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Mulheres_na_Antiguidade

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MULHERES NA ANTIGUIDADE - NEA/UERJ<br />

distante e i<strong>na</strong>cessível. À rainha sugerem o recurso a súplicas e preces, aos<br />

deuses e ao poder dos homens, sem consciência da inutilidade de tais<br />

recursos quando o verdadeiro pragmatismo se instala (144-147).<br />

Hécuba, apesar de mulher, de troia<strong>na</strong>, de uma velha rainha<br />

vencida pelos acontecimentos, tem, <strong>na</strong> peça, uma verdadeira<br />

competência retórica. Aos gritos e lamentos, simples armas da<br />

emotividade femini<strong>na</strong>, ela antepõe os argumentos, ‗o que poderei aduzir?‘<br />

Despojada de qualquer apoio, de pátria, de parentes e de amigos, Hécuba<br />

sente que é antes de mais de si mesma e dos argumentos que conseguir<br />

encontrar que depende o sucesso da sua causa: salvar a vida de Políxe<strong>na</strong>.<br />

Há que reconhecer-lhe, nos diversos agones que é chamada a travar, uma<br />

clara competência retórica. Sabe escolher os argumentos certos, ordenálos<br />

com lógica, esgrimi-los de acordo com a circunstância. É acutilante<br />

no enunciado, seleccio<strong>na</strong>ndo as palavras certas e sublinhando, pela<br />

insistência oportu<strong>na</strong> em vocábulos chave, os conceitos que, a cada<br />

momento, traz a debate. Condimenta a racio<strong>na</strong>lidade do discurso com o<br />

espectáculo emotivo do apelo e da súplica, sobretudo a rematar cada<br />

uma das suas intervenções, de modo a susceptibilizar o auditório difícil<br />

que é o que lhe está desti<strong>na</strong>do. Há, no entanto, uma aprendizagem que<br />

as circunstâncias lhe impõem ex abrupto. Não basta usar argumentos<br />

éticos e justos, não são esses os que obtêm sucesso num mundo feito de<br />

compromissos e de condicio<strong>na</strong>lismos. Como lembra a Políxe<strong>na</strong> (382-<br />

383): ‗Não é com um discurso honesto que se escapa à adversidade‘. Se necessário,<br />

é preciso avançar para razões amorais, apelar a motivos adika, não hesitar<br />

perante qualquer baixeza, legítima em nome do supremo objectivo da<br />

vitória. É esta a degradação retórica que acompanha todo o processo de<br />

decadência huma<strong>na</strong> que a antiga senhora de Tróia sofre <strong>na</strong> peça. De<br />

vencida, ela sai tristemente vencedora, obtendo não uma desejável e<br />

honrosa liberdade – o maior objectivo de quem, de soberano, se vê<br />

escravo -, mas a satisfação de uma sede insaciável de vingança.<br />

O relato de uma assembleia dos Aqueus, de que o coro foi<br />

testemunha, envolve, desde logo, um dos grandes motivos da tragédia –<br />

o sacrifício de Políxe<strong>na</strong> – numa moldura de debate retórico. À distância,<br />

os Gregos agem de acordo com os seus hábitos democráticos, num<br />

contexto onde a vontade dos homens públicos se sujeita à das massas<br />

populares, onde a autoridade verdadeira de um chefe cede lugar a um<br />

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