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Texto Completo - Biblioteca de Rosana - Unesp

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UNESP UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA<br />

“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”<br />

Campus Experimental <strong>de</strong> <strong>Rosana</strong><br />

RAFAEL GAMA CORBETTA<br />

DO GARIMPO AO ECOTURISMO:: A ATUAÇÃO<br />

DOS CONDUTORES DE VISITANTES,, EX-<br />

GARIMPEIROS,, NO DESENVOLVIMNTO<br />

TURÍSTICO DA VILA DE SÃO JORGE – CHAPADA<br />

DOS VEADEIROS..<br />

ROSANA - SÃO PAULO<br />

2011


RAFAEL GAMA CORBETTA<br />

DO GARIMPO AO ECOTURISMO:: A ATUAÇÃO<br />

DOS CONDUTORES DE VISITANTES,, EX-<br />

GARIMPEIROS,, NO DESENVOLVIMNTO<br />

TURÍSTICO DA VILA DE SÃO JORGE – CHAPADA<br />

DOS VEADEIROS..<br />

Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso apresentado ao Curso <strong>de</strong><br />

Turismo – <strong>Unesp</strong>/<strong>Rosana</strong>, como requisito parcial para<br />

obtenção do título <strong>de</strong> Bacharel em Turismo.<br />

Orientador: Prof. Dr. Sérgio Domingos <strong>de</strong> Oliveira<br />

ROSANA - SÃO PAULO<br />

2011


RAFAEL GAMA CORBETTA<br />

DO GARIMPO AO ECOTURISMO:: A ATUAÇÃO<br />

DOS CONDUTORES DE VISITANTES,, EX-<br />

GARIMPEIROS,, NO DESENVOLVIMNTO<br />

TURÍSTICO DA VILA DE SÃO JORGE – CHAPADA<br />

Data <strong>de</strong> aprovação: 05 / 07 / 2011.<br />

DOS VEADEIROS..<br />

MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA:<br />

Presi<strong>de</strong>nte e Orientador: Prof. Dr. Sérgio Domingos <strong>de</strong> Oliveira<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista “Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho”<br />

Membro Titular: Profa. Dra. Patrícia Alves Ramiro<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista “Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho”<br />

Membro Titular: Profa. Dra. Danielli Cristina Granado Romero<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista “Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho”<br />

Local: Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista<br />

UNESP – Campus Experimental <strong>de</strong> <strong>Rosana</strong><br />

Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso apresentado ao Curso<br />

<strong>de</strong> Turismo – <strong>Unesp</strong>/<strong>Rosana</strong>, como requisito parcial para<br />

obtenção do título <strong>de</strong> Bacharel em Turismo.<br />

Orientador: Prof. Dr. Sérgio Domingos <strong>de</strong> Oliveira


AGRADECIMENTOS<br />

Obrigado Deus, por tua Luz divina e por sempre se mostrar tão presente nas coisas<br />

mais simples e singelas da Vida.<br />

Obrigado a minha família, o alicerce <strong>de</strong> minha sustentação, a qual me proporciona a<br />

intangível possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> buscar o conhecimento nesses tempos. Luciana, Juliana e Gabriel,<br />

obrigado por me proporcionarem e me apoiarem na conclusão <strong>de</strong>ste trabalho. Jú e Lú, mesmo<br />

que em caminhos diferentes, há o eterno laço da infância que nos une, nossas raízes<br />

entrelaçadas. Obrigado Gabi por ser a injeção diária <strong>de</strong> ânimo e pureza que necessitamos<br />

tanto. Seja bem vinda também Isa, sementinha <strong>de</strong> alegria e união, que tua luz banhe ainda<br />

mais esta família, nos proporcionando a paz. Obrigado Mãe, por suas orações e pensamentos<br />

elevados, é muito bom senti-la junto <strong>de</strong> mim, on<strong>de</strong> quer que eu vá; obrigado por seus abraços<br />

fartos <strong>de</strong> alegria em cada chegada. Pai, mesmo que ainda um pouco enrustidamente, obrigado<br />

por ser meu melhor amigo e tratar sempre o seu lar como o nosso lar. Vamos valorizar nossos<br />

abraços, não há nesse mundo, igual ao <strong>de</strong> vocês.<br />

Obrigado a todas as pessoas que morei nesses últimos quatro anos, que me ajudaram<br />

a enten<strong>de</strong>r que a parte mais importante <strong>de</strong> uma casa não é o azulejo, o encanamento, a<br />

fechadura, ou os móveis, e sim a convivência.<br />

Enquanto escrevia estes agra<strong>de</strong>cimentos me bateram a porta Amara e Alice, mais<br />

uma vez com boas novas. Obrigado por mais este convite irrecusável, o <strong>de</strong> acreditar. E lá foi<br />

Amara, com as incertezas e convicções do momento, apenas com um pensamento positivo,<br />

vai dar tudo certo. Valeu Lumbris.<br />

Voltando aos agra<strong>de</strong>cimentos, ouvindo Keep on moving, do Bob, o pensamento vai<br />

aos velhos amigos do Lú e o dia em que nos reuniremos novamente. Fica a sensação <strong>de</strong> que<br />

muitas pessoas jamais retornarei a ver, mas há aquelas que no mais inesperado dos momentos,<br />

em um piscar <strong>de</strong> olhos, estará novamente lado a lado na caminhada. Não há muito como citar<br />

nomes, enumerar as repúblicas... a reciprocida<strong>de</strong> diz tudo e daqui alguns anos, quem sabe,<br />

dirá mais ainda. O mesmo para nativos <strong>de</strong>sse pontal e para o Rio Paraná. Obrigado por tantos<br />

momentos inesquecíveis a todos.<br />

Obrigado ao Rio Paraná, mais uma vez, pela oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> morar esses anos em<br />

um lugar <strong>de</strong> uma transição tão latente. Catetos, Quatis, Macacos-Prego, obrigado por me<br />

lembrarem, quase que diariamente, o contexto <strong>de</strong>sse pontal do Paranapanema que estou<br />

inserido, enten<strong>de</strong>ndo-o um pouco mais.


Em relação ao trabalho, gostaria <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer em especial a Rodrigo Bonelli, a<br />

Bruno Pinto e a Carlos <strong>de</strong> Melo. Deva, Buda e Carlinhas respectivamente, que, mesmo com<br />

seus atuais afazeres, se disponibilizaram a ler e opinar sobre a pesquisa.<br />

Gostaria <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer em especial também a Nay e Bião por este trabalho. Em uma<br />

noite com forte chuva, partiu minha vibrante vonta<strong>de</strong> em ir conhecer a Chapada dos<br />

Vea<strong>de</strong>iros, após assistir no noticiário os incêndios que assolavam a região. Inexplicável, mas<br />

foi ali que começou a se <strong>de</strong>senhar um horizonte esplendoroso em que este trabalho é apenas<br />

um <strong>de</strong> seus fachos <strong>de</strong> luz.<br />

Obrigado aos administradores do Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros, que<br />

me receberam muito bem e me proporcionaram uma gran<strong>de</strong> gama <strong>de</strong> novos conhecimentos,<br />

através da <strong>Biblioteca</strong> do Cerrado, além <strong>de</strong> estarem sempre solícitos em assuntos relacionados<br />

ao estágio e a própria vivência no local.<br />

Obrigado a Clau, que me apoiou e auxiliou sempre para a realização não somente<br />

<strong>de</strong>ste trabalho, a Val<strong>de</strong>ci, Alcimário (Boca), Seu Macil, entre outras pessoas que tive a<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer e conviver, fazendo cada dia um aprendizado.<br />

Obrigado aos moradores <strong>de</strong> São Jorge pela hospitalida<strong>de</strong> e acolhimento, fazendo<br />

<strong>de</strong>sta experiência lições diárias <strong>de</strong> respeito e humilda<strong>de</strong>.<br />

Espero em breve estar retornando a este lugar sagrado para entregar em mãos este<br />

trabalho, rever e agra<strong>de</strong>cer pessoalmente a certas pessoas, que ficaram marcadas em meu<br />

peito e olhar, <strong>de</strong>ixando o Brasil um pouco menor.<br />

<strong>de</strong>cisões.<br />

Aos amigos <strong>de</strong> Bariri, obrigado por sempre me apoiarem e enten<strong>de</strong>rem certas<br />

Por último, mas não menos importante, Obrigado Serginho por mais esta parceria.


“Sempre chegamos ao sítio aon<strong>de</strong> nos esperam”<br />

José Saramago


RESUMO<br />

O distrito <strong>de</strong> São Jorge, mais comumente chamado <strong>de</strong> Vila <strong>de</strong> São Jorge, localizado na<br />

microrregião da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros, nor<strong>de</strong>ste Goiano, é marcado por diversos períodos<br />

<strong>de</strong> ocupação, tendo o principal, que remete aos dias atuais, iniciado por volta <strong>de</strong> 1912,<br />

motivado pelo garimpo <strong>de</strong> cristal <strong>de</strong> quartzo, farto nesta localida<strong>de</strong>, ativida<strong>de</strong> esta que sempre<br />

esteve relacionada com os períodos <strong>de</strong> guerras mundiais, sendo fortemente marcada pelas<br />

oscilações em seu valor no mercado externo. Com a criação do Parque Nacional da Chapada<br />

dos Vea<strong>de</strong>iros, em 1961, <strong>de</strong>u-se início na região uma nova série <strong>de</strong> conflitos e mudanças<br />

socioeconômicas e culturais, sobretudo na Vila <strong>de</strong> São Jorge. Atualmente, a Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Conservação é responsável por atrair milhares <strong>de</strong> turistas ao local durante o ano todo, criando<br />

um novo e estreito laço entre comunida<strong>de</strong> local e UC. O ex-garimpeiro, atualmente tira o<br />

sustento da ativida<strong>de</strong> turística, atuando como condutor <strong>de</strong> visitantes. Dessa forma, torna-se<br />

objetivo do trabalho resgatar e promover a Valorização Cultural, elucidando a importância do<br />

atual condutor <strong>de</strong> visitantes, ex-garimpeiro, na ativida<strong>de</strong> turística realizada na Vila, intitulada<br />

<strong>de</strong> Ecoturismo. Assim, cabe também verificar se há <strong>de</strong> fato a Inclusão Social, primordial nessa<br />

ativida<strong>de</strong>, analisando a relação e o contexto atual existente entre Parque e Vila, tornando, a<br />

pesquisa, <strong>de</strong> extrema importância, para resgatar a história <strong>de</strong> ocupação da Vila <strong>de</strong> São Jorge e<br />

do Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros. Para o embasamento teórico do trabalho,<br />

primeiramente realizou-se pesquisas bibliográficas, na biblioteca do Campus Experimental da<br />

<strong>Unesp</strong> <strong>de</strong> <strong>Rosana</strong> e na <strong>Biblioteca</strong> do Cerrado, durante a visita in loco, no PNCV, além <strong>de</strong><br />

consultas a trabalhos referentes ao assunto na Internet. A pesquisa é <strong>de</strong> caráter exploratório,<br />

baseando-se no método <strong>de</strong>dutivo. Em relação a forma <strong>de</strong> abordagem da problemática a<br />

mesma é qualitativa. Foram aplicados, durante o tempo <strong>de</strong> permanência no local, 78<br />

questionários ao turistas, na própria portaria do Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros,<br />

visando i<strong>de</strong>ntificar um breve perfil do visitante e sua opinião em relação ao condutor em<br />

<strong>de</strong>terminados aspectos. Os procedimentos técnicos adotados foram o Bibliográfico e o<br />

Participante. Assim, por meio dos dados levantados e <strong>de</strong> sua posterior análise, possibilitou-se<br />

enten<strong>de</strong>r a relação atual existente entre o PNCV e a Vila <strong>de</strong> São Jorge, sendo apontado<br />

problemas relacionados a sazonalida<strong>de</strong> do turismo na Vila, além da importância do local na<br />

reintegração do homem urbano ao meio ambiente natural, que no caso do objeto <strong>de</strong> estudo, o<br />

principal responsável e o mais qualificado para tal é o atual condutor <strong>de</strong> visitantes, sobretudo<br />

o ex-garimpeiro.<br />

Palavras-Chave: Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação; Ecoturismo; Inclusão social; Valorização<br />

Cultural.


ABSTRACT<br />

The district of São Jorge, more commonly called the village of São Jorge, located in the<br />

Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros, northeast Goiás, marked by several periods of occupation, taking the<br />

key, which refers to the present day, started around 1912, motivated by the mining of quartz<br />

crystal, fed up at this location, this activity that has always been related to the periods of the<br />

World Wars, being strongly marked by changes in value in foreign markets. With the creation<br />

of the National Park of Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros in 1961, took place in this region a new series<br />

of conflicts and cultural and socioeconomic changes, especially in the village of São Jorge.<br />

Currently, the Conservation Unit is responsable for attracting thousands of tourists to the site<br />

throughout the year, creating a new and narrow relacionship between the local community<br />

and Conservation Unit. The former miner, now draws sustenance from tourism activity,<br />

acting as a conduit for visitors. So, it becomes objective of the work to rescue and promote the<br />

Cultural Valorization, elucidating the importance of the current visitors conductor, a former<br />

miner in the tourism activity held in the Village, entitled Ecotourism. So, it's up to the<br />

research to verify if there is in fact Social Inclusion, primordial in this activity, analyzing the<br />

relation and the current context between Park and Village, becoming extremely important to<br />

recover the history of occupation of the town of São Jorge and the National Park of Chapada<br />

dos Vea<strong>de</strong>iros. For the theoretical foundation of the work was first carried out literature<br />

searches in the library of the Experimental Campus <strong>Unesp</strong> <strong>Rosana</strong> and the Library of<br />

Savannah, during the site visit, in NPCV, and queries to work on the subject on the Internet.<br />

The research is exploratory, based on the <strong>de</strong>ductive method. As for how to approach the<br />

problem is qualitatively the same. Were applied during the time spent on site, 78<br />

questionnaires to tourists in the very entrance of the National Park of Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros<br />

to i<strong>de</strong>ntify a brief profile of the visitor and his opinion regarding the driver in certain respects.<br />

The technical procedures used were the Bibliographic and the Participant. Thus, by means of<br />

data collected and subsequent analysis ma<strong>de</strong> it possible to un<strong>de</strong>rstand the current relationship<br />

between the NPCV and the Village of São Jorge, pointed to problems with the seasonality of<br />

tourism in the village, and the importance of location in the reintegration of man urban to the<br />

natural environment, in which case the object of study, the chief and most qualified to do so is<br />

the current conductor of visitors, especially former miners.<br />

Keywords: Conservation Unit; Ecotourism; Social Inclusion; Cultural Valorization.


LISTA DE ABREVIATURAS<br />

ICM – Bio – Instituto Chico Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação a Biodiversida<strong>de</strong>.<br />

IF - Instituto Florestal<br />

MMA – Ministério do Meio Ambiente<br />

PARNA(s) – Parque(s) Nacional (is).<br />

PNCV – Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros.<br />

PNT – Parque Nacional do Tocantins.<br />

R.E. – Resumo Executivo.<br />

SNUC - Sistema Nacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação<br />

UC (UCs) - Unida<strong>de</strong>(s) <strong>de</strong> Conservação<br />

UNESP - Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista “Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho”


LISTA DE ILUSTRAÇÕES<br />

Figura 1: GO – 237 no trecho <strong>de</strong> Alto Paraíso a São Jorge. ................................................. 14<br />

Figura 2: Mapa do Principal Trajeto <strong>de</strong> Brasília até São Jorge............................................. 15<br />

Figura 3: Mapa do Principal Trajeto <strong>de</strong> Brasília até São Jorge (2). ...................................... 15<br />

Figura 4: Mapa do Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros no território brasileiro ....... 16<br />

Figura 5: Áreas <strong>de</strong> Garimpo na Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros em 1912........................................ 35<br />

Figura 6: Principais Garimpos <strong>de</strong> Cristal nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se situa, hoje, a Vila <strong>de</strong><br />

São Jorge ............................................................................................................................. 36<br />

Figura 7: Cachoeiras do Garimpão (Saltos 80m e 120m)..................................................... 37<br />

Figura 8: Exemplo <strong>de</strong> Cristal <strong>de</strong> Quartzo encontrado na “Raiz do Capim” .......................... 38<br />

Figura 9: Foto Atual da Vila <strong>de</strong> São Jorge........................................................................... 41<br />

Figura 10: Moradia <strong>de</strong> Seu Zé Raimundo na época do Garimpo.......................................... 42<br />

Figura 11: Moradia <strong>de</strong> Seu Zé Raimundo na época do Garimpo (2). ................................... 42<br />

Figura 12: Foto Atual da Vila <strong>de</strong> São Jorge......................................................................... 46<br />

Figura 13: Foto Atual da Vila <strong>de</strong> São Jorge (2). .................................................................. 46<br />

Figura 14: Foto Atual da Vila <strong>de</strong> São Jorge (3). .................................................................. 47<br />

Figura 16: Buritis – Vereda................................................................................................. 50<br />

Figura 17: Chuveirinhos do Cerrado ................................................................................... 51<br />

Figura 18: Siriemas............................................................................................................. 51<br />

Figura 19: Bromélia............................................................................................................ 52<br />

Figura 20: Canelas d’ema ................................................................................................... 52<br />

Figura 21: Cerrado Rupestre ............................................................................................... 53<br />

Figura 22: Mapa dos Limites do PNCV. ............................................................................. 55<br />

Figura 23: Distribuição Mensal do Fluxo <strong>de</strong> Visitantes em 2004......................................... 61<br />

Figura 24: Mapa das áreas do Parque abertas para visitação................................................ 65<br />

Figura 25: Corre<strong>de</strong>iras. ....................................................................................................... 66<br />

Figura 26: Corre<strong>de</strong>iras (2)................................................................................................... 66<br />

Figura 27: Salto 80 ............................................................................................................. 67<br />

Figura 28: Salto 120. .......................................................................................................... 68<br />

Figura 29: Salto 120: visto do Mirante das Janelas.............................................................. 69<br />

Figura 30: Saltos 120 e 80: vistos do Mirante das Janelas. .................................................. 69<br />

Figura 31: Carioquinhas...................................................................................................... 70<br />

Figura 32: Cânion II. .......................................................................................................... 71


Figura 33: Cânion I............................................................................................................. 72<br />

Figura 34: Jardim <strong>de</strong> Maytréia: visto no percurso <strong>de</strong> Alto Paraíso a .................................... 73<br />

São Jorge – GO 237 ............................................................................................................. 73<br />

Figura 35: Serra <strong>de</strong> Santana: ponto mais alto do PNCV....................................................... 73<br />

Figura 36: Antiga área <strong>de</strong> garimpo <strong>de</strong>ntro do PNCV ........................................................... 74<br />

Figura 37: Antiga área <strong>de</strong> garimpo <strong>de</strong>ntro do PNCV (2)...................................................... 74<br />

Figura 38: Solo indicando que a área já foi coberta pelo mar............................................... 75<br />

Figura 39: Rio Preto: visto do mirante do Salto II <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do PNCV................................ 76


LISTA DE GRÁFICOS<br />

Gráfico 1: Faixa Etária dos Visitantes. ....................................................................... 77<br />

Gráfico 2: Local <strong>de</strong> Origem do Visitante.................................................................... 78<br />

Gráfico 3: Grau <strong>de</strong> Escolarida<strong>de</strong> do Visitante............................................................. 78<br />

Gráfico 4: Renda mensal (por salários mínimos) dos Visitantes. ................................ 79<br />

Gráfico 5: Já veio antes à Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros? .................................................... 79<br />

Gráfico 6: Número <strong>de</strong> vezes que o visitante já veio ao local. ...................................... 79<br />

Gráfico 7: Cida<strong>de</strong> em que hospedou-se o Visitante..................................................... 80<br />

Gráfico 8: Uso <strong>de</strong> Guias fora do PNCV...................................................................... 80<br />

Gráfico 9: Meio <strong>de</strong> Hospedagem dos visitantes. ......................................................... 80<br />

Gráfico 10: Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> em que o visitante está hospedado........................................... 81<br />

Gráfico 11: Tempo <strong>de</strong> Permanência do Visitante no local........................................... 81<br />

Gráfico 12: Principal motivação do visitante em ir à Chapada dos vea<strong>de</strong>iros.............. 82<br />

Gráfico 13: Opinião dos Visitantes em relação à Conduta do Guia............................. 82<br />

Gráfico 14: Opinião do visitante em relação às instruções sobre a fauna e flora local. 82<br />

Gráfico 15: Opinião dos visitantes em relação às informações sobre a história, cultura e<br />

tradições locais. .......................................................................................................... 83<br />

Gráfico 16: Opinião dos visitantes em relação às orientações sobre a conduta em áreas<br />

naturais. ...................................................................................................................... 83<br />

Gráfico 17: Opinião do visitante em relação à sensibilização e educação sobre a importância<br />

<strong>de</strong> preservação do cerrado, da valorização e manutenção da história e cultura locais,<br />

transmitida pelos condutores. ...................................................................................... 84


SUMÁRIO<br />

INTRODUÇÃO................................................................................................................... 13<br />

OBJETIVOS........................................................................................................................ 18<br />

JUSTIFICATIVA ................................................................................................................ 19<br />

PROCEDIMENTOS E MÉTODOS ..................................................................................... 20<br />

1 FUNDAMENTAÇÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................... 22<br />

1.1 Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação..................................................................................... 22<br />

1.2 Ecoturismo ........................................................................................................... 26<br />

1.3 Inclusão Social ..................................................................................................... 30<br />

1.4 Valorização Cultural............................................................................................. 32<br />

2 CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO...................................................... 34<br />

2.1 Vila <strong>de</strong> São Jorge – Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros – GO ................................................ 34<br />

2.2 Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros ......................................................... 47<br />

2.3 A Atual Relação Entre o PNCV e a Vila <strong>de</strong> São Jorge .......................................... 60<br />

3 RESULTADOS OBTIDOS.......................................................................................... 77<br />

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 85<br />

REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 90<br />

APÊNDICE ......................................................................................................................... 97<br />

Questionário aplicado aos Turistas....................................................................................... 97<br />

ANEXO............................................................................................................................... 99<br />

Atual Ficha Técnica do PNCV. ........................................................................................ 99<br />

Reflexão Final ................................................................................................................... 100


INTRODUÇÃO<br />

O distrito <strong>de</strong> São Jorge, mais comumente chamado <strong>de</strong> Vila <strong>de</strong> São Jorge, foi Criado<br />

pela Lei 499 em 06 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1996 e possui aproximadamente 600 habitantes<br />

(PMAPGO, 2006). Apesar <strong>de</strong>ssa criação em Lei, transformando a Vila em Distrito, a<br />

ocupação local já acontece <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo da década <strong>de</strong> 1910, quando garimpeiros <strong>de</strong><br />

diversos lugares do Brasil foram atraídos pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> explorar o cristal <strong>de</strong> quartzo,<br />

abundante na região.<br />

Registros paroquiais do atual povoado <strong>de</strong> São Jorge indicam que o mesmo foi criado<br />

em 1912, sendo constituído inicialmente por um acampamento <strong>de</strong> garimpeiros <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong><br />

Garimpão, que se transformou no povoado que passou a ser conhecido por Baixa dos<br />

Vea<strong>de</strong>iros (PLANO DE MANEJO PNCV – R.E., 2009).<br />

Entre as oscilações do valor do cristal no mercado externo, foi sendo <strong>de</strong>senhada a<br />

Vila que hoje é porta <strong>de</strong> entrada a visitantes que chegam atraídos pelo Parque Nacional e as<br />

belezas estonteantes <strong>de</strong>ssa parte nativa do cerrado brasileiro. Segundo a revista Aventura e<br />

Ação (2009), essa região, que é consi<strong>de</strong>rada um dos maiores paraísos ecológicos do país, foi<br />

formada a 1,8 bilhões <strong>de</strong> anos, sendo o mais antigo patrimônio geológico da América do Sul.<br />

O cerrado da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros não é como os outros cerrados. Nos seus<br />

cânions esculpidos no quartzito, nas cachoeiras <strong>de</strong> muitos saltos, talhadas com carinho nos<br />

rios Preto e São Miguel, nas árvores secas e retorcidas, nas cores vivas dos candombás e dos<br />

cristais, em tudo, enfim, que se espalha por essa paragem especial do interior <strong>de</strong> Goiás, a<br />

natureza <strong>de</strong>ixou um brilho diferente, uma espécie <strong>de</strong> consagração. Por tudo isso e por uma<br />

razão muito além da lógica, a Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros faz <strong>de</strong> suas paisagens uma experiência<br />

sagrada. Quem pisa sua terra e se banha em suas águas sente, em silêncio, que está em solo<br />

sagrado (ROCHA, 1995).<br />

Diegues (2000 apud SARAIVA 2006) nos explica que a ocupação da Vila pelos<br />

garimpeiros, assim como em outras localida<strong>de</strong>s brasileiras, se trata <strong>de</strong> populações aleijadas do<br />

núcleo dinâmico da economia nacional, que ao longo <strong>de</strong> toda história do Brasil, adotaram o<br />

mo<strong>de</strong>lo da cultura rústica, refugiando-se nos espaços menos povoados, on<strong>de</strong> a terra e os<br />

recursos naturais ainda eram abundantes, possibilitando sua sobrevivência e a reprodução<br />

<strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo sociocultural <strong>de</strong> ocupação do espaço e exploração dos recursos naturais.<br />

O acesso a Vila, que está a 36 km <strong>de</strong> Alto Paraíso <strong>de</strong> Goiás e a 2 km da entrada do<br />

Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros, a partir <strong>de</strong> Brasília, é feito pelas rodovias BR-


020 e GO-118 (220 km), que levam a Alto Paraíso, seguindo-se <strong>de</strong>pois pela GO-237 (36 km)<br />

até a Vila <strong>de</strong> São Jorge. A rodovia GO- 237 apresenta trechos pavimentados e trechos <strong>de</strong> terra<br />

(Figura 1). Por essa via circulam todos os automóveis <strong>de</strong> visitantes, <strong>de</strong> moradores, comerciais<br />

e <strong>de</strong> transporte coletivo. A Vila faz limite norte com a margem do rio Preto, ao Sul está o<br />

município <strong>de</strong> Alto Paraíso, a oeste o município <strong>de</strong> Colinas do Sul, e a leste o município <strong>de</strong><br />

Cavalcante (Figuras 2 e 3). A região da Chapada com seus municípios situam-se em altitu<strong>de</strong><br />

que varia entre 577 e 1676 metros. O distrito apresenta uma área <strong>de</strong> 305 quilômetros<br />

quadrados, <strong>de</strong>stes, 54 quilômetros quadrados fazem parte da área do Parque Nacional da<br />

Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros, o que correspon<strong>de</strong> a um percentual <strong>de</strong> 18% do território distrital<br />

(ALMEIDA, 2007). Segundo o Plano <strong>de</strong> Manejo do PNCV, o mesmo situa-se a cerca <strong>de</strong> 250<br />

km, ao norte <strong>de</strong> Brasília, e 470 km, ao nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Goiânia.<br />

Figura 1: GO – 237 no trecho <strong>de</strong> Alto Paraíso a São Jorge.<br />

Fonte: www.altiplano.com – Acesso em 27/05/2011.


Figura 2: Mapa do Principal Trajeto <strong>de</strong> Brasília até São Jorge.<br />

Fonte: PLANO DE MANEJO PNCV – R.E.; 2009.<br />

Figura 3: Mapa do Principal Trajeto <strong>de</strong> Brasília até São Jorge (2).<br />

Fonte: http://www.palipalan.com.br/images/mapa.jpg. Acesso em: 07/06/2007VER SITE<br />

apud ALMEIDA, 2007.


