prévia em obra de arte.<br />

Efetivamente se queimaram alguns livros, mas foram raríssimos<br />

esses autos-de-fé.” (Idibidem)<br />

Define-se a razão do texto como algo que pesa como uma ca-<br />

tegoria de “tem que ser”, como processo metódico de eliminação das<br />

prioridades e disponibilidades, do ponto de vista da seleção das es-<br />

truturas e do processamento funcional e semântico do discurso.<br />

Nota-se toda uma estilística formal sob: – motivação semânti-<br />

co-sintática: de base eufemística concessiva – “nunca tivemos censu-<br />

ra prévia em obra de arte”, embora o conteúdo não artístico de cará-


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ter político e ideológico da mesma obra possa levá-la a uma aprecia-<br />

ção e um julgamento fundamentalistas; – motivação morfológica e<br />

semântica: de base flexional (sufixo “-íssimo”, formador do grau<br />

superlativo absoluto sintético, no contexto da adversidade à idéia de<br />

queima de livros – “mas foram raríssimos esses autos-de-fé”) ainda<br />

na linha do caráter concessivo; esse caráter poderia trazer duas con-<br />

siderações: 1) a filosofia concessiva da nossa língua; esta se confor-<br />

maria à tese de provimento de vaga de docente do Colégio Pedro II,<br />

defendida pelo Prof. Evanildo Bechara, em 1960, e que constata esse<br />

caráter de concessão a tudo que possibilita a língua a ajudar a socie-<br />

dade, seja defendendo seus costumes, seja criticando suas agencia-<br />

ções de contrariedade; então, a <strong>relação</strong> das estruturas intrínsecas<br />

(seqüenciais e flexionais ou gramaticais) da língua portuguesa não se<br />

aliena das conectibilidades com as estruturas extrínsecas (biossociais<br />

ou do exóforo); 2) o traçado flexional (interno) subordinado aos cui-<br />

dados da discrição semêmica (sugestão ao invés de acusação de uma<br />

estrutura vital de um povo desprovido da componente antropopsíqui-<br />

ca da solidariedade social); veja-se do ponto de vista crítico a sutile-<br />

za com que se correlaciona, por exemplo, a queima de livros com o<br />

“index librorum proibitorum” como pré-requisito ou condição de<br />

possibilidade para o julgamento e a decisão das conclusões e senten-<br />

ças dos “autos-de-fé”: a cultura da história da nossa super-religião<br />

mostra discretamente um fascismo semelhante ao chamado “fascis-<br />

mo tupinambá” pelo GR.<br />

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A supressão dos “ataques diretos” e a “falta de liberdade” bem<br />

comprovam a lógica do raciocínio que esta tese vem aplicando com<br />

base nas correlações e conjunções da Teoria da Complexidade; pre-<br />

cisamente nos referimos ao princípio da interação. O ideário cuida-<br />

doso do discurso das Memórias..., de Graciliano (GR) lê-se no (5º.)<br />

quinto fragmento, aqui selecionado:<br />

V) “Em geral a reação se limitou a suprimir ataques diretos, palavras<br />

de ordem, tiradas demagógicas, e disto escasso prejuízo<br />

veio à produção literária. Certos escritores se desculpam de não<br />

haverem forjado coisas excelentes por falta de liberdade – talvez<br />

ingênuo recurso de justificar inépcia ou preguiça.” (Idibidem, p.<br />

33-4)<br />

Sobre a interação, observa-se na língua do discurso literário,<br />

narrativo, que até a vírgula se dispensa após o Adjunto Adverbial na<br />

incoação da frase. Em caráter sentencial, esse mestre do emprego do<br />

infinitivo nos oferece um leque de alternativas de leitura, sempre<br />

predisposta a se limitar à próclise do pronome “se”: reflexivo ao<br />

sujeito ativo, claro e simples “a reação”, apassivador do mesmo su-<br />

jeito, pois temos nessa construção semântico-sintática a alternativa<br />

possibilidade de um infinitivo do verbo modal “limitar-se”, com um<br />

“se” expletivo ou forma presa ao verbo; em <strong>relação</strong> ao infinitivo<br />

preposicionado, elevam-se outras hipóteses: – dativo como comple-<br />

mento nominal do particípio subentendido no início do raciocínio e,<br />

em seguida, clareado na transformação em passiva analítica, com o<br />

verbo ser: “Em geral a reação se limitou (foi limitada) a suprimir...”.<br />

Se a preposição fosse “em” e não “a”, a conotação gramatical de


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estabilidade concorreria contra a interpretação de dativo e passaria a<br />

um ablativo circunstanciador e não ao caráter de ação completiva do<br />

nominalizável particípio subentendido ou transformável numa rigo-<br />

rosa perspectiva chomskiana (a dupla ou múltipla disposição funcio-<br />

nal inere à polifonia e até polissemia da língua): caberia essa hipóte-<br />

se no comportamento de intérprete hermenêutico da autêntica gramá-<br />

tica descritiva, comprometida como as contribuições da lingüística;<br />

tal hipótese só não seria relevante para uma concepção gramatical<br />

que faria uma gramática do sentido funcional com as limitações do<br />

normativismo positivista, que não são de Graciliano. Este escapa<br />

pela via da discutida “concessão”. E o escape está em não aceitar<br />

deixar de construir esse mais raro e precioso e libertador infinitivo<br />

flexionado como dativo oracional – “Certos escritores se desculpam<br />

de não haverem forjado coisas excelentes por falta de liberdade (por<br />

preguiça ou por inépcia?): esse dativo de infinitivo com preposição<br />

“a” ou “de”, quer como complemento nominal, quer como objeto<br />

indireto é mais um caso para a pesquisa adiada na nossa atual gramá-<br />

tica histórica ou <strong>Gramática</strong> Científica do Português – GCP - na pro-<br />

