J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita
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66 – J. <strong>Herculano</strong> <strong>Pires</strong><br />
que teve de ser preparado através de um milênio, só estaria completo nos albores do<br />
século XIV, logo após a codificação da “Suma Teológica”. A luta entre a razão e a<br />
fé encontra, portanto, o seu epílogo, na Renascença. Embora tenhamos de<br />
reconhecer a sua continuidade, mesmo em nossos dias, a verdade é que ela agora se<br />
processa em plano secundário, como simples resíduo natural de épocas superadas.<br />
Descartes foi o espadachim que deu o golpe final nesse duelo de milênios. Inspirado<br />
pelo Espírito da Verdade, segundo a sua própria expressão, o filósofo do cogito<br />
libertou a filosofia da servidão medieval e preparou o terreno para o advento do<br />
Espiritismo. Mais tarde, Kardec poderia exclamar, como vemos no pórtico de O<br />
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, que “Fé inabalável é somente aquela que<br />
pode encarar a razão face a face, em todas as etapas da humanidade”.<br />
O que hoje se condena como racionalismo não é propriamente a razão, mas<br />
o absolutismo racional. A luta filosófica que se travou e ainda se trava no nossa<br />
tempo já não se refere mais ao problema antigo e medieval de razão e fé, mas às<br />
questões modernas, tipicamente metodológicas, de razão e intuição. É uma batalha<br />
que se trava no campo da teoria do conhecimento, e não mais no campo da<br />
superstição e do dogmatismo fideísta. Para o Espiritismo, essa batalha está superada.<br />
A razão é apenas o instrumento de que o Espírito, o Ser, em sua manifestação<br />
temporal, se serve para dominar o mundo. A intuição é o processo direto de<br />
conhecimento, de que o Espírito dispõe em seu plano próprio de ação — o espiritual<br />
— e que desenvolverá no plano material, na proporção em que o dominar pela razão.<br />
Mas a importância da razão, no processo evolutivo do homem, como forma de<br />
libertação espiritual, jamais poderá ser negada. Ao estudar o Renascimento,<br />
compreendemos o papel do racionalismo, na emancipação espiritual do homem, e o<br />
motivo por que o Espiritismo não pode abdicar de suas características racionalistas,<br />
para realizar a sua missão emancipadora total.<br />
4 – A maturidade espiritual<br />
O Renascimento assinala o momento histórico de emancipação espiritual do<br />
homem. O processo de desenvolvimento da razão aparece completo, nesse homem<br />
novo que, com Descartes, refuta o dogmatismo medieval e proclama os direitos do<br />
pensamento. Não importa que o fenômeno cartesiano pertença ao século dezessete,<br />
quando os albores da nova era já haviam surgido no catorze, no Quattrocento<br />
italiano.<br />
O processo, como vimos anteriormente, vinha de muito antes. Mas assim<br />
como Abelardo encarna o drama medieval em todas as suas cores, Descartes é quem<br />
encarna a epopeia do Renascimento, a vitória da razão sobre o fideísmo medieval.<br />
Nele e através dele é que a razão triunfa para sempre, marcando os rumos de um