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A criação da data 20 de novembro

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A CRIAÇÃO DA DATA<br />

A iniciativa <strong>de</strong> comemorar a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> <strong>20</strong> <strong>de</strong> <strong>novembro</strong> como <strong>da</strong>ta referência para os<br />

afro-brasileiros, foi do Grupo Palmares, <strong>da</strong> capital gaúcha. O professor, poeta e<br />

pesquisador gaúcho Oliveira Ferreira <strong>da</strong> Silveira, integrante <strong>de</strong> maior projeção do<br />

extinto Grupo Palmares, foi porta-voz <strong>da</strong> nascente <strong>da</strong>ta política para o Brasil, que<br />

fazia uma releitura histórica através <strong>da</strong> adoção <strong>de</strong> Zumbi dos Palmares como herói<br />

nacional.<br />

In verbis disse: “O <strong>20</strong> <strong>de</strong> <strong>novembro</strong> começou a ser <strong>de</strong>lineado em encontros informais<br />

na Rua dos Andra<strong>da</strong>s, aqui em Porto Alegre. Estávamos em 1971. Reuníamo-nos e<br />

falávamos muito a respeito do 13 <strong>de</strong> maio, do fato <strong>de</strong>sta <strong>da</strong>ta não ter um significado<br />

maior para a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. A partir <strong>de</strong>sta constatação comecei a procurar outras<br />

<strong>da</strong>tas que fossem mais significativas para o movimento. Comecei a estu<strong>da</strong>r a fundo<br />

a história do negro e constatei que a passagem mais marcante era o Quilombo dos<br />

Palmares.<br />

Como não haviam <strong>da</strong>tas do início do quilombo, tampouco do nascimento <strong>de</strong> seus<br />

lí<strong>de</strong>res, optei pelo <strong>20</strong> <strong>de</strong> <strong>novembro</strong>. Colhi esta informação numa publicação <strong>da</strong><br />

Editora Abril <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> a Zumbi, que <strong>da</strong>va esta <strong>da</strong>ta como a <strong>de</strong> seu assassinato, em<br />

1695. Por ser uma revista, não se apresentava como fonte segura. Resolvi<br />

pesquisar um pouco mais, como forma <strong>de</strong> garantia. mais adiante, no livro "Quilombo<br />

dos Palmares", <strong>de</strong> Edson Carneiro, a <strong>da</strong>ta se repetia. Consi<strong>de</strong>rei esta fonte segura,<br />

pela importância do autor. Além disto, tive acesso a um livro português que<br />

transcrevia cartas <strong>da</strong> época, numa <strong>de</strong>las era relata<strong>da</strong> a morte <strong>de</strong> Zumbi, em <strong>20</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>novembro</strong> <strong>de</strong> 1695.<br />

A partir <strong>de</strong> então colocamos em ação nossas propostas. Batizamos o grupo <strong>de</strong><br />

Palmares e registramos seu estatuto, em julho. No dia <strong>20</strong> <strong>de</strong> <strong>novembro</strong> do mesmo<br />

ano (1971), evocamos pela primeira vez o "Dia Nacional <strong>da</strong> Consciência Negra", na<br />

se<strong>de</strong> do Clube Marcílio Dias. "Há pessoas que imaginam que o Grupo Palmares<br />

tenha chegado ao <strong>20</strong> <strong>de</strong> Novembro através <strong>da</strong> obra <strong>de</strong> Décio Freitas, historiador<br />

branco que escreveu "Palmares, A Guerra dos Escravos", livro que teve o mérito <strong>de</strong><br />

pesquisar mais a fundo a vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Zumbi. O fato é que quando <strong>de</strong>cidimos pela <strong>da</strong>ta,<br />

não conhecíamos nem Décio Freitas nem sua obra, ele a havia editado no Uruguai,<br />

durante o exílio, em agosto <strong>de</strong> 1971. A <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> nosso grupo, portanto, é anterior<br />

a publicação <strong>de</strong> seu livro.”<br />

Estava em jogo a <strong>de</strong>sconstrução do mito <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> concedi<strong>da</strong>, substituído pela<br />

combativi<strong>da</strong><strong>de</strong> negra durante todo o período <strong>de</strong> escravização e pela <strong>de</strong>núncia <strong>da</strong><br />

ação do racismo, do preconceito e <strong>da</strong> discriminação racial no Brasil.<br />

O Grupo Palmares, fun<strong>da</strong>do em <strong>20</strong> <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1971, realizou uma série <strong>de</strong><br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s públicas - durante o regime militar - para evocação <strong>de</strong> ícones negros<br />

como Luiz Gama e José do Patrocínio. A reverência a Zumbi dos Palmares, ato <strong>de</strong><br />

maior relevância <strong>da</strong>quele ano, ocorrera no Clube Náutico Marcílio Dias, em Porto<br />

Alegre, frequentado por negros. Em 1978, o <strong>20</strong> <strong>de</strong> Novembro, foi elevado a Dia <strong>da</strong><br />

Consciência Negra a partir <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção do Movimento Negro Unificado contra a<br />

Discriminação Racial (MNUCDR).


OLIVEIRA EM VERSOS<br />

Roteiro dos Tantãs<br />

ENCONTREI MINHAS ORIGENS<br />

Encontrei minhas origens<br />

em velhos arquivos<br />

....... livros<br />

encontrei<br />

em malditos objetos<br />

troncos e grilhetas<br />

encontrei minhas origens<br />

no leste<br />

no mar em imundos tumbeiros<br />

encontrei<br />

em doces palavras<br />

...... cantos<br />

em furiosos tambores<br />

....... ritos<br />

encontrei minhas origens<br />

na cor <strong>de</strong> minha pele<br />

nos lanhos <strong>de</strong> minha alma<br />

em mim<br />

em minha gente escura<br />

em meus heróis altivos<br />

encontrei<br />

encontrei-as enfim<br />

me encontrei.

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