Figura 4: Mapa do Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros no território brasileiro.<br />

Fonte: Agência Brasil Notícias apud SIRICO 2007.<br />

Em 1961, logo após a fundação <strong>de</strong> Brasília, foi <strong>de</strong>cretada a criação do Parque<br />

Nacional do Tocantins pelo então presi<strong>de</strong>nte Juscelino Kubitscheck, na época com 625 mil<br />

hectares. Nos anos seguintes, <strong>de</strong> ditadura militar (1964), assim como os índios, os negros e os<br />

tenentes, as terras sofreriam também uma perseguição implacável por parte dos fazen<strong>de</strong>iros e<br />

especuladores imobiliários, que conseguiram reduzi-las a pouco mais <strong>de</strong> 10% <strong>de</strong> sua área<br />

original, alterando também o nome para Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros. Em<br />

2001, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter recebido status <strong>de</strong> Sítio do Patrimônio Natural Mundial pela UNESCO, o<br />

governo brasileiro ampliou a área do parque para 235.970 hectares, mas a medida foi<br />

<strong>de</strong>rrubada por <strong>de</strong>cisão judicial (BERH, 2005).<br />

Segundo Pantoja (1998), o Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros é assim<br />

<strong>de</strong>nominado <strong>de</strong>vido ao topônimo “Vea<strong>de</strong>iros”, não relacionado ao veado, que já teve<br />

ocorrência expressiva na área, mas sim ao cão que o farejava e perseguia. De acordo com<br />

dados históricos da região, esse topônimo aplicou-se, inicialmente, à Fazenda do Sr. Francisco<br />

<strong>de</strong> Almeida, que ali se estabeleceu <strong>de</strong> forma pioneira a partir <strong>de</strong> 1750. (PLANO DE MANEJO<br />

PNCV – R.E., 2009).<br />

Segundo dados do Plano <strong>de</strong> Manejo (2009), no PNCV há gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

fauna e flora ameaçadas <strong>de</strong> extinção, com espécies raras encontradas somente nessa região do<br />

cerrado brasileiro. As fitofisionomias com maior representativida<strong>de</strong> são as formações<br />

savânicas estacionais campestres (campo rupestre, campo limpo e campo sujo) e porções <strong>de</strong>


cerrado sentido restrito (<strong>de</strong>nso, rupestre e ralo). Ocorre a presença <strong>de</strong> formações florestais<br />

la<strong>de</strong>adas por campos úmidos substituídas por áreas permanentemente alagadas, com a<br />

presença <strong>de</strong> Buritis (palmeiral <strong>de</strong> vereda). Esse padrão, com imensa varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> fisionomias,<br />

po<strong>de</strong> ser interrompido por outras tipologias vegetacionais, tais como as florestas mesofíticas<br />

<strong>de</strong> afloramento calcário, com distribuição bastante restrita na área do Parque.<br />

Dessa forma, o Parque apresenta relevante importância para a preservação <strong>de</strong><br />

amostras representativas do Cerrado do Brasil Central, especialmente do Cerrado <strong>de</strong> Altitu<strong>de</strong>,<br />

para proteção das reservas hídricas da área do alto curso do rio Tocantins, bem como para a<br />

realização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ecoturismo, recreação e educação ambiental em áreas naturais, não<br />

só para as populações das cida<strong>de</strong>s próximas e do Centro Oeste, mas também, para aquelas <strong>de</strong><br />

diferentes pontos do país. O interesse que o Parque <strong>de</strong>sperta vem crescendo a cada ano e, nos<br />

dias atuais está <strong>de</strong>finitivamente incluído nos principais roteiros turísticos nacionais (PLANO<br />

DE MANEJO PNCV – R.E., 2009).<br />

A crescente <strong>de</strong>manda pelo Ecoturismo em Parques Nacionais ocasionou a<br />

estruturação <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s vizinhas para receber e <strong>de</strong>senvolver o turismo nas zonas <strong>de</strong><br />

amortecimento. Atualmente é possível conhecer comunida<strong>de</strong>s do entrono <strong>de</strong> PARNAs que<br />

voltaram suas ativida<strong>de</strong>s econômicas quase que exclusivamente para o turismo, pois a<br />

impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construir a infra-estrutura a<strong>de</strong>quada para o turismo, na área interna do<br />

PARNA tem proporcionado o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> áreas próximas a ele, gerando, assim, uma<br />

relação intrínseca entre Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação e comunida<strong>de</strong>s vizinhas (RIBEIRO &<br />

CAVALCANTI 2009).<br />

Assim, com a <strong>de</strong>cadência da mineração <strong>de</strong> cristais e a criação do Parque Nacional da<br />

Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros, sobretudo em sua reabertura no começo da década <strong>de</strong> 1990, a<br />

economia da Vila voltou-se para o turismo, explorando tanto o ecoturismo, como outros<br />

segmentos regionais, como por exemplo, o esoterismo. A partir <strong>de</strong>sse momento, várias<br />

mudanças sociais, econômicas e estruturais ocorreram como: a chegada <strong>de</strong> pessoas<br />

alternativas para morar na Vila e a implantação da energia elétrica, que ocorreu em 1997.<br />

Muitos moradores adaptaram suas casas em pousadas e restaurantes, já seus quintais foram<br />

transformados em áreas <strong>de</strong> acampamento (ALMEIDA, 2007).<br />

Na prática, as comunida<strong>de</strong>s vizinhas <strong>de</strong> Parque Nacionais representam a base para a<br />

realização das ativida<strong>de</strong>s turísticas, especialmente, no que concerne a infra-estrutura inerente<br />

ao <strong>de</strong>senvolvimento do turismo. Neste sentido, a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve participar efetivamente na<br />

conservação dos recursos naturais, mas para tal é necessário que os administradores dos<br />

Parques utilizem algumas estratégias, tais como: exposições educativas para a comunida<strong>de</strong>; o


treinamento e o emprego dos habitantes como funcionários do Parque, como concessionários<br />

ou como guias; e a solicitação aos funcionários do parque para que lutem pelos interesses<br />

locais (RIBEIRO & CAVALCANTI, 2009).<br />

Com vistas a essa participação da comunida<strong>de</strong>, os garimpeiros <strong>de</strong> outrora e suas<br />

famílias que permaneceram nas vilas e cida<strong>de</strong>s da região da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros possuem,<br />

hoje, uma perspectiva totalmente nova <strong>de</strong> vida: a <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r ao turismo e participar do<br />

cotidiano do parque como condutores <strong>de</strong> visitantes. Os condutores <strong>de</strong> visitantes tiram seu<br />

sustento do Parque e, além <strong>de</strong> guiarem os turistas, são responsáveis pela segurança, pela<br />

limpeza das trilhas e por controlar os horários e limites estabelecidos. (ALMEIDA, 2007)<br />

Martins (2011) explica que a estratégia <strong>de</strong>u certo, pois a maioria largou o garimpo e<br />

a população do município começou a dar mais valor ao Parque Nacional. Des<strong>de</strong> então, vários<br />

cursos básicos foram realizados, através <strong>de</strong> associações locais, presentes em todos os<br />

municípios em torno da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação. Além <strong>de</strong> proporcionar o lazer com<br />

caminhadas e banhos nas cachoeiras, os guias são treinados também para cuidar em grupo,<br />

socorrer em caso <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes e informar os turistas a respeito do Parque Nacional, sua<br />

história, sua geografia, a flora e fauna, uma vez que a memória dos garimpeiros locais faz<br />

parte da história da região da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros e, em especial, do Parque, pelos<br />

próprios vestígios que sua época <strong>de</strong> apogeu <strong>de</strong>ixou exposto em suas áreas.<br />

Ecoturismo é uma palavra em moda, que tem sido utilizada por diferentes pessoas, <strong>de</strong><br />

formas variadas. O setor privado ten<strong>de</strong> a usá-lo, como um termo promocional, sem pensar<br />

profundamente sobre seu verda<strong>de</strong>iro significado (STRASDAS, 2002 apud TAKAHASHI,<br />

2004). Dessa forma, o presente estudo se atenta ao real significado do termo ecoturismo,<br />

dando foco a inclusão da comunida<strong>de</strong> na ativida<strong>de</strong> turística e na valorização cultural que a<br />

mesma po<strong>de</strong> proporcionar aos moradores da Vila, especialmente aos ex-garimpeiros.<br />

OBJETIVOS<br />

A pesquisa possui como objetivo geral analisar a ativida<strong>de</strong> turística na Vila <strong>de</strong> São<br />

Jorge, focando na importância da atuação do condutor <strong>de</strong> visitantes, ex-garimpeiro, no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento turístico local.<br />

Esta pesquisa tem como objetivos específicos:<br />

- Reconhecer a história <strong>de</strong> ocupação da atual Vila <strong>de</strong> São Jorge pelos garimpeiros,<br />

assim como o histórico do Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros.


- Estabelecer a relação atual do Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros com a<br />

Vila <strong>de</strong> São Jorge.<br />

- Detectar o preparo e a organização do condutor <strong>de</strong> visitantes, ex-garimpeiro.<br />

- Investigar um breve perfil do turista que visita o PNCV e sua opinião em relação<br />

aos condutores <strong>de</strong> visitantes, em <strong>de</strong>terminados aspectos.<br />

JUSTIFICATIVA<br />

Herberto <strong>de</strong> Sales, em 1955, já nos dizia que “o garimpeiro talvez seja o mais<br />

<strong>de</strong>sfavorecido <strong>de</strong> todos os trabalhadores brasileiros”. Exemplo privilegiado <strong>de</strong>ssa<br />

nossa distorcida configuração moral, eles são vistos como os gran<strong>de</strong>s responsáveis<br />

pela <strong>de</strong>predação da natureza no que tange a exploração mineral. Ru<strong>de</strong>s e<br />

<strong>de</strong>squalificados, não conseguiram mais reintegrar-se ao restante da socieda<strong>de</strong>. Os<br />

chamados cidadãos, entretanto, acompanham indiferentes a pilhagem comercial<br />

dos recursos naturais. Ignoram, ainda, a questão i<strong>de</strong>ológica da supervaloração do<br />

mineral como bem econômico, objeto <strong>de</strong> luxo e status social, o que lhe dá preço,<br />

tornando o garimpo uma iniciativa viável... a opinião pública enxerga tudo como<br />

conseqüência da <strong>de</strong>smedida ambição <strong>de</strong> anônimos garimpeiros (SILVEIRA, 1997).<br />

O presente trabalho é <strong>de</strong> extrema importância para resgatar a história <strong>de</strong> ocupação da<br />

Vila <strong>de</strong> São Jorge, e do Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros, que possibilita enten<strong>de</strong>r o<br />

atual contexto e a relação existente entre ambos. Para os ex-garimpeiros, o trabalho também<br />

se torna um instrumento <strong>de</strong> resgate e valoração <strong>de</strong> sua história e <strong>de</strong> esclarecimentos a cerca <strong>de</strong><br />

seu papel atual, na ativida<strong>de</strong> turística local.<br />

A região em que se situa a Vila <strong>de</strong> São Jorge (Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros – Goiás) é<br />

marcada por um longo histórico <strong>de</strong> ocupação, com uma cultura e conhecimentos tradicionais<br />

da localida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vendo seus habitantes, antes <strong>de</strong> tudo, serem respeitados e tratados com a<br />

humilda<strong>de</strong> que compete ao seu modo <strong>de</strong> vida, principalmente, por tratar-se dos primeiros<br />

moradores a ocuparem o lugar.<br />

Desta forma, além <strong>de</strong> resgatar e elucidar a história <strong>de</strong>sses moradores, ex-garimpeiros,<br />

valorizando ainda mais o seu papel atual, o trabalho visa também possibilitar a eles, novos<br />

conhecimentos, que venham contribuir positivamente ao <strong>de</strong>senvolvimento da ativida<strong>de</strong><br />

turística local, uma vez que os mesmos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m diretamente da renda gerada por ela.<br />

Ratificando ainda mais a importância <strong>de</strong> um acompanhamento constante por meio <strong>de</strong> estudos<br />

e pesquisas voltadas ao aprimoramento do turismo nessas localida<strong>de</strong>s.<br />

Dentro das diretrizes do ecoturismo, a pesquisa torna-se fundamental não somente à<br />

Vila, como também primordial a este tema, pois irá tratar da inclusão social (participação<br />

direta da população na renda gerada pela ativida<strong>de</strong>), atrelada ao respeito às tradições locais,


<strong>de</strong> uma forma que valorize seu ambiente natural, cultural e, em especial, o social,<br />

representado pelos ex-garimpeiros que resi<strong>de</strong>m na região. Em São Jorge, verifica-se esta<br />

necessida<strong>de</strong>, a <strong>de</strong> se estudar o turismo mais especificamente <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>stes parâmetros <strong>de</strong><br />

inclusão e valorização <strong>de</strong> sua comunida<strong>de</strong>, pois é fato que este <strong>de</strong>sempenha um papel<br />

relevante no <strong>de</strong>senvolvimento sócio-econômico <strong>de</strong>ste Distrito, cabendo estudá-lo em dois<br />

momentos distintos: um antes e um <strong>de</strong>pois da abertura do Parque para o ecoturismo.<br />

Portanto, o presente trabalho se torna um instrumento imprescindível ao se pensar<br />

em um caminho <strong>de</strong> entendimentos entre o Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros e a<br />

comunida<strong>de</strong> local, para que, antes <strong>de</strong> qualquer próximo passo, seja estudado todo este<br />

contexto em que a unida<strong>de</strong> se inseriu, nesse caso, daqueles que primeiramente habitaram a<br />

Vila <strong>de</strong> São Jorge, os garimpeiros.<br />

PROCEDIMENTOS E MÉTODOS<br />

O Brasil é um país on<strong>de</strong> a diversida<strong>de</strong> atingiu seu grau máximo. Precisa ser<br />

<strong>de</strong>scoberto em cada esquina, pois cada uma <strong>de</strong>las terá sua própria história, sua<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, seu modus vivendi. Ou seja, não é um país, é um mosaico com milhares<br />

<strong>de</strong> peças, cada uma <strong>de</strong>las única. Antes <strong>de</strong> falar sobre ou mostrar este vasto país, é<br />

preciso olhar para ele com humilda<strong>de</strong>. Muita humilda<strong>de</strong>. Ir, ver <strong>de</strong> perto,<br />

conversar, enten<strong>de</strong>r e, sobretudo apren<strong>de</strong>r com a gente do local. Eles <strong>de</strong>têm o<br />

conhecimento que todos nós precisamos para conseguir manter nossas riquezas –<br />

humanas, naturais, culturais – intactas. Não dá para baixar <strong>de</strong>creto. Tem que ir lá,<br />

ver, ouvir, ouvir... (Pedro Martinelli, 1999.)<br />

Para o embasamento teórico do presente trabalho, primeiramente realizou-se<br />

pesquisas bibliográficas, pertinentes ao tema, na biblioteca do Campus Experimental <strong>de</strong><br />

<strong>Rosana</strong> da Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista. Através da Internet, também foram realizadas<br />

consultas a trabalhos referentes ao assunto. Posteriormente, na visita in loco, com um caráter<br />

exploratório, foram realizadas pesquisas bibliográficas visando i<strong>de</strong>ntificar o histórico e o<br />

contexto local. O levantamento bibliográfico, durante o período <strong>de</strong> permanência na Vila <strong>de</strong><br />

São Jorge, foi realizado na <strong>Biblioteca</strong> do Cerrado, localizada no Parque Nacional da Chapada<br />

dos Vea<strong>de</strong>iros.<br />

A pesquisa exploratória visa proporcionar maior familiarida<strong>de</strong> com o problema com<br />

vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses. Envolve levantamento bibliográfico;<br />

entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado;<br />

análise <strong>de</strong> exemplos que estimulem a compreensão (TRIVIÑOS, 1992 apud GIL, 1999 apud<br />

SILVA; MENEZES, 2001).


Dessa forma, o trabalho atentou-se também em buscar, através <strong>de</strong> entrevistas<br />

informais com diversos moradores, o entendimento do contexto em que eles estão inseridos,<br />

sendo que alguns trechos <strong>de</strong>ssas “conversas” foram registrados no <strong>de</strong>correr da visitação in<br />

loco.<br />

A pesquisa baseou-se no método <strong>de</strong>dutivo, que parte <strong>de</strong> uma análise do geral para o<br />

particular, chegando assim a uma conclusão. Este método, proposto pelos racionalistas<br />

Descartes, Spinoza e Leibniz pressupõe que só a razão é capaz <strong>de</strong> levar ao conhecimento<br />

verda<strong>de</strong>iro. O raciocínio <strong>de</strong>dutivo tem o objetivo <strong>de</strong> explicar o conteúdo das premissas. Por<br />

intermédio <strong>de</strong> uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> raciocínio em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong> análise do geral para o<br />

particular, chega a uma conclusão. Usa o silogismo, construção lógica para, a partir <strong>de</strong> duas<br />

premissas retirar uma terceira, logicamente <strong>de</strong>corrente das duas primeiras, <strong>de</strong>nominada <strong>de</strong><br />

conclusão (LAKATOS; MARCONI, 1993 apud GIL, 1999 apud SILVA; MENEZES, 2001).<br />

Foram aplicados 78 questionários, fechados <strong>de</strong> múltiplas escolhas aos turistas,<br />

durante o período da visita in loco, em datas diversas, na própria portaria do Parque Nacional<br />

da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros. A amostra é não-probabilistica, ou seja, é aquela em que a seleção<br />

dos elementos da população para compor a amostra, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> ao menos em parte, do<br />

julgamento do pesquisador ou do entrevistador no campo, além do tempo e recursos<br />

disponíveis (MATTAR, 1996). Apesar <strong>de</strong> os questionários serem consi<strong>de</strong>rados quantitativos,<br />

a forma <strong>de</strong> análise dos mesmos e a forma <strong>de</strong> abordagem da problemática do trabalho, são <strong>de</strong><br />

caráter qualitativo, explicado da seguinte forma por Silva e Menezes:<br />

Pesquisa qualitativa: consi<strong>de</strong>ra que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o<br />

sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetivida<strong>de</strong> do<br />

sujeito que não po<strong>de</strong> ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a<br />

atribuição <strong>de</strong> significados são básicas no processo <strong>de</strong> pesquisa qualitativa. Não<br />

requer o uso <strong>de</strong> métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta<br />

para coleta <strong>de</strong> dados e o pesquisador é o instrumento-chave. É <strong>de</strong>scritiva. Os<br />

pesquisadores ten<strong>de</strong>m a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu<br />

significado são os focos principais <strong>de</strong> abordagem (SILVA; MENEZES, 2001, p. 20).<br />

Os procedimentos técnicos adotados pela pesquisa foram o Bibliográfico (elaborado<br />

a partir <strong>de</strong> material já publicado, construído principalmente <strong>de</strong> livros, artigos, <strong>de</strong> periódicos e<br />

atualmente com material disponibilizado na Internet) e o Participante (que se <strong>de</strong>senvolve a<br />

partir da interação entre pesquisadores e membros das situações investigadas). (SILVA;<br />

MENEZES, 2001).


1 FUNDAMENTAÇÃO BIBLIOGRÁFICA<br />

1.1 Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação<br />

A criação das atuais Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação remete a tempos muito antigos,<br />

quando o homem começou a plantar para comer (antes só colhia o que a natureza lhe dava) e<br />

abandonou a caça para domesticar alguns bichos não havia dinheiro. Cada um trocava o que<br />

sobrava por outras coisas <strong>de</strong> que precisava. Domesticaram o boi, a cabra, o cavalo, pegavam<br />

selvagem e criavam <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa, no quentinho com a comida guardada para o inverno.<br />

Apren<strong>de</strong>ram a plantar a uva, o trigo, a tirar o óleo <strong>de</strong> azeitona. Nessa época, como <strong>de</strong>scrito na<br />

bíblia, Deus disse para os homens: guar<strong>de</strong> <strong>de</strong>z por cento para mim, como respeito a minha<br />

obra. O dízimo é <strong>de</strong>scrito, como sendo parte do produto da terra, da semente do campo, do<br />

fruto das árvores, das aves e dos rebanhos. Dessa forma, guardar uma parte para Deus foi tão<br />

importante, que até os povos pagãos tinham seus “bosques sagrados”. Em alguns <strong>de</strong>les,<br />

ninguém entrava, apenas o sacerdote, uma vez por ano. Os reis criavam “campos <strong>de</strong> caça”,<br />

lugares preservados, aon<strong>de</strong> somente eles e seus convidados podiam ir. Nos tempos mo<strong>de</strong>rnos,<br />

a forma que os governos encontraram para preservar áreas foi criar as Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Conservação, com vários nomes e finalida<strong>de</strong>s (MARTINS, 2011).<br />

Martins (2011), afirma ainda que:<br />

O primeiro Parque Nacional criado no mundo foi o <strong>de</strong> Yellowstone, nos Estados<br />

Unidos em 1872. No Brasil, os Parques Nacionais foram criados pela Lei n° 4.771,<br />

<strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1915, mas só em 1937 foi criado o primeiro Parque Nacional<br />

brasileiro, o <strong>de</strong> Itatiaia, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promover a pesquisa<br />

científica e a ativida<strong>de</strong> turística (MARTINS, 2011, p.4).<br />

Mesmo com esse primeiro Parque, criado em 1937, somente em 1967 foi instituído o<br />

primeiro órgão responsável por regulamentar as UCs do Brasil, a partir do Decreto <strong>de</strong> Lei nº<br />

289 <strong>de</strong> 28/2/1967, que criava o Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Desenvolvimento Florestal – IBDF<br />

(FUNATURA, 1989, apud MORSELLO, 2001). Após dois anos <strong>de</strong> sua criação foi<br />

estabelecido o primeiro documento, que tratava dos parques e reservas brasileiras. Este<br />

documento foi consi<strong>de</strong>rado inovador, pois, pela primeira vez, foi dada maior ênfase a<br />

proteção à natureza do que aos aspectos cênicos. (MORSELLO, 2001).<br />

Kinker (2002), explica que:<br />

As Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação são áreas naturais ou seminaturais em regime especial<br />

<strong>de</strong> administração, instituídas legalmente pelo Po<strong>de</strong>r Publico, com base em estudos<br />

prévios que <strong>de</strong>monstram as razões técnico-cientificas e socioeconômicas que<br />

justificaram sua criação. Com localização e limites <strong>de</strong>finidos, possuem, em geral,<br />

características ecológicas ou paisagísticas especialmente importantes, como elevada


iqueza <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> flora e fauna, presença <strong>de</strong> espécies raras, endêmicas ou<br />

ameaçadas <strong>de</strong> extinção, amostras representativas <strong>de</strong> diferentes ecossistemas,<br />

significativa beleza cênica ou recursos naturais indispensáveis para o bem-estar das<br />

comunida<strong>de</strong>s humanas (KINKER, 2002 p.34-35).<br />

Em 1985, as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação fe<strong>de</strong>rais protegiam 15 milhões <strong>de</strong> hectares. Em<br />

2007, protegiam 70 milhões. Uma superfície quatro vezes e meio maior, em um intervalo <strong>de</strong><br />

apenas duas décadas. Além da área protegida por unida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais, mais <strong>de</strong> 30 milhões <strong>de</strong><br />

hectares estão protegidos por unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação estaduais, que somadas protegem 100<br />

milhões <strong>de</strong> hectares, ou 12% do território nacional. Isso é quase a área da Bolívia – quinto<br />

colocado em extensão territorial da América Latina ou a área da França e Alemanha juntas<br />

(MERCADANTE, 2007 apud ICM - Bio).<br />

Com tais avanços e um número cada vez mais crescente das UCs, o Congresso<br />

Nacional aprovou, com base no projeto <strong>de</strong> lei n. 2.892 <strong>de</strong> 1992 da Constituição Fe<strong>de</strong>ral, o<br />

Sistema Nacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação (SNUC), que mais tar<strong>de</strong> foi regulamentado<br />

pelo Decreto n. 4.340, <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2002, disponibilizando a socieda<strong>de</strong> brasileira meios<br />

legais para manutenção da conservação e do manejo dos recursos naturais do país<br />

(ROCKTAESCHEL, 2006). O SNUC É consi<strong>de</strong>rado a primeira normatização nacional das<br />

áreas naturais protegidas por lei. (SEABRA, 2001).<br />

Segundo o art. 225, da Constituição Fe<strong>de</strong>ral, todos têm direito a um meio ambiente<br />

ecologicamente equilibrado, bem <strong>de</strong> uso comum do povo e essencial à sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida, impondo-se ao po<strong>de</strong>r público e à coletivida<strong>de</strong> o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> <strong>de</strong>fini-lo e preservá-lo às<br />

presentes e futuras gerações.<br />

Segundo consta no próprio SNUC, as Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação são <strong>de</strong>finidas como<br />

espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com<br />

características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Po<strong>de</strong> Público, com objetivo <strong>de</strong><br />

conservação e limites <strong>de</strong>finidos, sob regime especial <strong>de</strong> administração, ao qual se aplicam<br />

garantias a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> proteção.<br />

Po<strong>de</strong>mos citar como objetivos do SNUC:<br />

Promover o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, a partir dos recursos naturais.<br />

Promover a utilização dos princípios e práticas <strong>de</strong> conservação da Natureza no<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Proteger paisagens naturais e pouco alteradas <strong>de</strong> notável beleza cênica;<br />

Contribuir para a manutenção da diversida<strong>de</strong> biológica e dos recursos genéticos<br />

no território nacional e nas águas jurisdicionais.


