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Mulheres_na_Antiguidade

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MULHERES NA ANTIGUIDADE - NEA/UERJ<br />

degolada sobre o túmulo de Aquiles. Foi-me dada a incumbência de escoltar e<br />

conduzir a jovem; quanto ao sacrifício, terá por executor desig<strong>na</strong>do e celebrante o filho<br />

de Aquiles‘. Hécuba, porém, não se deixa iludir pela frieza burocrática da<br />

comunicação. Sente que é chegada a hora de um agon supremo (229), da<br />

troca decisiva de argumentos, para além dos inevitáveis soluços e<br />

lágrimas. Hécuba assume a prioridade <strong>na</strong>s intervenções, colando ao<br />

argumento antes aduzido por Ulisses <strong>na</strong> assembleia, que conde<strong>na</strong>va<br />

Políxe<strong>na</strong>, os conteúdos próprios de uma rhesis de defesa.<br />

Com uma clara competência, o primeiro motivo que introduz é o<br />

de charis; o reconhecimento e a reciprocidade que exige de um favor<br />

prestado transita de um plano colectivo, o que relacio<strong>na</strong> o exército com<br />

o mais prestigiado dos seus elementos, para o privado, o que vincula<br />

Ulisses a uma Hécuba, outrora poderosa, a quem ficou a dever a própria<br />

vida, quando penetrou, como espião, em terreno inimigo e se viu<br />

identificado por Hele<strong>na</strong> 318. A charis associam-se as ideias de xenia e philia,<br />

diversificando o conteúdo do conceito (251-257). Ao protesto pela<br />

reciprocidade de obrigações, como eco das razões invocadas por Ulisses,<br />

Hécuba soma questões de ‗justiça‘. Mede, em primeiro lugar, a imposição<br />

que tor<strong>na</strong>ria o sacrifício de Políxe<strong>na</strong> uma fatalidade ou uma conveniência<br />

(260-261; cf. 265, 267). Mistura a ‗necessidade‘ com ‗vontade‘ para colocar a<br />

exigência do ritual a um nível puramente humano, que se pode contestar<br />

ou repudiar. E não hesita em o referir como um ‗crime‘, assumindo, para<br />

a própria interrogativa, uma opinião clara: não é legítimo sacrificar vidas<br />

huma<strong>na</strong>s. O sacrifício é então, sem reservas, colocado no plano de um<br />

delito, que, mesmo assim, admite níveis de rigor e de justiça: se há que<br />

encontrar uma vítima, porque há-de ser Políxe<strong>na</strong>, que <strong>na</strong>da fez contra<br />

Aquiles, a pagar com a vida? É Hele<strong>na</strong> quem deve ser sacrificada, porque<br />

a ela o herói deve o sofrimento e a morte (265-266). De resto, como<br />

vítima, Hele<strong>na</strong> cumpre todos os requisitos: é bela como nenhuma outra,<br />

além da culpa que lhe assiste (267-268). Após esta incursão pelo tema da<br />

justiça – ‗é em nome da justiça que uso este argumento‘ -, Hécuba volta a charis<br />

318 D. J. Co<strong>na</strong>cher (1961), ‗Euripides‘ Hecuba‘, American Jour<strong>na</strong>l of Philology 82, 5,<br />

sublinha que este episódio relatado por Hécuba parece invenção de Eurípides; o<br />

efeito que produz, ainda que margi<strong>na</strong>l, é curioso, pelo contributo que dá à<br />

discussão do tema charis que persiste em toda a peça.<br />

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