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Mulheres_na_Antiguidade

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MULHERES NA ANTIGUIDADE - NEA/UERJ<br />

E meu contrato por piedade aceita;<br />

Sou inocente, negam-no; decide.<br />

Se me fores contrária, aceito a morte;<br />

Si<strong>na</strong>l é que a mereço; eu, pobre huma<strong>na</strong><br />

De uma sentença tua apelaria?<br />

Mas, se inocente sou, que um teu prodígio<br />

O comprove e me salve. Ó tu, que és pura,<br />

Deusa, de puras mãos deixa levar-te –<br />

Diz; puxa manso a corda<br />

O que refiro é, portanto, que ainda hoje espanta em ce<strong>na</strong>,<br />

Bóia a <strong>na</strong>u! Fende o rio! A deusa avança!<br />

E seguindo a formosa condutora,<br />

Ante o povo a protege, a glorifica.<br />

Sobe uníssono aos céus clamor fervente.(...)<br />

(Ovídio. Fasti IV, 247-348)<br />

Ovídio insere muitos elementos em sua versão da chegada de<br />

Cibele: o barco que trazia a deusa para Roma, por exemplo, encalha num<br />

banco de areia. Entre a multidão que assistia à chegada da deusa, havia<br />

uma jovem de origem nobre, Claudia Quinta, de quem, por ser muito<br />

bela e expor suas opiniões livremente, muitos levantavam calúnias.<br />

Quando o barco encalha, Claudia Quinta se separa da multidão, asperge<br />

sua cabeça com a água do Tibre por três vezes, e ergue seus braços,<br />

invocando a Mag<strong>na</strong> Mater, pedindo que, se fosse casta, lhe permitisse<br />

mover o barco com suas mãos nuas. A deusa atende ao pedido e Claudia<br />

Quinta, puxando o cabo do barco, solta-o e o conduz ao porto.<br />

O ―milagre‖ de Claudia Quinta se desenvolveu no período<br />

augustano. Na poesia de Ovídio, tor<strong>na</strong>-se a lenda de uma matro<strong>na</strong> casta<br />

difamada. Pela acclamatio de Claudia Quinta, a deusa testemunha sua<br />

virtude, e os versos de Ovídio podem ser vistos como a dramatização de<br />

um ritual 63.<br />

63 Segundo J. Scheid, o ritual é performativo, e o discurso verbal é inseparável da<br />

ação. Geralmente, os rituais incluíam fórmulas imperativas, seguindo a<br />

linguagem oficial dos magistrados romanos. Seus atos eram, então,<br />

complementados com fórmulas verbais e, muitas vezes, os oficiantes liam os<br />

textos, ou estes eram lidos por um assistente – uerba praeire – para que não<br />

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