Génese e mentores do antijesuitismo na Europa Moderna - LusoSofia
Génese e mentores do antijesuitismo na Europa Moderna - LusoSofia
Génese e mentores do antijesuitismo na Europa Moderna - LusoSofia
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
✐<br />
✐<br />
✐<br />
✐<br />
<strong>Génese</strong> e <strong>mentores</strong> <strong>do</strong> <strong>antijesuitismo</strong> <strong>na</strong> <strong>Europa</strong> Moder<strong>na</strong> 61<br />
que tinha grava<strong>do</strong> <strong>na</strong> sua testa o terrível e misterioso número de 666,<br />
que geralmente era identifica<strong>do</strong> <strong>na</strong> época com o Império Otomano 96 .<br />
Verifica-se aqui uma deslocação da visão bestial apocalíptica da ameaça<br />
Turca para os Jesuítas. Pois, os próprios Jesuítas são aqui da<strong>do</strong>s<br />
como sen<strong>do</strong> mais ferozes que os mesmos Turcos 97 .<br />
O coro de vozes críticas contra a Companhia crescia proporcio<strong>na</strong>lmente<br />
à sua expansão e sucessos. Todavia, esta crescente oposição não<br />
impediu que os Jesuítas ampliassem os seus campos de acção e se consolidassem<br />
como ordem prestigiada e influente no seio da Igreja e <strong>do</strong>s<br />
Esta<strong>do</strong>s. Com efeito, a sua ascensão foi verdadeiramente espectacular<br />
durante o século XVI, tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-se o instrumento da Santa Sé que<br />
ganhou mais visibilidade no processo da Reforma Católica. Os i<strong>na</strong>cianos<br />
obtiveram a liderança da educação das elites masculi<strong>na</strong>s europeias<br />
e ergueram “uma das mais profícuas empresas missionárias da Igreja”<br />
desde a Modernidade. Tu<strong>do</strong> isto foi acompanha<strong>do</strong> por um fulgurante<br />
crescimento numérico e expansão institucio<strong>na</strong>l da Companhia durante<br />
os primeiros cinco generalatos até à morte de Aquaviva em 1615 98 .<br />
96 Este tipo de formulações e de me<strong>do</strong>s apocalípticos não era uma caso isola<strong>do</strong> <strong>na</strong><br />
época, antes foi uma marca característica da mentalidade moder<strong>na</strong>. O protestantismo<br />
<strong>na</strong>scente foi muito permeável ao apocaliptismo, sen<strong>do</strong> a própria Reforma Protestante<br />
associada até mesmo por alguns <strong>do</strong>s seus <strong>mentores</strong> como Martinho Lutero e Filipe<br />
Melanchthon a crenças mile<strong>na</strong>ristas. Nesta ambiência facilmente o Papa<strong>do</strong> e, neste<br />
caso, os Jesuítas foram figura<strong>do</strong>s senão muitas vezes como o próprio Anticristo, com<br />
a própria besta <strong>do</strong> capítulo 13 <strong>do</strong> Apocalipse. Sobre o apocaliptismo e o mile<strong>na</strong>rismo<br />
protestante ver Robin Bruce Barnes, Prophecy and Gnosis: Apocalyptism in<br />
the Wake of the Lutheran Reformation, Stanford, 1987; G. J. R. Parry, A Protestant<br />
vision: William Harrison and the Reformation of Elizabeth England, Cambridge,<br />
1987; e Albert-Marie Schmidt, Jean Calvin et la tradition calviniste, Paris, 1957.<br />
Para uma contextualização historiográfica da Reforma Protestante ver J.-M. Mayeur<br />
et alii (dir.), op. cit., vol. 7 – De la Réforme à la Reformation (1450-1530).<br />
97 Cf. História Ordinis Jesuitici, s.l., 1593, passim. Esta obra polémica foi refutada,<br />
ponto por ponto, pelo padre Jacques Getzer logo no ano seguinte. Cf. Jacques<br />
Getzer, Opera, tomo XI, 1734, pp. 4-147.<br />
98 Apesar disto, o certo é que foram admiti<strong>do</strong>s muito menos candidatos <strong>na</strong> Companhia<br />
de Jesus <strong>do</strong> que os que entraram para as duas ordens mendicantes, Franciscanos<br />
e Dominicanos, durante o seu perío<strong>do</strong> fundacio<strong>na</strong>l. Por exemplo, entre 1213 e 1256,<br />
www.lusosofia.net<br />
✐<br />
✐<br />
✐<br />
✐