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Mulheres_na_Antiguidade

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MULHERES NA ANTIGUIDADE - NEA/UERJ<br />

afirmação tenha sido pensada pela autora para o modelo clássico<br />

proposto de reclusão femini<strong>na</strong> no interior do espaço doméstico, tal<br />

aspecto acaba por fornecer indiretamente as bases para que melhor<br />

possamos identificar e compreender o suporte ideológico no qual os<br />

diferentes discursos apresentados pelos autores antigos sobre as<br />

mulheres celtas se fundamentam. Parece-me que, <strong>na</strong> concepção desses<br />

autores, o que mais caracterizaria tais mulheres bárbaras em<br />

contraposição às mulheres gregas ou roma<strong>na</strong>s é o fato de que as ―celtas‖<br />

seriam deixadas em um estado social de ―selvageria‖ mais próximo do<br />

<strong>na</strong>tural, entendido aqui como não-civilizado, não estando, portanto,<br />

limitadas à interioridade do espaço doméstico.<br />

Igualmente válido parece ser o argumento levantado por Edith<br />

Hall (1989) em seu estudo sobre como os gregos foram capazes de<br />

inventar os bárbaros, ou seja, de construírem uma noção particular de<br />

barbárie. A autora demonstra que, dentro da concepção clássica, o quão<br />

mais bárbara uma determi<strong>na</strong>da comunidade fosse, consequentemente, <strong>na</strong><br />

visão dos autores antigos, maior seria o poder das mulheres em tais<br />

sociedades (HALL, 1998: 95). Embora tanto Blundell (1998) quanto Hall<br />

(1989) centrem suas análises essencialmente no caso grego, o mesmo<br />

princípio poderia, de certa maneira, ser aplicado aos romanos.<br />

Segundo Iain Ferris (2003: 54), em seu estudo a respeito das<br />

representações dos bárbaros <strong>na</strong> colu<strong>na</strong> de Trajano, a imagem da mulher<br />

bárbara é, de fato, a mais comum <strong>na</strong> arte imperial roma<strong>na</strong>, no tocante à<br />

representação de figuras femini<strong>na</strong>s não-divi<strong>na</strong>s 355. René Rodgers (2003:<br />

76) também defende que um aspecto importante da ideologia roma<strong>na</strong> é a<br />

concepção das mulheres como outro por excelência - sejam elas bárbaras<br />

ou não. A construção de tal alteridade, contudo, far-se-ia mais visível em<br />

textos relacio<strong>na</strong>dos a sociedades bárbaras que, por sua vez, tratam de<br />

homens não eram e, consequentemente, as mulheres apareciam primeiramente<br />

como o outro por excelência. (BLUNDELL, 1998: 100)<br />

355 O autor a<strong>na</strong>lisa, ainda, algumas ce<strong>na</strong>s da colu<strong>na</strong> de Trajano em que mulheres<br />

da Dácia (território, atualmente, correspondente à Romênia) aparecem<br />

torturando prisioneiros romanos, articulando tais representações com o discurso<br />

de barbárie construído pelo poder imperial romano (FERRIS, 2003: 55-60).<br />

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