Conceito de pragmática
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<strong>Conceito</strong> <strong>de</strong> <strong>pragmática</strong>
<strong>Conceito</strong> <strong>de</strong> <strong>pragmática</strong><br />
O homem vive em socieda<strong>de</strong>, tem que forçosamente<br />
partilhar experiências, <strong>de</strong>sejos, sentimentos e<br />
<strong>de</strong>terminados conhecimentos. Esta comunhão <strong>de</strong><br />
experiências exigiu a criação <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong><br />
signos através dos quais ele pu<strong>de</strong>sse comunicar com<br />
os outros homens (assim foram criadas as línguas).<br />
A importância da comunicação começa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo,<br />
pelo seu papel fulcral na distinção entre o homem e<br />
o animal.
<strong>Conceito</strong> <strong>de</strong> <strong>pragmática</strong><br />
A linguagem intervém na evolução e na educação da<br />
humanida<strong>de</strong> e, através <strong>de</strong>la, o homem conhece-se a<br />
si próprio e ao meio que o ro<strong>de</strong>ia.<br />
Não po<strong>de</strong>mos conceber o homem sem falar da sua<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usar a linguagem.<br />
O nosso pensamento é sempre verbal, linguístico e<br />
quando produzimos um acto <strong>de</strong> fala, fazemo-lo sempre<br />
para alguém.<br />
O próprio acto <strong>de</strong> fala obriga esse alguém a ter em<br />
atenção o que estamos a dizer
<strong>Conceito</strong> <strong>de</strong> <strong>pragmática</strong><br />
A linguagem permite, portanto, criar laços, relações<br />
interpessoais. Por isso, Roland Barthes (Semiologia<br />
da Significação) afirma que toda a palavra é um<br />
pedido implícito <strong>de</strong> reconhecimento.<br />
Deste modo, o uso da língua <strong>de</strong>ve ser encarado sob três<br />
pontos <strong>de</strong> vista:<br />
1º Como locução (quando um falante/locutor usa a<br />
língua)<br />
2º Como alocução (quando um locutor se dirige a um<br />
alocutário)<br />
3º Como interlocução (quando há trocas verbais)
<strong>Conceito</strong> <strong>de</strong> <strong>pragmática</strong><br />
O objecto <strong>de</strong> estudo da <strong>pragmática</strong> será precisamente<br />
a interlocução e tudo o que a envolve.<br />
Pragmática: <strong>de</strong> um modo genérico, é a relação entre a<br />
expressão linguística natural e o seu contexto, a situação<br />
específica em que ocorre, os participantes, o tempo, o local<br />
e a posição social dos intervenientes.<br />
Pragmática: compreen<strong>de</strong> o estudo das relações <strong>de</strong><br />
referência que a linguagem estabelece com o mundo<br />
extralinguístico, com as situações e os contextos<br />
enunciativos, e das maneiras como estas relações se<br />
estabelecem.
<strong>Conceito</strong> <strong>de</strong> <strong>pragmática</strong><br />
A origem do pragmatismo está associada ao contexto<br />
do pensamento filosófico americano.<br />
Sobre o aparecimento da <strong>pragmática</strong> não é possivel traçar<br />
uma linha única na sua história, uma vez que vários<br />
autores se <strong>de</strong>dicaram à <strong>pragmática</strong>.<br />
Carl San<strong>de</strong>rs Pierce (1931-1958) foi o autor que mais longe<br />
levou a clarificação dos princípios e a fundamentação da<br />
filosofia <strong>pragmática</strong>. Tem uma concepção triádica do signo,<br />
por oposição a Saussure (1839-1914) que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> uma<br />
dicotomia do signo (significante = imagem acústica/<br />
significado = conceito).
<strong>Conceito</strong> <strong>de</strong> <strong>pragmática</strong><br />
Peirce <strong>de</strong>fine o signo como uma relação entre o<br />
representamen, o objecto para que remete e o<br />
interpretante, que somos levados a conceber a partir da<br />
relação entre o representamen e o seu objecto.<br />
Objecto (Pai)<br />
Representamen (filho) ∆<br />
Interpretante (Espírito Santo)<br />
O signo ou representamen cria um signo equivalente =<br />
interpretante do 1º signo e este interpretante está em<br />
lugar <strong>de</strong> qualquer coisa = objecto
<strong>Conceito</strong> <strong>de</strong> <strong>pragmática</strong><br />
Estas três faces do signo dão origem a três disciplinas<br />
semióticas a que Peirce dá o nome <strong>de</strong> Gramática<br />
Especulativa, <strong>de</strong> Lógica e <strong>de</strong> Retórica.<br />
Mais tar<strong>de</strong>, Charles Morris (1938-1941) substituiria estas<br />
<strong>de</strong>signações por Sintaxe, Semântica e Pragmática<br />
(terminologia que acabou por se impor)<br />
Com Carnap, Montague, Lewis e Cresswell, a<br />
<strong>pragmática</strong> passaria a ser consi<strong>de</strong>rada como a disciplina<br />
englobante do estudo das linguagens naturais.<br />
Wittgenstein, Austin, Grice e Searle <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m uma<br />
concepção accional do discurso = falar é <strong>de</strong> algum modo<br />
agir.
