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Mulheres_na_Antiguidade

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MULHERES NA ANTIGUIDADE - NEA/UERJ<br />

ambiente, até mesmo satisfazendo desejos sexuais dos convivas.<br />

Aristóteles chega ao ponto de informar a remuneração devida a estas<br />

profissio<strong>na</strong>is em Ate<strong>na</strong>s, que não devia exceder dois dracmas (A<br />

Constituição de Ate<strong>na</strong>s 50.2; CERQUEIRA, 2001: 198). De outro lado, os<br />

pintores de vasos inserem a harpa sobretudo em dois contextos<br />

iconográficos correlatos e divergentes com relação ao ambiente da<br />

prostituição, caracterizado nos textos coetâneos: o ambiente mitológico<br />

das Musas e o ambiente cotidiano do gineceu.<br />

Constata-se, ainda, entre os pintores de vasos áticos, um<br />

tratamento particularizado com relação aos diferentes tipos de harpas. O<br />

trígōnon é representado tanto no ambiente humano quanto no mitológico.<br />

No gineceu, é tocado tanto pelo perso<strong>na</strong>gem central, identificável como<br />

a noiva ou esposa (Figura 7), quanto por um perso<strong>na</strong>gem secundário,<br />

identificável como amiga ou parente da noiva ou esposa (Figura 8). No<br />

ambiente mitológico, é tocado por alguma Musa. A pēktís, por sua vez,<br />

nunca aparece, <strong>na</strong> cerâmica ática conhecida por nós, retratado no<br />

ambiente do gineceu.<br />

Assim, podemos dizer que a harpa, para os pintores de vasos<br />

áticos, é sobretudo um instrumento do gineceu, no ambiente humano, e<br />

das Musas, no ambiente mitológico. De fato, com a exceção de Museu,<br />

nenhum outro perso<strong>na</strong>gem mitológico aparece <strong>na</strong> iconografia associado<br />

à harpa.<br />

Ficaria assim a pergunta: existiria uma dissociação total entre a<br />

conotação social da harpa e das harpistas entre os produtores de textos e<br />

de registros visuais? Nos textos, a indignidade da prostituição; <strong>na</strong><br />

pinturas de vasos, a dignidade do gineceu e das Musas. A khoûs ática do<br />

Pintor de Eretria (Figura 6) aponta uma convergência entre os textos e a<br />

iconografia: apresenta-nos uma cortesã tocando harpa, no caso, uma<br />

pēktís – trata-se portanto, de uma psaltría, uma cortesã-harpista, de que<br />

tanto nos falam os textos.<br />

O contraste entre o registro visual e textual aponta-nos que a<br />

harpa, em Ate<strong>na</strong>s, tão logo se espalhou entre os atenienses, <strong>na</strong>s últimas<br />

décadas do século quinto, foi vista como um instrumento refi<strong>na</strong>do. Sua<br />

percepção de refi<strong>na</strong>mento gerou dois resultados distintos: de um lado,<br />

mulheres bem-<strong>na</strong>scidas, em seus divertimentos no gineceu, inclusive<br />

durante os festejos da epaulía, tocavam o trígōnon entre suas amigas e<br />

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