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Mulheres_na_Antiguidade

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MULHERES NA ANTIGUIDADE - NEA/UERJ<br />

religião roma<strong>na</strong> é um sistema complexo de crenças e ações que garante<br />

simultaneamente a legitimidade das ações huma<strong>na</strong>s, a legitimidade do<br />

poder e o locus da comunidade huma<strong>na</strong> estabelecida <strong>na</strong> urbs. Religião,<br />

sociedade e instituições são, portanto, termos inseparáveis no estudo da<br />

Roma antiga.<br />

Isso nos leva a crer que há estruturas profundas <strong>na</strong> vida religiosa<br />

roma<strong>na</strong> que precisam ser ―escavadas‖, estruturas que são a base de<br />

instituições formadoras da sociedade roma<strong>na</strong>, como os papeis sociais de<br />

gênero, e que foram muito bem-sucedidas em termos de poder e de<br />

longevidade. Nenhuma religião, assim como nenhum gênero, é uma<br />

categoria de análise estável e a-histórica. E, apesar de não haver<br />

consenso <strong>na</strong> definição da categoria a<strong>na</strong>lítica do gênero – ou justamente<br />

por isso –, e reconhecendo que o foco de análise da maior parte dos<br />

estudos de gênero está centrado <strong>na</strong> história das mulheres, e não <strong>na</strong>s<br />

relações entre gêneros – o que também é compreensível, posto que a<br />

subcategoria mais problemática dos estudos de gênero é ―o feminino‖ –<br />

acreditamos que uma abordagem da religião roma<strong>na</strong> que inclua<br />

elementos dos estudos de gênero pode ser produtiva para a<br />

compreensão de fenômenos e instituições sociais da antiguidade roma<strong>na</strong>,<br />

permitindo lançar luz sobre a construção da identidade social roma<strong>na</strong> da<br />

qual, queiramos ou não, somos herdeiros sob muitos aspectos.<br />

Os mitos femininos romanos são, <strong>na</strong> essência, <strong>na</strong>rrativas que<br />

podemos considerar político-religiosas, veiculando e instituindo<br />

recorrentemente, <strong>na</strong>s mentes das gerações que os ouviam, o ideal<br />

romano da castidade femini<strong>na</strong>, identificada com a ―honra‖ e a própria<br />

―identidade‖ masculi<strong>na</strong>; em suma, a castidade femini<strong>na</strong> funcio<strong>na</strong>va como<br />

fundamento da honra e da identidade masculi<strong>na</strong>s. Os exemplos de<br />

mulheres que agiam de modo independente ao androcentrismo rei<strong>na</strong>nte,<br />

ou agiam ―impropriamente‖ (para usar um termo comum entre<br />

escritores romanos), eram modelos de vícios fundamentais, vistos como<br />

falhas do grupo familiar, ou mesmo da sociedade como um todo, que<br />

não conseguia exercer o devido controle sobre ―suas‖ mulheres 36.<br />

36 ver, por exemplo, o discurso de Catão sobre o movimento das mulheres da<br />

elite política roma<strong>na</strong> contra a Lei Ópia, criado por T. Lívio (AUC XXXIV, 1-8),<br />

censurando se<strong>na</strong>dores por permitirem que suas mulheres ―agissem livremente‖.<br />

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