20.04.2013 Views

J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita

J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita

J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

4 – Ruptura do arcabouço literal<br />

77 – O ESPÍRITO E O TEMPO<br />

A posição do Espiritismo, em face dos textos sagrados do Cristianismo,<br />

parece ambígua. Ao mesmo tempo em que se apóia nos textos, a doutrina, a partir de<br />

Kardec, e por seus mais autorizados divulgadores, também os critica. Nada mais<br />

coerente com a natureza declaradamente racional do Espiritismo, com a sua<br />

orientação analítica, e portanto científica. A ambiguidade apontada pelos opositores<br />

não é mais do que o uso da liberdade de exame, sem o qual o Espiritismo teria de<br />

submeter­se ao dogmatismo literalista, incapaz de libertar, da prisão da letra, o<br />

espírito que vivifica. Admitir o absolutismo das Escrituras seria frustrar a evolução<br />

do Cristianismo, nos rumos da plena espiritualidade, que constitui ao mesmo tempo<br />

a sua essência e o seu destino, o seu objetivo.<br />

O Cristianismo Primitivo aprendera a libertar das escrituras judaicas e o seu<br />

conteúdo espiritual, como vemos nas epístolas apostólicas e nos próprios textos<br />

evangélicos. Estes textos, por sua vez, apresentam­se na forma livre de anotações,<br />

testemunhando a liberdade espiritual o ensino do Cristo, que não se prendia a<br />

nenhum esquema literal dotado de rigidez. Não obstante, o cristianismo medieval<br />

construiu um rígido arcabouço literal, no qual prendeu e abafou, sob os demais<br />

arcabouços da imensa construção da Igreja, a essência dos ensinos cristãos, o seu<br />

livre espírito. A Reforma, rompendo os arcabouços da superestrutura, não teve<br />

forças para romper o da infra­estrutura, por entender que neste se encontrava a base<br />

do Cristianismo. Romper o arcabouço literal seria como destruir os alicerces do<br />

edifício. Era natural que assim acontecesse, pois os reformadores do Renascimento<br />

não poderiam ir até as últimas consequências. Primeiro, porque a sua ação estava<br />

naturalmente limitada pelas possibilidades da época; e, depois, porque ela se<br />

destinava a preparar condições para o novo impulso a ser dado. Somente o<br />

reconhecimento das manifestações espíritas, o estudo desses fenômenos e a<br />

aceitação racional das comunicações esclarecedoras, dadas por via mediúnica,<br />

poderiam levar ao rompimento do arcabouço literal, última forma concreta em que o<br />

espírito cristão se refugiava.<br />

Podemos compreender o apego dos literalistas à “Palavra de Deus”, quando<br />

nos lembramos dessa lei de inércia que nos amarra aos velhos hábitos. Melhor ainda<br />

o compreendemos, ao pensar na sensação de insegurança que devem ter sentido os<br />

reformistas, na proporção em que demoliam os arcabouços do velho e poderoso<br />

edifício, no qual por tantos séculos se abrigara a fé de seus antepassados e a deles<br />

mesmos. O Cristo ensinara, com absoluta clareza, segundo as anotações evangélicas,<br />

que precisávamos perder a nossa vida, para encontrá­la. “Porque o que quiser salvar<br />

a sua vida, perdê­la­á, mas o que a perder por amor de mim, esse a salvará”. (Lucas,<br />

9, 24) Ou ainda: “O que acha a sua vida, a perde; mas o que a perde por minha<br />

causa, esse a acha”. (Mateus, 10, 39)

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!