posta da Madre Olívia, na PUCSP e que nós adotamos na FEUDUC.<br />

Dividamos esse período em orações com o bom uso da liberdade<br />

gramatical gracilianesca: “Certos escritores se desculpam” – oração<br />

principal; “de não haverem forjado coisas excelentes por faltas de<br />

liberdade” – oração de função semântico-sintática ou de dupla alter-<br />

nativa funcional, talvez tripla: em todas as hipóteses funcionais, ela<br />

se amplia como oração subordinada com o sujeito “certos escritores”<br />

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semântico ou sintático com elipse, ocultado ou preso na Desinência<br />

Número-Pessoal do infinitivo flexionado “-em”, de 3.ª pessoa do<br />

plural ou do “indeterminador” semântico na assimilação ou conta-<br />

minação semântica e morfossintática de “certos...”, como pronome<br />

adjetivo indefinido; será substantiva objetiva indireta, reduzida de<br />

infinitivo flexionado e pessoal, no que releva a regência da preposi-<br />

ção “de” na implicação do “se” como partícula de indeterminação do<br />

sujeito, transmutada axiologicamente (transformada ou generati-<br />

vada) em pronome apassivador para realçar a função completiva,<br />

passiva, objetiva da oração substantiva: nessa hipótese, esta oração<br />

poderia exercer a função de objeto direto preposicionado – infinitivo<br />

de acusativo preposicionado anacrônico, na perspectiva diacrônica;<br />

outra hipótese completiva seria, como no caso ou exemplo da ocor-<br />

rência analisada anteriormente em “se limitou”, a oração substantiva<br />

seria completiva nominal do particípio passado da transformação da<br />

voz em passiva analítica – “Certos escritores são desculpados”, com<br />

prejuízo da conotação reflexiva; desculpados de quê? – “de haverem<br />

forjado...”, dativo oracional ainda, na forma e função de complemen-<br />

to nominal oracional – oração substantiva completiva nominal, de<br />

“desculpados” (todavia, em todas as hipóteses é nítida a hipotaxe - S.<br />

duplo ou de dupla oração: “certos escritores”, na forma “de have-<br />

rem”; esse sujeito do sentido se restringe a uma figura sintática de<br />

Elipse e se oculta formalmente; <strong>entre</strong>tanto, se impõe funcionalmente,<br />

seja na estrutura da motivação semântica, seja na estrutura de moti-<br />

vação semiótica, que implica uma sintática visual e posicional de


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localização hermenêutica e convergência lingüístico-ontológica ou<br />

filosófica aplicada. E, finalmente, voltando à página anterior, recolo-<br />

ca-se a hipótese do ablativo circunstanciador de causa, nesta versão:<br />

“Certos escritores se desculpam] [(por) “de não haverem forjado<br />

coisas... por falta de liberdade – AA de causa da negação: a que leva<br />

a dialética negativa! Em retrospectiva, sob o princípio da pretensão<br />

da síntese mais clara do que desenvolvimento analítico, enumeremos<br />

as hipóteses que se trataram:<br />

– a) conjugação perifrástica com o “se” – pronome relativo, objetivo<br />

indireto, pois o Objeto Direto seria o termo “ataques diretos” (...);<br />

– b) “limitar”, verbo, é um falso auxiliar modal ou auxiliar causativo<br />

(“se limitou” = se permitiu, se mandou...), com o “se” ainda reflexi-<br />

vo, agora na função de Objeto Direto de “limitou” e de Sujeito do<br />

infinitivo (semanticamente, este Sujeito é sempre “a reação”): apa-<br />

renta e age morfossintaticamente como “se” (forma dêitica e posição<br />

do Sujeito pronominado); e este “se” se funcionaliza em dativo, com<br />

o objeto indireto oracional, “a suprimir ataques diretos”;<br />

– c) “se” Pronome Apassivador: “suprimir ataques” (complemento<br />

nominal de uma forma ideológico ou teórica: poderíamos chamar<br />

essa forma de siléptica, forma resultante da transformação para a<br />

Voz Passiva Analítica, pelo “homem genérico”, que se pode ler em<br />

Marx, e se absorveu na tese de Chomsky, ambos nas respectivas<br />

obras Lutas de Classe...). A forma analítica em questão hipotética<br />

seria foi limitado, que se efetiva numa forma ideológica, constitutiva<br />

da trama da linguagem dialética, reforçada pela opção a favor do<br />

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comportamento concessivo da cultura brasileira, em face do fascismo<br />

