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Génese e mentores do antijesuitismo na Europa Moderna - LusoSofia

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20 José Eduar<strong>do</strong> Franco<br />

os pii sacer<strong>do</strong>tes e os pii pastores serão substituí<strong>do</strong>s pelos boni claustrales<br />

e pelos boni eremitiae que profetizarão e espalharão por toda a<br />

parte o espírito <strong>do</strong> Evangelho de São João 18 . Esta tese é corroborada de<br />

forma mais intensa e decidida por Bento Pereira <strong>na</strong> sua obra dedicada<br />

às Disputationes super libro Apocalypsis, <strong>na</strong> qual comenta o esquema<br />

teológico <strong>do</strong> Abade Joaquim no que respeita à estrutura da História,<br />

defenden<strong>do</strong>, sem qualquer reserva, que a Companhia de Jesus é a encar<strong>na</strong>ção<br />

autêntica da vida espiritual da última idade profetizada por<br />

este monge medieval, a idade da felicidade espiritual 19 . Espalhou-se<br />

uma certa fama entre os meios eruditos portugueses que a Companhia<br />

de Jesus seria, de facto, a ordem profetizada por Joaquim de Flora para<br />

18 Cf. Brás Viegas, Commentarii exegetici in Apocalypsim, Évora, 1601, pp. 196-<br />

-200. Para além desta edição princepes [BA, cód. 48-IV-2], conhecem-se várias<br />

reedições, a saber: Londres, 1606 (BA, cód. 47-V-52], Turnoni, 1614 [Horatium<br />

Car<strong>do</strong>n] e Colónia, 1617 [crithium, sub signo Gall]. O texto manuscrito encontra-se<br />

conserva<strong>do</strong> no cód. 7675 da BNL.<br />

19 Bento Pereira, Disputationes super libro Apocalypsis, Lião, 1606. Ver Disputatio<br />

octava, pp. 24-27, pp. 245-249, pp. 270-272 e pp. 315-317 referentes ao cap.<br />

IV <strong>do</strong> Apocalipse; sobre o cap. VI <strong>do</strong> Apocalipse ver pp. 406-409, pp. 440-443, pp.<br />

448-454 e pp. 468-472; sobre o cap. VII <strong>do</strong> Apocalipse ver pp. 541-543, pp. 551-554<br />

e pp. 555-560; e sobre o De Antichristo ver pp. 28-32. Note-se que perante a “abertura<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> ao próprio mun<strong>do</strong>” no dizer destas palavras apotegmáticas de António<br />

Vieira, e perante a nunca vista possibilidade efectiva de universalização da <strong>do</strong>utri<strong>na</strong><br />

de Cristo tão sonhada pelas profecias bíblicas e pelas figuras lumi<strong>na</strong>res da história <strong>do</strong><br />

cristianismo antigo e medieval, era difícil para os missionários jesuítas e das outras<br />

ordens, encanta<strong>do</strong>s com a dimensão da obra que realizavam, não serem tenta<strong>do</strong>s a<br />

tirar ilações proféticas e a fazer interpretações ligadas à velha utopia da mundialização<br />

da Fé cristã. Também é importante compreender obrigatoriamente esta demanda<br />

de aplicações proféticas à Companhia de Jesus, como acontecia em relação às outras<br />

ordens, no quadro de uma sociedade sacral, marcada pelo modelo unitário de<br />

Cristandade. Ali o religioso constituía o pólo unifica<strong>do</strong>r <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> social, em que a<br />

cosmovisão e a sócio-visão misturavam o humano com o divino, o imaginário com<br />

o real, em que as fronteiras entre o racio<strong>na</strong>l e o irracio<strong>na</strong>l eram muito débeis. Daí<br />

que a caução dada pelas profecias, embora a historiografia mais crítica <strong>do</strong>s Jesuítas<br />

não a tenha valoriza<strong>do</strong> muito, como o fez a historiografia de outras ordens em relação<br />

às suas profecias, tor<strong>na</strong>va-se um aspecto importante para legitimar com um toque de<br />

transcendência a fundação e acção de uma nova ordem religiosa.<br />

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