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Mulheres_na_Antiguidade

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MULHERES NA ANTIGUIDADE - NEA/UERJ<br />

século V a partir de um drama em que, basicamente, se discute sobre o<br />

poder 342. Aqui não se discute se a mulher doméstica tinha ou não<br />

atributos de inteligência, e inclusive no testemunho tardio de Ovídio, <strong>na</strong>s<br />

Metamorfoses, que será motivo de discussão adiante por comparação, as<br />

mineides, perso<strong>na</strong>gens femini<strong>na</strong>s da <strong>na</strong>rrativa, decidem contar histórias, o<br />

que corrobora sua erudição, enquanto se dizem acompanhadas por<br />

Ate<strong>na</strong>, que presidia os trabalhos de tecelagem e a inteligência.<br />

Nestes mitos relacio<strong>na</strong>dos ao poder de Dioniso, de certa forma<br />

anômalo pois não almeja ao domínio das cidades, é haver uma separação<br />

definida entre as ―livres <strong>na</strong> montanha‖ e as ―presas dentro de casa‖, as<br />

com ou sem kýrios, o representante legal do sexo masculino responsável.<br />

Poderíamos dizer que Dioniso é o kýrios das me<strong>na</strong>des, mas elas o<br />

acompanham livremente, o que já modifica o estatuto <strong>na</strong> base. Ele foi<br />

escolhido, e por ele deixaram para trás o paradigma de comportamento<br />

feminino inteiro, que implica desde ser virgem, ser reclusa ao interior do<br />

oikos, passar de propriedade do representante legal/pai diretamente para<br />

o marido, ser fértil e gerar filhos legítimos para a linhagem do homem,<br />

até ser silenciosa, submissa e leal. Além disso, Dioniso é refratário à<br />

sujeição dos corpos femininos à lei, portanto, mesmo sendo um poder<br />

de origem masculi<strong>na</strong> (Dioniso), confronta a hegemonia do próprio poder<br />

masculino, problema que se refere à liberdade do corpo no universo<br />

feminino. O ponto alto disso é vê-las <strong>na</strong>s representações da iconografia<br />

arcaica e clássica enroladas em serpentes, roupas sem amarras, muitas<br />

vezes semi-nuas e saltitantes.<br />

Certo que, para isso, existem questões relacio<strong>na</strong>das ao me<strong>na</strong>dismo<br />

que precisariam ser esclarecidas: sua gênese, possibilidade de existência<br />

histórica, seus significados, a função ritual que exerce no equilíbrio da<br />

polis, a questão de gênero colocada, visto ape<strong>na</strong>s mulheres serem<br />

admitidas no culto, e articulada à relação do dionisismo com o poder.<br />

Para este último ponto, contamos com o livro de Trabulsi, citado <strong>na</strong><br />

epígrafe, e que é específico nestes assuntos da vinculação histórica e<br />

mítica do dionisismo ao poder em suas variantes.<br />

342 Poderíamos certamente ampliar o escopo da pesquisa e tomar também para<br />

esta análise a comédia ―Lisístrata‖ de Aristófanes. De uma maneira<br />

completamente diferente esta comédia aponta para a mesma discussão.<br />

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