Proteger as características relevantes <strong>de</strong> natureza geológica, geomorfológica,<br />

espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural.<br />

Valorizar economicamente e socialmente a diversida<strong>de</strong> biológica.<br />

Favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a<br />

recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico.<br />

Proteger os recursos naturais necessários à subsistência da populações<br />

tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as<br />

social e economicamente.<br />

Em relação às diretrizes do SNUC, espera-se que elas:<br />

Assegurem os mecanismos e procedimentos necessários ao envolvimento da<br />

socieda<strong>de</strong> no estabelecimento e na reunião da política nacional <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação.<br />

Assegurem a participação efetiva das populações locais na criação,<br />

implantação e gestão das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação.<br />

Busque o apoio e a cooperação <strong>de</strong> organizações não-governamentais, <strong>de</strong><br />

organizações privadas e pessoas físicas para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> estudos, pesquisas<br />

científicas, práticas <strong>de</strong> Educação Ambiental, ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lazer e <strong>de</strong> turismo ecológico,<br />

monitoramento, manutenção e outras ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gestão das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação.<br />

Assegurem que o processo <strong>de</strong> criação e a gestão da unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação<br />

sejam feitos <strong>de</strong> forma integrada com as políticas <strong>de</strong> administração das terras e águas<br />

circundantes, consi<strong>de</strong>rando as condições e necessida<strong>de</strong>s sociais e econômicas locais.<br />

Consi<strong>de</strong>rem as condições e necessida<strong>de</strong>s das populações locais no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e adaptação <strong>de</strong> métodos e técnicas <strong>de</strong> uso sustentável dos recursos naturais.<br />

Garantam às populações tradicionais cuja subsistência <strong>de</strong>penda da utilização <strong>de</strong><br />

recursos naturais existentes no interior das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação meios <strong>de</strong> subsistência<br />

alternativos ou a justa in<strong>de</strong>nização pelos recursos perdidos.<br />

Dessa forma, o SNUC divi<strong>de</strong> as Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação em dois grupos: Unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> Proteção Integral (Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional, Monumento<br />

Natural) e Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Uso Sustentável (Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental, Área <strong>de</strong> Relevante<br />

interesse ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva <strong>de</strong> Fauna, Área <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Sustentável). As Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Proteção Integral foram criadas com o<br />

objetivo <strong>de</strong> preservar a natureza, permitindo apenas o uso indireto dos recursos naturais,<br />

visando à manutenção dos ecossistemas livres <strong>de</strong> alterações causadas por interferência


humana; já as <strong>de</strong> Uso Sustentável, objetivam compatibilizar conservação da natureza com o<br />

uso <strong>de</strong> parcela <strong>de</strong> seus recursos naturais.<br />

Dentro <strong>de</strong>ssa divisão, estabelecida pelo SNUC, às unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Proteção Integral<br />

foram permitidas, <strong>de</strong>ntro da lei, fazer o uso indireto <strong>de</strong> seus recursos, ou seja, aquele que não<br />

envolve consumo, coleta, dano ou <strong>de</strong>struição dos recursos naturais, como é o caso dos<br />

Parques Nacionais, que visam à preservação <strong>de</strong> ecossistemas naturais <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância<br />

ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização <strong>de</strong> pesquisas científicas e o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> educação e interpretação ambiental, <strong>de</strong> recreação em<br />

contato com a natureza e <strong>de</strong> turismo ecológico (SNUC, 2000). As UCs, notadamente as <strong>de</strong><br />

proteção integral, são um componente essencial para a conservação da biodiversida<strong>de</strong> e<br />

<strong>de</strong>sempenham importante papel para o bem-estar da socieda<strong>de</strong> (SAMPAIO, 2006).<br />

Dentre todas as categorias <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação, os Parques (nacionais,<br />

estaduais e municipais) são os que possuem maior atrativida<strong>de</strong> em relação à visitação pública<br />

em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas dimensões territoriais e da multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atrativos cênicos, ecológicos<br />

e culturais (SEABRA, 2001).<br />

Os Parques Nacionais e Estaduais, além <strong>de</strong> sua função <strong>de</strong> proteção da<br />

biodiversida<strong>de</strong> das áreas naturais, <strong>de</strong>vem também propiciar a população recreação e<br />

conhecimento da natureza, pelo contato direto com essa biodiversida<strong>de</strong>. Tal função<br />

é <strong>de</strong>nominada genericamente <strong>de</strong> “uso público” e abrange o conjunto <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

que po<strong>de</strong>m ser praticadas (em uma) nas UC, <strong>de</strong> acordo com sua categoria. As<br />

ativida<strong>de</strong>s incluem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> práticas ativas e exigentes quanto ao condicionamento<br />

físico, passando pelo conhecimento da biota, até a simples contemplação da<br />

natureza (ROCKTAESCHEL, 2006 p.57).<br />

A visitação em unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação é um importante instrumento para a<br />

conservação da natureza, principalmente, se falarmos em apoio público e alternativas <strong>de</strong><br />

financiamento para o SNUC, representando um dos principais focos <strong>de</strong> atração do turismo no<br />

país. Nos últimos cinco anos, o número <strong>de</strong> visitantes em Parques Nacionais aumentou em<br />

mais <strong>de</strong> 50 %, <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 1,5 milhão em 2000, para 2,9 milhões em 2005. Esse<br />

crescimento se <strong>de</strong>ve, principalmente, ao maior controle do número <strong>de</strong> visitantes, incremento e<br />

qualificação da infra-estrutura em alguns Parques ao maior interesse e divulgação dos<br />

<strong>de</strong>stinos turísticos que os envolvem. (MINISTÈRIO DO MEIO AMBIENTE, 2007).<br />

Para Arruda (1997), o problema maior tem sido as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> remoção e<br />

também da permanência em UCs das populações classificadas como “tradicionais”. Para ele,<br />

o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> UC adotado no Brasil, e no terceiro mundo em geral, é um dos principais<br />

elementos <strong>de</strong> estratégia para a conservação da natureza. Ele <strong>de</strong>riva da concepção <strong>de</strong> áreas<br />

protegidas, construída no século passado nos EUA. A idéia que fundamenta este mo<strong>de</strong>lo é <strong>de</strong><br />

que a alteração e domesticação <strong>de</strong> toda a biosfera pelo ser humano é inevitável, sendo


necessário e possível conservar pedaços do mundo natural em seu estado originário, antes da<br />

intervenção humana, lugares on<strong>de</strong> o ser humano possa reverenciar a natureza intocada, refazer<br />

suas energias materiais e espirituais e, pesquisas à própria natureza.<br />

Ainda segundo o mesmo autor, apesar <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo ser relativamente a<strong>de</strong>quado aos<br />

EUA, dado a existência <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s áreas <strong>de</strong>sabitadas, sua transposição para o terceiro mundo<br />

mostra-se problemática, pois mesmo as áreas consi<strong>de</strong>radas isoladas ou selvagens abrigam<br />

populações humanas, as quais, como <strong>de</strong>corrência do mo<strong>de</strong>lo adotado, <strong>de</strong>vem ser retiradas <strong>de</strong><br />

suas terras, transformadas <strong>de</strong> agora em diante em UC para benefício das populações Urbanas<br />

(turismo ecológico), das futuras gerações, do equilíbrio ecossistêmico necessário à<br />

humanida<strong>de</strong> em geral, da pesquisa científica, mas não das populações locais.<br />

Mais do que repressão, o mundo mo<strong>de</strong>rno necessita <strong>de</strong> exemplos <strong>de</strong> relações mais<br />

a<strong>de</strong>quadas entre homem e natureza. Essas UCs po<strong>de</strong>m oferecer condições para que os<br />

enfoques tradicionais <strong>de</strong> manejo do mundo natural sejam valorizados, renovados e até<br />

reinterpretados, para torná-los mais adaptados a novas situações emergentes (DIEGUES, 1997<br />

apud ARRUDA, 1997). Assim, o ecoturismo assume um papel fundamental, não apenas para<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento das Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação, como também para influenciar diretamente,<br />

as relações existentes em todo o entorno <strong>de</strong>ssas UCs.<br />

Um dos meios pelo qual o homem tem se aproximado <strong>de</strong>ssa natureza é por<br />

intermédio do ecoturismo. O maior público, para essas ativida<strong>de</strong>s advém dos gran<strong>de</strong>s centros<br />

urbanos e se compõem <strong>de</strong> indivíduos que não estão habituados à interação com os ambientes<br />

utilizados pelo ecoturismo comercial (CHINAGLIA, 2007).<br />

1.2 Ecoturismo<br />

Para Aguiar e Bahl (2006), o po<strong>de</strong>r do turismo no <strong>de</strong>senvolvimento econômico e<br />

social é indiscutível em todo o mundo, já que o mesmo irá atuar como instrumento <strong>de</strong><br />

aceleração econômica e <strong>de</strong> incremento na área social e cultural da coletivida<strong>de</strong>. No Brasil, em<br />

especial, este <strong>de</strong>senvolvimento tem gerado investimentos <strong>de</strong> capital estrangeiro e,<br />

consequentemente, o aumento na arrecadação <strong>de</strong> impostos e na geração <strong>de</strong> empregos.<br />

Apesar <strong>de</strong> o turismo ser consi<strong>de</strong>rado uma ativida<strong>de</strong> econômica viável, além <strong>de</strong> ser<br />

uma ferramenta que possibilita a reestruturação e/ou a revitalização econômica <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminado local, faz-se necessário um planejamento bem elaborado para que estes<br />

benefícios realmente ocorram e perdurem. (FERRETTI, 2002).


Dessa forma, a falta <strong>de</strong> um planejamento a<strong>de</strong>quado, em muitas localida<strong>de</strong>s acaba<br />

acarretando em um turismo massificado, explicado por Pires:<br />

Essa forma <strong>de</strong> turismo convencional massificado, <strong>de</strong> larga escala<br />

multinacionalizado, organizado com fins unicamente comerciais, em que não se<br />

reconhece limites <strong>de</strong> crescimento e os riscos <strong>de</strong>le <strong>de</strong>correntes, em que predomina o<br />

comportamento insensível dos turistas para com os <strong>de</strong>stinos e populações receptoras<br />

e em que a <strong>de</strong>terioração ambiental e paisagística são comuns, ensejou as primeiras<br />

percepções voltadas para um “turismo diferente ou/e alternativo (PIRES, 2002,<br />

p.80).<br />

Assim, na contramão do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> turismo <strong>de</strong> massas, que <strong>de</strong>strói, vem o<br />

ecoturismo, que é, conceitualmente, um segmento do turismo em que a paisagem é a principal<br />

variável, ou seja, um ponto <strong>de</strong> confluência dos fatores ambientais e antrópicos. O ecoturismo<br />

busca a integração do visitante com o meio natural e humano, sendo que a população local<br />

<strong>de</strong>ve participar dos serviços prestados aos turistas. Além disso, o ecoturismo prioriza a<br />

preservação do espaço natural em que é realizado, e seu projeto contempla a conservação,<br />

antes <strong>de</strong> qualquer outra ativida<strong>de</strong> (PIRES, 2002).<br />

Tal planejamento não po<strong>de</strong> ocorrer, senão <strong>de</strong> forma a envolver as comunida<strong>de</strong>s<br />

locais, pois estas seriam as maiores prejudicadas com a visitação sem controle e as maiores<br />

beneficiadas <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> bem planejada, uma vez que se há a interação <strong>de</strong> um uso<br />

qualquer para uma área natural, o planejamento <strong>de</strong>ste uso não po<strong>de</strong> ocorrer senão a partir <strong>de</strong><br />

metodologias que valorizem a participação da comunida<strong>de</strong> local (CHINAGLIA, 2007).<br />

Pires (2002) nos explica também que o homem tem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo <strong>de</strong> sua história<br />

um gran<strong>de</strong> interesse pela natureza, não apenas como uma fonte <strong>de</strong> exploração, mas também<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sfrutá-la em seus aspectos culturais, espirituais, psicológicos, sendo em sua essência,<br />

essas iniciativas que autorizam a tomá-las como antece<strong>de</strong>ntes remotos do que realmente se<br />

concebe como turismo na natureza ou <strong>de</strong> natureza.<br />

Essa nova tendência do turismo, da busca pela natureza, da fuga das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s,<br />

é esplanada da seguinte forma por Ruschmann:<br />

O turismo contemporâneo é um gran<strong>de</strong> consumidor da natureza e sua evolução, nas<br />

últimas décadas, ocorreu como conseqüência da “busca pelo ver<strong>de</strong>” e da “fuga” dos<br />

tumultos dos gran<strong>de</strong>s conglomerados urbanos pelas pessoas que tentam recuperar o<br />

equilíbrio psicofísico em contato com os ambientes naturais durante seu tempo <strong>de</strong><br />

lazer (RUSCHMANN, 1997, p.09).<br />

Esse ecoturismo realizado em ambientes naturais como o que temos hoje, até mesmo<br />

o ecoturismo em sua <strong>de</strong>finição, manifesta inevitavelmente as dimensões do paradigma<br />

dominante como a própria idéia <strong>de</strong> separação entre meio ambiente urbano e natural. Dessa<br />

forma, o homem se excluiu <strong>de</strong> seu ambiente para po<strong>de</strong>r dominá-lo, e criou outro artificial para


po<strong>de</strong>r efetivar essa auto-exclusão – surgiu o meio ambiente urbano, em contraposição ao meio<br />

ambiente natural. Na verda<strong>de</strong> não há separação, e por esse motivo o homem per<strong>de</strong>u o sentido<br />

<strong>de</strong> pertinência inclusive do meio ambiente urbano – queremos também ter domínio sobre o<br />

meio ambiente urbano e nesse sentido queremos também ter domínio sobre o outro, sobre nós<br />

mesmos. Enten<strong>de</strong>r isso é fazer a volta, é enten<strong>de</strong>r primeiro que fazemos parte <strong>de</strong>sse ambiente<br />

urbano e <strong>de</strong>pois enten<strong>de</strong>r que o urbano e o natural são o mesmo ambiente. Assim, o<br />

ecoturismo como conceito po<strong>de</strong> também ser feito às margens do córrego <strong>de</strong>gradado, em<br />

nossos quintais e praças, nos centros <strong>de</strong> nossas cida<strong>de</strong>s (CHINAGLIA, 2007).<br />

Com base no paradigma emergente, o homem é apenas parte <strong>de</strong> um sistema maior –<br />

a natureza, ou a “teia da vida”. Estamos falando <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> paradigmas,<br />

mudança <strong>de</strong> hábitos. Mudança na forma <strong>de</strong> vermos o mundo. Essas mudanças são<br />

possíveis apenas por meio da “re-educação” do homem. Uma educação baseada em<br />

conceitos <strong>de</strong> ética, justiça e respeito ao meio ambiente – lembrando que o homem é<br />

parte <strong>de</strong>ste meio ambiente e, portanto, falamos <strong>de</strong> respeito próprio. Somente por<br />

intermédio da educação essa mudança será possível, não a educação convencional,<br />

entre quatro pare<strong>de</strong>s e baseada no conteúdo assimilado, mas aquela baseada no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competências, nas vivências experimentadas, nas experiências<br />

individuais únicas, na capacida<strong>de</strong> do ser humano apren<strong>de</strong>r a apren<strong>de</strong>r e na<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o ser humano se sentir parte fundamental do seu entorno. (NORI,<br />

2001 apud CHINAGLIA, 2007, p.61).<br />

Assim, como uma nova forma <strong>de</strong> reintegração do homem com a natureza, o<br />

ecoturismo surge como uma ativida<strong>de</strong> que possui como essência utilizar, <strong>de</strong> forma<br />

sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentivando sua conservação, sendo buscada a<br />

formação <strong>de</strong> uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente,<br />

promovendo o bem-estar das populações envolvidas (KINKER, 2002).<br />

Esta busca pela formação <strong>de</strong> uma consciência ambientalista, é possível através da<br />

educação ambiental, que implica na integração <strong>de</strong> diversas áreas do conhecimento, na mistura<br />

<strong>de</strong> diferentes conhecimentos científicos, na integração entre diferentes disciplinas, setores e<br />

saberes, <strong>de</strong>vendo ajudar as pessoas não só a adquirir conhecimento, mas também valores<br />

sociais (cooperação, solidarieda<strong>de</strong>, responsabilida<strong>de</strong>, respeito, tolerância) e habilida<strong>de</strong>s que<br />

aju<strong>de</strong>m na solução <strong>de</strong> problemas ambientais (TAMAIO & OLIVEIRA, 2002).<br />

Para Ab’Saber (1991 apud TAMAIO & OLIVEIRA, 2002), educação ambiental<br />

começa em casa. Atinge a rua e a praça. Engloba o bairro. Abrange a cida<strong>de</strong> ou a metrópole.<br />

Ultrapassa as periferias. Repensa os <strong>de</strong>stinos dos bolsões da pobreza. Penetra na intimida<strong>de</strong><br />

dos espaços ditos “opressores”. Atinge as peculiarida<strong>de</strong>s e diversida<strong>de</strong>s regionais. Para só<br />

<strong>de</strong>pois integrar, em mosaico, os espaços nacionais. E, assim colaborar com os diferentes<br />

níveis <strong>de</strong> sanida<strong>de</strong> exigidos pela escala planetária, dum fragmento <strong>de</strong> astro que oscilou a vida<br />

e <strong>de</strong>u origem aos atributos básicos do ser que pensou o universo.


Segundo Cornell (1995, apud CHINAGLIA, 2007), quando se apren<strong>de</strong> com a<br />

natureza se apren<strong>de</strong> com o coração, ou seja, outras dimensões do aprendizado, há muito<br />

esquecidas pelo ensino convencional, são <strong>de</strong>spertadas. Corpo, coração e mente se interagem e<br />

apren<strong>de</strong>m que são partes <strong>de</strong> um mesmo sistema. Outras dimensões antes esquecidas se<br />

libertam para nos fazer reconhecer outra parte <strong>de</strong> nós. Fazer-nos conhecer cada vez melhor a<br />

nós mesmos.<br />

Assim, não há como promover mudanças no ambiente externo (a melhoria da<br />

conservação ambiental e a redução dos fatores <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição, por exemplo) sem mudar<br />

também o ambiente interno. O indivíduo é o responsável por qualquer mudança da atual<br />

situação local – global. Neste caso, temos <strong>de</strong> ter consciência <strong>de</strong> que a batalha por um futuro<br />

sustentável, como propõe o ecoturismo, antes <strong>de</strong> tudo, é uma batalha interna pelo<br />

conhecimento próprio em busca <strong>de</strong> um equilíbrio (CHINAGLIA, 2007).<br />

O Ecoturismo, <strong>de</strong> acordo com seus conceitos, é uma possível saída para que ocorra<br />

uma minimização <strong>de</strong> impactos por parte da ativida<strong>de</strong> turística.<br />

Ecoturismo ou turismo ecológico consiste em viagens ambientalmente responsáveis<br />

com visitas a áreas naturais relativamente sem distúrbios, para <strong>de</strong>sfrutar e apreciar a<br />

natureza – juntamente com as manifestações do passado ou do presente que possam<br />

existir – e que, ao mesmo tempo, promove a conservação, proporciona baixo<br />

impacto pelos visitantes e contribui positivamente para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

socioeconômico ativo das populações locais (PIRES, 2002).<br />

É fundamental, que esse encontro do homem urbano com o ambiente natural também<br />

o direcione ao encontro com o próprio urbano, com o seu cotidiano e, mais importante ainda,<br />

ao encontro com ele mesmo nesses locais, <strong>de</strong> modo a tomar consciência da unicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses<br />

ambientes, reconhecendo-se ainda mais como parte <strong>de</strong>les (CHINAGLIA, 2007).<br />

Pelo fato <strong>de</strong> estarmos presos a ilusões impostas pelo sistema, tentar promover esse<br />

auto-re-conhecimento, utilizando uma visita ao centro da cida<strong>de</strong>, ao contrário <strong>de</strong> ao<br />

parque municipal, talvez não motive tanto. Assim, po<strong>de</strong>mos começar pelo parque<br />

<strong>de</strong>pois terminar no centro da cida<strong>de</strong> ou naquela margem <strong>de</strong> córrego <strong>de</strong>gradada.<br />

Supomos que gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> nós, moradores das cida<strong>de</strong>s, não tem as habilida<strong>de</strong>s<br />

que esse contato exige, o que, mais uma vez, conduz à necessida<strong>de</strong> da existência <strong>de</strong><br />

“áreas especiais” on<strong>de</strong> a natureza, além <strong>de</strong> estar “a salvo” da <strong>de</strong>struição do homem,<br />

é preparada para oferecer o menor risco ao “homem urbano” que busca esse<br />

conhecimento. Em um sistema futuro, à medida que essa consciência <strong>de</strong> preservação<br />

crescesse, tais áreas po<strong>de</strong>riam ir sendo “libertas” e, assim livres, po<strong>de</strong>riam começar<br />

a compor uma nova configuração do espaço, em equilíbrio real com a humanida<strong>de</strong><br />

(DIEGUES, 2003 apud CHINAGLIA, 2007).<br />

Assim, no ecoturismo em unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação, nessas “áreas especiais”, a<br />

participação da socieda<strong>de</strong> se torna fundamental, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a criação até a sua gestão. Os últimos<br />

processos <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s buscaram respaldo na socieda<strong>de</strong> por meio <strong>de</strong> consultas<br />

públicas. A consolidação territorial procura amenizar os impactos negativos sobre as


populações que tradicionalmente resi<strong>de</strong>m nessas áreas, com a construção <strong>de</strong> termos <strong>de</strong><br />

compromisso, que viabilizem o cumprimento dos objetivos da unida<strong>de</strong> e a sobrevivência<br />

<strong>de</strong>sses grupos (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2003).<br />

Dessa forma, para que a ativida<strong>de</strong> em questão realmente seja efetiva, as comunida<strong>de</strong>s<br />

locais <strong>de</strong>vem participar, preferencialmente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da concepção <strong>de</strong> planejamento do<br />

ecoturismo no seu entorno natural, e que se localiza nos recursos que interessam ao<br />

ecoturismo. Com seu envolvimento efetivo, ela se beneficia do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa<br />

ativida<strong>de</strong> (PIRES, 2002).<br />

1.3 Inclusão Social<br />

Na sua prática, tem se evi<strong>de</strong>nciado o grau <strong>de</strong> distorção do conceito <strong>de</strong> ecoturismo,<br />

mas não há como pensá-lo sem que envolva três pontos básicos: planejamento sustentável,<br />

educação ambiental e inclusão social (RASTEIRO, 2002 Apud NEIMAN, 2008). As<br />

divergências filosóficas, i<strong>de</strong>ológicas e conceituais sobre o ecoturismo, talvez representem o<br />

tópico central a ser educacionado e trabalhado metodologicamente, como ponto <strong>de</strong> partida<br />

para o <strong>de</strong>senho estratégico <strong>de</strong> programas efetivos <strong>de</strong> Educação Ambiental (NEIMAN, 2008).<br />

Quando pensamos em educação no processo <strong>de</strong> gestão ambiental, estamos <strong>de</strong>sejando<br />

o controle social na elaboração e execução <strong>de</strong> políticas públicas, por meio da<br />

participação permanente dos cidadãos, principalmente <strong>de</strong> forma coletiva, na gestão<br />

<strong>de</strong> uso dos recursos ambientais e nas <strong>de</strong>cisões que afetam a qualida<strong>de</strong> do meio<br />

ambiente (IBAMA, 2002, p.9).<br />

Essa veia é a da inclusão da perspectiva das socieda<strong>de</strong>s tradicionais no nosso<br />

conceito <strong>de</strong> conservação e o investimento no reconhecimento <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, na<br />

valorização <strong>de</strong> seu saber, na melhoria <strong>de</strong> suas condições <strong>de</strong> vida, na garantia <strong>de</strong> sua<br />

participação, na construção <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> conservação, da qual sejam também<br />

beneficiados (ARRUDA, 1997). Segundo o mesmo autor, socieda<strong>de</strong>s tradicionais são grupos<br />

culturalmente diferenciados, que historicamente reproduzem seu modo <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> forma mais<br />

ou menos isolada, com modos <strong>de</strong> cooperação social e formas específicas <strong>de</strong> relação com a<br />

natureza, caracterizados tradicionalmente pelo manejo sustentado do meio ambiente. Assim,<br />

para ele, a política ambiental vigente, ao ignorar o potencial conservacionista dos segmentos<br />

culturalmente diferenciados, que historicamente preservaram a qualida<strong>de</strong> das áreas que<br />

ocupam, tem <strong>de</strong>sprezado possivelmente uma das únicas vias a<strong>de</strong>quadas para alcançar os<br />

objetivos a que se propõe.


Cabe ao po<strong>de</strong>r público estabelecer políticas que visem à preservação dos recursos e<br />

dos valores paisagísticos, <strong>de</strong>vendo-se atentar ao fato <strong>de</strong> que o meio ambiente é um bem<br />

público, e <strong>de</strong> que a sua conservação <strong>de</strong>ve estar equilibrada com o uso comum pelo povo,<br />

possibilitando a todos o contato com a natureza (FONTELES, 2004).<br />

Sabe-se, no entanto, que este tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento privilegia o componente<br />

econômico em <strong>de</strong>trimento do sócio-político-cultural. Empresários <strong>de</strong> turismo, ao se<br />

instalarem em áreas potenciais para essa ativida<strong>de</strong>, normalmente não levam em<br />

conta o impacto do seu projeto no meio ambiente e, sobretudo, nas populações<br />

nativas. Assim, os moradores, em vez <strong>de</strong> parceiros em um projeto que os inclua<br />

como sujeitos do <strong>de</strong>senvolvimento, passam a ser mão-<strong>de</strong>-obra <strong>de</strong>squalificada, mal<br />

paga, contribuindo inclusive para a não-sustentabilida<strong>de</strong>. (FONTELES, 2004, p 58)<br />

Uma política que respeite o ser humano e o meio ambiente <strong>de</strong>ve buscar objetivos<br />

supremos tais como assegurar a satisfação das necessida<strong>de</strong>s turísticas dos indivíduos <strong>de</strong> todas<br />

as camadas sociais, levando em consi<strong>de</strong>ração os interesses das populações locais.<br />

(KRIPPENDORF, 2004).<br />

As características <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s fazem com que o turismo seja um segmento<br />

estratégico da economia, por <strong>de</strong>sempenhar um papel significativo na geração e distribuição <strong>de</strong><br />

emprego e renda, propiciando assim maior inclusão social, fator primordial para qualquer país<br />

em <strong>de</strong>senvolvimento (ROCKTAESCHEL, 2006).<br />

Afinal, quem melhor do que a própria população local para <strong>de</strong>codificar as relações<br />

socieda<strong>de</strong>/natureza? Tal leitura se realiza a partir <strong>de</strong> sua concepção particular <strong>de</strong><br />

mundo, <strong>de</strong> sua cultura, constituindo um ethos societário e econômico que garante a<br />

sua subsistência. Excluí-las dos projetos turísticos não é, certamente, o melhor<br />

caminho para a sustentabilida<strong>de</strong>. Ao contrário, enten<strong>de</strong>-se que a parceria entre po<strong>de</strong>r<br />

público, iniciativa privada e população local, a partir <strong>de</strong> um planejamento<br />

estratégico, viabiliza qualquer empreendimento que, sintonizado com o imaginário<br />

turístico, se instalasse em uma área receptora (FONTELES, 2004, p.59).<br />

A certificação turística, sob a ótica da responsabilida<strong>de</strong>, ou seja, com sua filosofia <strong>de</strong><br />

inclusão e responsabilida<strong>de</strong> sócio-cultural, consciência ambiental e viabilida<strong>de</strong> econômica <strong>de</strong><br />

seus empreendimentos turísticos, sejam eles públicos ou privados, cre<strong>de</strong>ncia-se como uma das<br />

formas que po<strong>de</strong>m vir a contribuir para a manutenção <strong>de</strong> importantes unida<strong>de</strong>s que se<br />

encontram ameaçadas por diversos motivos. A inclusão das comunida<strong>de</strong>s locais nos processos<br />

<strong>de</strong> planejamento da UC nos mais diferentes locais, espaços e infra-estruturas é elemento<br />

indispensável para que estas comunida<strong>de</strong>s alcancem o êxito esperado, gerando além <strong>de</strong><br />

benefícios econômicos aos moradores, a tão sonhada qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Não se po<strong>de</strong><br />

esquecer, entretanto, que a cultura local também tem uma gran<strong>de</strong> importância neste contexto,<br />

isto quando a mesma não se constitui no maior atributo turístico da região sendo, portanto,<br />

vital que a suas características sejam conservadas (OLIVEIRA, 2005).


