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Mulheres_na_Antiguidade

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MULHERES NA ANTIGUIDADE - NEA/UERJ<br />

tais como: o gado, os tesouros em metal e as cativas que serão vendidas<br />

como escravas. Para o herói homérico era vantajoso arriscar sua vida<br />

pela conquista destes bens (KIRK, 1999: 31). A partir da derrota de uma<br />

cidade, a prática habitual era o extermínio físico dos homens e a<br />

escravização de mulheres e de crianças. Todas as riquezas disponíveis,<br />

incluindo as armas dos guerreiros vencidos, são pilhadas. Como os<br />

prêmios dos jogos fúnebres, o botim dos guerreiros é depositado no<br />

centro – es mésos – em comum sob os olhos atentos da assembléia dos<br />

guerreiros (DETIENNE, 1965: 431).<br />

Em um primeiro momento são retiradas as ‗peças‘ mais valiosas<br />

para serem ofertadas aos chefes, como privilégio honorífico. Este<br />

‗privilégio‘ – chamado de géras – poderia ser uma jovem e bela cativa.<br />

Ofertar a um chefe um géras significa reconhecer sua timé (THEML,<br />

1995: 151). Contrariamente, retirar-lhe o seu géras consiste em contestar a<br />

legitimidade da sua posse e a sua honra (SCHEID-TISSINIER, 1999:<br />

45-46). Podemos perceber, então, que há a necessidade de sustentar a<br />

glória – kléos – dos heróis nos poemas, celebrando os seus grandes feitos.<br />

Por meio da poesia épica, os aedos conservaram <strong>na</strong> memória dos vivos a<br />

lembrança dos guerreiros que escolheram, ao preço de suas vidas,<br />

enfrentar os perigos e a morte.<br />

O herói Agamêmnon enfrentou muitos destes perigos até<br />

conseguir derrotar os troianos. Um de seus ‗presentes honoríficos‘ por esta<br />

vitória foi a filha de Príamo, rei de Tróia, a princesa Cassandra<br />

(Kassándra). O deus Apolo concedeu à filha de Príamo o poder de<br />

transmitir o seu pensamento, ou seja, ter o dom de profetizar.<br />

Entretanto, Cassandra não aceita se entregar à divindade, preferindo<br />

continuar virgem. Apolo, humilhado, privou-a da persuasão (peithó).<br />

Após ter cometido esta falta grave (émplakon) à divindade, as pessoas não<br />

acreditavam mais <strong>na</strong>s palavras de Cassandra (ÉSQUILO. Agamêmnon,<br />

1212). Havendo adquirido o dom profético mediante o artifício da<br />

falsidade, a palavra de Cassandra não possui credibilidade, pois a verdade<br />

(alétheia) apolínea carece de persuasão (IRIARTE, 1990: 105).<br />

Cassandra passa a ser uma estrangeira em sua própria terra, um<br />

membro estranho em sua própria comunidade. Sua mãe, Hécuba, ao ver<br />

as <strong>na</strong>us gregas zarparem não autoriza Cassandra sair da tenda e entrar em<br />

contato com os Aqueus: ―Não deixeis sair Cassandra, a bacante, a mê<strong>na</strong>de<br />

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