J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita
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85 – O ESPÍRITO E O TEMPO<br />
Espiritismo. Talvez tenham ocorrido em maior número na Idade Média. Os Espíritos<br />
se manifestavam por toda parte, provocando os horrorosos processos contra os<br />
bruxos, de que os arquivos da justiça eclesiástica estão cheios. Asfixiada a<br />
mediunidade natural, pela proibição clerical, pela condenação das autoridades e da<br />
Igreja, os médiuns eram dominados por entidades rebeldes, que desejavam, a todo<br />
custo, romper o círculo de ferro das proibições. A mediunidade irradiava por si<br />
mesma, na crosta mineral das condensações do formalismo. As celas dos conventos<br />
e dos mosteiros se transformaram em câmaras mediúnicas, que antecipavam as<br />
câmaras de tortura. Conan Doyle entendeu que se tratava de “casos esporádicos, de<br />
extraviados de uma esfera qualquer”. Espíritos extraviados, que mergulhavam na<br />
terra e provocavam as tragédias mediúnicas. Na verdade, não eram extraviados, mas<br />
Espíritos apegados à terra, ligados à vida humana, sintonizados com a esfera dos<br />
homens, e que legitimamente reivindicavam o seu direito de comunicação. As leis<br />
naturais reagiam contra o artificialismo das convenções religiosas. Quanto mais se<br />
queimavam os bruxos, mais eles surgiam, no próprio seio das ordens religiosas.<br />
Tornouse necessário admitirse a realidade de algumas visões, de algumas<br />
comunicações, e intensificarse a aplicação do exorcismo, para afastar os demônios<br />
dos conventos, evitando a ceifa exagerada de vidas humanas. Mas isso não impediu<br />
que os demônios intensificassem suas manifestações, ostensivas ou ocultas, gerando<br />
as numerosas formas de heresias que a inquisição teve de liquidar a ferro e fogo,<br />
num desmentido flagrante aos ensinos cristãos de fraternidade universal.<br />
Os próprios horrores da luta formalista contra a natureza deveriam,<br />
entretanto, provocar as reações libertárias que se acentuariam nos fins da Idade<br />
Média, abrindo perspectivas para o mundo moderno. Os homens teriam de<br />
reconhecer os exageros de seu artificialismo, e buscar novamente a natureza. Nessa<br />
busca, poderiam desviarse para outro extremo, entregandose excessivamente à<br />
natureza exterior, esquecidos de sua própria natureza interior, a humana ou<br />
espiritual. Foi praticamente o que se deu no mundo moderno, com os exageros<br />
cientificistas em que ainda nos perdemos. Para corrigir um exagero, entretanto, era<br />
necessário o outro. Somente o desenvolvimento científico, segundo assinala Kardec<br />
em A GÊNESE, poderia libertar a mente humana dos fantasmas teológicos e prepará<br />
la para enfrentar de maneira positiva a realidade da sobrevivência humana, em sua<br />
simplicidade natural.<br />
A volta à natureza começou pelo exterior, no campo dos fenômenos. A<br />
investigação científica mostrou o absurdo dos convencionalismos dominantes,<br />
fulminou as superstições seculares. O século dezoito, considerado o século de ouro<br />
da ciência, já prenunciava o advento do Espiritismo. Um nobre sueco, Swedenborg,<br />
um dos homens mais sábios da época, desenvolveu a própria mediunidade, e o<br />
romancista Honoré De Balzac, muito antes da codificação, tornouse médium<br />
curador ou médium “passista”, como hoje dizemos. Os Espíritos já não eram