– dito tupinambá, no caso.<br />

A forma analítica deduzida ideologicamente é da transforma-<br />

ção para foi limitada (silepse, pois tem caráter ideológico); - limita-<br />

da a quê? – A resposta corresponderia a um Dativo, Complemento<br />

Nominal do Particípio Passado (limitada, subentendendo o zelo pela<br />

concordância no gênero feminino e no número plural com o sujeito<br />

paciente “a reação”); – limitada por quê? – A resposta não caberia na<br />

sintaxe, afinal, há na construção produtiva da sintaxe a preposição<br />

“a”, explícita; – se pudéssemos, porém, supor “a no lugar de “por”,<br />

princípio da função por localização complexa, se lermos, conside-<br />

rarmos e aplicarmos a tese de Alfred Noch Whitehead (1947), duas<br />

hipótese funcionais se abrem:<br />

A – “por suprimir...” – Adjunto Adverbial de Causa (oracional ou<br />

classificável em Oração Subordinada (por encaixe, segundo Halli-<br />

day, 1999 – o que propicia facultativamente todos os precedentes<br />

aqui em rema ou comentário) Adverbial Causal, reduzida de infiniti-<br />

vo ao verbo “limitar-se”, que passaria ao sentido de permitir); como<br />

auxiliar modal, valeria o caráter lexical de “propôr-se” (propôs-se a<br />

suprimir); em forma finita ou desenvolvida, diríamos tal oração,<br />

assim: “porque suprimiu ataques diretos, palavras de ordem, tiradas<br />

demagógicas;<br />

B – “pelo suprimir...” – Agente da Passiva Sintético ou Pronominal<br />

Oracional ou a omissa classificação na NGB, de Oração Subordinada


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Substantiva de Agente da Passiva; Graciliano, provavelmente, cha-<br />

maria tal omissão de submissão da Nomenclatura a critérios da fide-<br />

lidade à hermenêutica tupinambá.<br />

Não só de modo dialético negativo se passa para o (6º.) sexto<br />

fragmento, ainda sob o tema da liberdade: o fragmento da sintaxe<br />

opressora, mesmo para quem, genialmente como Graciliano (GR), se<br />

tenta libertar da “sintaxe” à OPS (aos setenta anos de publicação de<br />

Vidas Secas, emblema literário do escritor, e pouquíssimos autores o<br />

possuem). Vamos ao 6.º fragmento aqui selecionado pelos assuntos<br />

distintos, em debate ou em colóquio:<br />

VI) “Liberdade completa ninguém desfruta: começamos oprimidos<br />

pela sintaxe e acabamos às voltas com a delegacia de ordem<br />

política e social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a<br />

gramática e a lei, ainda nos podemos mexer (próclise de conjugação<br />

perifrástica maravilhosa, no contexto: faz pletora da antecipação<br />

da pluralidade das diversas pessoas, indefinidas, sob possível<br />

alternativa da indeterminação <strong>entre</strong> primeiras pessoas; valoriza<br />

a conotação inclusiva contida no AA “ainda”, corroborando a<br />

adversidade, concessiva à liberdade, ao espaço de ação cuidadosa,<br />

daí ser ela discreta). (Idibidem, p. 34)<br />

Da liberdade à invenção e à criação, o mundo no rumo da IM<br />

até Henry Bergson, passa pela chamada Revolução Francesa e esta<br />

acrescenta os ideais de fraternidade e igualdade. Na realização des-<br />

tes, teríamos uma lingüística bem mais sugestiva e filosófica, na sua<br />

conceptualização, uma gramática bem mais receptiva e empírico-<br />

descritiva no uso, e um povo falante com voz própria, criativa, parti-<br />

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cipativa como a democracia que desejamos construir ou de cuja<br />

