22.04.2013 Views

Mulheres_na_Antiguidade

Mulheres_na_Antiguidade

Mulheres_na_Antiguidade

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

MULHERES NA ANTIGUIDADE - NEA/UERJ<br />

passando por um estágio de loucura, muito semelhante aos versos de<br />

Eurípides em As Troia<strong>na</strong>s. Clitemnestra vocifera as seguintes palavras:<br />

―Ela é louca [maínetaí] e obedece a maus pensamentos [kakon klúei phrenon], ela<br />

chega aqui ao sair de uma cidade recentemente conquistada [pólin neaíreton]‖ (Ibid,<br />

1064-1065) Nesta passagem fica clara a condição atual da troia<strong>na</strong>: cativa,<br />

parte do géras de Agamêmnon e uma bárbara ensandecida.<br />

Ao descer do carro, Cassandra lamenta-se e invoca Apolo como<br />

se estivesse em transe. O Coro não compreende os lamentos da cativa e<br />

profere as seguintes palavras: ―A estrangeira [xéne] parece ter o <strong>na</strong>riz/ faro<br />

[eúris] de um cão [kunós]; ela segue a pista de mortes [phónon] que vai descobrir<br />

[aneurései]‖ (Ibid, 1093-1094) Constatamos que as metáforas de animais<br />

e de caça são constantes <strong>na</strong> descrição dos atos tanto de Clitemnestra,<br />

quanto dos de Cassandra. (VIRET-BERNAL, 1996:293) Suas palavras<br />

sobre o atentado de Clitemnestra contra Agamêmnon não são<br />

compreendidas. A cativa profetisa o banho mortal tramado pela rainha<br />

aquéia contra seu esposo, mas o Coro não consegue decifrar as palavras<br />

da estrangeira. ―Ainda não compreendo, após os enigmas [ainigmáton], obscuros<br />

oráculos [thesphátois] que me deixam perplexo.‖ (Ibid, 1112-1113)<br />

Nos versos seguintes, Cassandra continua a profetizar e o Coro<br />

intervém afirmando que a cativa está com o espírito aluci<strong>na</strong>do<br />

(phrenomanés) por uma inspiração divi<strong>na</strong> (theophóretos) (Ibid, 1140). Nesta<br />

passagem Cassandra expressa um canto oracular ‗contrário às normas‘, um<br />

nómon ánomon. Ela revela os crimes passados e futuros dos Átridas, daí o<br />

seu canto ser qualificado de ‗pouco encantador‘. A<strong>na</strong> Iriarte explica que<br />

se repararmos no sentido jurídico do termo nómos, o jogo de palavras<br />

formulado por Ésquilo parece traduzir as condições legítima e ilegítima<br />

da palavra de Cassandra; palavra apolínea que o próprio deus se nega a<br />

validar (IRIARTE, 1990: 105).<br />

A imagem da cativa e de suas palavras enigmáticas estão sempre<br />

atadas à idéia de morte iminente do perso<strong>na</strong>gem (IRIARTE, 1990: 128).<br />

As portas do palácio de Agamêmnon são as portas do Hades - morada<br />

dos mortos. As suas vidências logo serão cantadas nos rios do mundo<br />

subterrâneo: ―Agora nos rios Cócytos e Achéron irei, eu acho, logo cantar minhas<br />

profecias.” (ÉSQUILO. Agamêmnon, 1160) Cassandra em um dado<br />

momento de sua aluci<strong>na</strong>ção profética enxerga as Erínias (IRIARTE,<br />

1990: 98); ela é a única perso<strong>na</strong>gem da Oréstia que consegue descrever as<br />

30

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!