22.04.2013 Views

Mulheres_na_Antiguidade

Mulheres_na_Antiguidade

Mulheres_na_Antiguidade

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

MULHERES NA ANTIGUIDADE - NEA/UERJ<br />

ático o fez, antes ou depois dele, de modo que não se desenvolveu uma<br />

técnica apropriada de representação desse instrumento, como ocorreu<br />

com a lýra, a kithára e o aulós.<br />

Se a ligação da harpa com as ce<strong>na</strong>s de casamento fosse ape<strong>na</strong>s<br />

uma idealização ática localizada <strong>na</strong> pintura dos anos 30 e 20 do século<br />

quinto, como o quer Bundrick, por que essa mesma idealização se<br />

repetiria num contexto cultural distinto, como aquele da Mag<strong>na</strong> Grécia?<br />

Ora, <strong>na</strong> cerâmica italiota também são comuns as ce<strong>na</strong>s de noivas<br />

tocando harpa, envolvidas em preparativos ou festejos nupciais (MAAS,<br />

SNYDER, 2000: 181-182).<br />

É interessante fazermos também o raciocínio inverso: por que<br />

os pintores áticos quase nunca representaram prostitutas tocando harpas,<br />

enquanto os textos nos informam que elas o faziam? A resposta está em<br />

que a pintura dos vasos mistura cargas variadas de realismo e idealização:<br />

de um lado, a forte associação simbólica do aulós à prostituição, mesmo<br />

que saibamos que as cortesãs tocassem também instrumentos como a<br />

harpa, apesar de os pintores, com a única exceção do Pintor de Eretria,<br />

não o representarem; de outro lado, a forte associação simbólica da<br />

harpa às Musas, pelo meio do que as mulheres eram assimiladas<br />

ideologicamente à dignidade e à atividade musical e poética das mesmas,<br />

não obstante acreditemos que elas de fato tocassem esse instrumento <strong>na</strong><br />

sua vida doméstica, muito embora não haja nenhuma referência literária<br />

a esse respeito.<br />

Com base nessas considerações, julgamos legítima a<br />

interpretação que vê <strong>na</strong>s ce<strong>na</strong>s de gineceu com mulheres harpistas um<br />

retrato, mesmo que idealizado, de uma situação real dos festejos<br />

matrimoniais: a epaulía. Ele<strong>na</strong> Zevi foi a primeira a identificar essas ce<strong>na</strong>s<br />

com essa cerimônia: apesar de se confundir com as ce<strong>na</strong>s comuns de<br />

gineceu, os presentes trazidos pelas outras mulheres (caixas, alábastroi,<br />

cofres, lekanídēs, kálathoi) bem como o uso do diadema pela esposa<br />

apresentam-nos a cerimônia da epaulía, quando a noiva começava sua<br />

vida de esposa <strong>na</strong> casa do marido, que passava a ser a sua (ZEVI, 1938:<br />

366-369). Ellen Reeder acrescenta mais alguns detalhes que garantem a<br />

identificação desses vasos do Pintor do Banho representando mulheres<br />

harpistas: o fato da mulher central não estar usando véu ou stéphanos,<br />

nem tampouco estar se vestindo ou sendo vestida, indica seguramente a<br />

149

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!