construção queremos participar. Por isso, “Liberdade completa nin-<br />

guém desfruta” (: ou porque). Por quê? A razão ou explicação (cau-<br />

sal) estaria no nosso caráter de “oprimidos”, sob o aspecto verbal<br />

incoativo, e só ficamos no começo, aguardando a libertação ou espe-<br />

rando-a: a árvore aguarda (“a árvore” – Sujeito Paciente, do verbo na<br />

voz passiva); o homem espera (“o homem” – Sujeito Agente, do<br />

verbo na voz ativa, com extensa acepção semântica de esperar, con-<br />

fiar).<br />

O agente da passiva da opressão (“pela sintaxe”) ou a sintaxe<br />

opressora não comuta o mundo em claustro e a população claustro-<br />

fóbica. Complementa-lhe o agravamento a “OPS” da qual também<br />

procuramos escapar “às voltas”, numa adversidade que localiza nos-<br />

sos limites “estreitos”, cuja estreiteza se antecipa à limitação pelos<br />

mesmos limitadores: “a gramática e a lei”. Entre um e outro espaço<br />

de coação “a que nos coagem”, vige (com vigência ameaçada, com<br />

promessa de limitação, na inclusão indiciada por “ainda”) “ainda”<br />

(AA de inclusão) o aspecto de possibilidade de nos “mexer”.<br />

Pouca, limitada e ameaçada de extinção, a possibilidade é ape-<br />

nas um aspecto verbal na conjugação perifrástica “podemos mexer”;<br />

mas a possibilidade inclui o dizer e dito; é real em Graciliano (GR)<br />

como em Morin e Zaballa, sob uma lei da teoria da complexidade:<br />

sempre há possibilidade na improbabilidade.<br />

Como é rica a categoria verbal de aspecto. A concepção de as-<br />

pecto, neste contexto, vai das situações de Montaigne, pensador as-


Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo<br />

pectualista, ao pensador Morin, possibilista, extensível ao pensamen-<br />

to pedagógico e interdisciplinar de Zaballa e aplicável ao grande<br />

criador de linguagem além dos limites gramaticais da língua de Gra-<br />

ciliano (GR). O GR, aqui, se nos caracteriza o grande semiótico da<br />

literatura brasileira já na flexibilidade pós-moderna.<br />

Contudo, tal fenômeno prógono – já advertido em páginas an-<br />

teriores – se manifesta em pleno período neo-realista ou pré-<br />

modernista ou modernista de várias gerações, da Primeira à Segunda<br />

Grande Guerra.<br />

No (7.º) sétimo fragmento, da supressão do desejo, sob a ne-<br />

gação da impossibilidade futura, esta segue uma opção pela pragmá-<br />

tica desse período histórico do estilo da nossa literatura. Vamos ao<br />

sétimo fragmento:<br />

VII) “Não será impossível acharmos nas livrarias libelos terríveis<br />

contra a república novíssima, às vezes com louvores dos sustentáculos<br />

dela, indulgentes ou cegos. Não caluniemos o nosso pequenino<br />

fascismo tupinambá: se o fizermos, perderemos qualquer<br />

vestígio de autoridade e, quando formos verazes, ninguém nos<br />

dará crédito. De fato ele não nos impediu escrever. Apenas nos<br />

suprimiu o desejo de <strong>entre</strong>gar-nos a esse exercício.” (Idibidem)<br />

Sua nervura situacional ou do exóforo é a defesa da república<br />

recente e já contra-atacada por “libelos” (como termo depreciativo)<br />

“terríveis” (predicador de toda a denotação qualitativa a que se refere<br />

este trabalho).<br />

Inclui-se em “terríveis” o que denota a primeira pessoa narra-<br />

dora, como onisciente não só da narrativa, mas também das ações e<br />

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32<br />

Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo<br />

dos acontecimentos do “entorno”, incluindo a consciência crítica do<br />

regime político a que se submete a nação onde se propaga a cena.<br />

Quem a promove, no caso, são as “livrarias”, como localização dos<br />

referidos “libelos”.<br />

Do ponto de vista intrínseco da língua, toda a segunda oração<br />

do fragmento “acharmos... cegos” funciona como sujeito (oracional:<br />

oração subordinada substantiva subjetiva do conglomerado verbal<br />

“Não será impossível”, oração principal do período composto por<br />

subordinação; é um caso de hipotaxe, pois a <strong>relação</strong> conotação e<br />

denotação aqui se contextualiza em opressão ou subordinação).<br />

Então, “acharmos” qualquer manifestação de liberdade, ainda<br />

que contra a participação ou a própria liberdade, se salienta como<br />

sujeito dessa história, não apenas da estrutura do período e da oração<br />

principal, pois além dessa oração, tudo que nos inspira “acharmos”<br />

tem “status” de pletora subjetiva de um momento histórico, na pers-<br />

pectiva final do “desejo de <strong>entre</strong>gar-nos...”.<br />

Aqui se salienta o mestre de muitos dados lingüísticos. Insurge<br />

dele o primo paradigma espetacular do emprego do infinitivo, espe-<br />

cialmente o flexionado ou pessoal. E é esse aspecto que se analisará,<br />

a favor da liberdade de criação e de expressão de uma literatura (lín-<br />

gua literária) exponencial no planeta, a exemplo dos maiores ou mais<br />

destacados autores, de rara criatividade, com fecho humanista ou de<br />

implicação da defesa da produção hominizadora e humanizadora, na<br />

perspectiva local e, num só ato, planetária. Assim o faz Graciliano<br />

(GR) em todas as suas obras, até as de contos infantis, famosos pelo


Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo<br />

seu caráter inclusivo, coletivista, além do puro materialismo; seu<br />

caráter se amplia, na complexificação, além do puro comunismo,<br />

cujo fundamentalismo fora criticado por Jean Paul Sartre (1960),<br />

além, muito além do fundamentalismo das lojas e das seitas religio-<br />

sas. Favorece-o, como concluiremos a tese, uma divindade terrena,<br />

feita de talento prodigioso, de carne, ossos duros e muita reflexão<br />

sensível e ousadia moderada, sensata, discreta, em defesa da afirma-<br />

ção da ascensão humana, criativa.<br />

No jogo da linguagem, no ato de fala, através dos infinitivos é<br />

que GR atinge o discurso com o máximo de realização da língua,<br />

quando esta não estava “ainda” proibida, “impedida”, pois “apenas”<br />

dela se “suprimiu” a fonte geradora da base ou da gênese (distinga-se<br />

agora se biogênese, psicogênese, sociogênese: genótipo ou fenóti-<br />

po?) ética, sensível, heuristico-estética, da literatura, da arte, da ciên-<br />

