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Mulheres_na_Antiguidade

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MULHERES NA ANTIGUIDADE - NEA/UERJ<br />

pares, a par de uma jovem, mulher, anónima, estrangeira e cativa. Ulisses<br />

fala como se Hécuba não fosse capaz de entender a lógica dos valores<br />

colectivos e másculos, que além de distinguirem os homens das<br />

mulheres, opõem também Gregos e Bárbaros. ‗Para nós‘ - argumenta<br />

com uma carga irónica que coloca este ‗nós‘ num ascendente i<strong>na</strong>tingível<br />

de nobreza e de glória – ‗Aquiles é digno do nosso reconhecimento‘. Na morte,<br />

como <strong>na</strong> vida, merece a vénia dos companheiros (310). A charis e philia<br />

Ulisses associa time, um valor masculino e militar que Hécuba<br />

desconhece, mas sobre que, <strong>na</strong> sua opinião de homem e de guerreiro, se<br />

constrói a verdadeira e duradoira (320) estabilidade social (315-316):<br />

‗Haverá disposição para se dar a vida pela pátria, ao ver-se um morto despojado da<br />

honra que lhe é devida?‘ Confrontando-se depois com a súplica de Hécuba,<br />

o senhor de Ítaca <strong>na</strong>da diz sobre o argumento do poder contraposto à<br />

fragilidade da fortu<strong>na</strong>, nem sobre o prestígio que faria dele um decisor<br />

escutado. Aduz o exemplo paralelo das mulheres gregas, também elas<br />

vítimas sofredoras da guerra, e aconselha resig<strong>na</strong>ção (322-326). A<br />

questão do nomos, Ulisses alarga-a à falta de perspectiva da prática<br />

bárbara e avalia-a, não de acordo com uma desejável equidade <strong>na</strong><br />

preservação da vida, um valor universal, mas ainda uma vez por um<br />

critério político, o de uma time que, do seu ponto de vista, é a verdadeira<br />

razão de ser da comunidade social (326-327). A essa vénia, ao prestígio e<br />

à glória, que a Grécia, como Ulisses a conhece, reverencia acima de tudo,<br />

opõe os ‗pobres‘ bárbaros, que acusa de indiferença para com os seus<br />

heróis e de uma amathia sem sentido.<br />

Hécuba sai vencida deste recontro retórico, não porque lhe falte<br />

competência oratória, mas porque se limita a argumentos de justiça, a<br />

valores éticos, que não têm, perante a sociedade ambiciosa, amoral e<br />

pragmática que Ulisses representa, um peso decisivo. A debilidade de<br />

uma causa justa fá-la pagar um preço elevado para o seu coração de mãe:<br />

a perda de uma filha. Mas o que parecia o último dos golpes era ape<strong>na</strong>s<br />

mais uma etapa num calvário de amarguras; pois já uma escrava, activa<br />

<strong>na</strong> preparação das exéquias de Políxe<strong>na</strong>, era portadora de mais um golpe,<br />

a morte de Polidoro, desta vez vítima simplesmente da falsidade e da<br />

ambição do trácio Polimestor, a quem Príamo o confiara como a última<br />

esperança para a ressurreição futura de Tróia. Não se tratava agora da<br />

crueldade de um inimigo, mas do crime de traição cometido por um<br />

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