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Mulheres_na_Antiguidade

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MULHERES NA ANTIGUIDADE - NEA/UERJ<br />

Essas características, contudo, fazem parte de discursos<br />

particulares. Eis que uma leitura não crítica dos autores greco-romanos<br />

pode, portanto, conduzir erroneamente à ideia de um matriarcado celta.<br />

Deve-se ter em mente, primeiramente, que tais relatos constituem-se em<br />

discursos e, ainda, que tais representações construídas em relação às<br />

mulheres celtas mais do que um fiel retrato sobre as relações de gêneros<br />

nestas sociedades, constituem-se como representações – com<br />

implicações políticas, sociais e culturais, diga-se de passagem – de uma<br />

(dupla) alteridade – do ―outro‖ mulher e do outro não-civilizado.<br />

Nesse sentindo, defendo que as diversas semelhanças presentes<br />

<strong>na</strong> documentação que dizem respeito a essas mulheres, se dão, em sua<br />

maioria, pela existência do que poderíamos chamar de um conhecimento<br />

―geral‖, ―público‖ ou de ―senso comum‖ da audiência Mediterrânea em<br />

relação aos celtas (NASH, 1976: 114), que é difundido, tanto através da<br />

escrita, como pela tradição e educação desses indivíduos. Não nos falta,<br />

inclusive, um conjunto de anedotas que são transmitidas das mais<br />

variadas formas possíveis, representando os celtas como os outros<br />

(CUNLIFFE, 2003: 12) e, consequentemente, como detentores de diversas<br />

marcas e traços de alteridade.<br />

Dessa forma, poderia também fazer uso de algumas colocações<br />

de Edward Said repensando-as em relação ao nosso contexto de análise:<br />

Todo aquele que escreve sobre o Oriente (...)<br />

presume algum antecedente oriental, algum<br />

conhecimento prévio do Oriente, ao qual ele se<br />

refere e no qual ele se baseia (SAID, 1996: 32).<br />

Partindo de alguns pressupostos colocados por Said (1996) em<br />

seu estudo em relação ao Oriente, dentre eles o da necessidade de se<br />

buscar entender o orientalismo enquanto um discurso (SAID, 1996: 15) e<br />

um sistema de conhecimento sobre o Oriente (SAID, 1996: 18), que por sua<br />

vez está baseado <strong>na</strong> exterioridade de quem o cria e representa (SAID, 1996:<br />

32) e que justamente por isso acaba por dizer mais a respeito daquele que o<br />

elabora do que daquele que é relatado (SAID, 1996: 33), acredito ser possível<br />

fazer uma ponte entre a argumentação desenvolvida pelo autor em<br />

relação ao Oriente, com o que ocorre nos relatos greco-latinos a respeito<br />

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