cia, da tecnologia (herança do dominador pragmatismo luso-ibérico,<br />

parecido com o conquistador e colonizador pragmatismo saxônico).<br />

Leiam-se plenamente as duas construções como auto-eco-<br />

organizações analíticas ou de filigranas da ética da compreensão de<br />

um pensador-escritor preso, libertando-se em escritor-pensador: “...<br />

impediu escrever” X “... suprimiu o desejo...”.<br />

Jogam-se os conceitos diferentes com dobra das relações síg-<br />

nicas: dobra-se a conotação, apresentando-se seu objeto e ressuge-<br />

rindo-se o mesmo objeto com um sinônimo pela ampliação da cate-<br />

goria da significação denotativa; assim “escrever”, ato, se amplia em<br />

duração e probabilidade de insistência e seqüência “esse exercício” –<br />

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Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo<br />

entenda-se exercício ou ato repetido e buscador de escrever, assim,<br />

a veracidade, em “verazes” (adjetivo), predicativo do sujeito oculto<br />

na desinência número-pessoal de 1.ª Pessoa do plural sob o signi-<br />

ficado denotativo ou lexical de “que dizem a verdade”, também su-<br />

gere voracidade por causa do caráter de parônimos dos termos em<br />

questão, e “vorazes” são aqueles que devoram, sorvem (como seri-<br />

am, neste contexto, os “verazes” ou portadores de verdade, autoritá-<br />

rios, destituídos de “qualquer vestígio de autoridade”, os caluniado-<br />

res, no caso...)<br />

O jogo de linguagem aparenta ludismo, prática de sistema lú-<br />

dico. No entanto, o jogo de linguagem tem diferencial. É exclusivo<br />

dos demais jogos: nem jogo parece; tem seus arquétipos próprios,<br />

todavia cede-os e age na cessão por interação: intercompõe os seus<br />

elementos disciplinares (códigos) e simbólicos (sinais convencionais,<br />

no lugar de signos de representação arbitrária).<br />

Impedir versus suprimir na dobra das relações sígnicas<br />

Os eventos de linguagem no jogo desta, transmutado em todos<br />

os valores, em acontecimento (questão) de linguagem no ato de cons-<br />

trução do discurso, geram a possibilidade de, consubstancializada a<br />

fala atualizadora da língua, ter esta realizada.<br />

Os eventos de linguagem são frutos das relações da conotação<br />

(sugestão) com a denotação (transposição e ação ou significação<br />

precisa que faria a nota, o dado intrínseco ou proferido, se tornar


Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo<br />

inequívoco). Essas relações se fortalecem com as ações e práticas ou<br />

experiências <strong>entre</strong> o não-espaço da linguagem, e o espaço dela. O<br />

não-espaço da linguagem é espaço de outra coisa. Outra coisa pleni-<br />

fica a situação ou a circunstância, enfim, o entorno da linguagem<br />

como objeto da ciência chamada <strong>Lingüística</strong>. A linguagem que se<br />

engrossa, podendo ser tudo como poder de expressão e comunicação,<br />

se afina em língua cujo ensino se formata na gramática de vários<br />

tipos ou focos diferentes. E nada acontece na linguagem como antes<br />

ou depois de algo. Tudo nos fornece sermos um conjunto compacto,<br />

complexo, unimúltiplo: as componentes se diferem, mas não se po-<br />

dem isolar sem virar outra coisa, sem se transformar e perder a tota-<br />

lidade anterior. O caráter unimúltiplo do nosso ser se imbrica na<br />

potência e na faculdade, na representação, na participação, na arbitra-<br />

riedade e na iconicidade do signo (paradigma) ou complexidade da<br />

linguagem; a complexidade antecede o segmento frasal-constituinte-<br />

mínimo contextual, e emerge dele também não como um circulo<br />

vicioso, mas como uma recorrente, hologramática e, sobretudo, dia-<br />

lógica possibilidade de inovação ou reinvenção/ recriação/ recreação<br />

permanente.<br />

A linguagem tem de jogo as regras e o acaso, além do talento<br />

para a qualidade das jogadas de que depende o desempenho, e os<br />

efeitos na percepção do outro jogador.<br />

O jogo da linguagem tem de específico a transmutação de to-<br />

dos os valores, como Nietzsche (1993) descobrira, na sua obra Von-<br />

tade de potência.<br />

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Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo<br />

O acontecimento constitui uma categoria além do evento, do<br />

fenômeno, do fato. O acontecimento da linguagem, linguagem como<br />

acontecimento, é que entrou em questão nesta tese do III Colóquio da<br />

FEUDUC – 2008, com propósitos gramaticais ou de ensino por diá-<br />

logo e tentativa de maiêutica numa simples palestra inabilitante.<br />

A construção se faz como quem ordena, organiza em relações<br />

e correlações do discurso, como na concepção de Saussure (2000). O<br />

Discurso é a atividade lingüística nas múltiplas e infindáveis ocor-<br />

rências da vida do indivíduo.<br />

A eventualidade das ocorrências da vida do indivíduo gera<br />

possibilidade de realizar a fala, discurso. O gerativismo, termo criado<br />

por Karl Marx (1984), quando ele estudou Lutas de classes na Fran-<br />

ça: 1848 a 1850. Tal termo vem sendo muito usado, sobretudo, pelo<br />

pós-marxismo. O pós-marxismo se fundamenta em Morin (1973), na<br />

fixação do Paradigma da complexidade e, <strong>entre</strong> outros autores, em<br />