1.4 Valorização Cultural<br />

Ao se tratar <strong>de</strong> patrimônio cultural <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada socieda<strong>de</strong>, muitas reflexões<br />

<strong>de</strong>vem ser observadas e ao mesmo tempo entendidas. Até a meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste século, essa<br />

<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> patrimônio cultural foi sinônimo <strong>de</strong> obras monumentais, obras <strong>de</strong> arte<br />

consagradas, proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> luxo, associadas às classes dominantes, pertencentes à<br />

socieda<strong>de</strong> política ou civil. O patrimônio cultural é muito mais amplo, incluindo não apenas<br />

bens tangíveis, como também os intangíveis, não se limitando às manifestações artísticas, mas<br />

em todo o fazer humano, englobando um conjunto <strong>de</strong> todos os utensílios, hábitos, usos e<br />

costumes, crenças e forma <strong>de</strong> vida cotidiana <strong>de</strong> todos os segmentos que compuseram ou<br />

compõem a socieda<strong>de</strong> (BARRETTO, 2000).<br />

Os seres humanos não produzem apenas obras <strong>de</strong> arte, produzem ciência, sabedoria,<br />

máquinas, remédios, história, vestuário, receitas <strong>de</strong> cozinha, formas <strong>de</strong> relacionar-se<br />

com os vizinhos, enfim, hábitos, usos e costumes, entre os quais, lamentavelmente,<br />

também estão formas <strong>de</strong> violência e <strong>de</strong>struição (BARRETO, 2000, p.10).<br />

O homem, diante do seu comportamento no ambiente, não po<strong>de</strong>ria ser consi<strong>de</strong>rado<br />

uma criatura racional. Muitos pensadores e pesquisadores não consi<strong>de</strong>ram essa afirmação<br />

cientificamente, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo posição “contrária”. As atitu<strong>de</strong>s e reações da socieda<strong>de</strong> diante do<br />

ambiente natural variam conforme o tempo, conforme a região em que se localiza e,<br />

principalmente, conforme a cultura. Duas (ou mais) áreas geográficas po<strong>de</strong>rão apresentar<br />

características ambientais muito parecidas, mas as formas <strong>de</strong> uso <strong>de</strong>sses ambientes serão<br />

influenciadas pelas características culturais <strong>de</strong> quem ocupa aquele espaço (FERRETTI, 2002).<br />

Reconhecer as condições históricas e experiências específicas <strong>de</strong> cada cultura<br />

favorece a percepção <strong>de</strong> que as populações tradicionais não po<strong>de</strong>m ser conceituadas como<br />

grupos homogêneos. Além disso, reconhecê-las como grupos que vivem situações idílicas em<br />

total harmonia, quer seja com a natureza, quer seja com outros homens, também significa<br />

construir uma visão estereotipada <strong>de</strong>sse grupo (SARAIVA, 2006). Brandão (1996, apud<br />

SARAIVA, 2006) observa que “parte substantiva <strong>de</strong> tramas e teias que fazem o jogo da vida<br />

cotidiana <strong>de</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> humana é tecida com os fios do po<strong>de</strong>r. De controle<br />

<strong>de</strong> uns sobre os outros, <strong>de</strong> conflitos e <strong>de</strong> atos <strong>de</strong> força”.<br />

Para Geertz (1989) o homem é um animal amarrado a teias <strong>de</strong> significados que ele<br />

mesmo teceu, e sua cultura são essas teias, repletas <strong>de</strong> construções simbólicas, que se<br />

caracterizam por meio <strong>de</strong> práticas, saberes e fazeres que revelam i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. Brandão (1996,<br />

apud Saraiva, 2006) também enfatiza que toda a cultura, é, portanto, a cultura <strong>de</strong> um contexto


<strong>de</strong> relações sociais e simbólicas. É nesse contexto que produzimos narrativas sobre nós<br />

mesmos na relação que estabelecemos com o mundo, com o meio em que vivemos. Assim, a<br />

cultura é entendida como registro das experiências <strong>de</strong> homens e mulheres em um contexto<br />

cultural em interação.<br />

No papel da ativida<strong>de</strong> turística na preservação e resgate da cultura, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar<br />

os seguintes pontos: valorização da cultura local; busca pelas raízes; valorização do modo <strong>de</strong><br />

vida e dos costumes; valorização da arquitetura; valorização e resgate <strong>de</strong> histórias contos,<br />

lendas, etc; valorização do artesanato; valorização da culinária local, etc. Verifica-se que esta<br />

importância na recuperação da memória coletiva, está ligada também a uma permanência do<br />

homem em seu local <strong>de</strong> origem (BOVO, 2005).<br />

Nada, nem ninguém, permanecem absolutamente idênticos a si mesmos para sempre.<br />

Nesse sentido, há que se concordar que tentar manter <strong>de</strong>terminadas características<br />

socioculturais é tentar impedir o processo normal pelo qual pessoas e socieda<strong>de</strong>s evoluem.<br />

Mas o turismo com base no legado cultural permite que se tenha, em um lugar específico, um<br />

<strong>de</strong>terminado período do tempo que <strong>de</strong>u origem a essa comunida<strong>de</strong>. Permite que a<br />

comunida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> alguma forma, engaje-se no processo <strong>de</strong> recuperação da memória coletiva, até<br />

mesmo, que muitos membros <strong>de</strong>ssa comunida<strong>de</strong> adquiram, pela primeira vez, consciência do<br />

papel que sua cida<strong>de</strong> representou em <strong>de</strong>terminado cenário e em <strong>de</strong>terminada época<br />

(BARRETO, 2000).<br />

O fenômeno turístico <strong>de</strong>sperta interesse por vários motivos: causa forte impacto nos<br />

indivíduos e grupos familiares que se <strong>de</strong>slocam, provoca mudanças no<br />

comportamento das pessoas e agrega conhecimento aqueles que o praticam, permite<br />

comparação entre diversas culturas, contribui para o fortalecimento da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

grupal, é um meio da difusão <strong>de</strong> novas práticas sociais e aumenta as perspectivas <strong>de</strong><br />

obtenção da paz pela compreensão e aceitação das diferenças culturais. Contribui,<br />

ainda, para a formação e a educação daqueles que o praticam (DIAS, 2003, p.56).<br />

É importante ressaltar que geralmente confun<strong>de</strong>m-se a absorção <strong>de</strong> certas<br />

tecnologias com a “<strong>de</strong>scaracterização cultural”. O fato <strong>de</strong>, por exemplo, certa população ter<br />

acesso à televisão não quer dizer, obrigatoriamente, que per<strong>de</strong>u suas referências culturais.<br />

Muitas vezes po<strong>de</strong>m ocorrer <strong>de</strong> estarem fazendo uma ‘leitura’ do que vêem na tela, segundo<br />

seus padrões culturais mais tradicionais, e continuarem pensando, crendo e agindo da mesma<br />

forma que seus ancestrais. Assim, uma população po<strong>de</strong> participar da economia do turismo,<br />

estar em contato com os visitantes e até melhorar sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, sem dissolver-se<br />

como cultura. Mas isso só será possível se essa população participar ativa e não passivamente<br />

do processo. Ela precisa estar consciente e <strong>de</strong>sejosa <strong>de</strong>ssa transformação, e participar com<br />

igualda<strong>de</strong> em relação aos novos participantes, aos que vêm <strong>de</strong> fora. (MENDONÇA, 2001).


2 CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO<br />

2.1 Vila <strong>de</strong> São Jorge – Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros – GO<br />

A região em que se encontra a Vila <strong>de</strong> São Jorge, na Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros – GO,<br />

como em quase todo o território brasileiro, foi ocupado inicialmente pelos primeiros<br />

brasileiros nativos, os índios, massacrados no <strong>de</strong>correr dos anos pela chegada <strong>de</strong> fazen<strong>de</strong>iros e<br />

criadores <strong>de</strong> gado.<br />

Os índios habitavam as partes baixas da chapada, subindo as serras eventualmente...<br />

No início eram os cayapó, xavante, goyá (massacrados pelos colonizadores <strong>de</strong>pois<br />

da <strong>de</strong>scoberta do ouro por eles mesmos)... <strong>de</strong>pois vieram os apinajé, crixás, xerente,<br />

bororo, acroá e timbira, dominados finalmente pelos avá-canoeiro... A maioria foi<br />

mais para o interior, só ficando os canoeiros por cerca <strong>de</strong> 200 anos até serem<br />

massacrados em 1962 na Mata do Café (Campiuçu) pelos recém chegados<br />

fazen<strong>de</strong>iros e criadores <strong>de</strong> gado. Hoje restam apenas uma <strong>de</strong>zena, sobreviventes <strong>de</strong> 4<br />

décadas se escon<strong>de</strong>ndo em grutas ou vagando pelas montanhas na Chapada dos<br />

Vea<strong>de</strong>iros (MARTINS, 2011, p.13).<br />

A procura do ouro e <strong>de</strong> índios para a escravização em Goiás, pelos ban<strong>de</strong>irantes<br />

paulistas em 1725, trouxe os primeiros aglomerados urbanos ou arraias ao local, mas foi<br />

somente no século XX que houve a chegada <strong>de</strong> um maior contingente <strong>de</strong> pessoas vindas para<br />

o garimpo <strong>de</strong> ouro, <strong>de</strong> ametista, <strong>de</strong> cristais e <strong>de</strong> manganês. Os primeiros registros do Distrito<br />

<strong>de</strong> São Jorge datam <strong>de</strong> 1912, passando pelo ciclo iniciado com a busca e a <strong>de</strong>scoberta do<br />

minério, <strong>de</strong>pois do auge da produção, seguindo do <strong>de</strong>clínio. (PAES, 1995 apud<br />

ROCKTAESCHEL, 2003).<br />

José Raimundo <strong>de</strong> Oliveira (2003), por meio do livro “A História do Garimpo <strong>de</strong><br />

Cristal da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros”, elucida essa ocupação contando a história <strong>de</strong> garimpeiros<br />

que assim como ele saíram <strong>de</strong> diversos lugares do país, em busca do cristal. Muitos <strong>de</strong>sses<br />

migrantes que povoaram a região dos garimpos da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros vieram da Bahia.<br />

Essa é a origem daqueles que lá permaneceram e criaram os filhos, os primeiros nativos. Eles<br />

saíram <strong>de</strong> Barreiras, Angical, Seabra, Rio Branco, Macaúbas, Santa Maria da Vitória, entre<br />

outras cida<strong>de</strong>s do sertão, revelaram assim, aquilo que melhor caracteriza o garimpeiro, uma<br />

incansável disposição <strong>de</strong> ir em busca <strong>de</strong> um futuro incerto, mesmo que para isso tivessem que<br />

abandonar tudo (SILVEIRA, 1997). Na figura 5 verifica-se esta ocupação, em 1912. O<br />

mesmo autor, explica a respeito da importância <strong>de</strong>ssa história narrada por Seu Zé Raimundo:<br />

Em qualquer socieda<strong>de</strong> em que a oralida<strong>de</strong> é o único meio privilegiado <strong>de</strong><br />

transmissão <strong>de</strong> conhecimentos são os mais velhos que trazem na memória a sua<br />

história. Na Vila não é diferente, basta procurar um <strong>de</strong>les, sentar num banquinho ou<br />

no chão <strong>de</strong> terra batida, aceitar um café e ouvir. Todos indicam, no começo, uma<br />

data: 1912 (SILVEIRA, 1997, p. 9).


Figura 5: Áreas <strong>de</strong> Garimpo na Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros em 1912<br />

Fonte: IBGE e DER-GO/MG apud MARTINS, 1997 apud SILVA, 2001<br />

apud OLIVEIRA, 2003 apud SARAIVA, 2006.<br />

O povoamento da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros pela extração do quartzo se <strong>de</strong>u<br />

notadamente no povoado <strong>de</strong> São Jorge, antigamente Baixa dos Vea<strong>de</strong>iros, sendo que a vila<br />

teve origem com a <strong>de</strong>scoberta do Garimpão, uma das primeiras jazidas <strong>de</strong> cristal da região.<br />

(BEHR. 2000).<br />

Saíram, em busca do cristal, Manuel Caboclo, morador <strong>de</strong> Volta da Serra, e Julio<br />

Moreira, levando <strong>de</strong>spesa 1 e ferramenta a lombo <strong>de</strong> burro. Foi estes e outros mais<br />

que fizeram as primeiras pesquisas à direita do Rio Preto e <strong>de</strong>ram o nome <strong>de</strong><br />

Garimpinho, isto em 1911... Como certo, <strong>de</strong>pois do primeiro Salto do Rio Preto,<br />

numa planada muito bem configurada, acharam cristal. Ali fizeram a primeira<br />

exploração, muitas <strong>de</strong>scobertas, jazidas riquíssimas, muito cristal. Jazidas<br />

<strong>de</strong>scobertas em lugares que não tinham nome ainda. Decorrida um ano, eles <strong>de</strong>ram<br />

um salto á esquerda do Rio Preto acima do Salto das cachoeiras, na serra à frente. E<br />

fizeram a primeira exploração, já no ano <strong>de</strong> 1912. Apesar <strong>de</strong> já ter exploração dos<br />

antigos, ninguém sabe informar quem foi e em que ano. Nome do lugar: Garimpão.<br />

(OLIVEIRA, 2003, p. 20).<br />

Compradores <strong>de</strong> pedras, exportadores e faisqueiros vinham <strong>de</strong> vários outros locais<br />

(São João D´Aliança, Posse, Formosa, Guarani, etc.), <strong>de</strong> forma que o Garimpão chegou a<br />

sustentar entre cinco e <strong>de</strong>z mil pessoas. Em geral, os garimpeiros não se estabeleciam no<br />

1 Despesa é essencialmente comida. Por questões <strong>de</strong> conservação os alimentos mais comuns eram: feijão, carne<br />

<strong>de</strong> sol, café, farinha <strong>de</strong> mandioca, rapadura e café e, às vezes, arroz, milho e cachaça.


local, vinham somente bamburrar 2 e quando recursavam 3 retornavam às suas origens. As<br />

explorações e <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> jazidas continuaram sendo estabelecidas como corrutelas 4 , em<br />

função <strong>de</strong> garimpos como o da Santana, Buritirama, Raizama e Pequizeiro, por volta <strong>de</strong> 1935.<br />

No início da década <strong>de</strong> 1940, estabeleceram-se os garimpos do Silêncio, Segredo, Boa Sorte e<br />

da Estiva, este último com quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cristal que saiam puxados por carros <strong>de</strong> bois<br />

(Figura 6). Fian<strong>de</strong>iras, também constituiu um gran<strong>de</strong> acampamento <strong>de</strong> garimpeiros, a partir <strong>de</strong><br />

1944, com a existência <strong>de</strong> comércios, botecos e a vinda <strong>de</strong> médicos e mulheres. (PLANO DE<br />

MANEJO PNCV – R.E., 2009).<br />

Figura 6: Principais Garimpos <strong>de</strong> Cristal nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se situa, hoje, a Vila <strong>de</strong><br />

São Jorge.<br />

Fonte: PLANO DE MANEJO PNCV apud OLIVEIRA, 2005.<br />

Nessa época começam a surgir, junto com as explorações, os primeiros<br />

acampamentos, juntamente com elas, o comércio e o movimento gerado pelo sucesso na<br />

extração do cristal. Com esse movimento inicial, a Vila foi se estabelecendo no local chamado<br />

<strong>de</strong> Garimpão (Figura 7), próximo aos Saltos do Rio Preto (cachoeiras do Garimpão). Com o<br />

bamburriar dos garimpeiros, a comemoração torna-se comum na corrutela; muito movimento,<br />

altas no comércio, muita mercadoria a lombo <strong>de</strong> burro, armazém, lojas e butequinhos. O<br />

Garimpão, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> anos chegou ao conhecimento do povo, que se achava nesse garimpo a<br />

gran<strong>de</strong>za dos cristais, o que <strong>de</strong>u muita influência (movimento alto) aos garimpeiros.<br />

”Mulherada, festa. Dia <strong>de</strong> sábado o cabaré lotava. Garimpeiro cheio <strong>de</strong> dinheiro eram muitos.<br />

2<br />

Bamburrar: significa achar uma quantia ou qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mineral que vale muito dinheiro; ou tirou sorte gran<strong>de</strong>,<br />

ficou rico.<br />

3<br />

Recursar: ficar rico, cheio <strong>de</strong> dinheiro, é <strong>de</strong>rivado <strong>de</strong> recurso. Como verbo não consta em dicionário.<br />

4 Corrutela: o mesmo que povoado, cida<strong>de</strong>zinha, patrimônio.


Garimpeiros e mulheres da vida fazem boas festas. A farra é tinindo, muito divertimento,<br />

muita alegria, brigas, pancadaria, tiro <strong>de</strong> revolver” (OLIVEIRA, 2003).<br />

Figura 7: Cachoeiras do Garimpão (Saltos 80m e 120m).<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.


Segundo seu Zé Raimundo, a escavação para extrair a pedra nessa região do<br />

Garimpão era consi<strong>de</strong>rada serviço baixo 5 , conforme dizer “na raiz do capim”, sendo que o<br />

cristal era vendido por arroba, dando pouco dinheiro, mas as novas <strong>de</strong>scobertas formavam<br />

esses pequenos povoados em suas redon<strong>de</strong>zas (Figura 8).<br />

Figura 8: Exemplo <strong>de</strong> Cristal <strong>de</strong> Quartzo encontrado na “Raiz do Capim”<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.<br />

Dessa época, até o início dos anos 1930, o cristal tinha finalida<strong>de</strong>s mais estéticas e <strong>de</strong><br />

uso para a fabricação <strong>de</strong> objetos diversos. Depois a gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>manda foi científica, para fazer<br />

rádios e radares. Por isso, foi muito procurado na 2° guerra mundial, auge do ciclo <strong>de</strong> cristal<br />

no Brasil. (A História do Garimpo <strong>de</strong> Cristal da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros, 2003). A <strong>de</strong>speito do<br />

cristal ocorrer quase exclusivamente no Brasil, seu preço sempre foi <strong>de</strong>terminado pelas<br />

circunstâncias do mercado internacional (SILVEIRA, 1997).<br />

Assim, Silveira (1997) conta que em 1941, chega à região do Garimpão, Rodolfo<br />

Venceslau <strong>de</strong> Almeida, baiano <strong>de</strong> Macaúbas:<br />

5 Serviço baixo ou serviço na raiz do capim refere-se ao cristal que está praticamente na superfície. Em<br />

contrapondo, serviço alto é aquele cujo cristal está no fundo da terra e é preciso escavar e furar cisterna para<br />

encontrá-lo.


Isto aqui era um invento danado. Era Baixa, Garimpão, Varginha, Pedrão, Santana,<br />

Estiva. Aquilo era gente com o diabo. Mas quando foi, <strong>de</strong>ixa eu vê... <strong>de</strong>zenove, não,<br />

nove <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1945 que terminou a guerra, o cristal fracassou, acabou, não ficou<br />

valendo nada. Aí agora o povo foi espiticando, espiticando... ficou algum, trabalhava<br />

aqui na frente do São Miguel (rio), que trabalhava aí num pedacinho <strong>de</strong> roça e<br />

sempre no garimpo (ALMEIDA, 1997, p. 10).<br />

O mesmo autor enfatiza que a informação <strong>de</strong> Sr. Rodolfo é precisa, já que segundo o<br />

Perfil Analítico do Quartzo, o período da Guerra mobilizou cerca <strong>de</strong> 50.000 garimpeiros em<br />

todo o país, sendo que com seu fim as exportações brasileiras caem ao menor nível <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1936 (SILVEIRA, 1997).<br />

De 1940 a 1960, o movimento continuou pela procura científica, mas oscilou, por<br />

questões internacionais (guerra da coréia 1950). (A História do Garimpo <strong>de</strong> Cristal da<br />

Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros, 2003). O ciclo do cristal durou até 1960 (auge em 1941). Somente<br />

após o período que vai da Segunda Gran<strong>de</strong> Guerra (1939-1945) até o final da Guerra da<br />

Coréia (início da década <strong>de</strong> 1950), é que o garimpo volta a tomar fôlego. Novas casas e<br />

ranchos vão surgindo com o assentamento <strong>de</strong> mais migrantes, oriundos da Bahia e Minas<br />

Gerais (BEHR, 2000).<br />

Com essas oscilações, constantes no valor do cristal <strong>de</strong> quartzo, muitas corrutelas<br />

eram temporárias, e quando o esgotamento da jazida ocorria, esses lugares <strong>de</strong>sapareciam.<br />

Dessa forma, a roça era uma forma <strong>de</strong> se criar vínculos ao lugar. Gerada a partir do garimpo,<br />

funcionava como uma ativida<strong>de</strong> paralela e complementar: plantava-se arroz, mandioca, milho,<br />

banana, feijão, cana, entre outros alimentos básicos, que eram somados ao consumo da carne<br />

<strong>de</strong> gado ou <strong>de</strong> porco e a caça <strong>de</strong> animais silvestres (SARAIVA, 2006). A mesma autora nos<br />

explica ainda que:<br />

O vínculo com a terra, traço típico <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>s rurais, é tão presente na história <strong>de</strong><br />

vida daqueles moradores que, até mesmo pessoas que se <strong>de</strong>slocaram para a região,<br />

apenas em função do garimpo, também acabaram por manter roças e criar animais...<br />

O garimpo <strong>de</strong> cristal foi uma ativida<strong>de</strong> que evi<strong>de</strong>nciou na região articulação com os<br />

interesses capitalistas... As condições materiais na região eram tão precárias que,<br />

nos momentos em que o garimpo estava em “baixa” e a estação do ano favorecia,<br />

muitas famílias se <strong>de</strong>dicavam a coleta <strong>de</strong> flores do cerrado, também como fonte <strong>de</strong><br />

subsistência (SARAIVA, 2006, p.133)<br />

Entre a queda do preço do cristal e um incêndio que houve no vilarejo do Garimpão,<br />

por volta <strong>de</strong> 1950, ocorreu a mudança do local da Vila, que passou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então a se situar em<br />

uma planada cercada pelas serras, chamada <strong>de</strong> Baixa. A Baixa da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros, não<br />

teve fundador ou alias, não teve um fundador, foram os garimpeiros, em mudança do<br />

Garimpão, que foi o maior e mais rico patrimônio da região, <strong>de</strong> 1912 até 1950. De 1950 a<br />

1951, Matias Brasil, <strong>de</strong>pois do incêndio em seu armazém, fez mudança do Garimpão para a


planada da Baixa, trazendo seu estoque <strong>de</strong> mercadorias. Fez logo barracão e estabeleceu seu<br />

comércio (OLIVEIRA, 2003).<br />

Segundo Silveira (1997), a partir daí, a vila vai se <strong>de</strong>senhando como ela é (Figura 9).<br />

Surgem as primeiras casas <strong>de</strong> adobe, o nome e o culto a São Jorge.<br />

A produção local inclui o tijolo <strong>de</strong> adobe, que é o material básico da construção civil<br />

na região. Produzido a partir <strong>de</strong> matérias que compõem o próprio solo local, o barro<br />

e a pedra, portanto abundantes na natureza, apresenta um resultado arquitetônico<br />

satisfatório, tanto no aspecto <strong>de</strong> resistência física quanto no estético. Empregam<br />

apenas quatro instrumentos: o enxadão para cavoucar o barro, a enxada para<br />

amassar o barro molhado e a pá para encher a forma que molda o tijolo, o qual seca<br />

ao sol. A casa <strong>de</strong> adobe é coberta com a palha (folha seca) do buriti (Mauritia<br />

vinífera), este componente <strong>de</strong> um dos mais belos cenários vegetais do cerrado, a<br />

vereda: on<strong>de</strong> a água aflora, no <strong>de</strong>scampado, o buritizal circunda o pequeno regato.<br />

Nas duas estações climáticas características do cerrado, o teto <strong>de</strong> palha é funcional.<br />

"Nas águas" é completamente impermeável e na estação seca assegura uma<br />

temperatura agradável, ao contrário das telhas <strong>de</strong> cimento ou zinco. Por tudo isso, o<br />

adobe é uma solução cultural para a questão básica da habitação, completamente<br />

adaptada à natureza, po<strong>de</strong>-se dizer que é uma resposta ecológica a<strong>de</strong>quada ao meio<br />

(SILVEIRA, 1997, p.18).<br />

Adobe: um punhado <strong>de</strong> barro, água, algumas mãos, alguns pés e uma dança. Tá feito<br />

o tijolo <strong>de</strong> adobe. O sol que dá a benção (BEHR, 2000).<br />

Com a influência da garimpagem em alta, a Baixa passa a ser consi<strong>de</strong>rada a se<strong>de</strong> da<br />

ativida<strong>de</strong> dai por diante. Os garimpeiros que se tornavam mais abastados chegavam a comprar<br />

aviões para o transporte das rochas, usando a praça da igrejinha do atual povoado <strong>de</strong> São<br />

Jorge como pista <strong>de</strong> pouso. Quando a notícia do garimpo chegou a São Paulo, foram trazidos<br />

tratores e gran<strong>de</strong>s grupos <strong>de</strong> homens para as jazidas (PLANO DE MANEJO PNCV – R.E.,<br />

2009).<br />

Segundo Seu Zé Raimundo, a notícia se espalhou por diversas regiões brasileiras,<br />

fato este que veio a influenciar na escolha do atual nome da Vila.<br />

A notícia do garimpo chegou até São Paulo e vieram muitas pessoas. O doutor<br />

Borges veio garimpar trazendo tratores para mecanizar jazidas e um grupo <strong>de</strong><br />

homens para garimpar, isto já <strong>de</strong> 1952 para 1953. Ele foi a São Paulo e lá lembrou<br />

dos garimpeiros, trocou ou tirou uma foto da imagem <strong>de</strong> São Jorge para oferecer aos<br />

garimpeiros. Aqui entregou em 1954 (OLIVEIRA, 2003, p. 35).<br />

A Baixa dos Vea<strong>de</strong>iros só passou a ser conhecida por Vila <strong>de</strong> São Jorge, no ano <strong>de</strong><br />

1954, por iniciativa dos próprios garimpeiros, especialmente Severino da Silva Pires, que<br />

construiu a Igreja para São Jorge e batizou a pequena localida<strong>de</strong> em homenagem ao santo<br />

(SARAIVA, 2006). Escolhido protetor dos garimpeiros da Chapada, São Jorge, o santo<br />

guerreiro, é no candomblé na Bahia o orixá da caça, Oxossi. Chama-se sincretismo, a relação<br />

que se <strong>de</strong>u entre elementos religiosos <strong>de</strong> tradição culturais diferentes. Oxossi é um Orixá, um<br />

ancestral lendário cultuado pelos Iorubá, africanos que vieram principalmente da Nigéria. São


Jorge é um santo, personagem mítico do catolicismo, veio da Europa com os Portugueses. São<br />

origens da religiosida<strong>de</strong> brasileira associadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a escravidão. (SILVEIRA, 1997)<br />

Figura 9: Foto Atual da Vila <strong>de</strong> São Jorge<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.<br />

José Raimundo <strong>de</strong> Oliveira (2003) esclarece que estava em Formosa <strong>de</strong> Goiás, em<br />

1961, trabalhando com a expectativa <strong>de</strong> retornar a casa, em Barreiras na Bahia. Nesse tempo,<br />

surgem novas notícias do garimpo na Chapada, fazendo com que ele tomasse a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> ir<br />

<strong>de</strong>finitivamente para a Vila, chegando por lá neste mesmo ano. A história narrada por Seu Zé,<br />

po<strong>de</strong>-se dizer que coinci<strong>de</strong> com a <strong>de</strong> tantos outros garimpeiros que saíram <strong>de</strong> suas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

origem e foram a pés ao local, movidos por notícias e especulações do mercado do cristal.<br />

Esta viagem com <strong>de</strong>stino a Goiás eu fiz em 1° <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1957, convi<strong>de</strong>i um<br />

garimpeiro amigo para viajar comigo para não viajar sozinho, porque era um sertão<br />

<strong>de</strong>serto e perigoso... Não tinha estrada, era trilha dos antigos garimpeiros que<br />

vinham dos garimpos da Batatateira fazer festa no Brejo da Brasa. Saindo do Brejo<br />

da Brasa é <strong>de</strong>serto sem fim e muito perigoso, <strong>de</strong> encontro com animais, um sertão <strong>de</strong><br />

criação <strong>de</strong> onça e outros semelhantes... Em julho <strong>de</strong> 1961, eu estava em Formosa <strong>de</strong><br />

Goiás trabalhando para voltar a Barreiras. Foi quando tive <strong>de</strong>scobertas do garimpo<br />

da Chapada, <strong>de</strong> novo. Carguei tudo, achando que na aventura eu voltaria à minha<br />

casa imediatamente. Aconteceu? Perdi, perdi tudo! Nem o garimpo e nem a roça,<br />

afinal... Por estes acontecimentos, eu resolvi continuar com minhas aventuras até o<br />

fim. E com a notícia do garimpo, acabei <strong>de</strong> chegar na Baixa da Chapada dos<br />

Vea<strong>de</strong>iros, em 9 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1961. (OLIVEIRA, 2003, p.18).


Figura 10: Moradia <strong>de</strong> Seu Zé Raimundo na época do Garimpo.<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.<br />

Figura 11: Moradia <strong>de</strong> Seu Zé Raimundo na época do Garimpo (2).<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.


