Génese e mentores do antijesuitismo na Europa Moderna - LusoSofia
Génese e mentores do antijesuitismo na Europa Moderna - LusoSofia
Génese e mentores do antijesuitismo na Europa Moderna - LusoSofia
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
✐<br />
✐<br />
✐<br />
✐<br />
38 José Eduar<strong>do</strong> Franco<br />
Vista a partir da evolução <strong>do</strong> catolicismo em geral, o <strong>na</strong>scimento e<br />
peculiaridade da Companhia de Jesus, deve ser situada no quadro da<br />
reforma <strong>do</strong> clero orde<strong>na</strong><strong>do</strong>, ou seja, numa fase de mutação da ideia, da<br />
revisão e potenciação da missão sacer<strong>do</strong>tal <strong>na</strong> vida da Igreja. Mas ao<br />
mesmo tempo no âmbito de um processo de revisão e actualização <strong>do</strong><br />
modelo monástico, que tinha entra<strong>do</strong> em declínio, <strong>na</strong> sua sinonímica<br />
de modelo de actualização e de renovação <strong>do</strong> religioso.<br />
Os religiosos da Companhia de Jesus, apelida<strong>do</strong>s no princípio de<br />
papistissimi devi<strong>do</strong> ao seu voto de obediência ao Papa 50 estatuí<strong>do</strong> <strong>na</strong>s<br />
para o apelo a uma reforma <strong>do</strong> episcopa<strong>do</strong> e <strong>do</strong> cardi<strong>na</strong>lato, que seria mais tarde<br />
consagrada pelo Concílio de Trento. O papa que admitiu a Companhia de Jesus ao<br />
estatuto de ordem religiosa, Paulo III, também se tornou um Papa reforma<strong>do</strong>r, sen<strong>do</strong><br />
a aprovação desta ordem um aspecto dessa adesão à corrente reformista. É curioso<br />
notar a evolução de Paulo III (1534-1549) neste âmbito, que opera uma viragem <strong>na</strong><br />
sua visão e vivência da dignidade eclesiástica. Converteu o seu entendimento tipicamente<br />
re<strong>na</strong>scentista da dignidade cardi<strong>na</strong>lícia no senti<strong>do</strong> de uma visão mais pastoral.<br />
O volte-face dá-se <strong>na</strong> sua vida em 1513, ten<strong>do</strong> vivi<strong>do</strong> até este ano como autêntico<br />
homem <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Era diácono concubinário, sen<strong>do</strong>-lhe atribuída a paternidade de<br />
4 filhos. Desde então passou a dedicar-se à sua diocese, elaborou <strong>do</strong>cumentos que<br />
definiam e promoviam a reforma <strong>do</strong> clero e convocou um síno<strong>do</strong> diocesano em 1519.<br />
Só então é que recebeu a orde<strong>na</strong>ção sacer<strong>do</strong>tal e episcopal. Depois como Papa quis<br />
obrigar os clérigos a uma vida mais em conformidade com as exigências <strong>do</strong> seu esta<strong>do</strong><br />
eclesiástico, desde a maneira de vestir até ao zelo pastoral. Decretou proibições<br />
contra a vida munda<strong>na</strong> <strong>do</strong> clero (taber<strong>na</strong>s, jogos, teatros). A sua reforma <strong>do</strong> colégio<br />
cardi<strong>na</strong>lício abriu o caminho à convocação <strong>do</strong> Concílio de Trento, embora seja certo<br />
que não tivesse consegui<strong>do</strong> evitar o favorecimento de alguns casos de nepotismo ao<br />
ter eleva<strong>do</strong> ao cardi<strong>na</strong>lato <strong>do</strong>is netos: Gui<strong>do</strong> Ascanio Sforza di Santa Fiora, filho de<br />
Constança, e Alexandre Farnese, filho de Pier Luigi. Cf. García Villoslada, Raíces<br />
históricas del luteranismo, Madrid, 1976; Mario Fois, “La chiesa gerarchica al tempo<br />
de S. Ig<strong>na</strong>zio”, in Sentire com la Chiesa, Roma, 1980, pp. 9-47.<br />
50 A rígida estrutura inter<strong>na</strong> da Companhia de Jesus e a sua ligação especial de obediência<br />
ao Papa não deixa de ser o resulta<strong>do</strong> de uma longa evolução da vida religiosa<br />
monástica que se vinha operan<strong>do</strong> desde Cluny, tendente a transformar os monges e<br />
frades numa espécie de milícia ao serviço <strong>do</strong> Sumo Pontífice. Sobre a ideia de obediência<br />
<strong>na</strong> Companhia de Jesus ver Manuel Espinosa Pólit, Perfect obedience: Comentary<br />
on the letter on obedience of Saint Ig<strong>na</strong>tius of Loyola, Westminster, 1947. Para<br />
uma concepção actualizada da vivência da obediência pelos Jesuítas ver Karl Rahner,<br />
Discours d’Ig<strong>na</strong>ce de Loyola aux Jésuites d’aujourd’hui, Paris, 1978; e Maurice<br />
www.clepul.eu<br />
✐<br />
✐<br />
✐<br />
✐