Chomsky (1999), na sua A luta de classes. O pós-marxismo se aplica<br />

nesta gramaticalização, que aproveita os domínios lingüísticos do<br />

nosso mestre Graciliano Ramos: agora, completam-se 116 anos de<br />

nascido; 70 anos de renascido em Vidas Secas; 55 anos de morte; e<br />

56 de ressurreição em Memórias do cárcere; o autor ressuscitou,<br />

portanto, um ano antes de sua morte, pois o regime do estadonovis-<br />

mo getulista tentou embalsamá-lo vivo, e sua ressurreição definitiva<br />

se deu quando ele reagiu e resistiu à morte por embalsamamento; só<br />

não escapou da última forma da morte. A ruptura da morte, melhor


Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo<br />

dizendo, se deu, sobretudo, em 1952, com a publicação das Memó-<br />

rias..., além de um memorialismo (puro, portanto).<br />

A fala se consubstancializa nesse acaso da potência da lingua-<br />

gem em jogo. Uma vez consubstancializada, a fala tem força para<br />

realizar a língua, com suas componentes.<br />

As componentes da língua são históricas imanem às estruturas<br />

tanto profundas (semânticas) quanto superficiais (morfossintáticas),<br />

nas seqüenciações de seus mecanismos articuladores, declinadores<br />

ou conjugadores, enfim, flexionais ou intrínsecos.<br />

Em suma, a língua vai além da sua realização quando ela se<br />

atualiza, por força do mesmo discurso, através de uma narrativa co-<br />

mo a de Graciliano (GR), criativa e repontencializadora ou ampliado-<br />

ra das possibilidades dos códigos lingüísticos. No caso, os códigos se<br />

situam na língua portuguesa e sua história, com implicações.<br />

As implicações estão nas variabilidades; têm caráter social e<br />

político. No momento, no toque heurístico de GR e hermenêutico<br />

desta tese. Então, o exercício continua.<br />

Entre o “fato” (“de fato”) e a “restrição” (“apenas”) e <strong>entre</strong><br />

impedimento de escrever e a supressão do desejo de <strong>entre</strong>ga ao exer-<br />

cício, se construíram dois períodos, duas frases verbalizadoras da<br />

unidade do pensamento. As duas unidades se compõem em quatro<br />

subunidades ideativas, enunciadoras e sentenciadoras ou orações cuja<br />

análise conclui ou permite-nos usar um ponto final neste discurso da<br />

tese e sua aplicação:<br />

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Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo<br />

– os dois Períodos Compostos por Subordinação P1; P2), com as<br />

segundas orações em hipotaxe (O1; O2), recomprovam o talento de<br />

GR no emprego-mestre do infinitivo: (P1) – “De fato ele (o nosso<br />

pequenino fascismo tupinambá) não nos impediu] [escrever”. (P2) –<br />

“Apenas nos suprimiu o desejo] [de <strong>entre</strong>gar-nos a esse exercício”.<br />

– P1 e P2 subdividem-se em quatro orações (O1 – O4), duas em cada<br />

período composto por subordinação; (O1) – “De fato ele não nos<br />

impediu” – Oração Principal: “De fato (AA de modo) ele (sujeito<br />

dêitico, referente designativo de “... fascismo...”) “de fato não nos<br />

impediu (como verbo falso auxiliar ou Auxiliar Causativo, Predicado<br />

Verbal de núcleo Transitivo Direto por causa da acepção que será<br />

exposta a seguir) não (AA de negação de impedir, no Pretérito<br />

Perfeito do Modo Indicativo – ação de aspecto concluído realmente,<br />

concordando com o sujeito claro, simples e ativo em número singular<br />

da 3.ª pessoa) nos (Pronome Pessoal Oblíquo Átono de 1.ª pessoa do<br />

plural, objetivo direto, transformável em nós, subjetivo, oculta ou<br />

subentendidamente por zeugma ou batologia (que se evita com a<br />

braquilogia) em <strong>relação</strong> ao infinitivo “escrever”, flexionável, mas<br />

impessoal, redutor da oração de Acusativo de Infinitivo, que seria<br />

desenvolvidamente que nós escrevêssemos, Subordinada, Substanti-<br />

va, Objetiva Direta, apódose da primeira, como sua prótase, cujo<br />

Objeto Direto interado do verbo Transitivo Direto na forma “impe-<br />

diu”, no sentido de impossibilitar, inconsentir, interromper, obstruir,<br />

se faz Oracional “nos escrever”; comumente, o uso da Desinência<br />

Número-Pessoal de 1.ª Pessoa do Plural no Infinitivo, escrevermos,


Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo<br />

empobreceria a <strong>relação</strong> profunda ou semântica de “escrever”, com o<br />

