J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita
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83 – O ESPÍRITO E O TEMPO<br />
reelaboradas. A codificação de Allan Kardec é a libertação romântica dos moldes<br />
clássicos. Em Kardec, o espírito rompe o equilíbrio clássico dos Evangelhos, para se<br />
lançar acima do plano das formas e encontrar o plano da vida. Isso não quer dizer<br />
que o Cristo fosse formalista. Pelo contrário, já vimos que todo o seu ensino e toda a<br />
sua ação se desenvolveram no plano vital, superando as formas. Acontece que os<br />
homens do seu tempo não estavam em condições de entendêlo, como ele mesmo<br />
declarou, e somente na época de Kardec se tornou possível a libertação vital dos<br />
seus ensinos. Ao atingir a fase de libertação vital, o Cristianismo volta naturalmente<br />
às suas origens.<br />
Os ensinos de Cristo, deformados ou velados pela vestimenta formal,<br />
retomam a sua vitalidade original. Da mesma maneira por que o Cristo podia<br />
confabular com os espíritos no Monte Tabor ou no Horto das Oliveiras, sem a<br />
mediação de sacerdotes ou de ritos especiais, os cristãos libertos podem hoje<br />
confabular com os seus entes queridos, os seus guias espirituais, e até mesmo com<br />
aqueles espíritos ainda perturbados pela própria inferioridade — como o Cristo<br />
também o fez — sem nenhuma espécie de ritual ou de formalismo religioso. O<br />
processo natural de relações, entre os espíritos e os homens, restabelecese na<br />
atualidade. Claro que esse restabelecimento tem de ser repelido pelos que continuam<br />
apegados aos sistemas formais do passado. Um cristão que se habituou à ideia da<br />
natureza sobrenatural dos espíritos não pode ver, sem horror, a naturalidade das<br />
relações mediúnicas.<br />
Por outro lado, a concepção do sagrado, alimentada longamente na tradição<br />
cristã, em oposição ao profano, faz que os cristãos formalistas se horrorizem com a<br />
possibilidade de relações com os mortos. Mesmo algumas pessoas de vasta cultura<br />
mostram esse escrúpulo. Thomas Man, o grande escritor alemão, admitiu a realidade<br />
do fenômeno de materialização mediúnica, mas entendeu que ele representava uma<br />
violação da natureza sagrada da morte. Outros pesquisadores, inclusive cientistas, ao<br />
verem que os espíritos podem romper o silêncio sagrado, o mistério do túmulo,<br />
abandonaram suas pesquisas. O formalismo religioso tem o seu poder, e o exerce até<br />
mesmo sobre aqueles que parecem libertos de preconceitos religiosos. Exatamente<br />
por isso, o Espiritismo só pôde surgir em meados do século dezenove, depois de<br />
amplo desenvolvimento das ciências, que permitiram a criação de um clima mental<br />
mais arejado no mundo. As ciências restabeleceram a ideia do natural para todos os<br />
fenômenos, libertando os homens do temor do sobrenatural. Os fenômenos espíritas,<br />
encarados como naturais, puderam ser estudados em sua verdadeira natureza. Com<br />
isso, as forças vitais do Cristianismo, que emergiam da própria naturalidade das<br />
relações mediúnicas, puderam ser libertadas.