As figuras 10 e 11 mostram a moradia <strong>de</strong> José Raimundo <strong>de</strong> Oliveira, na época do<br />

garimpo. Atualmente, ela ainda permanece preservada na localida<strong>de</strong>.<br />

No mesmo ano em que Seu Zé Raimundo chega à Vila <strong>de</strong> São Jorge, é criado o<br />

Parque Nacional do Tocantins (hoje Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros),<br />

inaugurando uma nova fase <strong>de</strong> ocupação local. A <strong>de</strong>limitação do Parque envolvia antigas<br />

fazendas, posses e áreas <strong>de</strong> garimpo, impedindo a realização <strong>de</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> exploração<br />

dos recursos naturais em seus limites, criando conflitos com garimpeiros, posseiros e<br />

fazen<strong>de</strong>iros (SARAIVA, 2006).<br />

O povo <strong>de</strong> São Jorge, alheio ao que não acontecia, viveu uma nova "corrida" ao<br />

cristal. O golpe militar, <strong>de</strong> 1964, trouxe segundo Freitas (1973 apud SILVEIRA, 1997), uma<br />

política <strong>de</strong> incentivos fiscais ao exportador e ampliação do mercado brasileiro no exterior.<br />

Vários "faisqueiros", compradores <strong>de</strong> cristal, aportaram na região. Além <strong>de</strong> algum capital<br />

possuíam um bem fundamental para o comércio do garimpo naquela época: o caminhão. Às<br />

vezes serviam-se até mesmo <strong>de</strong> aviões, que pousavam ou <strong>de</strong>colavam <strong>de</strong> uma rua do povoado.<br />

O acampamento ao lado <strong>de</strong> um riacho recebeu o nome <strong>de</strong> Rodoviária (SILVEIRA, 1997).<br />

Zé Raimundo, ainda nos conta que Severino Pires calçava a estrada, forrando com<br />

Canela <strong>de</strong> Ema para não atolar, afim <strong>de</strong> não acabar o povoado. Nessa mesma época o garimpo<br />

começa a dar sinais <strong>de</strong> sua queda, <strong>de</strong>saparecendo os compradores da pedra. Claro Machado e<br />

Elpídio compravam a lasca em troca <strong>de</strong> mercadoria, sustentando por algum tempo o<br />

movimento na Vila. Em 1969, 1970 a garimpagem continuava, apesar <strong>de</strong> bastante fraca, com<br />

renda ainda (OLIVEIRA, 2003). Segundo dados do antigo Instituto Brasileiro <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Florestal (IBDF), em 1969, a Vila possuía 63 casas <strong>de</strong>ntro dos limites do<br />

Parque Nacional, totalizando 268 pessoas.<br />

Países, como EUA, Japão, Europa intensificaram pesquisas para <strong>de</strong>senvolver o<br />

quartzo em laboratório. Em 1970, tem resultado, o cristal per<strong>de</strong> o valor e o Brasil fica sem<br />

mercado, <strong>de</strong>tentor <strong>de</strong> 95% das reservas mundiais. A venda da lasca foi até 1980, <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong>sapareceram compradores. No ano <strong>de</strong> 2000, os maiores produtores <strong>de</strong> quartzo cultivado era<br />

Japão, EUA e China. (A História do Garimpo <strong>de</strong> Cristal da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros, 2003).<br />

Na década <strong>de</strong> 70, o mercado <strong>de</strong> quartzo sofreu modificações que vão caracterizar o<br />

seu comportamento até os dias <strong>de</strong> hoje. O consumo mundial cai em função da substituição por<br />

peças eletrônicas; a lasca torna-se o principal produto brasileiro para alimentar a indústria do<br />

quartzo cultivado e os EUA começam a lançar no mercado seus estoques estratégicos <strong>de</strong><br />

cristal puro (adquiridos no Brasil), sendo que em 1989 exportaram 45t e o Brasil apenas uma<br />

tonelada. O trabalho árduo e mal remunerado dos garimpeiros faz hoje o lucro <strong>de</strong> países como


os Estados Unidos, o maior beneficiado com a exploração do quartzo e outros recursos<br />

minerais (SILVEIRA, 1997)<br />

Vestígios <strong>de</strong> antigos garimpos estão por toda a parte, próximo ao Povoado <strong>de</strong> São<br />

Jorge. Nos últimos 50 anos, milhares <strong>de</strong> garimpeiros vasculharam toda a área em busca do<br />

cristal. As escavações mais impressionantes estão no garimpão, on<strong>de</strong> se vê antigos canais <strong>de</strong><br />

água <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 2 km <strong>de</strong> extensão, com muretas <strong>de</strong> pedras <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 1 metro <strong>de</strong> altura.<br />

Assim, por volta da década <strong>de</strong> 1980 a região começa a ser vista com outros olhos, a gran<strong>de</strong><br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cristal <strong>de</strong> quartzo existente na Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros atraiu para a região, dois<br />

tipo <strong>de</strong> pessoas vindas dos mais diferentes pontos do país: o garimpeiro em busca da fortuna<br />

material e <strong>de</strong>pois os místicos, atrás do enriquecimento espiritual, contribuindo para a Chapada<br />

dos Vea<strong>de</strong>iros ser consi<strong>de</strong>rada um verda<strong>de</strong>iro centro magnético espiritual (BEHR, 2000)<br />

Seu Wilson, nativo <strong>de</strong> São Jorge, ex-garimpeiro, nascido em 1956, disse ter<br />

conduzido os primeiros turistas na Vila em 1977. Segundo ele, a situação melhorou bastante<br />

comparada as épocas do garimpo, “a vida melhorou bastante com a chegada dos turistas, pelo<br />

movimento na Vila e o dinheiro, por acabar conhecendo bastante gente boa”, tendo ainda a<br />

esperança herdada dos primeiros garimpeiros, <strong>de</strong> que as coisas irão melhorar ainda mais.<br />

Nessa mesma época, os conflitos se acirraram na região, especialmente no final da<br />

década <strong>de</strong> 80, quando teve início o processo <strong>de</strong> institucionalização do Parque como área <strong>de</strong><br />

conservação ambiental. A fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>sativação dos garimpos foi muito difícil para a<br />

comunida<strong>de</strong> da Vila <strong>de</strong> São Jorge. Os conflitos eram tantos que se cogitou, inclusive, a<br />

transferência da comunida<strong>de</strong> para outro local. Mas a pequena Vila <strong>de</strong> São Jorge resistiu. Hoje<br />

os moradores vivem na área <strong>de</strong> principal acesso ao Parque Nacional da Chapada dos<br />

Vea<strong>de</strong>iros. A Vila conta com uma população <strong>de</strong> aproximadamente 600 habitantes,<br />

distribuídos entre nativos e chegantes, moradores que optaram por viver no local, com o boom<br />

do turismo na Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros, no final da década <strong>de</strong> 80 (SARAIVA, 2006).<br />

Diogo, morador <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2009, atraído a morar na Vila pela tranqüilida<strong>de</strong>, acredita que<br />

o turismo ajudou, pois supriu a queda do garimpo: “só veio para ajudar”. Segundo ele, outros<br />

moradores mais antigos lhe contaram que antes se trocava 1 kg <strong>de</strong> cristal por 1 kg <strong>de</strong> arroz.<br />

Dessa forma, as riquezas passam a ser consi<strong>de</strong>radas as belezas naturais, sendo, aos<br />

poucos, substituído o garimpo pelo turismo. Entre outros fatores <strong>de</strong>terminantes para a<br />

ocupação do local, em meados da década <strong>de</strong> 1980 e 1990, po<strong>de</strong>-se citar o asfaltamento da<br />

rodovia estadual Brasília/Nor<strong>de</strong>ste Goiano GO 118 em 1985, a progressiva migração <strong>de</strong><br />

novos alternativos e místicos – esotéricos, o início da divulgação na mídia evocando as<br />

belezas cênicas e dos po<strong>de</strong>res existentes produzidos pelos cristais, a chegada <strong>de</strong> seguidores <strong>de</strong>


grupos esotéricos e místicos – espirituais, já existentes no início da década <strong>de</strong> 1990, que<br />

ocasionou fluxo <strong>de</strong> outros grupos, a crescente divulgação no meio urbano <strong>de</strong> temas<br />

ambientais, a reabertura do PNCV em 1991, entre outros (BEHR, 2000).<br />

A criação do Parque representou para a população do distrito <strong>de</strong> São Jorge uma<br />

mudança <strong>de</strong> comportamento. Hábitos culturais vindos <strong>de</strong> tempos <strong>de</strong> garimpo, quando eram<br />

livres para procurar cristais em toda a região, queimando a macega para a catação <strong>de</strong> flores e<br />

extraindo palhas <strong>de</strong> buritis e lenha, foram confrontados com a existência protecionista <strong>de</strong> um<br />

Parque Nacional (PAES, 1995 apud ROCKTAESCHEL, 2003).<br />

Atualmente, buscam-se soluções conciliadoras <strong>de</strong> parceria, on<strong>de</strong> ambos possam obter<br />

ganhos diretos. O turismo, atraído pelo Parque, tem sido o elemento <strong>de</strong> conciliação e<br />

transformação da relação entre a comunida<strong>de</strong> e a U.C., uma vez que a Vila se torna área <strong>de</strong><br />

apoio a visitantes. Assim, seus moradores, que antes se voltavam para ativida<strong>de</strong>s agrícolas <strong>de</strong><br />

subsistência ou extrativismo mineral <strong>de</strong> cristal e vegetal <strong>de</strong> flores, estão cada vez mais<br />

envolvidos e tem suas principais fontes <strong>de</strong> renda relacionadas com a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ecoturismo,<br />

como proprietários ou prestadores <strong>de</strong> serviços, como a <strong>de</strong> condutores <strong>de</strong> visitantes na área do<br />

parque e dos atrativos <strong>de</strong> entorno. Várias residências foram transformadas em pousadas,<br />

restaurantes, lanchonetes e vários terrenos transformados em áreas <strong>de</strong> acampamento.<br />

Atualmente, a Vila dispõe <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> hospedagem, alimentação, telefonia, posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

municipal, farmácia, posto policial, escola <strong>de</strong> 1° grau, e energia elétrica, que aten<strong>de</strong>m a uma<br />

clientela variada, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> estudantes e familiares e até pesquisadores (ROCKTAESCHEL,<br />

2003).<br />

No fim da década <strong>de</strong> 1980, é criada a ASJOR (Associação Comunitária da Vila <strong>de</strong><br />

São Jorge), fundada no dia 7 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1988. A partir <strong>de</strong> 1992, a associação amplia suas<br />

ativida<strong>de</strong>s em direção à conservação do meio ambiente, aceitando o ônus <strong>de</strong> promover a<br />

educação ambiental dos moradores e cuidar do lixo que antes <strong>de</strong>sta data era <strong>de</strong>positado <strong>de</strong>ntro<br />

do PNCV. Em troca, os moradores, em sua maioria garimpeiros <strong>de</strong> cristal, veriam a renda<br />

melhorar com a alternativa do Ecoturismo. Outra associação relevante no processo <strong>de</strong><br />

organização local, criada em 1991, foi a ACV-CV (Associação dos Condutores <strong>de</strong> Visitantes<br />

da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros). Inicialmente, composta por 43 membros, maioria garimpeiros<br />

que agiam <strong>de</strong>ntro do Parque Nacional, muito <strong>de</strong>les semi-analfabetizados, a Associação atua<br />

para garantir a conservação do Parque Nacional e dos atrativos da Chapada. Fruto <strong>de</strong> uma<br />

experiência viva <strong>de</strong> ecoturismo, a ACV-CV se propõe a colocar toda essa vivência no<br />

treinamento <strong>de</strong> novos condutores <strong>de</strong> visitantes, esten<strong>de</strong>ndo este inegável benefício a outras<br />

regiões e capacitando os novos grupos <strong>de</strong> guias a tomar para si a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>


<strong>de</strong>senvolver conhecimento e metodologias para o aperfeiçoamento constante <strong>de</strong> seus<br />

membros. (BERH, 2000). As Figuras 12, 13 e 14 mostram características atuais da Vila.<br />

Figura 12: Foto Atual da Vila <strong>de</strong> São Jorge<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.<br />

Figura 13: Foto Atual da Vila <strong>de</strong> São Jorge (2).<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.


Figura 14: Foto Atual da Vila <strong>de</strong> São Jorge (3).<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.<br />

2.2 Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros<br />

Em 11 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1961, vinte e dois dias antes <strong>de</strong> passar o cargo, o Presi<strong>de</strong>nte<br />

Juscelino Kubitschek assinou o <strong>de</strong>creto criando o Parque Nacional do Tocantins, com 625 mil<br />

hectares, abrangendo toda a região da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros, no nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Goiás. O ato foi<br />

resultado <strong>de</strong> uma década <strong>de</strong> lutas do então Senador <strong>de</strong> Goiás, Jerônimo Coimbra Bueno, para<br />

valorização da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros. (MARTINS, 2011)<br />

Não há nenhum documento oficial, que explicite as razões do ato presi<strong>de</strong>ncial. O<br />

próprio texto do <strong>de</strong>creto não <strong>de</strong>clara o interesse ecológico, que justificaria a preservação da<br />

região, como por exemplo, a proteção <strong>de</strong> alguns dos rios formadores do Tocantins. No<br />

entanto, resta uma única evidência, encontrada nos arquivos do IBAMA: uma sugestão da<br />

“Fundação Coimbra Bueno Pela Nova Capital do Brasil”, entida<strong>de</strong> engajada na construção <strong>de</strong><br />

Goiânia e Brasília. A construção <strong>de</strong> uma nova cida<strong>de</strong> é proposta à Organização das Nações<br />

Unidas (ONU) em função da polêmica sobre a transferência <strong>de</strong> sua se<strong>de</strong>. A Chapada dos<br />

Vea<strong>de</strong>iros é apontada como um dos lugares do Planalto Central Brasileiro on<strong>de</strong> "a nova se<strong>de</strong><br />

da Organização po<strong>de</strong>rá ficar em local protegido por um plano que oriente o <strong>de</strong>senvolvimento


da região". Juscelino Kubitscheck não <strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong> ficar seduzido pela idéia <strong>de</strong>ssa fundação,<br />

afeito como era a transformar sonhos em cida<strong>de</strong>s. Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> l960, 42 dias antes do<br />

<strong>de</strong>creto do Parque, ele recebe um ofício da Fundação Coimbra Bueno sugerindo a criação<br />

imediata do "Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros". Este mesmo documento revela que<br />

as Nações Unidas teriam acenado com uma resposta positiva. A frustração do projeto talvez<br />

explique o <strong>de</strong>scaso posterior com essa unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação (SILVEIRA, 1997).<br />

Na década <strong>de</strong> 60, o PNT (Parque Nacional do Tocantins) não chegou a causar<br />

mudanças concretas na região, no que diz respeito aos atributos naturais do local. Questões<br />

administrativas como a falta <strong>de</strong> pessoal técnico, recursos financeiros e conflitos políticos em<br />

torno da <strong>de</strong>sapropriação <strong>de</strong> terras foram apontados como os principais impedimentos para a<br />

efetivação do Parque. O PNT foi criado sem a aquisição prévia das terras, autorizando para<br />

esse procedimento o Ministério da Agricultura, por intermédio do Serviço Florestal, a entrar<br />

em entendimentos com o Governo Estadual do Estado <strong>de</strong> Goiás, <strong>de</strong>mais entida<strong>de</strong>s e pessoas,<br />

para receber doações ou promover <strong>de</strong>sapropriações das áreas necessárias para a instalação do<br />

Parque (SARAIVA, 2006).<br />

Segundo Silveira (1997), o Serviço Florestal do Ministério da Agricultura, órgão<br />

responsável, não promoveu qualquer trabalho <strong>de</strong> sensibilização com as populações inseridas e<br />

nem mesmo a <strong>de</strong>sapropriação das terras. Um levantamento do "Distrito <strong>de</strong> São Jorge<br />

(Garimpo)" realizado em junho <strong>de</strong> 69, pelo Departamento <strong>de</strong> Parques Nacionais e Reservas<br />

Equivalentes (DN) - IBDF, indica 63 casas na Vila, com 268 pessoas, entre elas estão muitos<br />

dos atuais moradores. Neste mesmo ano, um documento do administrador substituto do PNT,<br />

Epitácio Figueira Gervásio, afirma preconceitos (repetidos ainda hoje) e apresenta propostas<br />

que não passam pela educação ambiental ou qualquer tipo <strong>de</strong> convivência harmônica:<br />

Concluindo, voltaríamos a sugerir que a Vila São Jorge, distrito <strong>de</strong> Alto Paraíso,<br />

ficasse fora da área do PNT. Sua exclusão, livraria a administração do PNT e o<br />

próprio IBDF, <strong>de</strong> problemas futuros insolúveis, relativos a situação sócio-econômica<br />

dos seus habitantes. A região botânica que circunda São Jorge, nada representa: é<br />

inóspita e <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> qualquer vegetação relevante. Na própria Vila São Jorge<br />

não há condições sequer, <strong>de</strong> moradia para algum funcionário nosso. E, como<br />

conhecemos a região, seus habitantes, suas dificulda<strong>de</strong>s sócio-ecônomicas e<br />

culturais, àquela gente simples busca nos garimpos do cristal <strong>de</strong> rocha, em franca<br />

<strong>de</strong>cadência um primitivo meio <strong>de</strong> ganhar rústicos sustentos. E, neles, arraigaram-se<br />

firmemente. Neles está a fonte única e perene, embora selvagem e <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte, da<br />

subsistência diária e da própria vida dos habitantes <strong>de</strong> São Jorge. Não alegamos que<br />

não haveria meios para uma solução permanente do problema. Há. Ela, e a única,<br />

seria a in<strong>de</strong>nização e a retirada progressiva <strong>de</strong> todos os habitantes da Vila São Jorge,<br />

para fora da área do Parna Tocantins e, posteriormente a <strong>de</strong>molição total da Vila. A<br />

permanência, reafirmamos, da Vila <strong>de</strong> São Jorge <strong>de</strong>ntro dos limites do Parna<br />

Tocantins, será problema constante, diário e insolúvel à sua administração,<br />

concernente à <strong>de</strong>fesa e proteção da flora e da fauna. Com a presença <strong>de</strong> garimpeiros,<br />

é-se impossível proteger a flora, a fauna e as belezas naturais <strong>de</strong> um Parque<br />

Nacional. (GERVÁSIO, 1969 in SILVEIRA, 1997, p. 12)


Até a criação do Parque Nacional, os moradores da região tinham como ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

subsistência a exploração garimpeira <strong>de</strong> cristal <strong>de</strong> rocha, complementada pela extração da<br />

vegetação do cerrado e a agricultura. Assim, a partir da data <strong>de</strong> criação do Parque, ficaram<br />

proibidas as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mineração na região. Apesar da importância <strong>de</strong> preservação da área<br />

ambiental, a instalação <strong>de</strong>sta unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação, inicialmente, gerou “prejuízos”<br />

econômicos e sociais para a comunida<strong>de</strong> local, pois retirou a possibilida<strong>de</strong> da ativida<strong>de</strong><br />

produtiva, a posse <strong>de</strong> terra e a exploração dos seus recursos naturais (ALBUQUERQUE, 1998<br />

apud RIBEIRO & CAVALCANTTI, 2009).<br />

Entre 1959 e 1961, foram criados treze Parques Nacionais, cinco <strong>de</strong>les por JK. As<br />

regiões no cerrado foram nesse momento bastante privilegiadas, cobrindo cinco <strong>de</strong>sses<br />

parques: do Araguaia, das Emas, do Tocantins, <strong>de</strong> Brasília e do Xingu (BARRETO, 1997<br />

apud MELLO, 1999 apud SARAIVA, 2006). Destaca-se esse período como o primeiro boom<br />

<strong>de</strong> criação <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação no Brasil, mesmo sem o país possuir uma política<br />

ambiental correta (SARAIVA, 2006).<br />

Mesmo com esses conflitos, com a <strong>de</strong>sorganização e a falta <strong>de</strong> clareza por parte do<br />

governo, a preservação do cerrado, consi<strong>de</strong>rado a savana brasileira, é <strong>de</strong> caráter indiscutível.<br />

Trata-se do segundo bioma em extensão no país, que abrange um quarto <strong>de</strong> nosso território,<br />

cerca <strong>de</strong> 1,7 milhões <strong>de</strong> quilômetros quadrados. É um ecossistema riquíssimo em espécies e<br />

com gran<strong>de</strong>s índices <strong>de</strong> en<strong>de</strong>mismo. Até os anos 60, ficou relegado (e preservado) pela noção<br />

<strong>de</strong> que era formado por terras fracas e improdutivas. Depois da construção <strong>de</strong> Brasília, no<br />

entanto, suas palavras passaram a ser vistas como convidativas para uma agricultura extensiva<br />

e mecanizada, que causou, no curtíssimo prazo <strong>de</strong> 40 anos, a <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> 80% <strong>de</strong>sse<br />

ecossistema. Assim, o objetivo do Parque é garantir a proteção integral da flora e da fauna<br />

Silvestre, dos solos, das águas e das belezas cênicas, para fins científicos, educacionais,<br />

recreativos e culturais <strong>de</strong>sse bioma (BEHR, 2005).<br />

A localização espacial confere à região do Parque gran<strong>de</strong> importância ecológica, já que<br />

sua hidrografia abriga nascentes <strong>de</strong> rios afluentes das bacias hidrográficas do Paraná, Maranhão e<br />

Amazônica. Os rios são os <strong>de</strong> planalto, adaptados a fraturamentos, com corre<strong>de</strong>iras encaixadas,<br />

quedas d’águas, poços profundos, travessos rápidos não navegáveis (ALMEIDA, 2007). O<br />

principal rio que drena o Parque é o Rio Preto, afluente do Rio Tocantins (BEHR, 2000),<br />

drenado no sentido leste-oeste; o relevo é o <strong>de</strong> Chapadas escarpadas, áreas <strong>de</strong>primidas, e vales<br />

encaixados; a geologia indica que a região foi, no passado, coberta pelo mar (LULA, 2004 apud<br />

ALMEIDA, 2007). A seguir, as figuras 15 a 21 referentes ao PNCV, comprovam sua exuberância.


Figura 15: Rio Preto: Visto do Mirante das Janelas.<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.<br />

Figura 16: Buritis – Vereda<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.


Figura 17: Chuveirinhos do Cerrado<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.<br />

Figura 18: Siriemas<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.


Figura 19: Bromélia<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.<br />

Figura 20: Canelas d’ema<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.


Figura 21: Cerrado Rupestre<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.<br />

No fim dos anos 60, começam a chegar ao IBDF, contestações das prefeituras <strong>de</strong><br />

Alto Paraíso e Cavalcante, e <strong>de</strong> fazen<strong>de</strong>iros, quanto à legitimida<strong>de</strong> do Parque, ainda mais<br />

porque não havia ocorrido nenhuma in<strong>de</strong>nização. Pela Portaria l492/70, o órgão ce<strong>de</strong> às<br />

pressões e nomeia "comissão para efetuar estudos sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alteração dos<br />

limites" (FERREIRA & GALANTE, l986 apud SILVEIRA, 1997). Através <strong>de</strong> exposição <strong>de</strong><br />

motivos, o ministro da agricultura Cirne Lima diz que a reformulação dar-se-á, sobretudo, e<br />

sem maiores explicações, porque a área do Parque foi consi<strong>de</strong>rada "excessiva". Em seguida,<br />

fala que "sem prejuízo das finalida<strong>de</strong>s da sua criação" - embora elas nunca tenham sido<br />

<strong>de</strong>claradas e muito menos efetivadas -, excluirá as principais áreas <strong>de</strong> atrito (SILVEIRA,<br />

1997).<br />

Em 11/05/1972, é aprovado o Decreto n° 70492, reduzindo o parque para 171.924<br />

hectares, alterando também o nome para Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros. Esta<br />

redução foi motivada por pressões <strong>de</strong> fazen<strong>de</strong>iros e políticos, principalmente <strong>de</strong> Cavalcante,<br />

alegando que o parque traria prejuízo para a economia regional, per<strong>de</strong>ndo o Pouso Alto, o vão<br />

do Rio Claro e toda a área on<strong>de</strong> hoje é o município <strong>de</strong> Colinas (MARTINS, 2011).<br />

Mas os conflitos não cessaram com a nova <strong>de</strong>finição da área. Os proprietários <strong>de</strong><br />

terras continuavam se sentindo prejudicados e questionando os limites do parque. Até 1979, o


PNCV ainda não dispunha <strong>de</strong> infra-estrutura nem para receber visitantes, nem para os<br />

funcionários responsáveis pela administração da U.C.; a fiscalização era incipiente e os<br />

processos <strong>de</strong> regularização das terras não ocorriam, contribuindo para tensões entre o órgão<br />

responsável pela implantação da Unida<strong>de</strong> e os fazen<strong>de</strong>iros, garimpeiros e lavradores; a prática<br />

do garimpo, a caça <strong>de</strong> animais, as queimadas e outras práticas tradicionais dos fazen<strong>de</strong>iros e<br />

outros moradores da região eram ativida<strong>de</strong>s comuns nas terras <strong>de</strong>stinadas ao Parque, criando<br />

mais focos <strong>de</strong> tensão. (SARAIVA, 2006).<br />

Os estudos realizados pelo IBDF, em 1980, constataram que <strong>de</strong>ntro da área do<br />

Parque existir uma estrada que ligava Alto Paraíso a Colinas do Sul (atual GO – 327). Nessa<br />

mesma década, na gestão do Governador Ary Valadão, a Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros passa a<br />

integrar a re<strong>de</strong> oficial <strong>de</strong> frentes <strong>de</strong>senvolvimentistas. Com essa intenção, é criado o Programa<br />

<strong>de</strong> Desenvolvimento Integrado <strong>de</strong> Alto Paraíso – Prodiap, priorizando ações voltadas para a<br />

agricultura e para a criação <strong>de</strong> infra-estrutura para o turismo. O programa previa a<br />

implantação <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> com 30 mil habitantes no prazo <strong>de</strong> cinco anos. Embora o projeto<br />

não tenha cumprido concretamente suas metas, ele possibilitou a criação <strong>de</strong> uma relativa<br />

infra-estrutura na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alto Paraíso, tendo sua população urbana quase que<br />

quadruplicada entre 1980 e 1991. As negociações <strong>de</strong>sse projeto acabaram excluindo do PNCV<br />

o trecho da estrada entre Alto Paraíso e Colinas do Sul, que passava em sua área. (MELO,<br />

1999 apud BEHR, 2000).<br />

Nesse contexto, em 02/07/1981 por meio do Decreto n° 86.173, retificado em<br />

17/11/1981 pelo Decreto n° 86.596, o Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros é<br />

novamente reduzido, <strong>de</strong>ssa vez para 65.000 hectares. Esta redução, motivada pelo Projeto<br />

<strong>de</strong>senvolvimentista <strong>de</strong> Alto Paraíso, resultou na perda <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> do Morro da Baleia, a Bona<br />

Espero e a Volta da Serra (Figura 22) (MARTINS, 2011).<br />

A justificativa para tal redução tomou como base a proibição legal <strong>de</strong> construção <strong>de</strong><br />

rodovias ou obras similares em áreas <strong>de</strong> Parques Nacionais. Na exposição <strong>de</strong> motivos, o ato<br />

aparece com a seguinte observação: “(...) evitar tensões sociais, e permitir que o Governo do<br />

Estado <strong>de</strong> Goiás promova maior <strong>de</strong>senvolvimento da região, com a implantação <strong>de</strong> projetos<br />

agropecuários e indústrias na região <strong>de</strong> Alto Paraíso”. Em 1982, a situação fundiária do<br />

Parque ainda não estava resolvida (SARAIVA, 2006)<br />

O IBDF <strong>de</strong>u início aos procedimentos legais <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> terras, <strong>de</strong>clarando-as <strong>de</strong><br />

utilida<strong>de</strong> pública para efeito <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapropriação, através do Decreto nº 87.811, <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong><br />

novembro <strong>de</strong> 1982. Proce<strong>de</strong>-se à compra <strong>de</strong> algumas proprieda<strong>de</strong>s isoladas na área, mas<br />

somente em 1986 a instituição conseguiu liberar os recursos necessários para a regularização


fundiária do restante das proprieda<strong>de</strong>s. Constatou-se, no entanto, a superposição <strong>de</strong> títulos, o<br />

que fez com que optassem por proce<strong>de</strong>r à <strong>de</strong>sapropriação judicial das proprieda<strong>de</strong>s com<br />

titularização afirmada, sem que se encontre resolvida a questão até hoje. Ao Decreto anterior<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação, seguiram-se o Decreto nº 99.279 <strong>de</strong> 06 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1990, o qual precisou a<br />

área como sendo <strong>de</strong> 65.514 hectares, para efeito <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapropriação (PAES, 1995 apud<br />

ROCKTAESCHEL, 2003). Com a implantação das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uso público, a nova área do<br />

Parque passou a incluir a margem esquerda do Rio Preto, do Cânion I ao poço do Salto II, até<br />

o topo do Garimpão (PLANO DE MANEJO PNCV – R.E., 2009).<br />

Figura 22: Mapa dos Limites do PNCV.<br />

Fonte: SARAIVA 2006 apud IBAMA; ALVES, 2001. Elaborado por:<br />

MACEDO, 2006


Ainda que permeando muitos conflitos, esse procedimento visava solucionar a<br />

situação que se arrastava <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a criação da U.C., tornando-se mais efetivas as medidas no<br />

sentido <strong>de</strong> promover a proteção da área, inclusive seu cercamento (SARAIVA, 2006). O<br />

Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros completou, em 11 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1991, trinta anos<br />

<strong>de</strong> existência sem ter nem mesmo um administrador (SILVEIRA, 1997).<br />

Como fomento do turismo na região, o Parque passou a ser intensamente visitado. A<br />

proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Goiânia e Brasília transformou a área em um atrativo turístico para o<br />

atendimento da <strong>de</strong>manda da população <strong>de</strong>ssas duas capitais. O parque, nessa época, não tinha<br />

nem mesmo um plano <strong>de</strong> manejo para auxiliar a condução <strong>de</strong>sse processo. Os visitantes<br />

acampavam próximo às cachoeiras e eram comuns fogueiras e muito lixo. Essa situação levou<br />

ao fechamento do parque, em março <strong>de</strong> 1991. O Ibama, órgão ambiental que passou a<br />

administrar os parques brasileiros, a partir <strong>de</strong> 1989, com a extinção do IBDF, acreditava ser<br />

essa medida a mais plausível. O parque foi reaberto para visitação em 1992, sendo realizado<br />

também o primeiro treinamento para condutores <strong>de</strong> visitantes, tornando obrigatória a presença<br />

<strong>de</strong> um condutor/guia para visitar o parque (SARAIVA, 2006)<br />

O plano <strong>de</strong> manejo do Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros foi elaborado em<br />

1998. De acordo com este documento, foi realizada pesquisa com os moradores <strong>de</strong> São Jorge<br />

e 87,5% dos entrevistados acreditavam na época, que o PNCV trouxe benefícios, por meio da<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exploração <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s ligadas ao ecoturismo. No entanto, os 12,5%<br />

restantes achavam que, apesar <strong>de</strong> boas oportunida<strong>de</strong>s criadas, o relacionamento da<br />

comunida<strong>de</strong> com o IBAMA era ruim. De acordo com esta pesquisa, 85% achavam que a<br />

exploração do ecoturismo, como alternativa a garimpagem contribuiu para o crescimento do<br />

Distrito <strong>de</strong> São Jorge (ROCKTAESCHEL, 2003)<br />

Segundo o Jornal da Biosfera, <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2001, quando o Parque<br />

Nacional fez 41 anos, a equipe do IBAMA, para o PNCV cresceu mais nesse ano, do que nos<br />

41 anos anteriores, sendo que 4 novos técnicos <strong>de</strong> nível superior foram incorporados as áreas<br />

<strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação, fiscalização e administração da UC. Para o Jornal, por trás <strong>de</strong>sta<br />

movimentação estava o compromisso do governo brasileiro para com o capital público<br />

internacional, <strong>de</strong> transformar 10% do território nacional em UCs, pertencentes ao SNUC. O<br />

mesmo ainda enfatiza, na época, que esse esforço po<strong>de</strong>rá ser compreendido melhor se as<br />

políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável das populações <strong>de</strong> entorno <strong>de</strong>rem certo. Caso<br />

contrário, a simples ação fiscalizadora permanecera ineficaz. Também em 2001, é criado o<br />

conselho consultivo do PNCV, pioneiro do SNUC a escolher representantes (JORNAL DA<br />

BIOSFERA, 2001).


