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Mulheres_na_Antiguidade

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MULHERES NA ANTIGUIDADE - NEA/UERJ<br />

A presença do ―melhor homem do Estado‖, de ―todas as matro<strong>na</strong>s‖, e<br />

a preparação da cidade para receber a deusa, são elementos significativos<br />

para nós. A figura de Cibele, com seus ritos estrangeiros incompatíveis<br />

com a tradição roma<strong>na</strong>, exigia, para ser aceita, o expurgo de suas<br />

características ameaçadoras ao status quo, e seu culto demandava controle.<br />

Sua inclusão no pomerium tinha sido recomendada divi<strong>na</strong>mente, mas sua<br />

domesticação foi operada pelos seres humanos.<br />

Esta versão de T. Lívio destaca a presença de Claudia Quinta,<br />

por seus escrúpulos religiosos, entre as matro<strong>na</strong>s, mas a apresenta como<br />

ape<strong>na</strong>s uma dentre todas, sem lhe indicar nenhuma ação especial no<br />

evento. E acrescenta um dado a mais: uma inicial reputação duvidosa,<br />

com base <strong>na</strong> tradição. Cícero, antes de Lívio, <strong>na</strong>da comenta sobre esta<br />

suposta reputação, talvez por não querer diminuir a força de seu<br />

argumento, talvez por desconhecer – o que nos parece improvável – tal<br />

reputação, ou ainda por esta reputação não existir à época do Pro Caelio e<br />

do De Haruspicum responsis. Assim, vemos um ponto acrescentado à<br />

história de Claudia Quinta, a matro<strong>na</strong> com prévia reputação duvidosa,<br />

―redimida‖ pela escrupulosa realização de seus deveres. E o papel desempenhado<br />

por Claudia Quinta, no desenvolvimento do mito, pode não ape<strong>na</strong>s nos<br />

ajudar a compreender como foi realizada a interpretatio de Cibele, como a<br />

identificar elementos constituintes dos papeis e das relações de gênero <strong>na</strong><br />

Roma antiga.<br />

A construção do mito: a matro<strong>na</strong> casta <strong>na</strong> restauratio augusta<strong>na</strong><br />

De torpeza era ré <strong>na</strong> voz da fama.<br />

(Ovídio. Fasti, IV, 253-56)<br />

Voltemos à figura de Claudia Quinta. Em versões posteriores,<br />

sua história se desenvolveu de um modo cada vez mais patético. Em<br />

Ovídio (Fasti, IV, 247-348) Claudia Quinta tornou-se uma mulher de<br />

reputação imoral que é ―redimida‖ ao salvar a deusa, quando o barco que<br />

levava a pedra negra encalhou num banco de areia. O poeta <strong>na</strong>rra a<br />

chegada de Cibele a Óstia:<br />

Plebe, se<strong>na</strong>do, cavaleiros, tudo<br />

Conflui alvoroçado à tusca praia,<br />

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