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J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita

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2 – Libertação das forças vitais<br />

82 – J. <strong>Herculano</strong> <strong>Pires</strong><br />

A transmissão da cultura se processa através de fases cíclicas. Primeiro, as<br />

forças vitais, as energias criadoras, emanadas do espírito, se projetam nas formas<br />

materiais e nelas se condensam. Depois, essas forças se libertam, para enriquecer o<br />

espírito. Melhor compreenderemos isto, se tomarmos o exemplo concreto de uma<br />

obra literária. As energias criadoras do autor se projetam e se condensam nos<br />

capítulos de um livro. O leitor as liberta, ao ler e estudar a obra. As energias<br />

libertadas enriquecem o espírito do leitor e poderão sugerir­lhe novas atividades<br />

mentais, produzindo a criação de nova obra.<br />

Temos assim os ciclos de criação e transmissão da cultura. Estudando<br />

minuciosamente esse processo, em seu ensaio sobre AS CIÊNCIAS DA CULTURA,<br />

Ernest Cassirer mostra­nos o exemplo do mundo clássico, cujas forças vitais foram<br />

condensadas nas obras da cultura greco­romana e posteriormente libertadas pelo<br />

Renascimento, para a fecundação do mundo moderno. A religião, que é um processo<br />

cultural, desenvolve­se de acordo com esse mesmo sistema. Quando tratamos,<br />

portanto, da libertação das forças vitais do Cristianismo, através do Espiritismo, não<br />

estamos inventando nenhuma novidade. Nem foi por outro motivo que Emmanuel<br />

classificou o Espiritismo de Renascença Cristã. As forças vitais do Judaísmo,<br />

projetadas e condensadas nas Escrituras e na Tradição Judaica, foram libertadas pelo<br />

Cristianismo, que as reelaborou em novas formas de expressão religiosa. Essas<br />

novas formas, por sua vez, se projetaram e. condensaram nos Evangelhos e na<br />

Tradição Cristã. O Espiritismo as desperta, liberta e renova, para reelaborá­las em<br />

novas formas. Entretanto, como as novas formas espirituais devem ser livres, em<br />

virtude da evolução humana, elas se apresentam quase irreconhecíveis, perante os<br />

cristãos formalistas.<br />

A codificação de Allan Kardec é repudiada pelos cristãos, da mesma<br />

maneira que a codificação evangélica o foi pelos judeus. Esse problema do repúdio<br />

das novas formas não é privativo do processo religioso. Em todo o desenvolvimento<br />

cultural, ele sempre está presente. É o caso, por exemplo, do repúdio das velhas<br />

gerações ao modernismo, às inovações dos hábitos e costumes. É o mesmo caso do<br />

repúdio da poesia e da pintura modernas pelos poetas e músicos apegados às formas<br />

clássicas. Quando Hegel descreveu a evolução da ideia do Belo através das formas<br />

materiais, colocou precisamente esse problema. O poeta Rabindranah Tagore<br />

declara, em suas memórias, que espantou­se com as regras do canto no mundo<br />

ocidental, por achá­las demasiado livres. Estava habituado à doçura monótona das<br />

canções hindus, e repelia os exageros guturais da nossa ópera. No processo de<br />

desenvolvimento do Cristianismo, o Velho Testamento, as antigas escrituras<br />

judaicas, representam a arte oriental do estudo de Hegel. Os Evangelhos são a<br />

condensação clássica, equilibrada, das energias vitais do judaísmo, libertas e

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