“exercício”, enquanto lexia relacional, como sua catáfora); (O2) –<br />

“escrever”- Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta, Redu-<br />

zida de Infinitivo Pessoal e Inflexionado, {nos} (Objeto Direto de<br />

“impediu” e Sujeito Oculto de “escrever”, por Zeugma em razão de<br />

Batologia desviada pela braquilogia ‘sintática’) “escrever” (Predica-<br />

do Verbal de núcleo Intransitivo, por causa da acepção de compor<br />

livros, escrituras... e outros documentos memoráveis); (O3) – “Ape-<br />

nas nos suprimiu o desejo” – Oração Principal (subordinante da se-<br />

guinte): Sujeito Oculto com o sentido descoberto pela leitura seqüen-<br />

cial recursiva aos caracteres anafóricos do endóforo ou contexto<br />

citerior do discurso narrativo, indicado pela Desinência Número-<br />

Pessoal “-u”, de 3.ª Pessoa do Singular (com <strong>relação</strong> semântica a “o<br />

nosso pequenino fascismo tupinambá”), do verbo suprimir, na forma<br />

de Pretérito Perfeito do Modo Indicativo, com a ação de aspecto<br />

concluso; “apenas nos suprimiu o desejo” (Predicado Verbal, de<br />

núcleo Transitivo Direto de coisa e Indireto de pessoa – VTDI: “su-<br />

primiu”); “apenas (AA de modo, de inclusão restritiva, com a tal<br />

concessiva conotação cultural brasileira, de valor histórico) nos<br />

(Pronome Pessoal Oblíquo Átono Objetivo Indireto, transformável<br />

em Reto Subjetivo do Infinitivo seguinte (<strong>entre</strong>gar”) o desejo (Objeto<br />

Direto, com núcleo determinado ou substantivo “desejo”, e o deter-<br />

minante artigo definido “o” de gênero masculino e número singular,<br />

na função sintática de Adjunto Adnominal, concordando no Sintag-<br />

ma Nominal, portanto, com o nome masculino singular, já citado,<br />

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Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo<br />

“desejo”, cujo Complemento é oracional, pois se apresenta como<br />

forma verbal preposicionada, “ de <strong>entre</strong>gar-nos a esse exercício”);<br />

(O4) – “de <strong>entre</strong>gar-nos a esse exercício” – Oração Subordinada<br />

Substantiva Completiva Nominal (de “desejo”, na prótase), Reduzida<br />

de Infinitivo Pessoal e Inflexionado, hipotaxe a oração anterior, em<br />

prótase da qual ela é a apódose, portanto: {nos} (um maravilhoso<br />

Dativo de Infinitivo: Objeto Indireto, migrado da oração de prótase,<br />

transformado em função de sujeito subentendido da oração em apó-<br />

dose, oculto por Zeugma para evitar Batologia na oração ou no termo<br />

oracional seguinte, no caso); “de <strong>entre</strong>gar-nos a esse exercício” (Pre-<br />

dicado Verbal de núcleo, “<strong>entre</strong>gar”, núcleo também do Complemen-<br />

to Nominal, portanto, verbo Transitivo Direto de Pessoa e Indireto<br />

de Coisa;) de (preposição regente do Complemento) <strong>entre</strong>gar (valor<br />

nominal equivalente ao substantivo <strong>entre</strong>ga; determinado do Sintag-<br />

ma Verbal ou Oracional pelos seus complementos, “nos” e “a esse<br />

exercício”) nos (1.ª Pessoa do Plural do Pronome Pessoal Oblíquo<br />

Átono, Objeto Direto do VTDI, “<strong>entre</strong>gar”) a esse exercício (Objeto<br />

Indireto de “<strong>entre</strong>gar”) a (preposição regente de Objeto Indireto, no<br />

caso) esse (Pronome Adjetivo Demonstrativo, masculino singular,<br />

Adjunto Adnominal anteposto ao seu Determinado do Sintagma<br />

Nominal, o substantivo “exercício”) exercício (núcleo do Objeto<br />

Indireto, num complexo semiótico, cujo correspondente sígnico ana-<br />

fórico é a lexia como sema relacional “escrever” que age na frase<br />

imediatamente anterior). E o ponto anterior às aspas de fechamento é<br />

o ponto final do sétimo fragmento: sem as aspas se coloca aqui, co-


Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo<br />

mo ponto final deste trabalho sob a promessa de continuar através<br />

dos quinze fragmentos restantes.<br />

Em conclusão: um autor que usa Infinitivo de Dativo e de A-<br />

cusativo cujo sujeito se localiza agindo dentro de uma estrutura se-<br />

mântica de recursividade tem recursos, não esgota princípios; é espe-<br />

cial, cumpre o dialógico holograma do discurso narrativo.<br />

Toda a situação ou conotação do entorno bem se relaciona<br />

com a denotação, senso do contexto, na conectibilidade morfossintá-<br />

tica ou flexional e funcional dos elementos intrínsecos da sua litera-<br />

riedade e, portanto, de uma narrativa riquíssima em recursos do jogo<br />

da linguagem.<br />

Os atos de fala ampliam as vozes subentendidas que logo se<br />

farão claras, envolvidas pela sábia lucidez histórica de uma sistemá-<br />

tica diacronia da primeira pessoa de um discurso virtuoso, ético, rico<br />

de bons hábitos de escritura. Na p. 5 ou 5.ª, desta parte (“Síntese de<br />

Morin...”), a ética desejada se decodifica na p. 22 ou 22.ª, desta mes-<br />

ma parte ou deste capítulo, com a cor<strong>relação</strong> semântica (com caráter<br />

de metáfora de <strong>relação</strong>) e semiótica <strong>entre</strong> o escrever e o exercício.<br />