Em 27 <strong>de</strong> setembro do mesmo ano, durante o evento <strong>de</strong> comemoração ao dia da<br />

árvore, o presi<strong>de</strong>nte Fernando Henrique Cardoso assina o Decreto ampliando a área do Parque<br />

para 235 mil hectares, com o objetivo <strong>de</strong> proteger as bacias dos rios Paranã e Preto, que<br />

alimentam o rio Tocantins (ROCKTAESCHEL, 2003).<br />

Este novo <strong>de</strong>creto, assinado pelo então presi<strong>de</strong>nte, iniciou uma nova série <strong>de</strong><br />

conflitos entre os administradores do PNCV e as comunida<strong>de</strong>s atingidas pelo aumento da<br />

área.<br />

Confessamos nosso espanto quando soubemos, pelos jornais e pela TV, que o<br />

presi<strong>de</strong>nte da república havia assinado um <strong>de</strong>creto ampliando o PNCV. Vimos todas<br />

as instituições locais gastarem somas mais do que consi<strong>de</strong>ráveis para captarem e<br />

informarem as populações tradicionais, então vizinhas do Parque, e as que<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>riam direta e indiretamente do ecoturismo e <strong>de</strong>senvolvimento sustentável<br />

pretendidos por essa gran<strong>de</strong> parceria. Agora, a parte ampliada do parque, ao menos<br />

em Cavalcante, englobou tanto o conjunto <strong>de</strong> cachoeiras utilizadas pela população e<br />

visitantes para seu lazer como 45% dos trabalhos bovino do município, o que trará<br />

um estrangulamento sócio-econômico. Como o MMA e o Ibama permitiram a<br />

ampliação do parque, se já haviam consi<strong>de</strong>rado a Licença <strong>de</strong> Implantação da Linha<br />

<strong>de</strong> Transmissão Serra da Mesa – Sapeaçu, que passa, <strong>de</strong>pois do <strong>de</strong>creto, em meio ao<br />

parque? E o pior, para on<strong>de</strong> vão <strong>de</strong>slocar as populações tradicionais e em quais<br />

condições? E, por fim, Cavalcante e Teresina <strong>de</strong> Goiás vão ser as únicas cida<strong>de</strong>s<br />

componentes do Parque a terem a presença física <strong>de</strong> 200 torres <strong>de</strong> 43 metros <strong>de</strong><br />

altura, uma serpente gigante cortando uma área <strong>de</strong> preservação fe<strong>de</strong>ral?<br />

(Patrícia Pinto - Secretária do Meio Ambiente e Turismo <strong>de</strong> Cavalcante – JORNAL<br />

DA BIOSFERA, 28/12/2001).<br />

Ainda em 2001, o Jornal da Biosfera, expõe também a opinião <strong>de</strong> Angie Cristina,<br />

moradora da região, que na época se expressou da seguinte forma:<br />

A política <strong>de</strong> ampliação do PNCV pegou <strong>de</strong> surpresa as comunida<strong>de</strong>s que se<br />

encontram <strong>de</strong>ntro da área atingida, seus prefeitos e representantes legais. A criação<br />

ou ampliação <strong>de</strong> um UC <strong>de</strong>ve ser precedida <strong>de</strong> estudos técnicos e <strong>de</strong> consulta<br />

pública que permita i<strong>de</strong>ntificar sua localização, dimensão e limites mais a<strong>de</strong>quados.<br />

É o que diz a lei. Mas nada disso foi feito. A corrida pela busca <strong>de</strong> maiores<br />

informações surpreen<strong>de</strong>u até o IBAMA, órgão encarregado <strong>de</strong> implantar o que está<br />

no <strong>de</strong>creto. Um mês após sua publicação, os funcionários do governo continuavam<br />

perdidos no mapa da chapada, sem saber informar sobre limites reais, comunida<strong>de</strong>s<br />

e proprieda<strong>de</strong>s atingidas, in<strong>de</strong>nizações e relocações das centenas <strong>de</strong> pessoas<br />

ameaçadas <strong>de</strong> expulsão. Até hoje, 40 anos <strong>de</strong>pois, ainda não foi paga a maior parte<br />

das in<strong>de</strong>nizações referentes às <strong>de</strong>sapropriações da área original do Parque. Além <strong>de</strong><br />

ignorar as questões básicas que dizem respeito aos direitos dos atingidos, os técnicos<br />

do governo também não sabiam respon<strong>de</strong>r o porquê <strong>de</strong> escolher um caminho que<br />

está na contramão da história e da lei.<br />

A tendência atual do movimento ambientalista, contemplada no texto oficial que<br />

criou o SNUC, repudia a forma antiga <strong>de</strong> criar e gerir os parques, sem consulta e<br />

participação popular. Hoje se reconhece que a expulsão das populações locais, além<br />

<strong>de</strong> ser negativa do ponto <strong>de</strong> vista social e humano, também trás conseqüências<br />

danosas ao meio ambiente. Essas populações são as guardiãs da natureza on<strong>de</strong><br />

vivem e possuem o conhecimento sobre o manejo sustentável do seu ambiente. Isso<br />

é o que dizem os órgãos e organismos aprovaram nos últimos anos projetos e<br />

pesquisas para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentado na Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros. Essas<br />

mesmas instituições estão tentando agora se livrar daqueles que acreditaram e<br />

investiram em agroflorestas e viveiros, centros <strong>de</strong> cura e pousadas rurais, receptivas<br />

e roteiros ecoturísticos.


Procedimentos técnicos e trâmites legais foram atropelados na pressa <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r<br />

sugestões <strong>de</strong> organizações internacionais para conquistar títulos que possam<br />

favorecer empréstimos.<br />

Ficaram fora da nova unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação, nascentes e campos úmidos que<br />

precisam ser conservados, sendo incluída no seu polígono áreas produtivas e<br />

habitadas que não representam mais o ecossistema que se preten<strong>de</strong> preservar. Para<br />

compensar a falta <strong>de</strong> estudos técnicos e consulta pública foram anexados ao<br />

processo documentos que subvertem o tempo e o espaço, forjando assinaturas e<br />

pesquisas <strong>de</strong> apoio que foram levantadas num outro contexto, antes da atual<br />

proposta <strong>de</strong> ampliação do Parque se revelar.<br />

As intenções ocultas para a rápida estatização da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros foram se<br />

tornando mais claras quando os técnicos do governo conseguiram finalmente<br />

respon<strong>de</strong>r a uma das questões levantada com insistência pelos moradores locais:<br />

como o IBAMA vai dar conta <strong>de</strong> cuidar da nova área, bem maior que a original, se<br />

não tem quadros e recursos suficientes, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo atualmente das comunida<strong>de</strong>s<br />

nativas para fiscalizar e manter a conservação do Parque?<br />

O IBAMA não vai cuidar <strong>de</strong> nada. Está em curso o processo <strong>de</strong> privatização dos<br />

serviços do PNCV, e a expulsão das comunida<strong>de</strong>s locais abrirá espaço para a entrada<br />

em campo <strong>de</strong> grupos e organizações externos, que assumirão a administração<br />

conjunta da área.<br />

Após passar pela surpresa, indignação e revolta, as comunida<strong>de</strong>s atingidas pelo<br />

<strong>de</strong>creto experimentaram um novo sentimento. A palavra chave do momento é<br />

resistência e quem pensou num primeiro momento em <strong>de</strong>ixar o governo levar as<br />

terras da Chapada, já está mudando <strong>de</strong> opinião.<br />

Algo maior do que a proprieda<strong>de</strong> individual está em jogo. Moradores se articulam<br />

em reuniões, trocas <strong>de</strong> documentos e opiniões, buscando estabelecer o que <strong>de</strong>finem<br />

como cidadania, transparência e participação. O plano <strong>de</strong> ação é trabalhar em várias<br />

instâncias para trazer mais clareza e justiça ao uso e ocupação do território on<strong>de</strong><br />

vivem. (CRISTINA; JORNAL DA BIOSFERA, 15/01/2001).<br />

Esta nova postura tomada pela população é vista na fala <strong>de</strong> Taciano Saraiva dos<br />

Santos, proprietário no Pouso Alto, <strong>de</strong> terras que pertenceram aos bisavós, pioneiros da<br />

região. A mãe, Santina Inácio da Mota, com 93 anos, foi nascida e criada no local. “Tô nela<br />

aí, não vou fazer como alguns antigos que <strong>de</strong>ixaram as terras para o Parque e até hoje não<br />

receberam”, diz Taciano. Os prefeitos dos municípios atingidos pela ampliação do Parque<br />

Vea<strong>de</strong>iros iniciaram o protesto logo após o <strong>de</strong>creto presi<strong>de</strong>ncial ser assinado. Um mês <strong>de</strong>pois,<br />

somente o <strong>de</strong> Cavalcante, Eduardo Passos permaneceu na ofensiva, a ponto <strong>de</strong> divulgar um<br />

ofício encaminhado à Agência Ambiental do Estado, dando voz às populações que se<br />

sentiram prejudicadas pela ampliação. (JORNAL DA BIOSFERA, 2001).<br />

Meio ao transtorno do novo <strong>de</strong>creto, no dia 17 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2001, no Centro<br />

Cultural <strong>de</strong> Alto Paraíso, o Conselho Consultivo do PNCV fez sua reunião aberta à<br />

população, registrado na época pelo mesmo jornal.<br />

Para o IBAMA, várias vezes criticado, o aperto estava apenas começando. O espaço<br />

foi pequeno para quem quis se colocar. O principal interlocutor governamental era<br />

Sérgio Brant, responsável da DIREC (Diretoria <strong>de</strong> Ecossistemas) do IBAMA pela<br />

elaboração da proposta técnica e da minuta do <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> ampliação. A falta <strong>de</strong><br />

critérios técnicos na <strong>de</strong>finição da área foi duramente criticada por proprietários e<br />

autorida<strong>de</strong>s públicas presentes à reunião. A posição hegemônica <strong>de</strong>ste segmento foi<br />

a <strong>de</strong> que há uma ilegalida<strong>de</strong> na ausência da consulta prévia à população. (JORNAL<br />

DA BIOSFERA - 15/01/2001)


O clima conflituoso na época fica ainda mais explicito nas palavras <strong>de</strong> José Luis <strong>de</strong><br />

Lima Ramalho – Presi<strong>de</strong>nte ACECE – Associação <strong>de</strong> Condutores em Ecoturismo <strong>de</strong><br />

Cavalcante e entorno, que expõe também sua opinião:<br />

Santos Corazolla:<br />

Nos parece que o senhor Sérgio Brant, o funcionário do Ibama que faz os novos<br />

limites do PNCV, faz parte da cultura da burocracia das repartições públicas <strong>de</strong> um<br />

estado anti brasileiro que ainda acredita que o cidadão tem que ser oprimido,<br />

controlado e achacado, para que tudo aconteça como esperado. Não parece fazer<br />

parte <strong>de</strong> nenhuma cultura que se preste a contribuir a vida, pois seu ato atestou<br />

<strong>de</strong>sumanida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>srespeito. Sem contar o critério usado por ele para <strong>de</strong>marcar as<br />

novas áreas, pois relacionou áreas como pastos há décadas, inclusive com espécies<br />

exóticas já aclimatadas, e <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> fora áreas preservadas, efetivamente, e as áreas<br />

on<strong>de</strong> se localizam nossas nascentes.<br />

Assistimos nesses últimos anos os governos gastarem rios <strong>de</strong> dinheiro para<br />

promover a região que hoje faz parte da ampliação do PNCV, ou seja, todo o<br />

trabalho que tivemos indo visitar as populações, ensinando-lhes o manejo ecológico<br />

e incutindo-lhes o espírito empreen<strong>de</strong>dor tão necessário à globalização foram<br />

jogados no lixo, e o que é pior, <strong>de</strong>ixa mais uma vez o povo à margem das <strong>de</strong>cisões<br />

que dizem respeito, a ele. (RAMALHO, 2001, JORNAL DA BIOSFERA<br />

15/01/2001).<br />

Na mesma publicação, o Jornal da Biosfera expõe sua opinião, redigido por Enzo<br />

Editorial – Processo 02001/01-84, da Administração central do Ibama foi montado<br />

para dar suporte à minuta <strong>de</strong> <strong>de</strong>creto que o Ministro do Meio Ambiente, José Sarney<br />

Filho, encaminhou ao Presi<strong>de</strong>nte Fernando Henrique Cardoso para ampliação do<br />

PNCV. Já em suas primeiras páginas, percebe-se que houve a intenção, por parte do<br />

secretário da Biodiversida<strong>de</strong> e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, José<br />

Pedro <strong>de</strong> Oliveira Costa <strong>de</strong> transformar a solicitação <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> uma estação<br />

ecológica (Pouso Alto) na base técnica para a ampliação. Estrategicamente, o<br />

secretário alu<strong>de</strong> no seu <strong>de</strong>spacho a uma “urgência” <strong>de</strong>vido a negociação com a<br />

UNESCO. Há os que enxergam indícios <strong>de</strong> irregularida<strong>de</strong>s ou armação. Do nosso<br />

ponto <strong>de</strong> vista, não há evidências <strong>de</strong> frau<strong>de</strong>. A singularida<strong>de</strong> técnica do processo<br />

beira a precarieda<strong>de</strong>, isso sim. O encaminhamento inicial do Secretário <strong>de</strong><br />

Biodiversida<strong>de</strong> e Florestas do Ministério indica que havia uma preocupação centrada<br />

na UNESCO, possivelmente <strong>de</strong>vido a visita <strong>de</strong> um consultor da UICNC (União<br />

Mundial para a Conservação), que teria sugerido a forte possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um novo<br />

título mundial para a região, com a ampliação. Esta visita do consultor também<br />

aparece citada no ofício que o ministro Sarney Filho encaminha ao Presi<strong>de</strong>nte da<br />

república. Po<strong>de</strong>ríamos ter mais em Patrimônio Natural da Humanida<strong>de</strong>, como é hoje<br />

o Parque Nacional <strong>de</strong> Iguaçu, neste caso. (JORNAL DA BIOSFERA, 15/01/2001).<br />

Com a situação, o Conselho Consultivo do Parque Nacional da Chapada dos<br />

Vea<strong>de</strong>iros, solicitou ao Ministério do Meio Ambiente uma revisão dos limites da Unida<strong>de</strong>. O<br />

objetivo principal do pedido visava a harmonização das <strong>de</strong>mandas sociais que surgiram após a<br />

ampliação. Segundo a organização <strong>de</strong> proprietários criada após a ampliação, o parque<br />

ampliado gerou problemas por incluir nos novos limites áreas tradicionalmente produtivas da<br />

região do entorno da unida<strong>de</strong>, sendo pedido inclusive à anulação do <strong>de</strong>creto presi<strong>de</strong>ncial,<br />

justificada por problemas técnicos e político-sociais no processo que levou à <strong>de</strong>cisão da<br />

ampliação. O ofício foi embasado numa <strong>de</strong>cisão unânime dos conselheiros e preten<strong>de</strong>u


impedir que os <strong>de</strong>sdobramentos das questões levantadas acabassem trazendo maiores<br />

prejuízos e atrasos na efetiva implantação do novo parque (JORNAL DA BIOSFERA, 2001).<br />

Na opinião <strong>de</strong> ambientalistas, o aumento da área do PN faz parte <strong>de</strong> uma estratégia<br />

para tornar a área reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Mundial da Humanida<strong>de</strong>.<br />

(JORNAL DA BIOSFERA, 2001). De fato, em 2001 o Parque Nacional da Chapada dos<br />

Vea<strong>de</strong>iros obteve o título <strong>de</strong> Sítio do Patrimônio Natural Mundial pela UNESCO (BEHR,<br />

2005) No Resumo Executivo do Plano <strong>de</strong> Manejo do PNCV (2009), a situação é <strong>de</strong>scrita da<br />

seguinte forma:<br />

Em 27 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2001, proce<strong>de</strong>u-se novamente a alteração dos limites do<br />

PNCV, <strong>de</strong>sta vez visando obter o titulo <strong>de</strong> Sítio do Patrimônio Natural Mundial,<br />

concebido pela Unesco. A mudança incluiu áreas dos municípios <strong>de</strong> Cavalcante,<br />

Terezina, chegando até Ourominas e atingindo cerca <strong>de</strong> 235 mil hectares. Este<br />

<strong>de</strong>creto foi <strong>de</strong>rrubado em 2003, por mandato <strong>de</strong> segurança do Superior Tribunal<br />

Fe<strong>de</strong>ral. Na seção <strong>de</strong> anexos constam os referidos <strong>de</strong>cretos <strong>de</strong> alteração dos limites<br />

do Parque (PLANO DE MANEJO PNCV – R.E., 2009).<br />

Atualmente, segundo o SNUC, para mo<strong>de</strong>rnizar e estabelecer o foco às ações<br />

executadas pelo po<strong>de</strong>r público fe<strong>de</strong>ral para a conservação da Biodiversida<strong>de</strong> brasileira, em<br />

2007 foi criado o Instituto Chico Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação da Biodiversida<strong>de</strong> – ICM Bio,<br />

autarquia fe<strong>de</strong>ral vinculada ao Ministério do Meio Ambiente – MMA. Assim, cabe ao ICM –<br />

Bio, executar as ações da política nacional <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação da natureza, referentes<br />

às atribuições fe<strong>de</strong>rais no que diz respeito à proposição, implantação, gestão, proteção,<br />

fiscalização e monitoramento das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação instituídas pela União. A atual<br />

ficha técnica do Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros segue anexada ao trabalho.<br />

2.3 A Atual Relação Entre o PNCV e a Vila <strong>de</strong> São Jorge<br />

Uma pesquisa realizada por Manning e Moore (2002, apud MILANO, 2002 apud,<br />

PLANO DE MANEJO PNCV – R.E., 2009), indicou os principais valores atribuídos aos<br />

Parques, em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> importância, consi<strong>de</strong>rando também a disponibilida<strong>de</strong> a pagar pelo uso<br />

<strong>de</strong> tais áreas, quais sejam: a) recreativos – locais para se <strong>de</strong>sfrutar <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s recreativas ao<br />

ar livre; b) estéticos – locais para se <strong>de</strong>sfrutar a beleza da natureza; c) ecológicos – locais para<br />

se proteger a natureza no sentido <strong>de</strong> proteger a própria sobrevivência humana; d) terapêuticos<br />

– locais para se manter ou restabelecer a saú<strong>de</strong> física e o bem estar mental; e) econômicos –<br />

locais para incrementar a economia através do turismo; f) científicos/educativos – lugares<br />

para se apren<strong>de</strong>r sobre a natureza e conduzir pesquisas cientificas; g) históricos/culturais –


locais que são importantes para a historia da região; h) morais/éticos – locais para expressar<br />

nossa obrigação moral ou ética em respeitar e proteger outros seres vivos; e i)<br />

espirituais/intelectuais – locais <strong>de</strong> isolamento e reflexão.<br />

A visitação é a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>staque no PNCV, <strong>de</strong> forma que, nos picos <strong>de</strong><br />

visitação, praticamente todos os funcionários se mobilizam para <strong>de</strong>sempenhar o papel<br />

receptivo. A <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> visitantes é variada ao longo do ano, coincidindo as épocas <strong>de</strong> maior<br />

fluxo <strong>de</strong> visitação com a seca (meados <strong>de</strong> maio a meados <strong>de</strong> outubro, com <strong>de</strong>staque para as<br />

férias escolares <strong>de</strong> julho), feriados, férias escolares <strong>de</strong> fim <strong>de</strong> ano e fins <strong>de</strong> semana, nesta<br />

or<strong>de</strong>m. Em 2004, cerca <strong>de</strong> 19,7 mil pessoas o visitaram (Figura 23). O mês <strong>de</strong> julho aparece<br />

em <strong>de</strong>staque com expressiva visitação, em que mais <strong>de</strong> 5000 pessoas visitaram o Parque.<br />

Atualmente o Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros <strong>de</strong>staca-se entre os <strong>de</strong>z Parques<br />

Nacionais mais visitados do país. (PLANO DE MANEJO PNCV – R.E., 2009).<br />

Figura 23: Distribuição Mensal do Fluxo <strong>de</strong> Visitantes em 2004.<br />

Fonte: PLANO DE MANEJO PNCV.<br />

Além dos motivos, já acima citados, que justificam um maior fluxo <strong>de</strong> turistas no<br />

mês <strong>de</strong> Julho, há também, outro fator (que não é mencionado pelo Plano <strong>de</strong> Manejo)<br />

<strong>de</strong>terminante que atrai uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoas nesse mês para a Vila, que é o<br />

Encontro <strong>de</strong> Culturas Tradicionais da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros, realizado no povoado <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

2001. O evento acontece na Casa da Cultura Cavaleiro <strong>de</strong> Jorge, durante <strong>de</strong>z dias, on<strong>de</strong><br />

ocorrem apresentações <strong>de</strong> grupos tradicionais <strong>de</strong> Goiás, Tocantins, Minas Gerais e Distrito


Fe<strong>de</strong>ral, além <strong>de</strong> oficinas lúdicas e artísticas diárias. O encontro tem como objetivo promover,<br />

fortalecer e integrar manifestações culturais tradicionais do Planalto Central e <strong>de</strong> outras<br />

regiões do Brasil, oferecendo tanto para o povoado quanto para os turistas, opções <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s culturais na Vila <strong>de</strong> São Jorge, no mês <strong>de</strong> julho, otimizando o ecoturismo na região.<br />

(BASSO, 2003).<br />

Outro fator <strong>de</strong>terminante, no recomeço <strong>de</strong>ssa relação entre o PNCV e a Vila <strong>de</strong> São<br />

Jorge, se <strong>de</strong>u através do turismo. Após a reabertura do Parque, ocorreu a proibição <strong>de</strong><br />

pernoitar na UC, o que levou a Vila, a servir <strong>de</strong> apoio aos turistas, tornando-se imprescindível<br />

na realização da ativida<strong>de</strong> turística realizada no Parque, “gerando um dos mais importantes<br />

exemplos no Brasil <strong>de</strong> relação entre uma comunida<strong>de</strong> e uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação”<br />

(PMAPGO, 2006). Na Vila é aon<strong>de</strong> os visitantes po<strong>de</strong>m dormir, comer e comprar souvenirs<br />

da região.<br />

Assim, a Vila é receptora do fluxo <strong>de</strong> turistas do Parque e dos atrativos em seu<br />

entorno, sendo também, um atrativo turístico pelo seu traçado rústico. As características<br />

predominantes <strong>de</strong> São Jorge, em relação a serviços e infra-estrutura são: camping, pousadas,<br />

restaurantes, lanchonetes, supermercado, bares, lojas souvenir, serviço <strong>de</strong> informações<br />

turísticas, posto <strong>de</strong> atendimento hospitalar, serviço <strong>de</strong> água e esgoto, energia, telefone,<br />

transporte e guia. Com uma paisagem formada por 280 cachoeiras e 220 trilhas e escarpas<br />

rochosas, o fluxo turístico em São Jorge aumentou em 700% nos últimos 10 anos, recebendo<br />

anualmente cerca <strong>de</strong> 30.000 pessoas (dados do Governo local, 2003). Em conseqüência, os<br />

impactos socioeconômicos são visíveis, mas ainda ignorados pelas políticas governamentais<br />

(MIRANDA, 2009).<br />

Constata-se também uma visível melhoria econômica trazida pelo turismo, sobretudo<br />

após o ano <strong>de</strong> 1990, quando o Parque começou a receber turistas para visitação <strong>de</strong> uma forma<br />

organizada, intensificando a relação entre Parque e Vila. Os antigos garimpeiros começaram a<br />

se qualificar para exercerem a ativida<strong>de</strong> dos condutores <strong>de</strong> visitantes <strong>de</strong>ntro da área da<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação, sendo que a regulamentação estabeleceu a obrigatorieda<strong>de</strong> da<br />

presença do guia na visitação nos atrativos do Parque e assim <strong>de</strong>u início a formação da<br />

Associação dos Condutores <strong>de</strong> Visitantes da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros (ACV-CV). Hoje, esta<br />

atua juntamente com outras associações.<br />

As associações <strong>de</strong> condutores <strong>de</strong> visitantes são, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua constituição,<br />

instrumentos eficientes para sensibilizar ambientalmente os visitantes e as comunida<strong>de</strong>s<br />

locais. Po<strong>de</strong>-se dizer que a organização <strong>de</strong>ste segmento foi o marco <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> processo <strong>de</strong><br />

conscientização ambiental em todo o entorno do PNCV, além <strong>de</strong> constituir as bases <strong>de</strong> um


processo <strong>de</strong> envolvimento social e afetivo das populações locais com o Parque Nacional da<br />

Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros (PLANO DE MANEJO PNCV – R.E., 2009).<br />

Atualmente, o ex-garimpeiro, tira seu sustento diretamente da ativida<strong>de</strong> turística, seja<br />

como condutor <strong>de</strong> visitantes ou trabalhando em pousadas e campings. Essa relação torna-se<br />

intrínseca, pois ao mesmo tempo em que ele retém sua renda da ativida<strong>de</strong> realizada no Parque,<br />

o mesmo guarda parte <strong>de</strong> sua rica história, que po<strong>de</strong> ser contada a cada nova visitação.<br />

Miranda (2009) nos explica que a Vila <strong>de</strong> São Jorge e o Parque Nacional da Chapada dos<br />

Vea<strong>de</strong>iros dão acesso aos turistas aos principais pontos <strong>de</strong> visitação do Parque, que é aon<strong>de</strong> se<br />

guarda uma parte do universo simbólico e dos produtos da sobrevivência <strong>de</strong> antigos<br />

moradores. Tal cenário, com extremos a cultura e preservação ecológica, po<strong>de</strong>m ser<br />

conflitantes ou harmônicos, tendo como principal fator <strong>de</strong> influência a relação entre o Parque<br />

Nacional e as comunida<strong>de</strong>s localizadas nas regiões do entorno.<br />

A Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação, neste caso, passou a exercer uma função imprescindível<br />

como fonte geradora <strong>de</strong> empregos para a comunida<strong>de</strong>, proporcionando o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

local por meio <strong>de</strong> um uso recreacional dos recursos naturais presentes no Parque, graças as<br />

suas características cênicas, fauna, flora e uma cultura extremamente relevante.<br />

Porém, juntamente com a renda e o <strong>de</strong>senvolvimento trazido pelo turismo, há<br />

também certa invasão e esquecimento dos costumes tradicionais, característicos, neste caso,<br />

da Vila <strong>de</strong> São Jorge, como por exemplo, o sossego, a tranqüilida<strong>de</strong>, que é perdida durante os<br />

feriados e finais <strong>de</strong> semana. Essa situação é claramente observada no <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> um<br />

visitante que escreveu sua opinião no Jornal da Biosfera, em 2004, após ter conhecido a Vila<br />

em dois momentos, um em 1997 e outro no feriado <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> setembro, quatro anos <strong>de</strong>pois.<br />

Fernando Lupio nos <strong>de</strong>screve esta experiência da seguinte forma:<br />

Em 1997, meu encantamento pela região foi tal que, apesar <strong>de</strong> ser aquela minha<br />

primeira visita, aluguei então, em socieda<strong>de</strong> com um amigo, uma casa ao lado da<br />

praça central, casa esta que ainda mantenho... Hoje, porém, não tenho dúvidas <strong>de</strong><br />

que o meu impulso <strong>de</strong> quatro anos atrás não se repetiria. São Jorge está muito<br />

diferente... Tudo tem tornado o antes pacato povoado <strong>de</strong> São Jorge em um<br />

verda<strong>de</strong>iro inferno... Todas as pousadas e camping estavam lotados. Todos os<br />

terrenos com alguma área livre eram ocupados por barracas. Era difícil estacionar na<br />

rua. Os restaurantes sempre cheios. Faltava água. Sobrava lixo na rua. Carros não<br />

paravam <strong>de</strong> chegar, ônibus <strong>de</strong>spejavam jovens em busca <strong>de</strong> um lugar on<strong>de</strong> armar<br />

suas tentas. Dormir foi difícil; por toda a noite, a música, a conversa, a gritaria...<br />

Alguns se <strong>de</strong>dicaram à tarefa <strong>de</strong> percorrer as ruas da cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> madrugada, gritando<br />

“acorda gente!”. E conseguiram realmente estragar o sono <strong>de</strong> muitos... Na manhã do<br />

dia seguinte, muita sujeira na rua, incluindo os próprios autores da sujeira...<br />

Imaginei que ir para uma cachoeira fosse me <strong>de</strong>ixar mais tranqüilo. Cheguei a<br />

Morada do Sol quando ainda não havia ninguém. As hordas <strong>de</strong> turistas, porém, logo<br />

começaram a chegar. Vários carregavam caixas <strong>de</strong> isopor. Alguns levavam carrinhos<br />

<strong>de</strong> bebes nas costas... Aos poucos as latinhas <strong>de</strong> cerveja começaram a aparecer. Nas<br />

pedras, nas matas, nas águas. O uso <strong>de</strong> maconha era tão normal e visível quanto a<br />

bebida. Uma família, com duas crianças, retirou-se do local indignada, jurando


nunca mais retornar à Chapada. Resisti à permanência no local até o momento em<br />

que um dos grupelhos resolveu iniciar uma fogueira para fazer o seu churrasco, à<br />

beira da mata castigada pela seca... O que vi na Morada do Sol não é exceção. Fora<br />

do Parque Nacional, não há, em nenhuma das atrações da região, controle da<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> visitantes ou fiscalização do que estes fazem. Voltei a São Jorge no<br />

meio dia... Havia muitos turistas que preferiram passar o dia tomando cerveja. A<br />

maior parte <strong>de</strong>les não <strong>de</strong>ixa nada na cida<strong>de</strong>, a não ser o lixo que consomem – muito.<br />

Trazem consigo a cerveja e a comida que precisam. Não comem nos restaurantes,<br />

não se hospedam nas pousadas, não contratam os guias locais. Constituem a elite<br />

econômica da socieda<strong>de</strong> brasileira. Têm dinheiro, têm carros, têm boas casas, têm<br />

escolas. São em geral universitários, não se po<strong>de</strong> acusá-los <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> informação ou<br />

cultura. Os que percorrem <strong>de</strong> carro as ruas <strong>de</strong> São Jorge não se dão conta que a<br />

maior distância percorrida na vila é <strong>de</strong> 5 minutos, a pé (LUPIO, JORNAL DA<br />

BIOSFERA 2004).<br />

Os atrativos <strong>de</strong> entorno do Parque Nacional acabam sofrendo com situações como<br />

esta, citada por Fernando. Não somente na Morada do Sol, citada acima, mas em outros,<br />

localizados em proprieda<strong>de</strong>s privadas, não há a obrigatorieda<strong>de</strong> em entrar com um condutor<br />

<strong>de</strong> visitantes, ocasionando este <strong>de</strong>scontrole e a entrada <strong>de</strong> turistas que <strong>de</strong>srespeitam as<br />

características locais. Reinaldo Trombini, condutor local, em 2002, também escreveu ao<br />

Jornal da Biosfera, na coluna Palavra do Guia, <strong>de</strong>screvendo da seguinte forma esta<br />

problemática:<br />

[...] é o caso dos guias que passaram a esta ativida<strong>de</strong> como substituição a outras<br />

como a caça ou coleta <strong>de</strong> recursos naturais... Nem sempre é o que presenciamos na<br />

Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros. Um caso relevante é quando o turista é “aconselhado” por<br />

integrantes da nossa comunida<strong>de</strong> a ir para as cachoeiras sem o acompanhamento <strong>de</strong><br />

um guia. Esse “conselho” po<strong>de</strong> ter muitas conseqüências que não fazem parte do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável, pois o turista não <strong>de</strong>ixa sua contribuição monetária<br />

para uma parte da comunida<strong>de</strong> (os guias), impedindo o crescimento da cultura <strong>de</strong><br />

preservação. Ele também corre riscos <strong>de</strong>snecessários, que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> não encontrar o<br />

atrativo, até sofrer um aci<strong>de</strong>nte fatal, não vai ter informação sobre aquele atrativo e<br />

por último, mas não menos importante, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar lixo, pisar em locais <strong>de</strong>licados<br />

sem saber, agredindo a natureza (TROMBINI, JORNAL DA BIOSFERA, 2002).<br />

Segundo Luzimara, moradora local, nascida em Alto Paraíso e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1996 moradora<br />

do distrito <strong>de</strong> São Jorge, que possui na profissão <strong>de</strong> condutora <strong>de</strong> visitantes sua maior fonte <strong>de</strong><br />

renda, diz que atualmente a Vila acomodou-se <strong>de</strong> certo modo com a situação, necessitando <strong>de</strong><br />

uma melhora no relacionamento entre os associados, entre os órgãos públicos e privados. Para<br />

ela, realmente é preciso evitar estes visitantes que irão causar prejuízos ao meio ambiente<br />

<strong>de</strong>vido ao lixo e a falta <strong>de</strong> respeito com a natureza.<br />

Assim, esta regulamentação do PNCV, no começo da década <strong>de</strong> 90, é fundamental<br />

em diversos aspectos para os moradores da Vila. Oliveira (2005), aponta cerca <strong>de</strong> 34 jazidas<br />

fechadas na área do PNCV e outras tantas em proprieda<strong>de</strong>s privadas <strong>de</strong> seu entorno direto.<br />

Apesar disto, ainda é lembrada a época do apogeu dos garimpos, mesmo <strong>de</strong>ntro do Parque. A<br />

trilha para os Saltos do Rio Preto (tradicionalmente conhecidos como Saltos do Garimpão),


passa por trechos do antigo garimpo on<strong>de</strong> até hoje se encontram resquícios das ativida<strong>de</strong>s<br />

extrativas minerais do início do século XX, proporcionando uma rica abordagem histórico-<br />

cultural que agrega gran<strong>de</strong> valor ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> práticas turísticas e educativas. Este<br />

local constitui um sítio histórico na área do PNCV (PLANO DE MANEJO PNCV – R.E.,<br />

2009).<br />

Do total da área atual do Parque, apenas 3% está aberta à visitação através <strong>de</strong> duas<br />

trilhas que dão acesso aos principais atrativos locais (Figura 24). Os atrativos abertos para<br />

visitação são: Saltos do Garimpão (Salto 80m e 120m ou Saltos I e II), Corre<strong>de</strong>iras<br />

(Pedreiras), Cânions I e II e Cachoeira das Carioquinhas. O principal rio que os banham é o<br />

Rio Preto. Para visitação, como já foi dito, é obrigatória a entrada com condutores <strong>de</strong>ntro do<br />

PNCV, sendo que nos atrativos <strong>de</strong> entorno já não há esta obrigatorieda<strong>de</strong>. Eles po<strong>de</strong>m<br />

conduzir um grupo <strong>de</strong> cada vez com um máximo <strong>de</strong> <strong>de</strong>z pessoas, sendo cobrada uma taxa pelo<br />

próprio condutor, geralmente R$ 80 para grupos com até 6 pessoas e R$ 100 quando com 10<br />

pessoas. Este valor não é fixo, po<strong>de</strong>ndo o condutor mudá-lo conforme a situação, o que acaba<br />

gerando alguns <strong>de</strong>sconfortos entre condutores e visitantes, em <strong>de</strong>terminados casos.<br />

Figura 24: Mapa das áreas do Parque abertas para visitação<br />

Fonte: PUP PNCV - IBAMA, 2001 apud LEEUWENBERG, 2001 apud ROCKTAESCHEL,<br />

2003.


A Trilha para as Corre<strong>de</strong>iras possui 7 km em seu percurso total. A maior parte <strong>de</strong>sta<br />

trilha é sobreposta com a trilha para os Saltos I e II, além <strong>de</strong> ter uma estrada <strong>de</strong> acesso para<br />

carro. A estrada para carro (administrativa) atual cruza em dois pontos o córrego<br />

Preguiça/Rodoviarinha. O atrativo consiste nas corre<strong>de</strong>iras do Rio Preto (Figuras 25 e 26),<br />

com uma série <strong>de</strong> piscinas naturais. No local não existe nenhum sombreamento, o que limita o<br />

tempo <strong>de</strong> visita. O meio físico se compõe <strong>de</strong> rochas no rio, com margens arenosas e campo<br />

limpo encostado no local. No entorno encontramos campo limpo e campo sujo rupestre. A 50<br />

metros do local existe uma pequena mata ciliar (PLANO DE MANEJO PNCV – R.E., 2009).<br />

Figura 25: Corre<strong>de</strong>iras.<br />

Fonte: www.icmbio.gov.br/parna_vea<strong>de</strong>iros – Acesso em 31/05/2011.<br />

Figura 26: Corre<strong>de</strong>iras (2).<br />

Fonte: ROCKTAESCHEL, 2002.


As Trilhas do Salto I (80 m) e Salto II (120 m) (Cachoeiras do Garimpão) (Figuras<br />

27 a 30) possuem 10 km em seu percurso total, passando por diversas fitofisionomias, como<br />

campo rupestre, campo limpo, campo sujo e mata ciliar, próximo aos Saltos. No primeiro<br />

trecho, a trilha passa por um antigo garimpo on<strong>de</strong> se encontram catas e blocos <strong>de</strong> cristais. A<br />

visão <strong>de</strong>ste local é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> beleza, mostrando boa parte do Vale do Rio Preto. Geralmente,<br />

os visitantes <strong>de</strong>scem primeiro ao mirante do Salto II, e continuam até o poço do Salto I. O<br />

retorno é feito por uma trilha muito inclinada que contêm pontos <strong>de</strong> erosão. É possível seguir<br />

do Salto I para as Corre<strong>de</strong>iras, como ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso e <strong>de</strong> banho antes do retorno para o<br />

Centro <strong>de</strong> Visitantes (PLANO DE MANEJO PNCV – R.E., 2009).<br />

Figura 27: Salto 80<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.


Figura 28: Salto 120.<br />

Fonte: CORBETTA, 2011


Figura 29: Salto 120: visto do Mirante das Janelas.<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.<br />

Figura 30: Saltos 120 e 80: vistos do Mirante das Janelas.<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.


A Trilha para a Cachoeira das Cariocas, o Cânion II e o Cânion I totalizam 11 km <strong>de</strong><br />

percurso total. A trilha para a das Cariocas passa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, por campo limpo, campo<br />

sujo e campo rupestre, possibilitando a visualização, à distancia, <strong>de</strong> algumas matas ciliares e<br />

buritizais. Assemelha-se à trilha anterior, até a bifurcação Cânion - Cariocas. A cachoeira se<br />

encontra do lado direito <strong>de</strong>sta trilha. A queda apresenta diversas "escadas" o que possibilita<br />

que muitas pessoas subam parte da cachoeira (Figura 31). A caminhada <strong>de</strong> volta dura cerca <strong>de</strong><br />

1 hora. Geralmente esta trilha é combinada com a visitação do Cânion II. A cachoeira possui<br />

múltiplas quedas d'água e um poço razoavelmente gran<strong>de</strong> com gran<strong>de</strong>s pedras no lado<br />

esquerdo do rio (PLANO DE MANEJO PNCV – R.E., 2009).<br />

Figura 31: Carioquinhas.<br />

Fonte: www.altiplano.com – Acesso em 31/05/2011.<br />

Para o cânion II, da mesma forma que a trilha anterior, esta segue até uma bifurcação<br />

da trilha para as Cariocas. Passa por diversas fitofisionomias do Cerrado, como campo sujo,<br />

campo rupestre, mata ciliar, campo limpo, veredas e buritizais. A trilha apresenta nível <strong>de</strong><br />

dificulda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rado. Neste local se encontra um poço gran<strong>de</strong>, com rochas nas margens,<br />

propicio para banho (Figura 32). É um lugar bastante agradável, com rochas e árvores


fornecendo sombreamento e que po<strong>de</strong> servir <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso para os visitantes (PLANO DE<br />

MANEJO PNCV – R.E., 2009).<br />

Figura 32: Cânion II.<br />

Fonte: ROCKTAECHEL, 2002.<br />

Segundo o mesmo documento, o Cânion I possui características semelhantes ao<br />

Cânion II e seu acesso se dá pela mesma trilha, entretanto é um cânion menor com pequenas<br />

piscinas (Figura 33). O atrativo está aberto à visitação somente no período <strong>de</strong> estiagem, entre<br />

junho e outubro.


Figura 33: Cânion I.<br />

Fonte: www.altiplano.com – Acesso em 31/05/2011.<br />

As figuras 34 a 39 apresentam mais imagens do cenário em que o Parque Nacional<br />

da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros está inserido.


Figura 34: Jardim <strong>de</strong> Maytréia: visto no percurso <strong>de</strong> Alto Paraíso a<br />

São Jorge – GO 237<br />

Fonte: SARAIVA 2006.<br />

Figura 35: Serra <strong>de</strong> Santana: ponto mais alto do PNCV.<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.


Figura 36: Antiga área <strong>de</strong> garimpo <strong>de</strong>ntro do PNCV<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.<br />

Figura 37: Antiga área <strong>de</strong> garimpo <strong>de</strong>ntro do PNCV (2).<br />

Fonte: PLANO DE MANEJO PNCV.


Figura 38: Solo indicando que a área já foi coberta pelo mar.<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.


Figura 39: Rio Preto: visto do mirante do Salto II <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do PNCV.<br />

Fonte: CORBETTA, 2011.


3 RESULTADOS OBTIDOS<br />

O questionário aplicado aos turistas visou levantar um breve perfil dos mesmos,<br />

atentando-se para a atuação do condutor <strong>de</strong> visitantes. Foram aplicados 78 questionários,<br />

durante o <strong>de</strong>correr do mês <strong>de</strong> março, em datas diversas, na própria portaria do Parque<br />

Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros. Dos entrevistados (as), 42 eram mulheres e 35 homens,<br />

sendo que uma pessoa não respon<strong>de</strong>u a essa pergunta.<br />

Em relação à faixa etária das pessoas entrevistadas, três possuíam <strong>de</strong> 12 a 18 anos,<br />

vinte e cinco <strong>de</strong> 19 a 26 anos, trinta e duas <strong>de</strong> 27 a 34 anos, onze <strong>de</strong> 35 a 49 anos e cinco<br />

acima <strong>de</strong> 50 anos, sendo que uma pessoa também não respon<strong>de</strong>u a esta pergunta. Através do<br />

Gráfico 1 é possível constatar que na maioria (75%) são pessoas da faixa <strong>de</strong> 19 a 34 anos que<br />

visitam o parque. Esses dados porcentualmente são verificados abaixo.<br />

14%<br />

7% 4%<br />

42%<br />

33%<br />

Gráfico 1: Faixa Etária dos Visitantes.<br />

12 a 18<br />

19 a 26<br />

27 a 34<br />

35 a 49<br />

Acima <strong>de</strong> 50<br />

Consi<strong>de</strong>rando a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> origem <strong>de</strong>stes visitantes, constatou-se um novo resultado,<br />

já que em diversos trabalhos pesquisados era apontada Brasília seguida <strong>de</strong> Goiânia como os<br />

principais pólos emissivos <strong>de</strong> turistas à Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros. Segundo esta pesquisa, 17<br />

pessoas eram <strong>de</strong> Brasília, 2 <strong>de</strong> Goiânia, 1 do estado <strong>de</strong> Minas Gerais, 3 <strong>de</strong> outras cida<strong>de</strong>s do<br />

estado <strong>de</strong> Goiás, 1 <strong>de</strong> Cuiabá, 1 <strong>de</strong> Manaus, 16 do estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro e 34 pessoas do<br />

estado <strong>de</strong> São Paulo. Três pessoas não respon<strong>de</strong>ram a esta pergunta (Gráfico 2).


21%<br />

Gráfico 2: Local <strong>de</strong> Origem do Visitante.<br />

Os entrevistados mostraram possuir um alto nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, associando-se a<br />

ida<strong>de</strong>, já que a maioria respon<strong>de</strong>u ter entre 27 e 34 anos, justificando também a renda que será<br />

apresentada posteriormente. Duas pessoas respon<strong>de</strong>ram possuir ensino básico, cinco possuíam<br />

ensino médio, <strong>de</strong>z respon<strong>de</strong>ram superior incompleto, vinte e nove já possuíam ensino superior<br />

e trinta e duas pessoas assinalaram indicando já possuir algum tipo <strong>de</strong> Pós, Mestrado ou<br />

Doutorado (Gráfico 3).<br />

41%<br />

7%<br />

23%<br />

3% 6%<br />

45%<br />

13%<br />

37%<br />

Gráfico 3: Grau <strong>de</strong> Escolarida<strong>de</strong> do Visitante.<br />

A maioria dos entrevistados respon<strong>de</strong>u possuir como renda mais que sete salários<br />

mínimos por mês. Vinte e duas pessoas assinalaram receber <strong>de</strong> 4 a 7 salários mensais, e<br />

<strong>de</strong>zoito pessoas respon<strong>de</strong>ram receber <strong>de</strong> 1 a 3 salários mínimos por mês. Cinco pessoas não<br />

respon<strong>de</strong>ram a pergunta e uma marcou ao lado das alternativas a resposta zero, não sendo<br />

3%<br />

1%<br />

levada em consi<strong>de</strong>ração na representação dos dados no Gráfico 4.<br />

Local <strong>de</strong> Origem<br />

Brasília<br />

Goiânia<br />

Minas Gerais<br />

São Paulo<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Outras<br />

Básico<br />

Médio<br />

Superior Inc.<br />

Superior<br />

Pós, Mestrado, etc.


Gráfico 4: Renda mensal (por salários mínimos) dos Visitantes.<br />

A maioria dos entrevistados estava conhecendo a região da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros<br />

pela primeira vez, já que 58 respon<strong>de</strong>ram nunca ter vindo antes à Chapada enquanto que 20<br />

respon<strong>de</strong>ram já ter vindo antes ao local (Gráfico 5).<br />

Gráfico 5: Já veio antes à Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros?<br />

Em relação aos 20 visitantes, que respon<strong>de</strong>ram já ter vindo antes para a Chapada dos<br />

Vea<strong>de</strong>iros, cinco respon<strong>de</strong>ram já ter ido uma vez, quatro respon<strong>de</strong>ram ter ido duas vezes,<br />

quatro também respon<strong>de</strong>ram já ter ido três vezes anteriormente e sete assinalaram já ter ido ao<br />

local mais que três vezes, sendo que 13 <strong>de</strong>les se hospedaram em pousadas enquanto que 8<br />

hospedaram-se em camping (uma pessoa assinalou as duas alternativas), em sua maioria na<br />

própria Vila <strong>de</strong> São Jorge, seguido <strong>de</strong> Alto Paraíso. Três pessoas assinalaram ter se hospedado<br />

em mais que uma cida<strong>de</strong> da chapada. Os gráficos 6 e 7 correspon<strong>de</strong>m a essas pessoas que<br />

respon<strong>de</strong>ram já ter vindo antes à Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros.<br />

25%<br />

44% 31%<br />

74%<br />

35% 25%<br />

20%<br />

20%<br />

26%<br />

1 vez<br />

2 vezes<br />

3 vezes<br />

1 a 3<br />

4 a 7<br />

Gráfico 6: Número <strong>de</strong> vezes que o visitante já veio ao local.<br />

mais que 7<br />

Sim<br />

Não<br />

Mais que 3


36%<br />

Gráfico 7: Cida<strong>de</strong> em que hospedou-se o Visitante.<br />

A questão levantada a respeito do uso ou não <strong>de</strong> guias fora do PNCV, em um<br />

primeiro momento era <strong>de</strong>stinada às pessoas que já haviam ido à Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros,<br />

porém, <strong>de</strong>vido ao gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas que respon<strong>de</strong>ram (no total 65 pessoas<br />

respon<strong>de</strong>ram a questão, sendo que apenas 13 <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r), in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong><br />

já terem ido antes ou não a região, a questão passou a ser consi<strong>de</strong>rada da mesma forma.<br />

Assim, 34 pessoas respon<strong>de</strong>ram não ter feito o uso <strong>de</strong> condutores fora do Parque, enquanto<br />

que 31 assinalaram que sim (Gráfico 8).<br />

Gráfico 8: Uso <strong>de</strong> Guias fora do PNCV.<br />

Em relação ao local em que estavam hospedados, 72 pessoas respon<strong>de</strong>ram estar em<br />

Pousadas, enquanto que apenas 4 assinalaram estar em algum camping, sendo que 2 pessoas<br />

respon<strong>de</strong>ram estar hospedadas em casa <strong>de</strong> moradores locais. As únicas cida<strong>de</strong>s que os<br />

visitantes assinalaram estar hospedados foram São Jorge e Alto Paraíso, com 60 e 20 pessoas<br />

respectivamente (duas pessoas assinalaram as duas localida<strong>de</strong>s) (Gráfico 9).<br />

92%<br />

52%<br />

5%<br />

3%<br />

59%<br />

48%<br />

5%<br />

Gráfico 9: Meio <strong>de</strong> Hospedagem dos visitantes.<br />

São Jorge<br />

Alto Paraíso<br />

Outras<br />

Sim<br />

Não<br />

Camping<br />

Pousada<br />

Casa <strong>de</strong><br />

Moradores


Gráfico 10: Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> em que o visitante está hospedado.<br />

No que diz respeito ao período <strong>de</strong> permanência, a maioria dos visitantes assinalou<br />

que permaneceria no local durante 4 dias, fato justificado pelos questionários terem sido<br />

aplicados boa parte durante o carnaval. Oito pessoas assinalaram 2 dias, treze assinalaram 3<br />

dias, trinta e duas assinalaram 4 dias, quinze assinalaram 5 dias e <strong>de</strong>z pessoas assinalaram que<br />

permaneceriam mais que 5 dias na Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros. Porcentualmente, os dados po<strong>de</strong>m<br />

ser observados no gráfico 11.<br />

19%<br />

25%<br />

13% 10%<br />

75%<br />

17%<br />

41%<br />

São Jorge<br />

Alto Paraíso<br />

2 dias<br />

3 dias<br />

4 dias<br />

5 dias<br />

mais que 5<br />

Gráfico 11: Tempo <strong>de</strong> Permanência do Visitante no local.<br />

A principal motivação dos visitantes, em ir a Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros, foi a <strong>de</strong><br />

conhecer o Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros, sendo que 61 pessoas assinalaram<br />

esta alternativa. Depois vieram como resposta Conhecer os Atrativos <strong>de</strong> Entorno do Parque<br />

(assinalada por 27 pessoas) e Conhecer a História e Cultura local (assinalada por nove<br />

pessoas). Duas pessoas assinalaram que foram ao local para realizar estudos ou pesquisas, e<br />

sete respon<strong>de</strong>ram que foram outros motivos que os motivaram a conhecer a Chapada dos<br />

Vea<strong>de</strong>iros. Dezessete pessoas assinalaram mais que uma alternativa como principal motivação<br />

em conhecer o local, sendo da mesma forma consi<strong>de</strong>rada a resposta (Gráfico 12).