<strong>Conceito</strong> <strong>de</strong> <strong>pragmática</strong><br />
A partir <strong>de</strong> diferentes perspectivas da <strong>pragmática</strong>,<br />
verificou-se que a “prática discursiva aparece como<br />
interacção entre falantes dotados <strong>de</strong> uma<br />
competência específica para agenciarem<br />
enunciados <strong>de</strong> acordo com regras, como<br />
participantes <strong>de</strong> uma orquestra que executam<br />
uma partitura invisível”. (Adriano Duarte<br />
Rodrigues)
<strong>Conceito</strong> <strong>de</strong> <strong>pragmática</strong><br />
Enquanto a sintaxe, a fonologia, a morfologia e a<br />
semântica se centram no estudo das línguas como<br />
sistemas formais <strong>de</strong> elementos e <strong>de</strong> regras <strong>de</strong><br />
combinação dos mesmos, a <strong>pragmática</strong> encara as<br />
línguas como instrumentos <strong>de</strong> acção e <strong>de</strong><br />
comportamento, também eles regidos por regras,<br />
dando simultaneamente conta da relação existente<br />
entre as línguas enquanto sistemas formais e a sua<br />
actualização em situações <strong>de</strong> uso.
<strong>Conceito</strong> <strong>de</strong> <strong>pragmática</strong><br />
Nos aspectos centrais para a comunicação que<br />
po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir como pragmáticos fazem parte uma<br />
série <strong>de</strong> factores linguísticos e não linguísticos, que<br />
incluem o que é dito, o modo como é dito e a intenção<br />
com que é dito, o posicionamento físico, os papéis<br />
sociais, as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, as atitu<strong>de</strong>s, os comportamentos<br />
e as crenças dos participantes, bem como as relações<br />
que entre eles se estabelecem.
Contexto linguístico e contexto<br />
extralinguístico<br />
O que é dito, o modo como é dito, a intenção com que<br />
é dito, o posicionamento físico e social, os<br />
comportamentos e crenças, quando espaciotemporalmente<br />
localizados, constituem no momento<br />
da produção linguística o contexto extra linguístico<br />
(situacional).<br />
O contexto linguístico (co-texto) diz unicamente<br />
respeito ao conjunto <strong>de</strong> palavras que, numa frase, são<br />
usadas em articulação com uma palavra particular. É o<br />
contexto linguístico que nos permite ace<strong>de</strong>r ao<br />
significado <strong>de</strong> uma palavra
Contexto extra linguístico<br />
Diz respeito ao remetente, o <strong>de</strong>stinatário, o cenário, o<br />
canal (o modo como se efectua a comunicação: se é<br />
falada ou escrita), o código (língua em que se<br />
comunica), a forma da mensagem (carta, sermão,<br />
conversa, <strong>de</strong>bate), a ocasião em que se verifica (formal<br />
ou informal). (Hymes, 1964)<br />
Há, assim, uma série <strong>de</strong> factores: físicos (objectos e<br />
sujeitos intervenientes, tempo e lugar), sociais<br />
(posição social do falante e do ouvinte), factores<br />
informativos (modo como a informação é recebida,<br />
filtrada e or<strong>de</strong>nada), factores <strong>de</strong> competências,<br />
saberes.
Contexto linguístico<br />
É todo o entorno linguístico que acompanha uma<br />
palavra, expressão ou enuciado, e do qual <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />
muitas vezes o sentido das mensagens.<br />
Por exemplo:<br />
a) A mesa fez aprovar a moção.<br />
b) A mesa está posta para o almoço.<br />
É a utilização <strong>de</strong> palavras como aprovar e moção no<br />
mesmo contexto linguístico que nos permite<br />
<strong>de</strong>scodificar o significado da palavra mesa em a),<br />
diferente do significado da mesma palavra em b)
Deixis<br />
Tendo em consi<strong>de</strong>ração a noção <strong>de</strong> contexto<br />
extralinguístico, cada texto (enunciado) é sempre um<br />
acto que revela a presença do sujeito enunciador que o<br />
produziu, ou seja, os enunciados po<strong>de</strong>m conter<br />
dispositivos indicadores ou marcadores do<br />
processo <strong>de</strong> comunicação.<br />
Vamos ver as diferentes maneiras <strong>de</strong> a enunciação se<br />
manifestar no enunciado e a maneira mais evi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />
manifestação da enunciação é a do seu reflexo<br />
através das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ícticas.
