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Mulheres_na_Antiguidade

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MULHERES NA ANTIGUIDADE - NEA/UERJ<br />

como testemunha quanto à grande parte dos assuntos do mosteiro e do<br />

século que descreve tão bem.<br />

E, aqui, aparece uma outra problemática relativa à nossa autora e<br />

sua obra que tem movimentado os especialistas. Quais as relações entre a<br />

Vida 1 e a Vida 2? Em que se parecem e no que se diferenciam?<br />

Se, à primeira vista, poderíamos pensar em uma questão que<br />

visaria legitimar a obra de Baudonívia, já que por se tratar de uma<br />

mulher escritora haveria a necessidade de respaldar seu texto,<br />

comparando-o com o de autores masculinos; por outro, não podemos<br />

esquecer ser esta uma prática costumeira entre especialistas, ao se<br />

depararem com textos diversos relativos a uma mesma perso<strong>na</strong>gem<br />

histórica 334.<br />

Assim, a hagiografia de Venâncio Fortu<strong>na</strong>to acentua as<br />

características ascéticas e penitenciais de Radegunda, fazendo dela um<br />

modelo da mulher forte, viril, que por sua te<strong>na</strong>cidade, força de vontade,<br />

supera os supostos limites físicos da fragilidade do sexo feminino,<br />

apresentando-se como igual ao homem <strong>na</strong> busca da realização espiritual<br />

através da anulação do corpo (modelo dos santos ascéticos do deserto),<br />

mas, que, no caso da santa é levado ao extremo. (SILVA: 2011, 183-185;<br />

CHARRONE: 2007, 37-38).<br />

Portanto, sob a pe<strong>na</strong> de Fortu<strong>na</strong>to, ela é a santa que se isola do<br />

mundo, abando<strong>na</strong> o casamento que lhe desagradara desde o início,<br />

mantendo-se à margem da vida que deixara para trás, imersa em seus<br />

jejuns e mortificações, no cuidado e <strong>na</strong> caridade para com todos os que a<br />

procuravam, <strong>na</strong> humildade do seu proceder junto às companheiras, <strong>na</strong><br />

realização de milagres com que era aquinhoada pela misericórdia divi<strong>na</strong>,<br />

em reconhecimento pelas suas virtudes 335.<br />

334 Como exemplo desta prática, podemos citar a famosa Questão Francisca<strong>na</strong>,<br />

que objetiva apresentar, no estudo comparativo das fontes sobre São Francisco<br />

de Assis, uma imagem unificada do santo.<br />

335 Se, no latim clássico virtus desig<strong>na</strong> o conjunto de qualidades que fazem de um<br />

homem um vir, o herói <strong>na</strong>s línguas neolati<strong>na</strong>s, no latim cristão, o termo passará<br />

a desig<strong>na</strong>r ―virtude‖, o poder através do qual as pessoas tocadas pela graça<br />

divi<strong>na</strong> conseguem fazer milagres e, por extensão, o próprio milagre realizado.<br />

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