7%<br />

2%<br />

8%<br />

Gráfico 12: Principal motivação do visitante em ir à Chapada dos vea<strong>de</strong>iros.<br />

Os próximos resultados obtidos, dizem respeito à opinião dos visitantes em relação<br />

aos condutores <strong>de</strong> visitantes, por diferentes aspectos, durante a visitação no Parque. A<br />

primeira questão é relacionada à conduta dos guias durante o passeio, sendo no geral bastante<br />

satisfatória a resposta dos visitantes, já que 35 <strong>de</strong>les acharam excelente, 24 assinalaram como<br />

ótima, 14 respon<strong>de</strong>ram que acharam boa, 4 acreditaram ser fraca e apenas uma pessoa<br />

respon<strong>de</strong>u como péssima a conduta do guia (Gráfico 13).<br />

45%<br />

25%<br />

58%<br />

Gráfico 13: Opinião dos Visitantes em relação à Conduta do Guia.<br />

Em relação as instruções, fornecidas pelos condutores, acerca da importância da<br />

fauna e da flora local (cerrado), três pessoas respon<strong>de</strong>ram ser péssima esta instrução; oito<br />

acreditaram ser fraca; <strong>de</strong>zessete consi<strong>de</strong>raram como boa; vinte e seis assinalaram como ótima;<br />

e vinte e quatro pessoas consi<strong>de</strong>raram excelentes (Gráfico 14).<br />

31%<br />

4%<br />

1%<br />

Conhecer o PNCV<br />

Conhecer os atrativos<br />

<strong>de</strong> entorno<br />

Conhecer a História e<br />

Cultura<br />

Realizar estudos ou<br />

pesquisas<br />

outros<br />

33%<br />

Gráfico 14: Opinião do visitante em relação às instruções sobre a fauna e flora local.<br />

5%<br />

10%<br />

18%<br />

31%<br />

22%<br />

Péssima<br />

Fraca<br />

Boa<br />

Ótima<br />

Exelente<br />

Péssima<br />

Fraca<br />

Boa<br />

Ótima<br />

Exelente


A respeito <strong>de</strong> informação sobre a história, cultura e tradições locais, os condutores<br />

foram avaliados da seguinte forma: 6 visitantes consi<strong>de</strong>raram ser péssima; 12 acreditaram ser<br />

fraca; 18 assinalaram como boa; 17 consi<strong>de</strong>raram como ótima; 22 acreditaram ser excelente; e<br />

3 visitantes respon<strong>de</strong>ram que inexistiu informações a cerca da história, cultura e tradição local<br />

(Gráfico 15).<br />

28%<br />

22%<br />

Gráfico 15: Opinião dos visitantes em relação às informações sobre a história, cultura e<br />

tradições locais.<br />

A orientação a respeito da conduta em áreas naturais, passada pelos condutores, foi<br />

consi<strong>de</strong>rada pelos visitantes da seguinte forma: 3 pessoas consi<strong>de</strong>raram péssima; 6<br />

consi<strong>de</strong>raram como fraca; 11 assinalaram como boa; 20 acreditaram ser ótima; e 38 visitantes<br />

consi<strong>de</strong>raram como excelente (Gráfico 16).<br />

48%<br />

4%<br />

4%<br />

8%<br />

15%<br />

23%<br />

26%<br />

Péssima<br />

Fraca<br />

Boa<br />

Ótima<br />

Exelente<br />

Inexistiu<br />

Gráfico 16: Opinião dos visitantes em relação às orientações sobre a conduta em áreas<br />

naturais.<br />

Por fim, a última questão a respeito da opinião dos visitantes, em relação aos<br />

condutores, diz respeito a sensibilização e educação a respeito da preservação e importância<br />

do cerrado, além da manutenção e valorização da história e cultura local. Cinco visitantes<br />

consi<strong>de</strong>raram como péssima; outros cinco, consi<strong>de</strong>raram como fraca; quatorze acreditaram ser<br />

8%<br />

14% Péssima<br />

Fraca<br />

Boa<br />

Ótima<br />

Exelente


oa; quinze assinalaram como ótima; quarenta consi<strong>de</strong>raram como excelente; e apenas uma<br />

pessoa respon<strong>de</strong>u ter inexistido essa sensibilização por parte dos condutores (Gráfico 17).<br />

52%<br />

Gráfico 17: Opinião do visitante em relação à sensibilização e educação sobre a importância<br />

<strong>de</strong> preservação do cerrado, a valorização e manutenção da história e cultura locais, transmitida<br />

pelos condutores.<br />

Entre as consi<strong>de</strong>rações e sugestões <strong>de</strong>ixadas pelos visitantes no final dos<br />

questionários, <strong>de</strong>stacam os seguintes comentários, transcritos literalmente:<br />

O guia anda rápido <strong>de</strong>mais.<br />

Falta organização para fechar grupos e guias do Parque.<br />

Deveria haver uma formação melhor dos condutores e a monitoria <strong>de</strong>veria ser<br />

padronizada entre todos eles.<br />

Agendamento dos passeios com antecedência, através <strong>de</strong> um posto ou quiosque; um<br />

dia antes (véspera) seria necessário para o compromisso tanto do guia (não faltaria) como<br />

do turista.<br />

Os guias <strong>de</strong>veriam ser mais instruídos a respeito do parque e da importância <strong>de</strong> criar-<br />

se uma área como essa.<br />

1%<br />

Uma pessoa disse que o guia abandonou um grupo com <strong>de</strong>z pessoas para acompanhar<br />

apenas um casal, <strong>de</strong>ixando a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 20 pessoas para um guia.<br />

Valor do guia <strong>de</strong>veria ser tabelado, Iraci cobrou 100,00 R$ para 10 pessoas, ou seja,<br />

10,00 R$ por pessoa; enquanto que Xaropinho cobrou preços diferenciados, duas pessoas<br />

pagaram 25,00 R$, eu e meu namorado pagamos juntos 30,00 R$, etc.<br />

Tais observações permitiram ao pesquisador traçar um cenário fi<strong>de</strong>digno do<br />

serviço <strong>de</strong> condução <strong>de</strong> grupos na Chapada, subsidiando, assim, as consi<strong>de</strong>rações sobre o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento turístico na região.<br />

6%<br />

6%<br />

18%<br />

17%<br />

Péssima<br />

Fraca<br />

Boa<br />

Ótima<br />

Exelente<br />

Inexisitu


4 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Através da aplicação dos questionários e <strong>de</strong> sua posterior análise, foi possível<br />

constatar o quão valiosa é a relação atual existente entre o Parque Nacional da Chapada dos<br />

Vea<strong>de</strong>iros e a Vila <strong>de</strong> São Jorge, já que, segundo os dados <strong>de</strong>sta pesquisa, conhecer o Parque<br />

foi o que mais motivou os visitantes a ir à Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros, e, consequentemente a<br />

Vila <strong>de</strong> São Jorge, consi<strong>de</strong>rada como essencial para a realização da ativida<strong>de</strong> turística na UC,<br />

dando suporte à mesma.<br />

A Vila <strong>de</strong> São Jorge é o principal local <strong>de</strong> hospedagem dos visitantes que procuram o<br />

Parque, sejam em pousadas, campings (muitas vezes improvisados no quintal da casa <strong>de</strong><br />

moradores), ou até mesmo nas próprias casas dos moradores locais, que são alugadas aos<br />

turistas, tornando essa relação (Parque X Vila) ainda mais intrínseca, já que a renda <strong>de</strong>ixada<br />

pelos turistas, neste caso, fica <strong>de</strong> fato com esses moradores.<br />

Outro fator <strong>de</strong>terminante nas relações locais é a obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> entrar no PNCV<br />

com um condutor <strong>de</strong> visitantes, visto que a maioria dos entrevistados disse não fazer uso dos<br />

mesmos nos atrativos localizados fora dos limites da Unida<strong>de</strong>. O comentário feito pelo<br />

condutor Reinaldo Trombini (p.65), em 2002, sobre o uso <strong>de</strong> condutores nos atrativos <strong>de</strong><br />

entorno, também é visto atualmente, não havendo ainda esta obrigatorieda<strong>de</strong> nesses atrativos,<br />

o que em alguns casos acaba acarretando em situações como a <strong>de</strong>scrita por Fernando Lupio<br />

(p.64), por inexistir uma regulamentação ou restrições, ressaltando ainda mais a importância e<br />

o papel do condutor <strong>de</strong> visitantes não apenas no Parque como em todo o seu entorno.<br />

Com esta situação, torna-se imprescindível pensar em medidas que estimulem os<br />

visitantes a contratar um condutor também nos atrativos <strong>de</strong> entorno. Essa medida, além <strong>de</strong> ser<br />

um beneficio ao próprio turista, pois ele estará mais seguro e receberá informações mais<br />

<strong>de</strong>talhados do local visitado, proporciona também alternativas <strong>de</strong> renda ao local, uma vez que<br />

esta obrigatorieda<strong>de</strong> ocorrente no Parque se torna a única certeza <strong>de</strong> renda para os condutores.<br />

Tratando mais especificamente da opinião dos visitantes em relação aos condutores,<br />

verifica-se que a conduta dos mesmos e as instruções, passadas por eles, a respeito do<br />

comportamento dos turistas em áreas naturais, em geral, foram excelentes. As informações<br />

fornecidas, a respeito da fauna e da flora local também mostraram ser bastante satisfatórias,<br />

porém há uma necessida<strong>de</strong> em se aperfeiçoar este conhecimento por parte dos condutores,<br />

visto que alguns visitantes consi<strong>de</strong>raram ser fraca ou péssima esta questão (10% e 4% dos<br />

entrevistados, respectivamente).


As informações prestadas pelos condutores a respeito da história e cultura local<br />

mostraram-se eficazes até certo ponto, já que 4% dos entrevistados respon<strong>de</strong>ram que inexistiu<br />

esta orientação, <strong>de</strong>monstrando a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se aprimorar também esta questão, pois é<br />

neste momento que o condutor, sobretudo o ex-garimpeiro, irá transparecer, resgatar e<br />

valorizar suas próprias raízes, presentes principalmente <strong>de</strong>ntro da área do Parque Nacional.<br />

O dado mais positivo colhido pelo questionário, em relação aos condutores, foi a<br />

respeito da sensibilização e educação ambiental, pois a gran<strong>de</strong> maioria dos visitantes<br />

respon<strong>de</strong>u ser excelente esta questão. A importância dos condutores, neste caso, é<br />

fundamental ao pensar-se em ecoturismo, mostrando haver uma percepção por parte dos<br />

turistas, no caso da Vila, através das informações transmitidas durante a visitação.<br />

Esta sensibilização dos visitantes para com a importância do cerrado, da cultura e da<br />

história local é essencial para a ativida<strong>de</strong> turística em São Jorge. Conforme os dados<br />

levantados, a maioria dos visitantes é formada por adultos (<strong>de</strong> 27 a 34 anos) provindos <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s, como por exemplo, São Paulo e Brasília, indo pela primeira vez à Chapada<br />

dos Vea<strong>de</strong>iros. Assim, os condutores <strong>de</strong> visitantes, ao sensibilizarem essas pessoas sobre tais<br />

peculiarida<strong>de</strong>s, proporcionam também um novo sentimento a elas, ligado ao contato direto<br />

com a natureza e com diferentes culturas, sentimentos inexistentes em gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s<br />

industrializadas.<br />

Desta forma, o condutor, ex-garimpeiro, é a pessoa mais qualificada e experiente<br />

para conduzir visitantes no Parque, pois possui na prática, o conhecimento <strong>de</strong> sua história. A<br />

cada novo grupo <strong>de</strong> turistas, é uma nova oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o condutor resgatar e valorizar sua<br />

própria cultura, sua história, seus saberes tradicionais do cerrado, e mais que isso, há a chance<br />

<strong>de</strong> quebrar esta idéia, <strong>de</strong> que eles eram os gran<strong>de</strong>s responsáveis pela <strong>de</strong>gradação do local.<br />

Além disso, esses moradores nativos, filhos <strong>de</strong> ex-garimpeiros, herdam <strong>de</strong>terminados<br />

conhecimentos tradicionais do cerrado, como por exemplo, a forma <strong>de</strong> utilizar o Barbatimão,<br />

o Buriti, fazer o tijolo <strong>de</strong> Adôbe, produzir remédios, doces e até cachaças, através do que se<br />

tem, o cerrado. De uma forma rústica, eles já compreen<strong>de</strong>m e já são capazes <strong>de</strong> sensibilizar<br />

outras pessoas sobre a importância do contexto em que estão. Mesmo assim, é interessante<br />

proporcionar não só a eles, mas também a todos os moradores locais, mais oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

capacitação, para que possam estar em igualda<strong>de</strong> com outras pessoas que chegam a Vila, para<br />

trabalhar com o turismo.<br />

Em relação às consi<strong>de</strong>rações e sugestões <strong>de</strong>ixadas pelos visitantes, verificou-se a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma maior organização por parte <strong>de</strong> todos os órgãos envolvidos na ativida<strong>de</strong><br />

turística. No <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> Luzimar (p.64), constata-se realmente esta necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um


melhor relacionamento entre os próprios condutores e suas associações. Além disso, parcerias<br />

entre as associações, o Parque e os próprios atrativos <strong>de</strong> seu entorno, são essenciais na busca<br />

<strong>de</strong> solucionar <strong>de</strong>terminados problemas <strong>de</strong>scritos pelos visitantes, como por exemplo, a falta <strong>de</strong><br />

organização para fechar grupos no Parque e o valor cobrado pelos condutores, que por não ser<br />

tabelado e sim apenas combinado, acaba gerando alguns <strong>de</strong>sconfortos entre condutores e<br />

visitantes em certas situações, além da questão da obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> visitas com condutores,<br />

seriam cabíveis à otimização da ativida<strong>de</strong> e das relações locais.<br />

A população da Vila, por <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r diretamente do Parque Nacional para a geração<br />

<strong>de</strong> renda, acaba ficando a margem <strong>de</strong> questões ligadas a ativida<strong>de</strong> turística, se submetendo as<br />

<strong>de</strong>cisões e restrições colocadas pela administração do mesmo. Daí justifica-se também a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma maior organização e união das associações dos condutores como forma<br />

<strong>de</strong> reivindicar melhorias e maior participação na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões relacionadas à ativida<strong>de</strong><br />

turística, contemplando, assim, as vonta<strong>de</strong>s e necessida<strong>de</strong>s da comunida<strong>de</strong>, evitando que<br />

<strong>de</strong>cisões tomadas pelo Parque <strong>de</strong> forma impositória afetem o cotidiano da Vila.<br />

A real <strong>de</strong>tentora da área que se localiza a Unida<strong>de</strong>, a quem cabe <strong>de</strong> fato cuidar e<br />

fiscalizar o local, é a própria comunida<strong>de</strong>, pois esta tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fazer acontecer a ativida<strong>de</strong><br />

turística na Vila, gerando benefícios essenciais à sua manutenção no local. Chefe, Sub-Chefe<br />

e Fiscais, no caso do Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros, <strong>de</strong>têm uma<br />

responsabilida<strong>de</strong> grandiosa, pois estão lidando com uma área marcada por uma longa história<br />

<strong>de</strong> ocupação e com uma cultura tradicional, cabendo a eles gerir a UC <strong>de</strong> acordo com as<br />

necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa comunida<strong>de</strong>, que por essência são os <strong>de</strong>tentores da terra, pois foram os<br />

primeiros a ocupar e se estabelecer no local.<br />

Dessa forma, os condutores <strong>de</strong> visitantes, ex-garimpeiros, adquirem nesta função<br />

uma importância intangível, pois representam a história da Vila, mantendo-a viva na<br />

conscientização <strong>de</strong> cada novo grupo <strong>de</strong> turistas que chegam ao local, elucidando ao visitante o<br />

contexto em que ele está inserido. Os condutores não representam apenas a massa <strong>de</strong><br />

trabalhadores da Vila, eles carregam também a missão <strong>de</strong> disseminar a importância do cerrado<br />

brasileiro, valorizando e transmitindo seus conhecimentos específicos a vivência no local.<br />

As melhorias trazidas pelo turismo em UC’s, como por exemplo, acessibilida<strong>de</strong>,<br />

saneamento básico, atendimento médico, segurança, <strong>de</strong>ntre outros, <strong>de</strong>veriam ser primordiais a<br />

qualquer comunida<strong>de</strong>, caso necessitem, não sendo mais cabível esperar o turismo para se<br />

estruturar “basicamente” tais localida<strong>de</strong>s. Na Vila <strong>de</strong> São Jorge, antes <strong>de</strong> se pensar em<br />

expandir a ativida<strong>de</strong> turística, é essencial que se pense primeiro em melhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>


vida dos moradores locais, com mais educação, mais saú<strong>de</strong> e mais possibilida<strong>de</strong>s para que os<br />

moradores continuem em seu local <strong>de</strong> origem, se assim <strong>de</strong>sejarem.<br />

Um dos problemas citados pelos moradores nativos ou resi<strong>de</strong>ntes na Vila,<br />

relacionado à ativida<strong>de</strong> turística, <strong>de</strong>ve-se à sazonalida<strong>de</strong> causada pela mesma, já que a<br />

tranqüilida<strong>de</strong> que se vê em dias comuns não é a mesma que ocorre em finais <strong>de</strong> semana e<br />

feriados, em que ocorre certa “invasão” <strong>de</strong> turistas, ocasionando problemas como a falta <strong>de</strong><br />

água, acúmulo <strong>de</strong> lixo, fluxo <strong>de</strong> carros, tornando a ativida<strong>de</strong> massificada. Porém, há o<br />

“bamburriar” dos moradores, enquanto que em outras épocas há um fluxo baixo <strong>de</strong> visitantes<br />

e consequentemente a falta <strong>de</strong> renda, ficando um “para<strong>de</strong>iro”. Historicamente, verifica-se que<br />

o garimpeiro na vila <strong>de</strong> São Jorge conviveu e ainda convive com oscilações financeiras<br />

causadas por motivos externos, antes representados pelo garimpo e agora, pelo turismo.<br />

Medidas para conter este avanço <strong>de</strong>senfreado do turismo e sua sazonalida<strong>de</strong> teriam<br />

que ser pensadas, na qual novas ativida<strong>de</strong>s dividam com um turismo responsável a<br />

movimentação econômica da Vila, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> atualmente da UC, <strong>de</strong>veriam ser estudadas.<br />

Essa <strong>de</strong>pendência econômica torna a Vila vulnerável a certas ações externas, como <strong>de</strong>sastres<br />

naturais. No caso do cerrado, são os incêndios florestais que anualmente o castigam,<br />

ocasionando o fechamento do Parque para visitação em casos graves, como o ocorrido no ano<br />

<strong>de</strong> 2010.<br />

Além disso, o turismo na Vila, após a década <strong>de</strong> 1990, passou a ser um aliado na<br />

pacificação das relações entre a comunida<strong>de</strong> e o Parque graças a renda gerada pela ativida<strong>de</strong>,<br />

mesmo que seja este um processo constante e diário, alimentado a cada tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão do<br />

Parque.<br />

O fato <strong>de</strong> o local receber um maior número <strong>de</strong> visitantes do estado <strong>de</strong> São Paulo,<br />

seguido por Brasília e Rio <strong>de</strong> Janeiro, mostra a importância da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros na<br />

reintegração do homem urbano ao meio ambiente natural, mesmo que por um curto espaço <strong>de</strong><br />

tempo, possibilitando a reeducação do indivíduo, lembrando-o que ele também faz parte <strong>de</strong>ssa<br />

teia chamada meio ambiente, ou pelo menos lhe possibilitando esta reflexão.<br />

É imprescindível a manutenção e valorização <strong>de</strong>ssas comunida<strong>de</strong>s tradicionais e <strong>de</strong><br />

seus saberes, <strong>de</strong> seu modo <strong>de</strong> se relacionar com a natureza, que em muitos casos, ainda se<br />

constroem em bases respeitosas, em todo o meio que elas se inserem. Valores como esses são<br />

consi<strong>de</strong>rados a porta <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong> novas visões <strong>de</strong> mundo, diferentes daquelas encontradas<br />

nas socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s centros, on<strong>de</strong> não compreen<strong>de</strong>-se a simples submissão do homem<br />

perante a natureza, ou do homem como parte <strong>de</strong>la, como parte <strong>de</strong>ssa teia.


Mesmo que polêmicas e conflituosas as idéias relacionadas à criação <strong>de</strong> áreas<br />

naturais <strong>de</strong>marcadas pelo governo, as UCs tornam-se essenciais à mudança comportamental<br />

<strong>de</strong> indivíduos presos a imposições intelectuais geradas pelo sistema, pois lhes serão<br />

proporcionados os primeiros passos para essa revolução pessoal: o silêncio, a reflexão e o<br />

auto-conhecimento. No caso do Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros e da Vila <strong>de</strong> São<br />

Jorge, o maior responsável por proporcionar estes primeiros passos é o atual condutor <strong>de</strong><br />

visitantes, sobretudo, o ex-garimpeiro.


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Questionário aplicado aos Turistas<br />

Data: / /<br />

Nome:<br />

Ida<strong>de</strong>:<br />

Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Origem:<br />

Ocupação:<br />

APÊNDICE<br />

1- Escolarida<strong>de</strong>: ( ) Básico ( ) Médio ( ) Superior incompleto ( ) Superior ( ) pós;<br />

mestrado; doutorado; etc.<br />

2- Renda: ( ) 1 a 3 salários ( ) 4 a 7 salários ( ) mais que 7.<br />

3- Já veio antes a Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros:<br />

( ) SIM ( ) NÃO (primeira vez).<br />

*Se sim;<br />

Quantas vezes: ( ) 1 vez ( ) 2 vezes ( ) 3 vezes ( ) mais que 3.<br />

On<strong>de</strong> se hospedou: ( ) Pousada ( ) camping<br />

Hospedou-se em qual cida<strong>de</strong> da Chapada: ( ) São Jorge ( ) Alto Paraíso ( ) Cavalcante<br />

( ) Teresina ( ) Colinas do Sul ( ) outras<br />

Fez uso <strong>de</strong> guias fora do parque: ( ) Sim ( ) Não<br />

4- On<strong>de</strong> está hospedado: ( ) Camping ( ) Pousada.<br />

5- Em que cida<strong>de</strong>: ( ) São Jorge ( ) Alto Paraíso ( ) Cavalcante ( ) Teresina ( ) Colinas do<br />

Sul ( ) outras<br />

6- Período <strong>de</strong> permanência: ( ) 2 dias ( ) 3 dias ( ) 4 dias ( ) 5 dias ( ) mais que 5.<br />

7- Qual a principal motivação em vir à Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros:<br />

( ) conhecer o Parque Nacional da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros.<br />

( ) conhecer os atrativos naturais no entorno do Parque.<br />

( ) conhecer a história e cultura das comunida<strong>de</strong>s locais da Chapada.<br />

( ) realizar estudos ou pesquisas a respeito da região.<br />

( ) outros.<br />

8- A respeito dos condutores:<br />

O que achou da conduta:<br />

( ) péssima ( ) fraca ( ) boa ( ) ótima ( ) excelente<br />

Instruções a cerca da importância da fauna e flora local:<br />

( ) péssima ( ) fraca ( ) boa ( ) ótima ( ) excelente ( ) Inexistiu<br />

Informações a cerca da história, cultura e tradição local:<br />

( ) péssima ( ) fraca ( ) boa ( ) ótima ( ) excelente ( ) Inexistiu<br />

Orientação a respeito da conduta em áreas naturais:<br />

( ) péssima ( ) fraca ( ) boa ( ) ótima ( ) excelente ( ) Inexistiu


Sensibilização e educação a respeito da preservação da natureza (cerrado), da<br />

manutenção e valorização da história e cultura local:<br />

( ) péssima ( ) fraca ( ) boa ( ) ótima ( ) excelente ( ) Inexistiu<br />

Consi<strong>de</strong>rações e Sugestões:


ANEXO<br />

Atual Ficha Técnica do PNCV.<br />

Fonte: PLANO DE MANEJO PNCV – R.E., 2009.


Reflexão Final<br />

Quer guia mais experiente do que este, nativo <strong>de</strong>sta terra, <strong>de</strong>tentor dos conhecimentos<br />

mais tradicionais <strong>de</strong> seu povo, que na realida<strong>de</strong> só quer trabalhar e viver a vida<br />

honestamente, ao mesmo tempo em que avista possibilida<strong>de</strong>s enrustidas no horizonte. É o<br />

sentimento da esperança.<br />

Será possível alterar as raízes <strong>de</strong> algo sem mudar em sua essência? Será possível<br />

resistir a algo que é inevitável? O fato é até que ponto chegaram os avanços do Turismo na<br />

Vila <strong>de</strong> São Jorge, até que ponto irão invadir o espaço da população e <strong>de</strong> sua paz, até que<br />

ponto a população participará efetivamente das <strong>de</strong>cisões e até que ponto os moradores<br />

agiram em união por direitos em comum.<br />

Se formos parar para pensar, realmente, na situação histórica do cerrado brasileiro,<br />

veríamos o quão rico e ameaçado ele está. A série <strong>de</strong> programas <strong>de</strong>senfreados <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento do governo, visando um mercado externo, ao longo do século passado e do<br />

começo <strong>de</strong>ste têm configurado o cenário atual não só da Chapada dos Vea<strong>de</strong>iros, mas<br />

também <strong>de</strong> todo este segundo maior bioma brasileiro. Em algumas regiões é a agropecuária<br />

que assola e cada vez mais o <strong>de</strong>vasta, na Vila <strong>de</strong> São Jorge no século passado foi a<br />

garimpagem, não os garimpeiros, que <strong>de</strong>pendiam <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> para a sua existência,<br />

garimpagem esta que só possui viabilida<strong>de</strong> graças e este mercado externo. Então, passam-se<br />

os anos, ocorre a total <strong>de</strong>svalorização do cristal, por este mercado externo, e essas milhares<br />

<strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong>sorientadas, sem saber ao certo o que viria, passam a ser taxadas pela<br />

<strong>de</strong>predação da natureza, por próprios órgãos governamentais. Finalmente chega o<br />

ecoturismo, há o encaixe, aqueles que antes já não sabiam para on<strong>de</strong> ir, para quem ven<strong>de</strong>r o<br />

cristal, vêem nesta ativida<strong>de</strong> sua fonte <strong>de</strong> renda <strong>de</strong> uma forma mais consistente, mesmo que<br />

sazonal. Sim, as coisas começam a funcionar, realmente há a inclusão <strong>de</strong>sses trabalhadores<br />

ex-garimpeiros, há o resgate da história <strong>de</strong> seus antepassados. Mas eis que vêm os<br />

investimentos <strong>de</strong> uma hora para outra do governo, antes nem cogitavam levar melhorias para<br />

a saú<strong>de</strong> do povo da Vila, mais educação, mais alternativas básicas, mais infra-estrutura<br />

básica, mais saneamento básico, e, <strong>de</strong> uma hora para outra já pensam até em aeroporto para<br />

a copa do mundo. E chega então uma avalanche, maquiando tudo on<strong>de</strong> passa, a estrada e as<br />

ruas <strong>de</strong> cascalho, viram um tapete acinzentado <strong>de</strong> piche, dizem que são melhorias, trazem<br />

finalmente posto <strong>de</strong> gasolina, dão um jeito <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>r o lixo, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> os turistas<br />

estacionarem “seguramente” seus carros, vamos lá, são melhorias, maqueiam-se os


costumes, valores que po<strong>de</strong>m mudar concepções, sim, se escon<strong>de</strong> tudo em uma rala camada<br />

<strong>de</strong> maquiagem, escon<strong>de</strong>m a pureza, o respeito, a humilda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixam apenas a vista o que<br />

querem ver, para quem? Para que? E segue a avalanche, porém há um ponto primordial,<br />

aquela pessoinha, sozinha, com o <strong>de</strong>do levantado pedindo atenção, dizendo para a<br />

avalanche: Ei! Olha eu aqui! Não era bem isso que eu queria! Esta pessoa sem que perceba,<br />

já estará por entre o meio <strong>de</strong>ste rolo compressor. Porém, centenas <strong>de</strong>ssas pessoinhas, em<br />

unificação, po<strong>de</strong>m ecoar um grito mais alto e forte que <strong>de</strong>smorone e sufoque toda essa<br />

avalanche. Todos dizendo: Ei! Não foi assim que a gente combinou! E é ai que está este<br />

ponto primordial, já que muitas vezes a vida vai seguindo, ninguém imagina que lá vem uma<br />

avalanche, ou se imagina, crê que seja benéfica, que não vai alterar sua vida, vida vivida<br />

conforme o tempo, se chove, se faz sol, com tranqüilida<strong>de</strong>, sem receios, sem muros, <strong>de</strong> janelas<br />

abertas, coisas assim intangíveis, sem preço, e on<strong>de</strong> está o erro em viver <strong>de</strong>sta forma,<br />

prezando pela paz, sem perceber que ali atrás dos morros talvez venha uma avalanche. Este<br />

ponto é primordial, pois quando ela chegar, todos terão que estar em união, ou senão que<br />

erro foi que eu cometi? Mas que erro é esse? Afinal o que está errado? Tudo esta errado? Ou<br />

quase tudo? Ou somente o ponto mais alto da pirâmi<strong>de</strong>? Pois bem, se for este o ponto, os<br />

tijolos que compõem a base <strong>de</strong>ssa pirâmi<strong>de</strong>, juntos e unidos, constroem um novo alicerce.<br />

Autor

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