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Mulheres_na_Antiguidade

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MULHERES NA ANTIGUIDADE - NEA/UERJ<br />

embelezamento (atributos tipicamente femininos) estão presentes <strong>na</strong><br />

caracterização da Sibila 377.<br />

Feia (por imprudência ou desleixo), sem atrativos femininos,<br />

negligente quanto ao auxílio a terceiros (atributo tipicamente materno),<br />

depravada (ou insinua tê-lo sido) e negligente para com marido e família:<br />

eis aí um conjunto <strong>na</strong>da típico para uma mulher da Antigüidade, quer <strong>na</strong>s<br />

descrições mais antigas, quer nos OrSib. Que esse elenco de queixumes e<br />

confissões tenha sido posto <strong>na</strong> boca de perso<strong>na</strong>gem femini<strong>na</strong> por<br />

homens é algo surpreendente; que tal proeza em termos autorais (ou<br />

melhor, pseudepigráficos) tenha se mantido entre gregos, romanos,<br />

judeus e cristãos é ainda mais notável e é algo que, até o momento carece<br />

de investigação mais detalhada.<br />

As questões mais prementes do ponto de vista deste capítulo<br />

dizem respeito, portanto, ao fato da Sibila não esconder sentimentos e<br />

intimidades de seu leitor; se o faz, é mediante o recurso à pseudonímia<br />

mas este, como disse no início do texto, era comum à apocalíptica<br />

judaica. O que parece estar em jogo é a <strong>na</strong>tureza do que se pode colocar<br />

como palavras atribuídas à Sibila. Não faria sentido um visionário<br />

queixar-se do casamento, ou da falta do mesmo (embora nos textos<br />

proféticos as queixas em sentido estrito os exemplos sejam comuns; Jr<br />

20:7 é ótimo exemplo.).<br />

Mas aqui, em que pese a variedade de camadas redacio<strong>na</strong>is (e são<br />

inúmeras, não existindo consenso quanto à sua datação, proveniência ou<br />

localização geográfica 378), de substratos pagãos a textos puramente<br />

cristãos, a Sibila exibe comportamento semelhante - independência<br />

quanto ao mundo doméstico, questio<strong>na</strong>mento da maternidade (ainda que<br />

apresentado sob a forma de arrependimento - como no fr.8 dos OrSib),<br />

até mesmo a possibilidade de ter permanecido, contra a vontade própria<br />

(mas de acordo com os desígnios inspiracio<strong>na</strong>is de Deus).<br />

Nesse sentido, um estudo ―de gênero‖ da Sibila não faz sentido - ela<br />

se insere <strong>na</strong> tradição extática comum a homens e mulheres (embora suas<br />

queixas quanto ao casamento e lar sejam peculiares); por outro lado, a<br />

377 Heráclito, fr.12.<br />

378 Recomendo ao leitor não-familiarizado uma leitura da ―Introdução‖ aos OrSib<br />

por John J. Collins <strong>na</strong> edição de Charlesworth dos OTP, vol.1. Pp.317-326.<br />

354

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