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Mulheres_na_Antiguidade

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MULHERES NA ANTIGUIDADE - NEA/UERJ<br />

―realidades concretas‖. Esses discursos, por sua vez, também necessitam, a<br />

meu ver, ser entendidos <strong>na</strong> medida em que estejam inseridos dentro das<br />

dinâmicas de produção de identidades e alteridades da <strong>Antiguidade</strong>:<br />

enquanto bárbaros, os celtas só podem ser pensados como os Outros,<br />

diferentes do Nós-Mediterrâneo e, portanto, devem ser caracterizados de<br />

um modo que facilite sua compreensão e identificação, destacando seus<br />

atributos de barbárie. Assim, acredito que os relatos antigos que tratam<br />

das mulheres <strong>na</strong>s sociedades celtas ou das sociedades da Idade do Ferro<br />

como um todo, devam ser entendidos, antes de tudo, como construções<br />

culturais (WELLS, 2002: 105). Em outras palavras: um dos propósitos<br />

das digressões ―etnográficas‖ nos textos antigos é a de manter os hábitos<br />

dessas populações ―não-civilizadas‖ como um espelho, onde os indivíduos<br />

pertencentes à sociedade que elaborava tais discursos pudessem olhar e<br />

perceber aquilo que eles próprios tinham em comum entre si (HALL,<br />

2001: 222; HARTOG, 1999).<br />

Creio que os relatos antigos possam ser encarados como um<br />

importante meio através do qual os autores mediterrâneos buscavam,<br />

com exemplos e <strong>na</strong>rrativas de supostos acontecimentos relacio<strong>na</strong>dos às<br />

mulheres celtas, construir noções próprias de identidade, tanto como<br />

indivíduos, quanto como, especialmente, indivíduos pertencentes a uma<br />

sociedade, a uma tradição, a um determi<strong>na</strong>do grupo social. Em outras<br />

palavras, tais textos acabam sintetizando valores e ideologias que pouco<br />

se parecem com a desse ―outro‖ que é relatado, mas, sim, com os valores<br />

e ideologias daqueles que escrevem.<br />

Sue Blundell (1998: 100) argumenta que as mulheres <strong>na</strong><br />

<strong>Antiguidade</strong> Clássica eram vistas como criaturas selvagens e desenfreadas<br />

e, por isso, necessitavam estar sob o controle masculino 352. Embora tal<br />

afirmação tenha sido pensada pela autora para o modelo clássico<br />

proposto de reclusão femini<strong>na</strong> no interior do espaço doméstico, tal<br />

aspecto acaba por fornecer indiretamente as bases para que melhor<br />

352 Ressalta-se, ainda, que dentro deste modelo os homens eram idealmente<br />

vistos como ativos, autocontrolados e civilizados. Esta definição, por sua vez,<br />

seria sustentada pela imagem do outro, delineado a partir daquilo que tais<br />

homens não eram e, consequentemente, as mulheres apareciam primeiramente<br />

como o outro por excelência. (BLUNDELL, 1998: 100)<br />

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