Finalmente... uma proposta da gramática científica do português<br />

Finalmente, compreendemos que não se pode ensinar sem coe-<br />

rência e sem coesão: há as posturas e as questões metódicas cientifi-<br />

camente tratadas. Pode-se também aprender mediocremente e deve-<br />

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Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo<br />

se tentar a elevação da aprendizagem em posturas de ampliação dos<br />

quadros propostos, e a meta e a maneira serão sempre de combater<br />

ou não aceitar os reducionismos, as irreflexões: inventar, criar – sim!<br />

– atrapalhar sem dialogar – não! Cientificamente, só vale o que for<br />

discutido com outros atarefados, civilizados, humanizados, com o<br />

mesmo assunto em questão”! A primeira regra consiste em se dize-<br />

rem ou exibirem as fontes que se respeitam e as razões por que se<br />

escolhem aquelas e não outras fontes, e, sempre, assumir a ética de<br />

explicar cada opção por uma possível alternativa de cada vez.<br />

O modelo metódico do bom senso aqui proposto parte do cará-<br />

ter científico-filosófico. O interacionista paradigma cientifico é Ro-<br />

man Jakobson e Noam Chomsky. E o paradigma filosófico, também<br />

conjuntivo e interacionista, está em Edgar Morin, no primado da<br />

Teoria da Complexidade no contexto francês; e, no contexto brasilei-<br />

ro, seguem–se as linhas de Edgar de Assis Carvalho, Juremir Macha-<br />

do da Silva e as esferas de Antônio Paim, Bento Prado Júnior e ou-<br />

tros assemelhados; e a meta é a produção de textos teóricos com<br />

aplicativos, que se poderão tornar práticos ou gramaticais.<br />

Assim, vinha fazendo Joaquim Matoso Câmara Junior e, gra-<br />

maticalmente, por todos os aspectos, Celso Ferreira da Cunha. E os<br />

precedentes de algo parecido têm em Madre Olívia (1979) uma divi-<br />

são de localização lingüística co o Ataliba Teixeira de Castilho, e em<br />

Portugal, nas Áreas Críticas do Português, com Peres & Móia<br />

(1997). Depois se agregam as implicações, que incluem obras e auto-<br />

res com que contamos e de que podemos oferecer um exemplário, a


Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo<br />

seguir, sem prometer, por enquanto, qualquer alongamento mais<br />

detido na matéria, pois, de imediato, o objetivo é cumprir as perspec-<br />

tivas e os dispositivos da III Jornada Nacional de <strong>Lingüística</strong> e Filo-<br />

logia da Língua Portuguesa.<br />

Mesmo por enquanto, já cogitamos dos nomes de autores fun-<br />

damentais, <strong>entre</strong> outros possíveis: – Almeida Filho, J. C. P. (UNI-<br />

CAMP, 1985); – Barbadinho Neto, R. (A Livro Técnico, 1977); –<br />

Borba, F. S. (I. E. L., 4. ed., São Paulo: Nacional, 1975; e F. G. G.<br />

Petrópolis: Vozes, 1976); – Callou, D. M. I. e Marques, M. H. (Litte-<br />

ra. Rio de Janeiro:, mai-ago., 1973); – Câmara Jr., J. M. (Dispersos.<br />

Rio de janeiro: FGV, 1975); – Castilho, A. T. de (Petrópolis/ RJ:<br />

Vozes, (8), out., 1973; (4), 1978; e Boletim da ABraLin (4), 1983); –<br />

Charaudeau, P. (UNICAMP (3): jul., 1984; - Chomsky, N. (1957<br />

Syntact Structures. The Hague: Mouton; e 1965 Aspects of the The-<br />

ory of Syntact. Cambridge, Massachussets: The MIT PRESS); – Co-<br />

seriu, E. (Madrid: Gredos, 1977, Idem, 1978, ibidem, 1980), e outros,<br />

como: – Cunha, C. F. da; – Elia, S.; - Fávero; – Frouhlich; – Garcia;<br />

– Gebara; – Genouvrier, E. e Peytard, J. (1994 Lingüistica e ensino<br />

de Português. Coimbra: Almedina – trad. R. Ilari); – Geraldi; – Hal-<br />

liday, H. A. K. et al (As Ciências <strong>Lingüística</strong>s e o Ensino de Línguas.<br />

Petrópolis: Vozes, 1974); – Hauy; – Head; – Ilari; – Indursky et al; –<br />

Júdice; – Kato; – Koch; – Koch e Travaglia; – Kury; – Lajolo; –<br />

Leal; – Lemle; – Lemos; – Lobato; – Luft; Lyons; – Leite, Cília C. P.<br />

– Madre Olívia (Coordenadora do IP, PUCSP); – Magalhães, E. S.<br />

(2008); – Marcushi, L. A.; – Marques; – Matos; – Miranda; – Motta;<br />

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Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo<br />

– Neves; – Oliveira, H. F. de; – Paiva; – Pécora; – Peres; – Perini, M.<br />

A. (1976; 1985; 1988; 1989); – Pontes; – Pontes; – Possenti; – Pos-<br />

senti e Ilari; – Rocco; – Rodrigues; – Rosemblat; – Rossi; – Roulet; –<br />

Saussure; – Schmitz; – Silva, C.; – Silva, E. T.; – Silva, R. V. M.; –<br />

Silveira; – Siqueira; – Soares, M. N. L.; – Soares, M.; – Terzi; – U-<br />

chôa, C. E. F. (1971; 1981; 1983; 1990; 2008); – Valle; – Vandresen;<br />

– Vanoye.


Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo<br />

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