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Mulheres_na_Antiguidade

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MULHERES NA ANTIGUIDADE - NEA/UERJ<br />

iconografia, entre a exatidão de representação do referente (do objeto) e<br />

a intenção de realismo ou idealismo da mesma. O pintor pode<br />

representar com perfeição o objeto e dar uma abordagem<br />

completamente idealista à ce<strong>na</strong> – o contrário também podendo ocorrer.<br />

O fato é que Bundrick (2000) sempre reluta em aceitar a relação que os<br />

instrumentos musicais representados têm com situações reais.<br />

Efetivamente, o que incomoda ao historiador é a radical diferença entre<br />

o testemunho literário e o iconográfico. Enquanto a psaltría (harpista) era<br />

incluída, no rol das prostitutas, <strong>na</strong> categoria de musicista-cortesã, desde<br />

os comediógrafos do fim do século quinto até Aristóteles no século<br />

quarto (A Constituição de Ate<strong>na</strong>s 50.2) 256, o Pintor do Banho, por sua vez,<br />

a retrata como dig<strong>na</strong> noiva ou esposa.<br />

A dissemi<strong>na</strong>ção da arte da harpa, mesmo que impulsio<strong>na</strong>da<br />

inicialmente por cortesãs vindas da Grécia do Leste e regiões<br />

circunvizinhas, pode ter atingido inclusive o círculo respeitável das<br />

mulheres bem-<strong>na</strong>scidas. Contudo, o estudo detalhado da iconografia<br />

cotejada com os textos apresenta vários percursos do uso dos<br />

instrumentos musicais, deslizando de um grupo social a outro, de uma<br />

situação social a outra. E... moda é moda! Atravessa diferentes grupos<br />

sociais. E, afi<strong>na</strong>l, se a harpa fosse de fato completamente indig<strong>na</strong> como<br />

sugere o uso generalizado do termo psaltría para identificar uma cortesãmusicista,<br />

tampouco um pintor de vaso colocaria esse instrumento <strong>na</strong>s<br />

mãos de uma Musa.<br />

Tudo indica que a harpa integrou dois ambientes sociais<br />

antagônicos: a aclamada decência e recato do gineceu e a promiscuidade<br />

dos banquetes e prostíbulos. O argumento de que não há referências<br />

literárias a mulheres bem-<strong>na</strong>scidas tocando harpa não tem o valor<br />

definitivo que lhe é freqüentemente conferido, <strong>na</strong> medida em que não há<br />

referência literária alguma, de modo geral, à música praticada pelas<br />

mulheres em contexto doméstico. A falta de exatidão no desenho do<br />

trígōnon, apontada por Bundrick como argumento contrário a uma<br />

interpretação de fundo realista, deve decorrer do fato de ser uma<br />

novidade em Ate<strong>na</strong>s e de que o Pintor do Banho foi o único que se<br />

dedicou a representá-lo em contexto humano – nenhum outro pintor<br />

256 ―kai tás te auletrídas kai tas psaltrías kai tas kitharistrías‖.<br />

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