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Mulheres_na_Antiguidade

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MULHERES NA ANTIGUIDADE - NEA/UERJ<br />

E, no estágio fi<strong>na</strong>l do desenvolvimento dessa <strong>na</strong>rrativa já<br />

lendária, Claudia Quinta se tornou uma Virgem Vestal, suspeita de ter<br />

violado seus deveres de castidade, cujo milagre deu testemunho de sua<br />

virgindade, como surge, no século II d.C. 73, em Herodiano (Hist. 1, 11) 74.<br />

E é como Vestal que Claudia Quinta atravessará os séculos futuros,<br />

marcados pela vinculação cristã do modelo feminino ao ideal de<br />

virgindade 75.<br />

73 cf. BEARD, NORTH & PRICE. Religions of Rome. v. 2. Cambridge:<br />

Cambridge University Press, 1998: 45.<br />

74 A tardia associação de Claudia Quinta com uma Virgem Vestal é significativa,<br />

num período já marcado pela propaganda cristã da virgindade. Esta associação<br />

teve um longo sucesso, especialmente em representações imagéticas, <strong>na</strong> poesia e<br />

<strong>na</strong> pintura através dos séculos, até a modernidade. Uma interessante<br />

interpretação das Virgens Vestais foi proposta por Patricia Horvat: ―... podemos<br />

dizer que as Vestais, que desenvolviam atividades aparentemente domésticas, não tinham o<br />

cândido significado das meni<strong>na</strong>s, geração em potencial, que <strong>na</strong> vida doméstica faziam o pão,<br />

nem o das matro<strong>na</strong>s, geração consumada, responsáveis pelo calor e pela proteção da casa, corpo<br />

da família. No que concerne aos comuns atributos da identidade femini<strong>na</strong>, as Vestais eram<br />

revestidas de sacralidade, exercendo o fascínio do interdito, e, para tal, lhes era conferido um<br />

caráter de incolumidade, materializado pela exigência férrea de castidade, para os homens<br />

romanos a principal virtude femini<strong>na</strong>. Se eram mulheres com privilégios cívicos, que<br />

ultrapassavam o limiar dos apanágios masculinos, e a quem era facultado observar a vida<br />

pública, sempre elegantemente paramentadas, o fogo que elas manipulavam não seria o<br />

reservado fogo acalentador, que remeteria a um regaço materno, mas o mítico veículo de<br />

sublimação e renovação de todas as coisas, próprio aos rituais agrícolas, que repetiam a<br />

destruição e a regeneração da <strong>na</strong>tureza, e a consciência desta oposição. Se eram matro<strong>na</strong>s, o<br />

eram da terra, protagonista da criação e, como tal, do devir dos elementos e de toda história. O<br />

fogo das Vestais era, portanto, o prolongamento ígneo da luz. Quanto ao mola salsa, pão<br />

sagrado reservado aos banquetes em honra a Júpiter e às principais divindades do Estado, os<br />

Di consenti, seria antes uma poção sagrada do que um alimento.‖ cf. HORVAT, P. O<br />

Templo de Vesta e a idéia roma<strong>na</strong> de centro do mundo. Phoînix 13. Rio de<br />

Janeiro, 2007. Em relação à dubiedade do papel de gênero das Vestais, ver:<br />

BEARD, M. ―The sexual status of the Vestal virgins‖ Jour<strong>na</strong>l of Roman Studies, 70<br />

(1980): 12-27.<br />

75 ver o tema de Claudia Quinta como Vestal <strong>na</strong> pintura do Re<strong>na</strong>scimento, e.g.,<br />

em Bartolommeo Nerone (il Riccio) e em Lambert Lombard.<br />

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