Génese e mentores do antijesuitismo na Europa Moderna - LusoSofia
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<strong>Génese</strong> e <strong>mentores</strong> <strong>do</strong> <strong>antijesuitismo</strong> <strong>na</strong> <strong>Europa</strong> Moder<strong>na</strong> 59<br />
tantes quer para os luteranos, quer para os calvinistas, ou ainda para os<br />
anglicanos.<br />
Na Alemanha um livro publica<strong>do</strong> em 1593, no terreno das controvérsias<br />
com os Protestantes 92 , ultrapassou todas as medidas, trans-<br />
92 Recorde-se que a denomi<strong>na</strong>ção de Jesuítas que entretanto foi vulgarizada e<br />
a<strong>do</strong>ptada para desig<strong>na</strong>r os religiosos da Companhia de Jesus, começou por ser usada<br />
em senti<strong>do</strong> pejorativo pelos luteranos alemães para apelidar estes seus adversários por<br />
excelência, particularmente contra Canisius, o cognomi<strong>na</strong><strong>do</strong> ‘martelo <strong>do</strong>s heréticos’.<br />
Não se tratou propriamente de uma invenção, mas de uma readaptação específica aos<br />
Padres da Companhia, para efeitos polémicos, de um termo que desde a Idade Média<br />
vinha carrega<strong>do</strong> com uma significação, em geral, depreciativa. Jesuíta era um vocábulo<br />
utiliza<strong>do</strong> para desig<strong>na</strong>r por antífrase os hipócritas, os que ostentavam uma falsa<br />
piedade, no fun<strong>do</strong>, era o sinónimo daquela outra palavra que veio a ganhar um senti<strong>do</strong><br />
pejorativo no quadro da história <strong>do</strong> cristianismo, o nome de fariseu. Por seu la<strong>do</strong>, o<br />
nome Jesuíta <strong>na</strong> tradição de nomeação que vinha da Idade Média, era também usa<strong>do</strong><br />
para apelidar os heréticos. Este senti<strong>do</strong> axial <strong>do</strong> nome para desig<strong>na</strong>r a falsidade de<br />
uma prática cristã já tinha si<strong>do</strong> codifica<strong>do</strong> nos penitenciários, como se pode constatar<br />
no Confessio<strong>na</strong>l de Gottschalk Rosemund, Anvers, 1519, onde se estabelece: “Praetermin<br />
verbum Dei <strong>do</strong>cere, etc. ob quonmdam derisorum obloquutionem qui dicerent<br />
me esse pharisaeum, iesuitam, hypocritam, begi<strong>na</strong>n”. Ver também Lu<strong>do</strong>lphe de Saxe,<br />
Vida Jesu Christi, Venise, 1568, Pars I, cap. 10; e J. Brucker, Calvin, les Jésuites et<br />
M. Sabatier, tomo II, p. 511 e ss. Embora em alguns casos se encontre o uso desta<br />
desig<strong>na</strong>ção em senti<strong>do</strong> positivo, isto é, não pejorativo, para desig<strong>na</strong>r um autêntico<br />
segui<strong>do</strong>r de Jesus Cristo. No tempo de Santo Inácio de Loyola o substantivo jesuíta<br />
não era ainda usa<strong>do</strong> dentro da sua ordem para desig<strong>na</strong>r os seus religiosos. O funda<strong>do</strong>r<br />
costumava chamar os seus correligionários de ordem de compañeros, de nosotros, de<br />
los de la Compañia, e não Jesuítas. Na última fase <strong>do</strong> Concílio de Trento, aparece-nos<br />
já a a<strong>do</strong>pção desta forma de nomeação, pois Diego Laynez, que sucedeu como Padre<br />
Geral ao funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s Jesuítas, é aí apresenta<strong>do</strong> como generalis jesuitarum. E a partir<br />
de então o próprio nome Jesuíta passa a encerrar em si mesmo, em termos semânticos,<br />
a clivagem cada vez mais acentuada da dupla visão <strong>do</strong>s religiosos i<strong>na</strong>cianos, <strong>na</strong><br />
utilização que é feita desta desig<strong>na</strong>ção ora <strong>na</strong> sua acepção positiva ou negativa, conforme<br />
a perspectiva, a <strong>do</strong> filojesuitismo ou a <strong>do</strong> <strong>antijesuitismo</strong>. Ora o termo Jesuíta<br />
passa a significa, para uns, o religioso excelente, o missionário intrépi<strong>do</strong>, o padre dedica<strong>do</strong>,<br />
o apóstolo zeloso, o pastor eficaz, o educa<strong>do</strong>r sábio. Para outros, o parasita,<br />
o térmite, o usurpa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> nome sagra<strong>do</strong> de Jesus, o ambicioso, o dissimula<strong>do</strong>, o cúpi<strong>do</strong>,<br />
o fariseu, o ser mais adstringente que existe à face da terra. Ainda que o termo<br />
Jesuíta tenha si<strong>do</strong> a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong> e vulgariza<strong>do</strong> mesmo dentro da própria Companhia para<br />
desig<strong>na</strong>r os seus religiosos, só em 1995 <strong>na</strong> XXXIV Congregação Geral é que o vocá-<br />
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