Deixis<br />
As unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ícticas são entida<strong>de</strong>s do sistema com<br />
ligação imediata a cada e a toda a situação <strong>de</strong><br />
enunciação. Designam, referem as coor<strong>de</strong>nadas da<br />
situação <strong>de</strong> enunciação: pessoas (eu/tu); tempo<br />
(agora); espaço (aqui). Ou seja, a <strong>de</strong>ixis refere a forma<br />
como as diferentes línguas organizam, codificam e<br />
gramaticalizam as várias coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> qualquer<br />
situação <strong>de</strong> enunciação.<br />
Portanto, a <strong>de</strong>ixis está relacionada com o gesto <strong>de</strong><br />
apontar. Refere uma mostração <strong>de</strong> carácter verbal, o<br />
gesto verbal <strong>de</strong> apontar.
Deixis<br />
É a partir do sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas – Eu/Tu – Aqui –<br />
Agora da enunciação - que se realizam as operações <strong>de</strong><br />
referenciação que tornam possível a significação e que<br />
constituem a base <strong>de</strong> funcionamento da <strong>de</strong>ixis.<br />
Exemplo: Deixo-te aqui o trabalho para hoje; volto já.<br />
Quase todos os termos usados no exemplo são <strong>de</strong>ícticos:<br />
apontam para elementos da enunciação – os<br />
participantes do acto verbal, o lugar e o momento do<br />
tempo em que eles se situam.
Deixis<br />
Po<strong>de</strong>mos distinguir três tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixis:<br />
1) Deixis pessoal: diz respeito à forma como as línguas<br />
organizam a categoria <strong>de</strong> pessoa e essa categoria<br />
manifesta-se através do paradigma dos pronomes e<br />
do paradigma verbal. Ou seja, são os <strong>de</strong>ícticos que<br />
indiciam o estatuto <strong>de</strong> participante num acto<br />
verbal.<br />
Exemplo: Eu fui ao cinema. (indica que o locutor foi ao<br />
cinema, trata-se da 1ª pessoa do singular)/Fui ao<br />
cinema. (pela <strong>de</strong>sinência verbal sabemos que se trata<br />
da 1ª pessoa do singular)
Deixis<br />
Os pronomes pessoais EU e TU atribuem o estatuto<br />
<strong>de</strong> participantes, ELE o <strong>de</strong> não-participante.<br />
Segundo Benveniste (1966), o EU é o sujeito que<br />
enuncia, o TU só existe porque é postulado pelo EU, o<br />
ELE é <strong>de</strong>stituído <strong>de</strong> pessoalida<strong>de</strong> porque po<strong>de</strong> ser uma<br />
infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoas.
Deixis<br />
2) Deixis espacial: diz respeito à forma como as<br />
línguas codificam o espaço da interacção,<br />
manifestando-se através dos pronomes<br />
<strong>de</strong>monstrativos, advérbios <strong>de</strong> lugar e verbos <strong>de</strong><br />
movimento (ir, vir, trazer, levar).<br />
Os <strong>de</strong>ícticos espaciais gramaticalizam a relação <strong>de</strong><br />
proximida<strong>de</strong> maior ou menor relativamente ao lugar<br />
ocupado pelo locutor.<br />
Exemplo: Esta mesa é mais larga do que aquela: fica<br />
melhor aqui do que ali.
Deixis<br />
3) Deixis temporal: diz respeito à forma como as<br />
línguas organizam o tempo da interacção,<br />
manifestando-se através <strong>de</strong> advérbios <strong>de</strong> tempo e dos<br />
tempos verbais. É em torno do momento da<br />
enunciação (momento em que o locutor fala) que o<br />
tempo se constitui como experiência discursiva da<br />
temporalida<strong>de</strong>.<br />
A <strong>de</strong>ixis temporal diz respeito à utilização do<br />
momento da enunciação (AGORA) como marco da<br />
referência para a localização temporal. Ou seja, o<br />
tempo presente, passado e futuro são relativas ao<br />
momento <strong>de</strong> enunciação.
Deixis<br />
O que acabámos <strong>de</strong> ver po<strong>de</strong> <strong>de</strong>signar-se por <strong>de</strong>ixis <strong>de</strong><br />
base. Mas há ainda a chamada <strong>de</strong>ixis social (Lyons<br />
1968 e Filmore 1971, 1975), que diz respeito à natureza<br />
da relação social entre os participantes do discurso.<br />
Exemplo: Tu gostas <strong>de</strong> ir ao cinema. (o locutor <strong>de</strong>nuncia<br />
proximida<strong>de</strong> e familiarida<strong>de</strong> com o alocutário, pois usa a 2ª<br />
pessoa do singular). / A senhora gosta <strong>de</strong> ir ao cinema. (o<br />
locutor <strong>de</strong>nota um distanciamento relativamente ao<br />
alocutário, pois utiliza a expressão “senhora” e a 3ª pessoa<br />
do singular). Portanto, a <strong>de</strong>ixis social diz respeito à<br />
escolha nas formas <strong>de</strong> tratamento entre TU, VOCÊ,<br />
SENHOR, PROFESSOR, V. Exª, SUA EMINÊNCIA